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Artigo do dia, por

O texto é de Milly Lacombe, colunista do UOL, publicado em 28/11/2022. !
"A IMPRENSA PRECISA PARAR DE REFORÇAR A IDEIA DE QUE NEYMAR É VÍTIMA DE ÓDIO

Somos bons em inverter narrativas. Fazemos isso há 500 anos. Gostamos de dizer, por exemplo, que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto; foi invadido e ocupado. A inversão se dá no momento em que arrancamos a terra de quem estava aqui e hoje falamos que são os excluídos que tentam tirar a terra de seus verdadeiros donos.

A todo o instante criamos narrativas que escondem delicadamente a história verdadeira. No limite, essas narrativas se chamam fake news. No momento, a narrativa que tentam construir é a de que Neymar é vítima do ódio. Colegas da imprensa fazem isso, Ronaldo fez isso

Artigo do dia, por Paulo Nogueira Batista Jr.

 Bolso, a parte mais sensível do corpo humano, por Paulo Nogueira Batista Junior

Confirmou-se o que alguns vinham prevendo há tempos: Bolsonaro chega competitivo às eleições. Apesar de tudo que fez e deixou de fazer, ele tem condições de vencer, ainda que não seja o favorito, dados os seus altos índices de rejeição.

De todo modo, não é espantoso, leitor, que um presidente com o track record dele ainda consiga ter algo como 30% das intenções de voto? É bem verdade que a competitividade do presidente, governador ou prefeito que disputa a reeleição no cargo está normalmente assegurada. Ele tem a máquina e a caneta na mão, além da exposição permanente que o cargo lhe confere

Colunista do dia, José Dirceu

José Dirceu - Não dá para deixar de escrever sobre eleições, mas, contrariando a toada da grande mídia que diz que o PT e Bolsonaro foram derrotados, os dois extremos, os radicais, a realidade é outra. Primeiro porque o PT é o que sempre foi, um partido de esquerda, socialista, que nos governos e no Parlamento, na luta democrática e social, sempre se aliou e constituiu governos e lutas de centro-esquerda. Segundo porque, se é verdade que Bolsonaro não elegeu, de maneira geral, seus candidatos, também é verdade que os partidos que apoiam seu extremismo autoritário, obscurantista e fundamentalista cresceram e muito. Quem dominou o resultado foram os partidos de centro-direita: PSDB e MDB, que perderam muito mas continuam grandes, e o DEM que se recuperou. 

Artigo do dia


Ascensão e queda do clã Bolsonaro, por Fábio de Oliveira Ribeiro
Após fazer uma longa digressão sobre o surgimento da desigualdade com o estabelecimento da Lei e do direito de propriedade, o acesso privilegiado às magistraturas e a subsequente transformação do poder legítimo em tirania, Jean-Jacques Rousseau explica o processo de diferenciação das famílias no interior da sociedade:
“…deve ter chegado um tempo em que aos olhos do povo ficaram a tal ponto fascinados que seus condutores só precisavam dizer ao menor dos homens ‘seja grande, você e toda a sua raça’, que logo ele pareceria grande para todo mundo, assim como a seus próprios olhos, e seus descendentes se elevavam ainda mais à medida que se distanciavam dele: quanto mais a causa era remota e incerta, mais o efeito aumentava; quanto mais vagabundos havia numa família, mais ela se tornava ilustre.” (A origem da desigualdade entre os homens, Jean-Jacques Rousseau, Penguin & Companhia das Letras, São Paulo, 2017, p. 99)
Uma ilustre família de vagabundos. É assim que Rousseau se refere às dinastias monárquicas europeias. O conceito se ajusta perfeitamente a algumas dinastias republicanas brasileiras: os Caiado em Goiás; os Magalhães na Bahia; os Andradas em Minas Gerais; os Sarney no Maranhão; os Calheiros em Alagoas; os Gomes no Ceará; os Cunha Lima no Rio Grande do Norte; os Bolsonaro no Rio de Janeiro, etc… Não por acaso o poder dessas famílias também se expande para dentro do Poder Judiciário, em cujos domínios também existem pretensões hereditárias.
As disputas políticas europeias eram mediadas pelas ligações e rivalidades dinásticas. A I Guerra Mundial foi em grande medida um conflito no interior de uma família estendida, pois a monarquia inglesa e alemã eram ligadas por laços de parentesco entre si e com a família imperial russa. No Brasil, as disputas políticas sempre foram mediadas por alianças e ódios familiares que produzem elos e fraturas regionais.
O PT rompeu definitivamente com essa prática e criou o mal estar que foi resolvido mediante o golpe de estado de 2016. O retorno ao passado, entretanto, foi efetuado de maneira imperfeita.
A eleição presidencial de 2018 foi anômala e seu resultado indesejado. O clã que chegou ao poder é novo e sem qualquer tradição. Jair Bolsonaro nasceu numa família miserável do Vale do Ribeira e criou os filhos no Rio de Janeiro onde fez carreira no Exército até ser expulso da corporação e entrar na política. Ele colocou três filhos na política. Agora, esses quatro vagabundos ilustres (para usarmos a terminologia de Rousseau) agem como se estivessem em condição de se perpetuar no poder. Isso não poderá ser feito sem acirrar as rivalidades entre os clãs familiares que controlam tradicionalmente os Estados para poder, assim, disputar fatias suculentas da União.
O PT está certo em defender a bandeira Lula livre. Líder inconteste da renovação política que desorganizou a tradicional “conciliação das elites” (que mais parece uma “conciliação de famílias poderosas e/ou mafiosas”), Lula é um símbolo poderoso.
Político talentoso, o ex-presidente petista foi capaz de reorganizar o Estado brasileiro explorando sua falha fundamental (a ambição desmedida de algumas famílias) para incluir pacificamente na economia 40 milhões de brasileiros. Esse fenômeno sem precedentes gerou o melhor ciclo econômico dos últimos 50 anos. Melhor até mesmo do que o milagre econômico da Ditadura, pois a concentração de renda naquele período somente pode ser feita com violência e exclusão política.
O clã Bolsonaro quer reconstruir a ditadura e o milagre dos anos 1970. Essa ambição, que encontra resistência nas Forças Armadas, será limitada por dois fatores alheios ao controle dos 4 ilustres vagabundos. A impossibilidade de contentar e/ou de silenciar os clãs familiares que se opõe ao bolsonarismo. A incapacidade de explorar as rivalidades entre europeus, chineses e norte-americanos em benefício da economia brasileira.
Assim que sentou no colo de Donald Trump, Jair Bolsonaro começou a dar prejuízo para os grupos econômicos/políticos familiares que lucravam exportando para a China e Oriente Médio. As grosserias de Bolsonaro podem ser perdoadas. Mas os prejuízos que ele causou e continuará causando exigem uma reparação que somente poderá se dar através de medidas políticas drásticas.
Um detalhe importante ajudou a derrubar Dilma Rousseff: o anel de aço forjado pelos donos das principais empresas de comunicação contra o PT. Esse anel foi rompido com o resultado da eleição de 2018 e não poderá ser reconstruído em seu próprio benefício pelo clã Bolsonaro.
***
A criminalização do PT, a derrubada de Dilma e prisão de Lula foi para colocar um tucano no Planalto. Deram com os burros nágua e colocaram outro no Palácio. Acho é pouco. As vezes é preciso sofrer para aprender.
#LulaLivre

