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A fábula do Briguilino

O Briguilino não pode ver um anúncio do GAFE - Globo, Abril, Folha, Estadão - na internet que vai logo clikando. Um amigo dele percebeu e perguntou:

- Briguilino, tu critica tanto a GAFE e não pode ver um anúncio dele e vai logo clikando?..
- Por isso mesmo. Como não compartilho das ideias e práticas dele, combato-os como posso.
- Como assim? Não entendi.
- Muito simples. Clikando nos anúncios que eles pagam, estou fazendo eles gastarem um pouco do dinheiro que eles assaltam "legalmente" dos cofres públicos - via isenção -.
- E tu acha que fazendo eles gastarem uns poucos centavos vai adiantar alguma coisa?
- Sozinho, sei que não. Mas estou fazendo minha parte.

O amigo chamou outros amigos, e todos começaram a fazer a mesma coisa. Veem uma propaganda do pig e clikam imediatamente. 

Que tal você fazer a mesma coisa?

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SAC - Serviço Atendimento ao Cliente


- Como faço para ser atendido pela Vivo?
- Morra!

Lelê Teles - eu tenho um vídeo revelador sobre jb

...um dia eu mostro. Todavia, adianto um trecho para saciar vossa irrefreável curiosidade.

Enquanto fingia que dava milho aos pombos, arrancando entusiasmos guturais daqueles amigáveis bípedes, eu filmava, paparazzicamente, Joaquim Barbosa caminhando, altivo, em frente ao prédio do Supremo.

Era seu primeiro dia como presidente do STF.

Barbosa deixou o carro na garagem, caminhou até a Praça dos Três Poderes, com garbo, e arrancou a venda dos olhos da estátua da justiça.

E deu nela duas bofetadas.

Virou-se por trás da capa e partiu, como se nada houvesse feito. Devido a uma rara lufada de um vento morno e seco do cerrado, deu ainda pra ver, pelo volume que trazia por baixo da toga, o reluzente cabo da espada e uma balança amadeirada em mogno.

Protágoras dizia que o homem é a medida de todas as coisas.

Barbosa acredita que o grego se referia a ele.

Paulo Coelho - fragmento de um diário inexistente

Copacabana, Rio de Janeiro: Eu e minha mulher a encontramos na esquina da Rua Constante Ramos, em Copacabana. Tinha aproximadamente 60 anos, estava numa cadeira de rodas, perdida no meio da multidão. Minha mulher ofereceu-se para ajudá-la: ela aceitou, pedindo que a levássemos até a Rua Santa Clara.

Alguns sacos plásticos pendiam da cadeira de rodas. No caminho, nos contou que aqueles eram todos os seus pertences; dormia sob as marquises, e vivia da caridade alheia.

Chegamos ao lugar indicado; ali estavam reunidos outros mendigos. A mulher tirou de um dos sacos plásticos dois pacotes de leite longa-vida, e distribuiu para o grupo.

- Fazem caridade comigo, preciso fazer caridade com os outros - foi seu comentário.

Ingenuidade

A minha colaboração para prejudicar o GAFE - Globo, Abril, Folha, Estadão -?...
Bem simples, tipo o beija-flor que jogava um pingo de água - trazido no bico - para apagar o incêndio na floresta...
Tou navegando na net vejo um anúncio de algum deles...
Pimba, cliko imediatamente.
Pois é, faço eles pagarem por uma propaganda que não me interesso, capicce?
Você também faz isso?...
Pois comece a fazer. Seja mais um beija-flor contribuindo para apagar o fogo que consome a floresta da boa informação.

