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Ollanta Humala

[...] e Lula vencem o 1º turno no Peru


por Luiz Carlos Azenha
O gráfico acima é do jornal La Republica, do Peru. Reflete o resultado da contagem de votos do primeiro turno das eleições presidenciais. Ollanta Humala e Keiko Fujimori devem disputar o segundo turno.
O candidato “do mercado” era Pedro Pablo Kuczynski, que entrevistei várias vezes quando eu era correspondente da TV Manchete em Nova York e ele, executivo do banco First Boston na cidade.
Foi na mesma época em que eu entrevistava Armínio Fraga como corretor em Wall Street. Ou seja, meu passado me condena.
Ambos são da mesma “extração” de Gonzalo Sánchez de Lozada, o Goni, que se elegeu presidente da Bolívia para “entregar” o gás e o petróleo aos Estados Unidos.
Goni foi derrubado por uma revolta popular e hoje vive exilado… em Washington.
[Clique aqui para assistir ao espetacular Our Brand is Crisis, o documentário sobre os bastidores da campanha de Goni]
No Peru, Ollanta Humala perdeu as eleições anteriores sob a acusação de ser o candidato de Hugo Chávez, o presidente da Venezuela.
[Clique aqui para assistir ao espetacular A Revolução Não Será Televisionada, sobre o fracassado golpe midiático de 11 de abril de 2002 contra Chávez]
Desta vez, foi acusado de ser o candidato de Lula.
Isso porque recorreu aos serviços de uma empresa brasileira tocada pelos petistas Luis Favre e Valdemar Garreta:
Peru: Humala é criticado por receber ‘apoio’ do governo brasileiro
De Reynaldo Muñoz (Agencia France Presse)
LIMA — O esquerdista Ollanta Humala, favorito no segundo turno deste domingo no Peru, está sendo criticado pelo “apoio” que estaria recebendo do governo brasileiro.
A acusação tem como base a assessoria de imagem a cargo de profissionais como Luis Favre, ex-marido da senadora Marta Suplicy (PT) e Valdemar Garreta, considerados por seus detratores ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT), do ex-presidente Lula (2003-2011) e da atual, Dilma Roussef.
Humala admitiu a assessoria mas, segundo ele, isto nada tem a ver.
“Eles possuem uma pequena empresa, que está trabalhando ao meu lado no comando da campanha”, disse o candidato nesta terça-feira, rejeitando a hipótese de que isso signifique uma intromissão externa.
“Não há nada disso, rejeito com veemência, não aceitamos ingerência nem de governos nem de partidos, a assessoria não é do PT”, insistiu.
Humala esclareceu também que os autores da estratégia que levou Lula à presidência nas eleições de 2002 não estão presentes em sua campanha.
A vinculação com os assessores brasileiros surge logo depois de seus detratores ligarem sua imagem a do presidente venezuelano, Hugo Chávez – um dos fatores da derrota de Humala nas presidenciais de 2006.
A presença de assessores estrangeiros é comum no Peru. No começo do ano esteve em Lima o venezuelano Juan José Rendón, especialista em imagem, para aconselhar o ex-prefeito da capital e candidato Luis Castañeda, que vinha perdendo terreno entre o eleitorado.
A cinco dias da eleição, a aspirante Keiko Fujimori (direita) enfrenta a recordação do golpe dado por seu pai, o ex-presidente Alberto Fujimori, no dia 5 de abril de 1992, fechando o Congresso e destituindo magistrados do Poder Judiciário.
Canais de televisão e jornais rememoram a data, assinalando que foi o início de uma etapa de obscurantismo no Peru. Fujimori governou entre 1990 e 2000.
A aspirante, que disputa o segundo lugar num eventual segundo turno com o centrista Toledo e o direitista Pedro Pablo Kuczynski, representa um “fujimorismo renovado”, segundo Alejandro Aguinaga, médico pessoal do ex-presidente e líder do fujimorismo.
“Keiko foi bem clara ao dizer que não haverá outro 5 de abril porque o fujimorismo evoluiu e dá mostras de estar para a par com a democracia”.
Mas Kuczynski afirmou, em Cuzco, que ninguém pode se esquecer do fechamento do Congresso.
“Lembrem-se do dia 5 de abril. É preciso defender a democracia, isso é importante”, expressou Kuczynski.
A candidata disse há alguns dias que seu pai “tinha mensagem forte e clara, necessária para derrotar o terrorismo e pôr de pé a economia do país”.
Grupos de direitos humanos realizaram numa praça central de Lima um dia de repúdio ao golpe, denunciando crimes contra os direitos humanos praticados pelo governo Fujimori e a corrupção generalizada que levou o regime ao descalabro, há pouco mais de uma década.
Humala, um militar da reserva que em 2000 se sublevou contra o governo de Fujimori, tem, segundo as pesquisas, uma vantagem de 7 a 8 pontos sobre o ex-presidente Toledo; Keiko Fujimori e o ex-ministro Kuczynski estão em situação de empate técnico, mas a divulgação de pesquisas estão (ops! AFP) proibidas no Peru desde o dia 4 de abril.