Artigo do dia


Lados opostos, a mesma estratégia, por Ricardo Cappelli
Quando se avalia movimentos na guerra, pouco importa os valores que cada um representa. É a análise do que realizam no teatro de operações o que conta.
Vejam os movimentos de Bolsonaro. Doria ameaça levantar voo e seu jatinho leva um tiro de bazuca do Planalto. Witzel põe a cara de fora e o Capitão escala um sniper para acertá-lo. Moro, o mais popular, é trancado impiedosamente na solitária.
Até Luciano Huck – que não é da turma, mas pode dar umas beliscadas no filé – é alvejado.
O presidente tem uma estratégia clara. Uma agenda ultraliberal na economia e conservadora nos costumes. Reúne evangélicos, financistas, o agronegócio e parte da grande mídia.
Para que o projeto de reeleição fique de pé, não pode permitir que ninguém entre no seu cercadinho. Delimitá-lo bem é uma obsessão. Se Guedes não produzir um desastre econômico, algo entre 25 e 30% dos votos será suficiente para levá-lo ao segundo turno.
Vamos para o outro lado?
Vejam os movimentos do PT. É pouco provável que outro candidato, isolado, tenha mais votos que um petista, seja ele quem for. Na outra ponta do espectro ideológico, o partido de Lula ainda reina soberano.
A pancadaria com Ciro é cotidiana, difícil dizer quem começou. A esquerda tentou ampliar, se juntar com outras forças? Pau nesta “pseudo-esquerda” que abre mão de pautas estratégicas, de direitos, da soberania e etc. A polêmica em torno do movimento “Direitos Já!” é ilustrativa.
O PT não participa porque o movimento pode atrapalhar o seu projeto de poder. A decisão do partido é legítima e deve ser respeitada.
Mas o argumento da ausência da “agenda Lula” como pauta central é um “bode”. Se Lula sair da cadeia amanhã – o que seria ótimo -, arrumarão outro pretexto. Estão errados?
Se a fragmentação lhes garante uma vaga no segundo turno, por que perderiam protagonismo numa Frente? Ninguém deixa de dar as cartas porque é bonzinho.
O cálculo dos companheiros segue uma lógica. Responsabilidade e altruísmo são palavras bonitas que não costumam comparecer às grandes decisões políticas da história.
Na hora H, o que conta mesmo é a velha frase de Stalin: “quantas divisões tem o Papa?”
Bolsonaro tem convicção que derrota o petismo. O PT aposta que derrota o Capitão. Por isso se escolhem como adversários executando táticas parecidas. Radicalizam e defendem suas posições nos pólos com unhas e dentes à espera do tira-teima. Estão equivocados? Qual será o resultado deste eventual embate?
Não há no momento qualquer força maior que o Bolsonarismo ou o Lulopetismo. Quem quiser construir alternativa a esta polaridade, vai ter que tentar juntar um conjunto de forças e atores. Não haverá Don Quixote no meio de dois gigantes.
Remar contra a maré sempre é possível. Mas na guerra as vontades valem pouco. Será preciso encontrar aliados e construir um exército alternativo com urgência.  As eleições municipais estão chegando.

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P.S. - no Brasil a eleição presidencial é desligada totalmente da eleição municipal. Portanto o resultado eleitoral do ano que vem servirá apenas para manter discurso.