Paulo Moreira Leite - renúncia de Genoino é um alerta

Capaz de enfrentar a ditadura de armas na mão deputado concluiu que não teria direito a ampla defesa de seu mandato no Congresso
Minha hipocrisia não chega a ponto de me dizer contente com a renúncia de José Genoíno a seu mandato de deputado federal.
Não tenho biografia para julgar um personagem com sua história. Mas é uma decisão preocupante em vários sentidos. Não por ele. Mas por nós.
Um cidadão que já pegou em armas para enfrentar a ditadura militar em seu pior momento – anos Médici – na guerrilha do Araguaia concluiu que não teria meios para defender sua dignidade no Congresso. A lei assegura a Genoíno o direito a ampla defesa mas ele concluiu que não teria esta garantia.
Com mais de 300 000 votos, Genoíno foi o deputado mais votado de São Paulo em 1998. Também chegou a uma posição de destaque em 1994 e foi o único candidato do PT, até hoje, que chegou a um segundo turno na eleição para o governo paulista. Em 2010, já na ressaca da AP 470, deve 92 000 votos. Tornou-se suplente e assumiu o mandato que exerceu até a semana passada.
Como militante, Genoíno trouxe quadros novos e importantes para a política brasileira, entre eles um líder chamado Chico Mendes e sua discípula magrinha, Marina Silva. Formou pessoas e formou-se, também. Uma democracia não se constrói com proclamações de fim-de-semana nem a partir de frases de efeito. Precisa de lideranças legítimas, verdadeiros representantes do povo, a altura de sua tarefa e de suas responsabilidades. Apontado, pelos próprios colegas, como um dos parlamentares mais influentes do Congresso brasileiro, um articulador incansável e um negociador leal, Genoíno tornou-se um personagem indispensável da democracia construída no país a partir de 1985, que produziu o mais prolongado regime de liberdade de nossa história.
Eleito pela primeira vez em 1982, Genoíno conversa à direita, ao centro, e é claro, à esquerda. Semanas antes de enfrentar o problema do coração e fazer o implante de um tubo de 15 cm na aorta, ele debatia com os colegas um projeto de lei sobre consumo de drogas. Fiz uma entrevista com ele naquela época. Alerta para as novidades que o tempo coloca, Genoíno estava preocupado com a criação de uma legislação rígida demais, capaz de obrigar jovens estudantes que fumam um baseado nos fins de semana a cumprir penas de muitos anos como se fossem traficantes.
Vamos pensar de novo. A Constituição garante, em seu artigo 55, que cabe ao Congresso definir a cassação de mandato de parlamentares.
Embora o STF tenha tentado transformar este artigo em simples enfeite, o Congresso reagiu para manter sua prerrogativa, agora numa versão perversa e injusta: pretendia fazer tudo, de qualquer maneira, para cassar o mandato de Genoíno e agradar aquela fatia de eleitores convencidos de que a degola espetacular de parlamentares pode ser útil para nosso sistema político.
Nossos parlamentares – os piores, meus amigos -- estão de olho na reeleição e, sem verdadeiras realizações para apresentar, sem um projeto consistente para oferecer, se submetem as leis dos marketing político mais rasteiro. Eles é que iriam cassar Genoíno, posar para as fotos com cenho franzido e discursinho moralista que a TV adora.
Considerando a estatura política de Genoíno, um gigante em comparação com 99,9% entre eles, seriam obrigados, pela própria hipocrisia, a cumprir um ritual que já vimos no próprio Supremo. Dizer que lamentavam cassar como corrupto um parlamentar cujo maior patrimônio é uma casa modesta no Butantã, em São Paulo.
Seria na verdade um crime obviamente tão horrendo que era preciso acalmar a consciência fingir arrependimento no mesmo instante.
A renúncia de Genoíno tem este significado doloroso: é a comprovação de que o esforço de criminalizar os políticos brasileiros e a própria atividade democrática, que esteve no centro do discurso ideológico sobre a " compra de votos " que jamais seria demonstrada com fatos concretos, rendeu frutos, convenceu muitas pessoas e gerou vários resultados daninhos.
