Clik no anúncio que te interessa, o resto não tem pressa...
Zero a zero. Brasil ladeira abaixo, por Ricardo Capelli
‘Bolsonaro derreteu! Não chega ao final do ano!” Após as passeatas do dia 15 de maio, a esquerda viveu um momento de euforia. O impeachment parecia questão de tempo.
As trapalhadas do presidente contribuíram para esta leitura. Na lógica da Nova República, presidente que se isola, cai. O Capitão demonstrou que pode não ser bem assim.
Seu núcleo mais ideológico foi sozinho às ruas no último dia 26. Se as manifestações não foram maiores que as comandadas pela oposição, também não fizeram feio.
A oposição tem mais força na rua, mas até agora insuficiente para invocar um clamor popular pela derrubada do eleito. O Capitão desidratou, mas ainda possui um apoio popular expressivo e uma caneta poderosa. Apesar da vontade, também não tem força para mandar prender os “comunistas”.
O calibre e as bandeiras das manifestações daqui pra frente embutem uma questão de fundo: quem quer derrubar Bolsonaro?
Mourão foi aplaudido de pé no auditório da FIESP após elogiar Margaret Thatcher e Ronald Reagan. Adepto do neoliberalismo, o general foi afastado do Comando Militar do Sul no governo Dilma após dar declarações “pouco democráticas”. Não virou vice por acaso.
As posições de hoje são verdadeiras ou apenas tática do general para tentar chegar ao poder? Mourão seria uma espécie de Bolsonarismo polido e mais inteligente? É melhor deixar Bolsonaro instabilizando o projeto? Quem ganha com a queda do Capitão?
Após o PIB negativo do primeiro trimestre, o mercado e a grande mídia passaram a namorar o vice-presidente.
Parte da esquerda aposta no impeachment. Acredita ser possível, no decorrer do processo, explorar contradições e salvar alguns pedaços do país. Alguns sonham com eleições gerais.
Outra parte acredita que seria fazer o jogo desejado pela elite. Por que entronizar Mourão se ele, mais capaz, pode finalmente dar estabilidade ao mesmo projeto?
Nas outras forças políticas, o clima de divisão é o mesmo. Parece questão de tempo para que os tucanos históricos batam asas do “novo PSDB de Doria”.
Desconfiança também é a marca da relação do Centrão com o presidente. O Capitão acredita que se ceder será engolido e descartado pelo sistema. Os deputados temem que, fortalecido, o presidente e seu partido marchem por cima deles nas próximas eleições.
Alguma coisa deve andar no Congresso, ninguém quer ficar com a conta da crise. Bolsonaro joga a bomba no colo da “velha política”. A política devolve pro colo do Capitão chamando-o de inábil e inepto.
A situação no país é tão esdrúxula que o encontro dos chefes dos três poderes da República virou demonstração de fraqueza. Toffolli, Bolsonaro, Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia protagonizaram uma cena de fim de festa. Pareciam encostar um no outro para ninguém cair.
Com os poderes trincados, as forças políticas perdidas e divididas, e a economia caminhando para uma depressão, é difícil prever o que virá. Não parece existir nenhum campo político capaz de juntar forças suficientes para uma saída, seja ela qual for.
O Brasil permanece, infelizmente, num grande zero a zero ladeira abaixo. A única certeza é que um colapso social de consequências imprevisíveis está a caminho.
Crônica do Tom
Tô aqui no Personnalité do Jardim Bonfiglioli, o único lugar onde a classe média é abraçada com o carinho que merece. Já tomei três ristretos e chupei oito balas de hortelã. A Mauricélia, a copeira, me avisa que no andar de cima tem bandeja com chumbinho ao leite da Kopenhagen.
Venho aqui pelo menos uma vez por semana para ler o “Valor”, o “Estadão”, a “Folha”, a “Exame” e a “Pequena Empresas & Grandes Negócios”. No verão, quando o segundo sol da Cássia Eller chega, costumo levar o laptop e aumentar a frequência para três vezes por semana. Nunca falei com ninguém, com exceção da Mauricélia, que já virou minha amiga. Não sou cliente e não pretende ser.
Hoje a Mauricélia me trouxe a revista do Personnalité, abriu no meio e apontou para uma foto.
– Ele é lindo, né? Adoro homem homem com carinha de bebê
Era o Rodrigo Santoro, o novo garoto propaganda do banco, capa da revista.
– E eu, tenho cara do que, Mauricélia?
– Ah, Seu Tom, o senhor tem cara de homem. Faz o tipo da minha cunhada. Ela é apaixonada por aquele ex-ator da Globo, um fortão, com voz grossa. Parece a sua versão mais alta (sabia).
– Quem?
– Ele é moreno igual o senhor. Vive xingando o PT na internet.
– O Lobão?
– Quem é esse?
– Deixa pra lá. Não pode ser. Me dá outra pista, Mauricélia.
– Ah, ele fez muito filme proibido. Parece que transou até com homem.
– Alexandre Frota?
– Esse mesmo!
Vou mudar pro Personnalité lá do Jaguaré. Frotinha é a puta que o pariu.
Tom Cardoso
Artigo do dia
Hipocrisia do clã
as roubalheiras de Flávio Bolsonaro
o pai dele nunca mais disse que:
"Bandido bom é bandido morto" nem
defendeu a tortura, por que será?