Artigo do dia


Brasil vive um clima de pré-nazismo enquanto a oposição emudece
O Brasil está vivendo, segundo analistas nacionais e internacionais, um clima político de pré-nazismo, enquanto a oposição progressista e democrática brasileira parece muda. Somente nos últimos 30 dias, de acordo com reportagem do jornal O Globo, o presidente Jair Bolsonaro proferiu 58 insultos dirigidos a 55 alvos diferentes da sociedade, dos políticos e partidos, das instituições, da imprensa e da cultura.
E à oposição ensimesmada, que pensa que o melhor é deixar que o presidente extremista se desgaste por si mesmo, ele acaba de lhes responder que “quem manda no Brasil” é ele e, mais do que se desfazer, cresce cada dia mais e nem os militares parecem capazes de parar seus desacatos às instituições.
Há quem acredite que o Brasil vive um clima de pré-fascismo, mas os historiadores dos movimentos autoritários preferem analisá-lo à luz do nazismo de Hitler. Lembram que o fascismo se apresentou no começo como um movimento para modernizar uma Itália empobrecida e fechada ao mundo. De modo que uma figura como Marinetti, autor do movimento futurista, acabou se transformando em um fervoroso seguidor de Mussolini que terminou por arrastar seu país à guerra.
nazismo foi outra coisa. Foi um movimento de purga para tornar a Alemanha uma raça pura. Assim sobraram todos os diferentes, estrangeiros e indesejados, começando pelos judeus e os portadores de defeitos físicos que prejudicavam a raça. De modo que o nazismo se associa ao lúgubre vocábulo “deportação”, que evoca os trens do horror de homens, mulheres e crianças amontoados como animais a caminho dos campos de extermínio.
Talvez a lúgubre recordação de minha visita em junho de 1979 ao campo de concentração de Auschwitz com o papa João Paulo II tenha me feito ler com terror a palavra “deportação” usada em um decreto do ministro da Justiça de Bolsonaro, o ex-juiz Sérgio Moro, em que ele defenda que sejam “deportados” do Brasil os estrangeiros considerados perigosos.
Bolsonaro, em seus poucos meses de Governo, já deixou claro que em sua política de extrema direita, autoritária e com contornos nazistas, cabem somente os que se submetem às suas ordens. Todos os outros atrapalham. Para ele, por exemplo, todos os tachados de esquerda seriam os novos judeus que deveriam ser exterminados, começando por retirá-los dos postos que ocupam na administração pública. Seu guru intelectual, Olavo de Carvalho, chegou a dizer que durante a ditadura 30.000 comunistas deveriam ter sido mortos e o presidente não teve uma palavra de repulsa. Ele mesmo já disse durante a campanha eleitoral que com ele as pessoas de esquerda deveriam se exilar ou acabariam na cadeia.
Inimigo dos defensores dos direitos humanos, dos quais o governador do Rio, Witzel, no mais puro espírito bolsonarista, chegou a afirmar que são os culpados pelas mortes violentas nas favelas, Bolsonaro mal suporta os diferentes como os indígenas, os homossexuais, os pacíficos que ousam lhe criticar. Odeia todos aqueles que não pensam como ele e, ao estilo dos melhores ditadores, é inimigo declarado da imprensa e da informação livre.
Sem dúvida, o Presidente tem o direito de dizer que foi escolhido nas urnas com 53% dos votos, que significaram 57 milhões de eleitores. Nesse sentido o problema não é seu. Os que votaram nele sabiam o que pensava, ainda que talvez considerassem seus desatinos de campanha como inócuos e puramente eleitoreiros. O problema, agora que se sabe a que ele veio, e que se permite insultar impunemente gregos e troianos começando pelas instituições bases da democracia, mais do que seu, é da oposição.
Essa oposição, que está muda e parece impotente e distraída, demonstra esquecer a lição da história. Em todos os movimentos autoritários do passado moderno, os grandes sacerdotes da violência começaram sendo vistos como algo inócuo. Como simples fanfarrões que ficariam somente nas palavras. Não foi assim e diante da indiferença, quando não da cumplicidade da oposição, acabaram criando holocaustos e milhões de mortos, de uma e outra vertente ideológica.
Somente os valores democráticos, a liberdade de expressão, o respeito às minorias e aos diferentes, principalmente dos mais frágeis, sempre salvaram o mundo das novas barbáries. De modo que o silêncio dos que deveriam defender a democracia pode acabar deixando o caminho aberto aos autoritários, que se sentem ainda mais fortes diante de tais silêncios.
Nunca existiram democracias sólidas, capazes de fazer frente aos arroubos autoritários, sem uma oposição igualmente séria e forte, que detenha na raiz as tentações autoritárias. Há países nos quais assim que se cria um governo oficial, imediatamente a oposição cria um governo fictício paralelo, com os mesmos ministros, encarregados de vigiar e controlar que os novos governantes sejam fieis ao que prometeram em suas campanhas e, principalmente, que não se desviem dos valores democráticos. Sem oposição, até os melhores governos acabarão prevaricando. E o grande erro das oposições, como vimos outras vezes também no Brasil, foi esperar que um presidente que começa a prevaricar e se corromper se enfraqueça sozinho. Ocorrerá o contrário. Crescerá em seu autoritarismo e quando a oposição adormecida perceber, estará derrotada e encurralada.
Nunca em muitos anos a imagem do Brasil no mundo esteve tão deteriorada e causando tantas preocupações como com essa presidência de extrema direita que parece um vendaval que está levando pelos ares as melhores essências de um povo que sempre foi amado e respeitado fora de suas fronteiras. Hoje no exterior não existe somente apreensão sobre o destino desse continente brasileiro, há também um medo real de que possa entrar em um túnel antidemocrático e de caça às bruxas que pode condicionar gravemente seu futuro. E já se fala de possíveis sanções ao Brasil por parte da Europa, em relação ao anunciado ataque ao santuário da Amazônia.
O Brasil foi forjado e misturado com o sangue de meio mundo que o fizeram mais rico e livre. Querer ressuscitar das tumbas as essências de morte do nazismo e fascismo, com a vã tentativa da busca da essência e pureza da brasilidade é uma tarefa inútil. Seria a busca de uma pureza que jamais poderá existir em um país tão rico em sua multiplicidade étnica, cultural e religiosa. Seria, além de uma quimera, um crime.
Urge que a oposição democrática e progressista brasileira desperte para colocar um freio nessa loucura que estamos vivendo e que os psicanalistas confirmam que está criando tantas vítimas de depressão ao sentirem-se esmagadas por um clima de medo e de quebra de valores que a nova força política realiza impunemente. Que a oposição se enrole em suas pequenezas partidárias e lute para ver quem vai liderar a oposição em um momento tão grave, além de mesquinho e perigoso é pueril e provinciano.
Há momentos na história de um país em que se os que deveriam defender os princípios da liberdade e da igualdade cruzam os braços diante da chegada da tirania, incapazes até de denunciá-la, amanhã pode ser tarde demais. E então de nada servirá chorar diante dos túmulos dos inocentes.
Juan Arias