Atirado naquele universo da " publicidade opressiva" que marcou o julgamento, sem que o cidadão comum tivesse acesso a uma visão equilibrada dos fatos, ele nunca foi ouvido pelos brasileiros ao longo do julgamento e, para certificar-se de que não será mais ouvido por um longo período, já recebeu uma sentença que proíbe suas entrevistas. Ou seja: não só foi vítima de uma sentença injusta mas perdeu o direito de reclamar.
E é vergonhoso reparar que nenhum de nossos "jornalistas investigativos," nossos editorialistas, colunistas, jurados do Premio Esso e outros campeões domesticados pela profissão levantou-se para denunciar um ataque frontal a liberdade de expressão, que não atinge apenas o condenado, mas o próprio direito de todo repórter ouvir e entrevistar quem quiser, como acontece em todo país onde a imprensa é livre.
Apesar da selvageria de Guantanamo, reservada estrangeiros, a Justiça norte-americana, tão lembrado como exemplo de direito e liberdade, não proíbe entrevistas com condenados a penas graves, inclusive à pena morte.
Nenhum juiz norte-americano tem o direito de achar que está sendo desafiado quando um habitante do corredor da morte resolve defender seus direitos e denunciar que é inocente e foi condenado injustamente. Vários depoimentos dessa natureza renderam best-sellers e até filmes de sucesso.
Determinados gestos também podem ser questionados no Brasil de 2013.
Sabe aquele punho erguido, no dia em que Genoíno foi preso? Não pode. Irrita, provoca, deve ser evitado. Foi uma das marcas dos protestos de junho mas considera-se que não pode ser usado na coreografia dos condenados.
Compreende-se. Num universo onde a palavra foi cassada e até um gesto com a mão é questionado, o objetivo é impor a submissão, o silêncio. Todo ato de altivez, de resistência, será condenado.
Procura-se mobilizar a turba, a ralé, aqueles que não tem uma identidade social clara além do ressentimento, como dizia Hanna Arendt. O argumento é vergonhosamente antigo: é preciso combater o "privilégio", a "mordomia", os "direitos humanos", como prega o conservadorismo brasileiro desde o tempo em que cidadãos como Genoíno, seus familiares e seus parentes, e tantas outras pessoas que honraram a luta pela democracia, denunciavam a tortura nas prisões da ditadura.
Quando resolveram que o Congresso não deveria cumprir o artigo 55 e manter a palavra final sobre a perda de mandato, os ministros do Supremo chegaram a definir qualquer atitude contrária como "insubordinação."
Estamos num ambiente de incerteza e insegurança. Depois de um julgamento politizado, assistimos a uma nova transmutação institucional. A medicina não é mais medicina. Pode ser política.
Roberto Kalil, hoje o cardiologista de maior prestígio do país, já deixou claro que Genoíno enfrenta uma doença grave e crônica. Fabio Jatene, cirurgião do mesmo quilate, também fez uma avaliação no mesmo sentido. Peritos do IML do Distrito Federal e da Câmara de Deputados confirmam essa condição. E mesmo doutores indicados por Joaquim Barbosa para fazer um laudo sem a presença de um perito indicado por Genoíno – direito legal de todo prisioneiro – foram incapazes de escrever coisa muito diferente. Mesmo dizendo que não era "imprescindível" manter o deputado em regime domiciliar, levantaram condicionantes de bem-estar e cuidados médicos que não existem nos presídios brasileiros.
Mas nem assim o direito de Genoíno a prisão domiciliar está assegurado. Pedindo que este regime seja considerado definitivo, em vez de prolongar-se por apenas 90 dias, antes de uma nova revisão, como quer o procurador geral Rodrigo Janot, seus advogados lembram que mesmo traficantes de drogas já obtiveram este direito em nossos tribunais.
Eles também recordam uma resolução da Vara de Execuções Criminais do Distrito Federal, que reconhece a absoluta falta de condições de seus presídios atenderem a casos de enfermidade grave.
Entende-se, então, o sentido da luta de Genoíno. Ele trava, no momento, o combate político pelo direito à vida.