Eleição

[...] Peru vota em Humala. Nacionalista de esquerda lidera na boca-de-urna 



Enquanto o Brasil se contorcia de dor pela matança pavorosa em Realengo, eu estava longe de casa e da internet. Passei os últimos dias na Amazônia (acompanhado pelos colegas jornalistas Gilberto Nascimento e Gilson Dias), apurando uma reportagem para a TV Record.
De Manaus, voamos para Tabatinga, na “Tríplice Fronteira” (Brasil, Colômbia e Peru). Hoje, tomamos uma lancha rápida no porto de Tabatinga, rumo a Benjamim Constant, e dali seguimos para aldeias indígenas às margens do rio Javari. É um Brasil feito de água e floresta. Um Brasil indígena, e que se mistura aos vizinhos numa fronteira porosa. 
Do cais de Benjamim Constant é possível avistar, na outra margem do Javari, um pequeno povoado peruano, de nome curioso: Islândia. É lá que os barqueiros brasileiros preferem comprar combustível, porque a gasolina peruana é mais barata. Hoje, o movimento era intenso na fronteira do Javari: apesar da chuva, muitos peruanos que moram no Brasil cruzaram o rio pra votar na eleição presidencial.


De tarde, no barco que nos trouxe de volta (de Benjamim Constant para Tabatinga), encontramos Yeni e Pedro. Ela peruana, ele brasileiro. O casal vive em Tabatinga e viajou até Islândia só para que Yeni pudesse escolher seu candidato. Percebi que ela tinha votado porque trazia nos dedos a marca de tinta (recurso usado pela justiça eleitoral em vários países da América do Sul, para evitar fraudes). No barco ainda, puxei assunto: votou em quem? E ela, desconfiada: “no Humala, mas acho que você nem sabe quem ele é”.


Quando me mostrei interessado no assunto, Yeni falou mais. Disse que na Amazônia peruana a maioria do povo prefere Ollanta Humala (candidato nacionalista, apontado como chavista e detestado pela elite peruana, ele saiu atrás nas pesquisas, mas disparou nas últimas semanas, como você pode ler aqui).


“A Keiko, filha do Fujimori, também tem apoio; muita gente acha que é preciso dar chance a uma mulher, como a Dilma no Brasil”, diz Yeni. Pergunto o que ela (jovem mãe de três filhos, um deles adormecido no colo de Yeni durante a travessia entre Benjamim Constant e Tabatinga) acha de Keiko. Yeni franze a testa: “olha, ela é filha do Fujimori, né…” E não diz mais.


Quero saber por que ela escolheu Humala. “Ele pode fazer algo diferente pelo povo pobre, ele não é igual aos outros; dizem que ele é violento, que já se meteu em rebeliões, mas isso foi no passado, ele precisa ter uma chance”.


Aí, chega a parte mais curiosa da conversa. Yeni me diz que muita gente critica Humala porque ele tem assessoria de brasileiros na campanha. ”Não entendo essa gente. O Lula fez um ótimo governo no Brasil em 8 anos, se o Humala tem ajuda de brasileiros ligados ao Lula, eu acho ótimo; significa que Humalla pode fazer um governo que atenda os mais pobres”, diz a peruana, num português cheio de sotaque e recheado com palavras em espanhol.    


pesquisa de boca de urna mostra que Humala deve mesmo chegar em primeiro. Keiko Fujimori deve disputar com ele o segundo turno. Mas como a disputa pela segunda vaga é apertada, podem ocorrer surpresas.


Alejandro Toledo (ex-presidente) e Pedro Kuczynski (que foi ministro de Toledo e tem apoio da classe média liberal) seriam adversários mais complicados para Humala, porque poderiam atrair apoio da grande mídia e do empresariado. Keiko deve ter mais dificuldades (pela rejeição que o sobrenome dela gera entre a maior parte dos peruanos).


A pesquisa da Ipsos Apoyo aponta:
Ollanta Humala – 31,6%
Keiko Fujimori – 21,4%
Pedro Kuczynski – 19,2%
Alejandro Toledo – 16,2%
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