Artigo do dia


STF deixa Lula falar. Tão tarde quanto a ida ao velório de Vavá, por Armando Rodrigues Coelho Neto
Será que Lula vai mesmo falar? Já escrevi aqui sobre o Direito Penal do Lula, protagonizado com a conivência do denominado Supremo Tribunal Federal, que sempre decide contra os interesses daquele líder, hoje preso político na masmorra da Farsa Jato. Ser contrário a pleitos de Lula ou adiar julgamentos é pouco. Ouvidos moucos até para a Organização das Nações Unidas, o STF teve a pachorra de autorizar Lula a ir ao velório de seu irmão, quando o caixão estava prestes a ser fechado. Decisão fora do tempo é ineficaz e equivale à negativa.
Algumas das inúmeras violências praticadas contra direitos do Lula foram documentadas neste  GGN, no texto “Direito Penal do Lula e a sabujice do judiciário”.
O STF, hoje esculhambado pelas milícias fascistas, já foi homenageado em bordel sem maiores pruridos.  É mesmo STF que silenciou sobre os crimes da Farsa Jato, as quase 300 conduções coercitivas ilegais, sem contar o endosso às violações funcionais praticadas pelo juizeco de Curitiba – hoje responsável pela pasta da Justiça. A face suja do STF ficou mais evidente no silêncio quanto ao golpe contra Dilma Roussef, ao ser omisso em relação ao vazamento de conversas entre aquela presidenta e Lula. Um lado turvo acentuado nos episódios envolvendo Delcídio Amaral, Renan Calheiros, Aécio Neves, Azeredo, Michel Temer entre outros que não frequentavam sítios em Atibaia.
Ousado para notificar Dilma Rousseff a se explicar por que usara a palavra golpe, não teve a mesma indignação ao ser ameaçado de fechamento pelo filho do presidente Bozo, com apenas um soldado e jeep. “Tigrão” com Dilma, foi um tanto “tchutchuca” com o Bozomínio, como diria Zeca Dirceu. Falo do mesmo STF que rejeitou Lula como ministro de Dilma, mas aceitou Moreira Franco como ministro do traidor Temer. Que ora aceita decisões monocráticas, ora empurra para turmas ou pleno, abusando da pouca ou nenhuma informação da maior parte dos brasileiros. Como diz o jurista Luís Flávio Gomes, as decisões aporéticas (controvertidas) do STF deixa perplexo o mundo jurídico. E, digo eu, em tempos de golpe, mais que nunca!
A ex-ministra Eliana Calmon em mais de uma entrevista já desmascarou o Poder Judiciário, criticou privilégios, denunciou a condição de ininvestigáveis dos maus juízes. Do Judiciário “caixa preta”, denunciado por Lula, ao STF grande balcão de negócios, o fato é que tanto o Brasil moral quanto o imoral passou a conviver com a controvertida visão errática daquela corte, mas sempre aplaudindo o que lhes era conveniente.
Como sinônimos ou não, arruaceiros bolsopatas, fascistas e golpistas estão unidos para desancar o dito Supremo Tribunal Federal. Já há algum tempo, bolsopatas querem, a todo custo, o afastamento de alguns ministros e criarem um tribunal que termine de rasgar a já surrada Constituição Federal. Essa campanha fascista ganhou novos ares com a censura imposta pelo STF ao site O Antagonista. Ficou estranho defensores da censura gritando contra a censura, o que mostra que não apenas o STF é aporético.
Quando o STF calou Lula não houve histeria quanto à liberdade de imprensa. Quando o candidato Fernando Haddad foi impedido de usar o nome de Lula na campanha eleitoral, também não se viu qualquer movimento em favor da liberdade de imprensa, garantia de direitos, gritos contra a fraude eleitoral e ou desequilíbrio entre partes.
Como diz o jornal eletrônico Viomundo, a censura a Lula chegou a ser elogiada até pela pretensa vítima de hoje. “O Antagonista, hoje censurado, aplaudiu a censura à Folha em 2018, quando o ministro Fux proibiu o jornal de entrevistar Lula. E de publicar a conversa, se já tivesse ocorrido. O Antagonista dizia que o magistrado deveria ser homenageado”, diz o Viomundo, citando a jornalista Mônica Bérgamo no twitter.
Tentar esgotar contradições e perversões do STF em tão curto espaço é missão impossível. Sem contar que insistir hoje, nessa tecla, é se transformar em aliado dos bolsopatas na ira insana de querer ver Lula morrer na cárcere político. Insistir nessa tecla é transformar erros pontuais de um ou outro ministro num dos instrumentos de construção da democracia. Há um símbolo referencial a ser recauchutado e preservado. É a instituição Supremo Tribunal Federal e o papel que representa numa Democracia que está em jogo.
Sim. Reconheço que o debate sobre liberdade de imprensa nesse momento foi cínico e oportunista. O STF, para limpar sua barra, acabou liberando a fala de Lula, tão tarde quanto a liberação para ele ir ao velório do irmão Vavá. Mas, quem sabe?
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo
Vida que segue

Artigo do dia




Lula pegou uma economia destruída por FHC: 
Desemprego em alta, baixo crescimento econômico, desindustrialização e sucateamento dos serviços públicos. Sem falar que o Brasil quebrou três vezes, fazendo FHC solicitar empréstimos ao FMI em todas essas ocasiões. Quando FHC deixou o governo, o Brasil era a décima-terceira economia mundial. Depois de 8 anos de governo Lula, o Brasil já era a sexta maior economia do planeta. Ultrapassou até a Grã-Bretanha. A situação era de pleno emprego, retomada dos investimentos públicos, aumento do número de vagas nas universidades, redução da pobreza, aumento do poder aquisitivo dos salários e prestígio internacional. No governo Dilma, o ciclo de crescimento se esgotou. No primeiro mandato, o PIB cresceu a taxas menores, e no segundo mandato chegou até a encolher. Na média, houve um crescimento pequeno, podendo ser comparável aos anos FHC. O PIB cresceu numa média de 2,5% ao ano nos governos FHC. Nos oito anos de governo Lula, a taxa de crescimento anual foi de 4%. Na média dos 13 anos de governos petistas (Lula + Dilma), a média foi de 2,9%. Escrevo isso para mostrar como a grande imprensa no Brasil é canalha. Quando a economia crescia pouco no final do primeiro mandato de Dilma, as manchetes ridicularizavam o "pibinho" anunciado. Era pibinho pra cá, pibinho pra lá: nas capas de jornais, nas reportagens de televisão, nas conversas de compadres dos "especialistas" e nos programas de "debate" onde todo mundo pensava a mesma coisa. Hoje foi anunciado o crescimento medíocre de 1,1% do PIB em 2018. Curiosamente, a palavra "pibinho" desapareceu da boca de Miriam Leitão e seus colegas. Hoje essa turma comemora os "sinais positivos" de uma nova era de prosperidade e crescimento sustentável. E esquecem o desemprego, o desmonte do Estado, o aumento das desigualdades e da pobreza, o subemprego etc. Essa mídia é a expressão da luta de classes no Brasil. Só que da luta dos ricos contra os pobres.
Pedro Fassoni Arruda - escritor, cientista político e professor da PUC/SP - Pontifíce Universidade Católica de São Paulo -. Autor do livro: Partidos políticos e disputa eleitoral no Brasil
Todo mundo quer ser bom, mas da lua só vemos um lado 
Vida que segue...

