por Conceição Lemes
José Genoino, ex-presidente Nacional do PT, e Rioco, sua companheira de 40 anos de vida, amor e luta política, têm dois filhos: Miruna, 33 anos,e Ronan, 30. Genoino tem mais uma filha: Mariana, 29 anos.
Eles sempre foram muito reservados, embora atuantes politicamente. Porém, a condenação de Genoino pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na Ação Penal 470, o chamado mensalão, fez com que Miruna se tornasse símbolo da luta pela justiça e resgate da história do pai.
É antológica a sua carta de 9 de outubro de 2012 ao povo brasileiro, lida pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), na tribuna do Senado. Vale a pena ser ouvida.
Foi o ponto de partida. Não parou mais. Tornou-se, na prática, a porta-voz da família. Tanto nos momentos de grande dor. O mais dramático certamente foi quando Genoino quase morreu devido à dissecção da aorta, em julho de 2013. Quanto nos momentos de alegria, como na semana que passou. A campanha de doações para pagar a multa de R$ 667,5 imposta pelo STF a Genoino alcançou a meta.
Formada em Pedagogia, Miruna é professora de ensino fundamental em São Paulo. Tem dois filhos, de 7 e 5 anos. Segue a entrevista exclusiva que concedeu ao Viomundo, no final da noite desse domingo, 19 de janeiro.
Viomundo – Quanto exatamente foi arrecadado?
Miruna Genoino -- Ainda não temos o valor exato final, estamos fazendo toda a contabilidade deste fechamento, mas já sabemos que conseguimos arrecadar o valor necessário para o pagamento da multa. Assim que concluirmos, a família divulgará os valores exatos.
Viomundo — Em algum momento, você temeu que não se atingisse a meta?
Miruna Genoino — Sinceramente, não sei te dizer, porque eu estava tão sobrecarregada com toda a parte prática da campanha, com a criação do site, que eu mesma fiz, e com os emails, cadastro dos doadores, etc, que quase não me sobrava tempo para pensar e temer algo.
Aprendi com este processo que não adianta tentar pensar e antecipar nada, porque tudo é sofrido. E, sofrer por antecipação, não vai ajudar em nada… Nem sempre consegui isso, mas vi com essa campanha que foi importante ter mentalizado a ação e não a antecipação dos possíveis resultados.
Viomundo — Qual o momento que mais te emocionou nessa campanha?
Miruna Genoino — Quando comecei a ler os primeiros e-mails com os primeiros doadores. Eu estava no meio de tanta informação, pressão, incerteza, e, de repente, começaram a chegar mensagens de pessoas doando 20, 50, 100 reais, com toda a alegria, escrevendo palavras de força e de luta, pessoas que eu não conhecia pessoalmente e que, ainda assim, se dispuseram a ter toda a dedicação para nossa campanha… Muito bonito mesmo…
Viomundo — Você poderia mencionar alguns doadores?
Miruna Genoino — Não posso por questão de ética. Não falamos em nenhum momento em divulgação dos nomes. Assim, não seria justo falar de quem doou sem a autorização das pessoas envolvidas.
Viomundo — Desde o início da denúncia do mensalão, nunca Genoino teve uma manifestação tão inequívoca de apoio. Como você interpreta este momento?
Miruna Genoino — Dentro desse momento muito difícil que estamos vivendo, um momento marcado por separação — eu, meus filhos e marido e meu irmão moramos em São Paulo, e meus pais estão em Brasília –, um momento marcado por incerteza — temos muito medo do que acontecerá quando terminarem os 90 dias de prisão domiciliar –, pudemos ter a alegria e a emoção de conhecer o tamanho da nossa luta por justiça.
Como estamos totalmente imersos nesta situação, é difícil saber quem está conosco além daqueles que nos conhecem diretamente…
Mas, com essa campanha, pudemos ver materializado o apoio, a ajuda, a crença de tantas pessoas que sabem que meu pai é inocente. Não tenho dúvidas de que esta manifestação marca um antes e um depois no processo do meu pai. Mostra que não somos só nós que estamos indignados com as injustiças, tem muita gente que está conosco e que não duvidou em mostrar explicitamente seu apoio.
