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A volta do efeito Orloff, por Renato Rovai


- Em seis meses a Argentina foi demolida - 
Em Maio, estive em Buenos Aires acompanhando, a convite da Clacso, uma agenda de advogados e juristas que foram a Argentina denunciar o golpe contra Dilma e o lawfare no processo de Lula. Dilma também estava presente.

Naquele momento, há exatos seis meses, o governo Macri começava a fazer água. Foi exatamente ali que o país teve que ir ao FMI.

As ruas já davam sinais de que a algo não ia bem, mas a sensação era de que no Brasil a situação estava pior.

Hoje, volto pra São Paulo após 10 dias intensos na capital argentina. Assustado e impressionado com o tamanho da derrocada do país em tão pouco tempo.

As ruas de Buenos Aires se tornaram favelas a céu aberto, com muitas famílias dormindo ao relento.

Percebe-se que a coleta de lixo já não é a mesma e as obras que estavam sendo realizadas ou estão paradas ou andando em ritmo muito lento.

O país está desmoronando e o projeto neoliberal de Macri que ia conduzir os hermanos ao primeiro mundo está levando-os a viver dias muito piores do que nos tempos dos Kirchners.

Neste ano a inflação da Argentina deve fechar próxima a 50%, sem que os trabalhadores tenham tido reposição salarial. Em dólar, o salário mínimo caiu pela metade nesses últimos seis meses.

Enquanto isso, seguem as perseguições aos líderes peronistas, Cristina incluída, para que mesmo com popularidade baixa Macri e sua turma tenham condições políticas de continuar no poder, já que no ano que vem o país terá eleições presidenciais.

O que está acontecendo na Argentina do ponto de vista econômico deve se repetir no Brasil de Bolsonaro. Até porque a receita ultraliberal de Paulo Guedes é ainda mais forte e amarga do que a de Macri.

Nas décadas de 80 e 90 usava-se o termo efeito Orlloff, cuja frase ícone de uma propaganda era “Eu sou você amanhã”, para explicar que o FMI, Banco Mundial e outras instituições usavam sempre nossos vizinhos como laboratório pra implementar a mesma política econômica por aqui. Alfonsin fez o Austral, Sarney o Cruzado. Menem derrubou a inflação e privatizou tudo o que pode. FHC fez o mesmo.

Observar o que Macri está fazendo na Argentina e ver o que isso está significando para o seu povo é hoje o maior desafio de economistas, sociólogos e líderes sociais brasileiros. Porque o “Eu sou você amanhã” voltou com tudo.

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Renato Rovai

Ciro Gomes o plano B de Lula e Dilma, ou seia

...PDT, o plano B de Lula e Dilma?




A presidenta Dilma Roussef foi à reunião do Diretório nacional do PDT na semana passada e recebeu um caloroso beijo na mão do presidente da legenda, o carioca Carlos Lupi. Dilma, filiada do partido nos tempos de Brizola, saiu da legenda para participar mais ativamente do governo Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul. E filiou-se ao PT.

Mas, Dilma, nunca foi uma petista autêntica. E nem mesmo o fato de ter se tornado presidente pelo partido lhe deu a condição de se tornar uma liderança importante na legenda.

Dilma precisa de Lula para tudo que diga respeito ao PT.

E quando foi escolhida pelo ex-presidente para ser sua candidata em 2010, teve de superar preconceitos de todas as ordens.

Enquanto Dilma falava nos encontros do partido, as piadas sobre sua inabilidade discursiva corriam soltas. Alguns dirigentes a imitavam com galhardia.

Mas como o PT foi perdendo força no percurso dos governos Lula e Dilma, não havia o que fazer. O jeito sempre foi engolir Dilma e o seu estilo e jeito de fazer política.

Mas o que isso tem a ver com ida de Dilma ao encontro do Diretório Nacional do PDT?

Dilma há alguns anos vem lançando sinais ao partido de que um dia pode voltar à sua antiga casa. Os sinais mais fortes foram dados quando seu ex-marido, o advogado Carlos Araújo, se filiou ao partido e buscou articular uma recuperação da sigla para a ala histórica, mais trabalhista e menos pragmática. O que acabou levando a entrar em rota de colisão com Carlos Lupi.

Araújo é um crítico do PT. Em entrevista ao Terra Magazine em 2012, ele dizia:

“Eu sempre tive uma visão muito crítica do PT. Uma coisa é a liderança do Lula, que é incontestável, mas o PT hoje é muito mais uma força eleitoral do que uma força política. Não diria que é uma falsa esquerda, mas as divergências dentro do partido são tão grandes que está virando de tudo um pouco. Eu digo até que virou um PMDB de esquerda, infelizmente”.

Dilma não pensa muito diferente de Araújo. Evidente que um não fala pelo outro, mas quando ele deu essa entrevista em 2012, o sinal amarelo acendeu no PT e nos círculos de amigos mais próximos de Lula. Era um sinal de que se o ex-presidente buscasse voltar ao cargo, Dilma poderia enfrentá-lo por outro partido. Naquele momento Dilma tinha altos índices de popularidade.

Lula, porém, nunca aceitou que sua candidatura fosse colocada e operação de Araújo na retomada do PDT foi um fracasso.

Mas a entrada de Ciro Gomes no PDT muda as coisas. Lupi continua mandando no partido, mas agora a sigla tem uma pessoa com força para disputar eleitoralmente a presidência em 2018. E isso pode lhe fazer abrir um pouco mais de espaço para que o PDT seja menos refém de seus desejos.

Dilma não foi à toa a essa reunião do PDT. E isso não tem só relação com o fato de a sigla ter adotado posição anti-impeachment. O recado claro era que de há pontes possíveis com o partido e com Ciro.

E engana-se quem acha que Dilma pode vir a trair Lula nesta operação. O ex-presidente sabe de toda a movimentação e tem conversado muito com Ciro.

Lula não tem vontade de ser candidato novamente ao Palácio, mas pode vir a sê-lo. E neste caso, Ciro poderia vir a ser o seu vice. Mas Lula também começa a achar que pode ser a vez de Ciro. E neste caso, o PT ofereceria um vice a ele. Que pode ser alguém do sudeste, como o atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, caso este não venha a se reeleger.

Nesta operação, a ida de Dilma para o PDT seria algo para depois do governo.

Mas uma tese que volta e meia ganha força é a de que se a crise se aprofundar e o PT vier a ser engolido por ela, Dilma deveria mudar de partido ainda durante este mandato e buscar construir uma nova base para governar. Atraindo setores que hoje estão na oposição, como o PSB.

O próprio Ciro já tratou do assunto. E alguns ministros também falam disso em conversas reservadas.

Independente de qual cenário vai se impor, o PDT deve ganhar filiações importantes de candidatos no país inteiro. A perspectiva de poder com Ciro e o acordo com o governo permitem àqueles que estavam insatisfeitos com o PT, por exemplo, pularem do barco, sem dar um cavalo de pau.

O PDT que parecia morto ressurge das cinzas. E pode vir a se tornar uma sigla forte. A conjuntura parece ser mais favorável ao partido do que a qualquer outro neste momento.

E isso tem a ver com a perspectiva de candidatura de Ciro, mas muito mais com os movimentos de Lula e Dilma.

por Renato Rovai