Como eu descobri o plano de dominação evangélico e abandonei a igreja

EM MEADOS DE 2007, converti-me ao cristianismo, bastante influenciado por uma família de empresários, donos de alguns bazares no 3º Distrito de Duque de Caxias, no Rio, onde moro até hoje, para quem trabalhei no final da adolescência e início da vida adulta, e que depois viriam a se tornar bons amigos. Eu tinha 17 anos e muitas dúvidas existenciais. As clássicas perguntas “por que estamos aqui”?, “para onde vamos?” dominavam os meus pensamentos. Em termos práticos, também não sabia o que fazer profissionalmente.
Depois da entrada na igreja evangélica, a minha mudança de hábitos foi muito rápida. Fui movido por aquele fanatismo típico dos que encontram algo pelo qual são arrebatados. Até quis abandonar tudo para me tornar missionário. Mas minha mãe me dissuadiu da ideia – hoje, penso, ainda bem.
Sempre fui muito influenciado pelos artistas e pastores de ministérios famosos de Minas Gerais. Eu me identificava muito com a abordagem e interpretações dos textos bíblicos, principalmente do pastor Gustavo Bessa (marido da cantora Ana Paula Valadão), que tem uma habilidade fantástica de contextualizar às passagens bíblicas com a época em que foram escritas, e extrair delas uma mensagem com foco no amor de Deus. Na música, era fã de Antônio Cirilo, Ricardo Robortella, do Diante do Trono e dos cantores que saíram de lá para fazer carreira solo, como Nívea Soares, André Valadão, Mariana Valadão.
Há cerca de dez anos, saí numa caravana de amigos rumo ao X Congresso Internacional de Louvor e Adoração do Diante do Trono, realizado na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, onde, atualmente, a ministra Damares Alves exerce o seu sacerdócio.
E foi lá que descobri que, dois meses depois, mais precisamente em junho de 2009, aconteceria um outro evento, o Congresso Nacional dos 7 Montes, que tinha por objetivo reunir cristãos e lideranças de todos os lugares do Brasil para convocar uma grande mobilização em prol da necessidade de a Igreja ir além das suas quatro paredes para conquistar espaços para o Reino de Deus – o que eles chamaram de “7 montes da sociedade”, a saber: 1) artes e entretenimento, 2) mídia e comunicação, 3) governo e política, 4) economia e negócios, 5) educação e ciência, 6) família, 7) igreja e religião.

Fernanda Torres: perdidos no espaço



Enfim, foi um mês extraordinário. Faltam mil quatrocentos e poucos dias para colocar o Brasil nos "eixos". É manter o leme firme, os milicianos ativos e não perder o foco

Fernanda Torres - atriz, roteirista e escritora de "Fim" e "A Glória e seu desfile de horrores"
Vida que segue...

Luis Nassif: xadrez do fim do governo Bolsonaro

(...) a verdade iniciou sua marcha e nada poderá dete-la", Emile Zola, sobre as revelações e movimentos da opinião pública sobre o caso Dreyffus 

Há uma certeza e uma incógnita no quadro político atual.
A certeza, é que o governo Bolsonaro acabou. Dificilmente escapará de um processo de impeachment. A incógnita é o que virá, após ele.
Nossa hipótese parte das seguintes peças.

Peça 1 – a dinâmica dos escândalos políticos

Flávio Bolsonaro entrou definitivamente na alça de mira da cobertura midiática relevante com as trapalhadas que cercaram o caso do motorista Queiroz. Não bastou a falta de explicações. Teve que agravar o quadro fugindo dos depoimentos ao Ministério Público Estadual do Rio, internando Queiroz no mais caro hospital do país, e, finalmente, recorrendo ao STF (Supremo Tribunal Federal) para trancar a Operação Furna da Onça, que investiga a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Nas próximas semanas haverá uma caçada implacável aos negócios dos Bolsonaro. A revelação, pelo Jornal Nacional, de uma operação de R$ 1 milhão – ainda sem se saber quem é o beneficiário – muda drasticamente a escala das suspeitas.
No dia 07/01/2018, a Folha lançou as primeiras suspeitas sobre Flávio. Identificou 19 operações imobiliárias dele na zona sul do Rio de Janeiro e na Barra da Tijuca.
Em novembro de 2010, uma certa MCA Participações, que tem entre os sócios uma firma do Panamá, adquiriu 7 de 12 salas ee um prédio comercial, que Flávio havia adquirido apenas 45 dias antes. Consegiu um lucro de R$ 300 mil.
Em 2012, no mesmo dia Flávio comprou dois apartamentos. Menos de um ano depois, revendeu lucrando R$ 813 mil apenas com a valorização.
Em 2014 declarou à Justiça Eleitoral um apartamento de R$ 566 mil. Em 2016 o preço foi reavaliado para R$ 846 mil. No fim do ano, a compra foi registrado por R$ 1,7 milhão. Um ano depois, revendeu por R$ 2,4 milhões.
Ou seja, não se trata apenas de pedágio pago pelos assessores políticos, dentro da lógica do baixo clero. As investigações irão dar inexoravelmente nas ligações dos Bolsonaro, particularmente Flávio, com negócios obscursos por trás dos quais há grande probabilidade de estarem as milícias do Rio de Janeiro.