Viomundo — Vocês já já sabem o que farão o dinheiro que ultrapassar a multa?
Miruna Genoino -- Estamos já conversando sobre isso e vamos em breve comunicar nossa decisão.
Viomundo — A conta aberta na Caixa Econômica para a campanha será fechada?
Miruna Genoino – Sim.
Viomundo — E o site, vocês pretendem mantê-lo no ar para terem um canal direto com a sociedade?
Miruna Genoino — Ainda não pensamos sobre isso… uma resolução de cada vez…
Viomundo — Poucos políticos sobreviveriam a uma campanha tão brutal como a que sofreu seu pai. Genoino sai maior deste episódio? E a família?
Miruna Genoino –Poucos seres humanos conseguem fazer o que meu pai fez. Acho que é muito importante destacar a matéria feita pelo jornal O povo sobre o Encantado, no Ceará, onde meu pai nasceu e onde até hoje vivem seus pais, meus avós.
Lá nasceu a origem da sua luta, e tudo o que ele sonhou sempre foi muito difícil de conseguir… desde ir à escola, tendo de andar 14 quilômetros sem sapato, até ir a uma cidade grande, depois conhecer a luta política e se dedicar a ela de corpo e alma.
É por isso que meu pai sobreviveu a tudo isso que está acontecendo agora, porque sabe que conseguir coisas grandes, como justiça social, liberdade e mesmo reconhecimento da inocência, é difícil, demora… Mas só se consegue com perseverança e tendo clareza de que não existem dúvidas quando o objetivo é claro… Por isso, ele aguentou.
E hoje, depois desta campanha, não sei se ele sai maior, porque eu como filha sempre o vejo enorme, enorme demais, em todos os sentidos, mas ao menos ele sai muito mais forte, porque está enfrentando este processo não apenas com a nossa ajuda, mas com a força de mais de 2 mil pessoas que disseram bem firme com seu gesto: Genoino não merece passar por isso e vai vencer isso conosco.
Nós, da família nos sentimos muito agradecidos de podermos vivenciar um momento como esse, que nos ajuda, sem dúvida, a continuar nossa luta pela inocência de José Genoino.
Viomundo — Qual o futuro do ex-presidente nacional do PT?
Miruna Genoino — Infelizmente não podemos saber. Por enquanto, o futuro de sua saúde está nas mãos do STF. Espero que sejam consequentes com isso, especialmente com uma pessoa que há menos de 6 meses teve apenas 10% de chances de sobreviver. Se ele venceu na mesa de cirurgia, não podem obrigá-lo a perder a vida dentro de uma prisão…
Viomundo — Os nossos leitores têm perguntado se será candidata a deputada federal nas eleições deste ano. Muitos já disseram que votarão em você, se se candidatar a uma vaga na Câmara dos Deputados. Você será candidata?
Miruna Genoino — Estou hoje retribuindo o que meu pai fez por mim um dia… Quando minha mãe não conseguiu cuidar de mim, pois se recuperava de feridas profundas sofridas na ditadura, meu pai não titubeou e assumiu tudo o que era preciso para cuidar de um bebê ainda muito pequeno. Eu hoje apenas estou retribuindo o que ele fez por mim, cuidando sem titubear de coisas que ele agora não pode cuidar sozinho por conta das injustiças… mas não serei candidata a deputada federal.
Considero esse incentivo de alguns militantes como uma forma de apoiar meu pai, já que ele não pode mais ser candidato… Conversei com ele hoje [domingo 19] o quanto pensar em mim como candidata é uma forma de aliviar a grande angústia daqueles que gostariam de poder votar no meu pai. Mas não é esse o caminho que pretendo trilhar para mim. Estou agora aparecendo, para o bem e para o mal, porque estou nessa luta incansável pelo meu pai, por tudo aquilo que ele lutou, mas não me vejo de forma alguma como candidata à câmara dos deputados.