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Manual do perfeito midiota XXIII

por Luciano Martins Costa
Caro midiota.
Notei que você não compareceu à festa promovida pela Fiesp na Avenida Paulista, em São Paulo, na longa noite de 11 de abril. Poucos dos seus amigos foram.
Sei também que você apenas acompanhou pela televisão a votação da admissibilidade do impeachment da presidente da República no Senado.
Mas acredito que você está feliz, aliviado, com a certeza de que nesta sexta-feira, 13, o Brasil renasceu. E que a partir de segunda-feira estará em campo o governo Tabajara de Michel Temer: todos seus pobrema se acabaram-se.
Só que não.
Como bom midiota que é, você foi ludibriado.
Não, não fique ofendido. Há pessoas que você admira muito e que também acham isso.
Veja, por exemplo, o que diz seu velho herói, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa: “o processo do impeachment de Dilma Rousseff não tem legitimidade”.
Ele entende que você e os demais que embarcaram nessa canoa do golpe foram manipulados, como “um bando de boçais”.
Você certamente preferia que, por uma mágica, junto com Dilma Rousseff fossem mandados para fora do poder não apenas Eduardo Cunha, mas também Michel Temer e outros políticos nos quais não confia.
Mas isso é uma ilusão. É uma troca impossível, como diria o filósofo francês Jean Baudrillard.
Veja bem: você embarcou nessa porque acreditou naquela enxurrada de manchetes que ocupa a imprensa tradicional desde o final de 2014, e enfiou nessa cabecinha que o Brasil tinha afundado.
Mesmo assim, bombardeada pelo noticiário negativo, a presidente foi reeleita por 54 milhões de brasileiros. Então, o projeto do impeachment foi acelerado, e você saiu por aí de verde e amarelo.
Já neste domingo, você vai notar uma mudança profunda no espírito do tempo. É como alguns chamam a agenda pública proposta pela mídia hegemônica: ela diz se você deve ficar esperançoso ou deprimido, se deve comprar um carro novo ou enfiar o dinheiro embaixo do colchão.
Pois bem: a pauta do fim de semana pode ser retratada como um amanhecer luminoso que deixa para trás uma noite sombria.
A linguagem jornalística é assim primária, explícita, porque seu objetivo é convencer os midiotas, pela manipulação e espetacularização de certos fatos, sempre em favor de determinada ideologia.
Já dizia Baudrillard: “Assim como a economia política é um gigantesco maquinário para fabricação de valor, para fabricação de signos da riqueza mas não da própria riqueza, assim todo o sistema da informação e da mídia é uma gigantesca máquina produtora do acontecimento como signo, como valor permutável no mercado universal da ideologia, do star-system, da catástrofe, etc., em suma, produtora do não-acontecimento” (A troca impossível, Nova Fronteira, 2002, p. 136).
Você é mero espectador, e só se torna protagonista quando interessa a esse maquinário.
Nas próximas semanas, a mídia tradicional vai dizer que as perspectivas da economia estão melhorando, e os indicadores serão manipulados ao contrário do que têm sido nos anos recentes.
Tudo para fazer você engolir o governo Tabajara, enquanto se tenta apressar a votação do pedido de impeachment e, ao mesmo tempo, criar uma jurisprudência para tirar da disputa eleitoral de 2018 aquele ex-presidente que você odeia com todo o seu fígado.
Eles não querem mais você nas ruas. Você já foi usado.
na Brasileiro