Peça 2 – a Operação Quarto Elemento

Caixa preta do Bndes é mais uma fake news de Bolsonaro

Como será aberta a caixa preta do Bndes, por Luis Nassif
Na campanha, Bolsonaro prometeu abrir a caixa preta do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). E exigiu o cumprimento da promessa pelo novo presidente do banco, Joaquim Levy.
Daqui a alguns dias, Levy entregará o prometido, de forma organizada, transparente, deixando Bolsonaro, os generais Heleno e Mourão, e a torcida do Flamengo espantados com o detalhamento das operações.
Vamos escolher um grande grupo nacional, a Gerdau, por exemplo.
No caso da Gerdau, haverá 7 projetos financiados.
Clicando em qualquer um deles, o primeiro, por exemplo, Bolsonaro irá para a segunda tela:
Três tipos de financiamento, portanto. Clicando no primeiro deles, se abrirá mais uma camada da caixa preta.

Na nova tela, 11 caixas pretas adicionais a serem abertas. Clicando na primeira, se verá na tela seguinte:
Há muito mais dados nessas caixas pretas. Por exemplo, o número de empregos gerados, o volume de impostos pagos, o impacto sobre o desenvolvimento regional. Mas Bolsonaro não se importa com esses detalhes. Eles quer saber dos dados de financiamento à exportação, inclusive de serviços de engenharia, que o douto Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, considerou operação criminosa.
Ali, verá os nomes suspeitos de Angola, Cuba, Moçambique, antes que a Lava Jato destruísse o potencial de exportação da engenharia nacional.
Clicando em Angola, por exemplo, se verá a relação de obras financiadas:
Clicando em qualquer linha se terá, alvíssaras!, todos os dados do contrato (clique aqui).
E aí, serão abertas todas as caixas pretas do BNDES.





Aliás, quem quiser saber antecipadamente o que Joaquim Levy oferecerá a Bolsonaro, basta ir ao portal de Transparência do banco - http://www.bndes.gov/transparencia -, pois esses dados são públicos há muito tempo.
Mas como, hoje em dia, há a obrigação de levar carne fresca para os ogros que assumiram a Esplanada, o bravo Levy terá o trabalho apenas de organizar os financiamentos por ordem de valor. E, depois, ficar rezando que para a ignorância bruta da turma se contente com essas iguarias e não descubra que não existe caixa preta no BNDES.***


Lula o canalha do século


(...) Lula fez do Brasil a Casa-de-Noca. Lula é um canalha!
Sim. Me convenci. Sei que vou chocar amigos. Mas tenho que reconhecer, antes tarde do que nunca: Lula é um grande cafajeste! Agora eu vejo com clareza. Finalmente!
Ele disfarçou direitinho seus malfeitos. Usou esse negócio de fazer o Brasil sair do 14.º PIB para o 6.º (passando a perna nos ingleses). Fez isso só para desviar as atenções, enquanto recebia benesses, obras no sítio de Atibaia, apartamento triplex em Guarujá, empréstimo gratuito de outro apartamento em São Bernardo que ele diz que alugava. Lula só queria era ocultar estas suas estórias com as propinas. Então, criou fatos diversionistas para despistar. Mas agora, caiu a máscara!

Por exemplo, aproveitando-se da Presidência da República, ele pagou a dívida externa do Brasil com o FMI e acumulou reservas de 370 bilhões de dólares. Mas que petulância! Nem perguntou se os banqueiros internacionais queriam. Elevou o salário mínimo de 70 para 300 dólares e, criou, vejam só, 20 milhões de empregos. Onde já se viu tamanha trama? E, não contente, desfigurou completamente a pirâmide social brasileira, ao ponto de torná-la um feio losango. Quem ele pensa que é? Continue Lendo>>>
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Artigo do dia

Facismo e Sociedade Brasileira: uma relação de sadomasoquista, por Armando Coelho Neto
Duas mãos invisíveis estão por trás desse texto, que por circunstâncias assino sozinho. Nada estranho num país em que mãos invisíveis parecem estar por trás de tudo, no qual nada é bem o que é...
Em tom jocoso, o site "Sensacionalista" publicou matéria segundo a qual o governo federal havia criado o "Ministério do Recuo", mas teria voltado atrás.
De fato, em poucos dias no poder, a trupe circense do presidente Bozo promoveu diversas idas e vindas. As oscilações abrangem de aumentos de impostos até nomeações para órgãos oficiais, passando por decisões sobre organização administrativa e até sobre soberania. Por cinismo, incompetência ou sabe-se lá o quê, essa instabilidade estressa até a economia e torna a Sociedade Brasileira refém de permanentes tensões relacionadas a interesses, direitos e futuro.
Para os críticos, seria mesmo prova de amadorismo e despreparo. Mas cremos insuficiente tal diagnose. Chamam-nos a atenção algumas tendências e circunstâncias. Ei-las.
Em primeiro lugar, é forçoso constatar que houve um rebaixamento das expectativas. Já fomos um país que não apenas reclamava uma posição de destaque na cena política e econômica internacional, como também um lugar onde o povo se permitia ter esperança positiva no seu próprio destino.
Atualmente, estamos vivenciando uma catarse coletiva, uma espécie de hipnose pela perversidade. Nossas potencialidades como Nação foram neutralizadas e nosso horizonte foi amesquinhado por desejos punitivistas. E isso nos retirou a capacidade de sonhar, de vislumbrar um amanhã melhor, de mais liberdade, mais empregos, investimentos públicos, educação, saúde, fartura e felicidade.
Fala-se apenas em cortes, ameaças, ódios. Anunciam-se maldades a todos, enquanto blindam-se poderosos e protegem-se militares, grandes empresários e políticos.
E até as coisas "boas" que o Coiso anuncia estão indiretamente associadas a punções de agressão e morte - distribuir porte de armas de fogo indiscriminadamente, autorizar o desmatamento, mitigar regras sobre licenciamento ambiental, liberar a caça...
De alucinações sobre Jesus na goiabeira ao aniquilamento de direitos sociais, vai sendo revelado um governo de loucos, covardes, predadores entreguistas. Que, como tal, usará da força contra os menos favorecidos para humilhar o povo e fortalecer a elite. O único freio, ao que parece, são as contradições no processo de mediação de conflitos entre os próprios poderosos. Lei-se, eles contra eles, por que opositores ou resistência não há.
De certo modo, eles podem dizer e fazer o que quiserem. Vai ter base militar americana? Não mais. Mas o IOF será elevado. Só que não. E a Petrobrás e os bancos públicos? Sem dúvida serão privatizados. Ou quem sabe apenas descapitalizados. E a Previdência Pública será substituída por um sistema de capitalização privado, ou... Amanhã vemos. Mas os trabalhadores vão ter que laborar até os 67 anos. Mas pode ser que seja só até os sessenta e dois. Pensando bem, vamos fechar em sessenta e cinco...
Qual o limite para essa inconsequência?
É como um torturador que amarra a vítima, para em sequencia perturbá-la psicologicamente: "acho que vou deixa-la cair pela janela... Não, não vou mais... Mas pensando bem, vou queimá-la viva... Ou afogá-la. Oi? Não... Não quis dizer isso, depois eu penso noutra coisa..."
Não admira que o alter ego do Coiso seja Brilhante Ustra. Há um evidente prazer nesse agir inconstante. Em brincar com a soberania, a previdência, a imagem do Brasil no mundo, os direitos sociais dos trabalhadores, em suma: com os destinos da Nação.
Por que, claramente, trata-se de uma diversão psicopatológica permitida precisamente pela relação entre a passividade e impotência da vítima frente a ausência de empatia e compaixão pelo carrasco.
Não se despreza o relevante papel do humor na luta política. Contudo, para além dos mêmes lacradores da Internet urge que os democratas, os nacionalistas, as pessoas conscientes do País se organizem para reagir. Do contrário, a Sociedade Brasileira permanecerá sequestrada e vitimizada. Até a sua total destruição. Com todos os requintes de crueldade.




Armando Rodrigues Coelho Neto - jornalista, escritor, ex-delegado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol - Polícia Internacional -.
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Artigo do dia: presidencialismo de baixo calão

  • POR CONRADO HÜBNER MENDEs
Não pensei que esse dia fosse possível, mas nunca deixei de imaginá-lo. Venho ruminando a hipótese da eleição de Jair Bolsonaro há pelo menos cinco anos. Em março de 2014, publiquei no jornal O Estado de São Paulo o texto "Reféns do bolsonarismo". Nele criticava o governo da hora, que se permitia desidratar políticas de implementação de direitos por covardia e medo dos surtos de primitivismo de um deputado do baixo clero: "A minoria tem de se calar e se curvar à maioria!"; "Não somos nós que temos de respeitar homossexual, eles é que têm de me respeitar"; o Presídio de Pedrinhas, onde presos foram decapitados, era a "única coisa boa do Maranhão". Alertava que o deputado não era apenas um "lembrete pedagógico de um país que um dia existiu", mas "a versão mais antipática de um Brasil que ainda nos espreita da esquina". Diante da constatação do risco, sentia que "o alarme passa a tocar".
Jair Bolsonaro me respondeu por sua rede no Facebook. Ou melhor, não se dirigiu a mim, mas a seus seguidores, e os convocou para uma manifestação em massa ao jornal. Numa linguagem cifrada, afirmava que minha atitude "nas entrelinhas prega democracia desde que seja a que ele entende como tal. Entretanto, acredito que não goste de minha postura, talvez, por alguma particularidade". Não sei a que particularidade se referia. Não é que eu não goste de sua postura. Se fosse só uma questão de gosto ou de preferência estética, nossa divergência seria irrelevante. A divergência ética com alguém que quer definir democracia no grito (e assim praticar contradição performativa), essa sim é irreconciliável.
O deputado tinha razão em dizer que a democracia não é a que cada um "entende como tal". Nem eu, nem ele, sozinhos, podemos defini-la. A democracia moderna foi o produto de pelo menos 2.500 anos de filosofia e alguns séculos de história política ao redor do mundo. No Brasil, nossa melhor versão veio em 1988, com seus vícios e virtudes. Definir a democracia no grito, batendo a mão na mesa, é a síntese do líder antidemocrático. Não é incompatível com a minha ou com a sua noção de democracia; é incompatível com os mínimos denominadores comuns universais à democracia.
Recebi milhares de mensagens com ameaças, além das incontáveis que chegaram ao jornal. Isso foi em 2014. Três anos mais tarde, em janeiro de 2017, publiquei no jornal Folha de São Paulo o texto "Decálogo do Rinoceronte". Emprestando a imagem do rinoceronte que, na peça de mesmo nome, escrita por Eugène Ionesco, simboliza a desumanização da cidade e a gradual transformação de concidadãos num mamífero com grande corno na cabeça, constatava a saliência desse animal no bestiário político brasileiro. O decálogo do rinoceronte reúne os dez mandamentos da indigência cívica:
"1. Não tolerarás a diferença nem respeitarás o desacordo;
2. Não perguntarás nem fraquejarás diante da pergunta;
3. Expressarás desprezo pela política e por políticos, mas farás política com máscara de apolítica;
4. Opinarás com fé e convicção. Deixar-se convencer pela opinião contrária é derrota;
5. Não escutarás cientistas, especialistas, jornalistas. Ignorarás contra-argumentos, fatos, pesquisas. Não buscarás saber quem, como, onde e por quê;
6. Contra direitos, falarás em nome de uma entidade mística, abstrata, aritmética, imaginária: Deus, povo, maioria, 'homem de bem'. Contra direitos, invocarás uma missão civilizatória: fazer justiça, combater o crime e a corrupção, desenvolver a economia;
7. Desfilarás superioridade moral e intelectual, em nome da qual justificarás toda sorte de microagressões, linchamentos físicos e reputacionais;
8. Mostrarás o que é certo e como se faz, nem que seja no grito, no braço ou à bala;
9. Abraçarás slogans fáceis de assimilar: comunismo, esquerdismo. Atiçarás emoções primárias do seu público por meio dessas sínteses caricatas do mal;
10. Exigirás que sua particular forma de viver seja oficial. Dirás que essa forma é natural e as outras, desviantes."
Em tom pessimista, o texto concluía que o embrutecimento do Brasil nos ajudava a "escutar os ecos da caverna que nos aguarda".
Um ano mais tarde, em palestra ao mercado financeiro, o deputado-candidato ironicamente usou ambas as metáforas: "O mercado sempre me achou um rinoceronte. Vou me dar por feliz se sair daqui com vocês me achando um homem das cavernas".
O recém-empossado presidente da República, Jair Bolsonaro DANIEL MARENCO / AGÊNCIA O GLOBO
O embrutecimento seguiu vertiginoso, impulsionado pela tecnologia. O alarme tocou, os ecos saíram da caverna, e a rinocerite contagiou as famílias, o trabalho e as ruas. O bolsonarismo está aí, e é maior que Bolsonaro. Teremos não só de sobreviver a essa política sem perder a dignidade, mas dela participar. Participar, até segundo aviso, como se estivéssemos dentro da normalidade democrática. É com base nessa suposição que respeitamos os vitoriosos das urnas e exigimos deles o respeito recíproco às instituições. E, para lidar com rinocerontes, vale insistir nesse mesmo decálogo, mas com sinal trocado. Pelo menos por enquanto.
A posse
A cerimônia de posse, segundo observadores mais experientes da liturgia política brasileira, foi a mais singular desde a redemocratização. Singular no mau sentido. Jornalistas se submeteram a uma especial dieta de vigilantismo e privação: por mais de sete horas, ficaram confinados num espaço sem acesso a bebedouro, banheiro ou lugar para sentar; foram avisados por organizadores do evento que atiradores de elite podiam disparar diante de qualquer movimento brusco dentro do palácio. No cenário externo ao Congresso, homens homenageavam o mito fazendo flexão de braço, esse ritual oficial de resgate da masculinidade perdida, enquanto grupos entoavam, contra a mídia tradicional, cantos de louvação ao Facebook e o WhatsApp, o espaço interativo em que "fatos alternativos" libertam-se do fardo do contraditório. São componentes de um mosaico surrealista da distopia bolsonara (para outros, uma utopia).
O discurso de posse, nas versões proferidas no Congresso no Palácio do Planalto, foi um rápido compilado das palavras de ordem que Bolsonaro vem pronunciando há meses: quer unir o povo, mas conservar "nossos valores"; quer nos libertar das ideologias nefastas que dividem o povo e combater os "inimigos da pátria, da ordem e da liberdade"; quer uma sociedade sem divisão, com escola que prepare para o mercado, não para a "militância"; compromete-se com o cidadão de bem, com a propriedade e com a legítima defesa; propõe um governo guiado pela Constituição, com "Deus no coração".
Nesse compilado incoerente de velhas máximas populistas, o traço autoritário esconde-se em óbvias entrelinhas: quando fala na primeira pessoa do plural e se refere a "povo", a "nossos valores" e a "cidadão de bem", remete apenas a seu clube, e seu clube não dá conta da virtude mais distintiva da sociedade brasileira, que é a diversidade e pluralismo. Quando fala em não discriminação, discrimina; quando fala em unir, divide; quando fala em legítima defesa do cidadão de bem, flerta com a liberação da violência da polícia que mais mata e mais morre no mundo; quando fala em proteger policiais, joga-os na mesma espiral de morte e corrupção da qual são vítimas.
Aviões da Força Aérea Brasileira fazem demonstração durante posse do presidente Jair Bolsonaro ALAN MORICI / PICTURE ALLIANCE VIA GETTY IMAGE
Uma das lições extraídas das experiências históricas de colapso da democracia, como o caso da República de Weimar, que redundou no nazismo, é que a prática repetida e metódica, por líderes carismáticos, de demonização dos oponentes políticos resulta na erosão democrática e no extermínio. Esses líderes interpretam a vitória eleitoral como cheque em branco, como delegação incondicional de poder para limpar o país de seus "inimigos" (no jargão bolsonaresco, do "viés ideológico", dos "vermelhos", dos "socialistas"). Bolsonaro vê na sua vitória eleitoral um salvo-conduto. Para ele, democracia não passa de um voto, num domingo de manhã, a cada quatro anos.
A Constituição não é de esquerda nem de direita, mas o terreno dentro do qual esquerda e direita resolveram competir. Quando Bolsonaro rejeita essa identidade constitucional básica, ele trai esse acordo e escapa do território constitucional. A ciência política chama isso de extremismo. Bolsonaro reza o breviário completo. Resta saber se conseguirá praticá-lo. Vale lembrar que o extremismo põe todos em risco, inclusive os extremistas. Não são apenas os antibolsonaristas que correm perigo.
Febejapá de jatinho
O Febejapá – Festival de Barbaridades Judiciais que Assolam o País não poderia ficar de fora da posse, e participou com classe. O juiz Marcelo Bretas, ao lado do ex-juiz agora governador eleito Wilson Witzel, em companhia do deputado Rodrigo Maia, viajou em avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Em circunstâncias normais, a ética judicial já não recomenda. Em tempos de Lava Jato, quando adversários derrotados por Witzel, como Eduardo Paes e Anthony Garotinho, foram afetados no período eleitoral por decisões de Bretas, a caravana do jatinho é premiada com menção honrosa do Febejapá.
Mas e daí? Sergio Moro não aceitou cargo que, segundo ele mesmo, comprometeria toda a integridade do trabalho que conduziu à frente da Lava Jato (tendo iniciado as tratativas antes das eleições terminarem)? É um novo Brasil, uma nova ordem. Os promotores da nova ordem abraçam os hábitos rudimentares do velho patrimonialismo (também chamada de corrupção pela sociologia). Nunca deu certo por incompatibilidade genética entre uma coisa e outra, mas dessa vez pode dar se tivermos esperança e não torcermos contra. A independência judicial, e os rituais de imparcialidade nela embutidos, saiu de moda. A cooperação entre os poderes, e as gentilezas entre os amigos do juiz, é a nova onda – a onda dos laços de afeto, para benefício próprio.