Paulo Nogueira - a Veja é uma olavete, dá pior espécie, envergonhada e covarde

P.S - à minha maneira, ajuda a afundar mais rápido essa rivistinha imunda. Me deparo com um anúncio dela na web, clico. Assim faço ela pagar ao Google. Faça isso também e ajude a nos livrarmos dessa porcaria, ok?

A presença de Olavo de Carvalho é visível a 10 mil quilômetros. Basta ver as contratações feitas pela publicação nos últimos meses.
Por Paulo Nogueira, na Carta Maior.
Bandeira de Mello fez uma das melhores definições de 2013, pela brevidade e pela acurácia: Joaquim Barbosa é um homem mau.
Poderia estar na lápide de Barbosa: "Foi um homem mau". Seria justo. Finalmente Joaquim Barbosa e a justiça se encontrariam, e juntos permaneceriam per omnia seculae seculorum.
Existem coisas na mídia para as quais a definição de Bandeira de Mello sobre JB se aplicam perfeitamente.
São muitas, aliás. Mas nenhuma marca se equipara hoje, em maldade, à revista Veja. Sua alma é má. Os defeitos são inumeráveis, e as virtudes simplesmente desapareceram.
Se alguém acredita no céu ou no inferno das revistas, a Veja vai rumar direto para os braços de Lúcifer. É uma revista canalha. Já que falamos de lápides, poderia estar escrito isso na da Veja: "Foi uma revista canalha".
Nos dias de hoje, a canalhice se traduz em coisas como a caça impiedosa, assassina e abjeta a Dirceu.
No último almoço de final de ano da Abril em que Roberto Civita estava vivo, um grupo de editores da Veja ria e vibrava, com o sadismo do celerado, com a perspectiva de ver Dirceu preso.
Ninguém estava ali discutindo como esticar a vida de uma revista que vende cada vez menos e capta cada vez menos anúncios na Era Digital, por razões óbvias.
Não, os cérebros estavam concentrados em antecipar o sofrimento de Zé Dirceu, e se regozijar com isso como era comum com oficiais nazistas nos fornos dos campos de concentração: a alegria na miséria alheia.
Onde a Veja se perdeu?
Ela não foi sempre esse horror, essa escória. Trabalhei lá em boa parte dos anos 1980, e era uma revista admirada pelos brasileiros. Conservadora, mas digna como é, por exemplo, a Economist.
Você pode fazer jornal ou revista de direita sem descer à ignomínia abissal. Você pode ser de direita sem ser um predador.
Burke, o grande liberal inglês, é uma pequena mostra disso. Num de seus grandes ensaios, Burke reprova a Revolução Francesa pela cavalheiresca razão de que homem nenhum acudiu Maria Antonieta quando o povo revoltoso a insultou em Versalhes.
Mas a Veja enveredou pelo direitismo predador. Não é Burke que a governa em seu conservadorismo, como acontece com a Economist. É Olavo de Carvalho, o mistificador que se autoproclamou filósofo depois de ler os astros como astrólogo.
A Veja é hoje uma olavete.
A presença de Olavo de Carvalho é visível a 10 mil quilômetros. Basta ver as contratações feitas nos últimos meses. Dois discípulos entusiasmados de Olavo de Carvalho foram incorporados aos quadros da revista: Rodrigo Constantino, o 'reaça-econômico', e Felipe Moura Brasil, o 'reaça-engraçado'.
Isso para não falar em Lobão, o 'reaça-iconoclasta', outra aquisição recente da revista que repete bobagens de Olavo de Carvalho como se estivesse citando Platão.
Olavo de Carvalho ocupou a Veja. Por que não contratá-lo diretamente, em vez de povoar a revista com seguidores pedestres?
Por covardia.
A revista não quer correr o risco de colocar Olavo de Carvalho em pessoa em suas páginas, por ser um nome universalmente abominado e desprezado fora de um pequeno círculo de extrema direita – aquele para o qual a Veja fala hoje.
A Veja 2013 é uma olavete.
Repito: é uma olavete. E da pior espécie: a olavete envergonhada e covarde.

A máfia togada em ação

Servidores públicos denunciam enriquecimento ilícito com dinheiro do povo

Quase R$ 40 milhões! Este é o rombo que está prestes a ser dado no bolso da população mineira para engordar o bolso dos juízes e desembargadores. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) – único Poder que representa o povo sem ter sido eleito pelo povo – vai enviar, a qualquer momento, um projeto de lei para apreciação dos deputados da Assembleia Legislativa de Minas, que concede vários auxílios a juízes e desembargadores – donos do maior salário do País (R$25 mil). Pior, a Constituição Brasileira proíbe esses penduricalhos aos magistrados!

Estamos falando de penduricalhos, como auxílio-livro (mais R$ 13 mil para cada um por ano), auxílio-saúde mensal (R$ cerca de R$ 700 por mês para cada um, num total de R$ 9 milhões/ano) e mais 2/3 de férias por ano (R$ 16 mil a mais para cada um, no total de R$ 17 milhões/ano), totalizando 4/3 de férias ao ano, além de auxílio  moradia, auxílio doença, auxílio transporte/mudança, subsídio especial de natal etc. Nada disso se justifica, e os juízes já custam muito caro para o cidadão. Os impostos pagos pelos cidadãos financiam buffets e auxílio-alimentação, licença remunerada para cursos no exterior, notebooks, computadores de última geração, auxílio-moradia, carro oficial… E por aí vai…

Se os deputados estaduais, estes sim, representantes eleitos, não nos defenderem desse desvio de dinheiro público (do povo), a população ainda vai dar para cada juiz e desembargador: R$ 25 mil para mudança de residência, quando for para outra cidade; além de outras gratificações que somam valores absurdos.

Os servidores do TJMG estão envergonhados ao assistir a esse assalto aos cofres públicos e querem trabalhar num órgão decente. Por isso, o SINJUS-MG, Sindicato que os representa, tem ido até o cidadão nesta semana, por meio de nota pública, cartas, panfletos e todas as mídias ao alcance, para pedir ao verdadeiro patrão que o ajude a dar um basta a essa imoralidade pública. Quanto maior a distância entre representantes (gestores à frente do poder público) e representados, mais à vontade esses representantes estarão para fazer o que quiser com o seu dinheiro. E isso não é justo! Vamos reagir. A falta de participação popular no Judiciário é que gera os abusos.

No início da tarde dessa quarta-feira, 4/12/2013, ocorreu um ato público em frente ao TJMG da unidade Goiás, em defesa do patrimônio público.

Quadrinha

Há duas coisas na vida
que muito me aborrece
Se acerto, ninguém lembra
Se erro, ninguém esquece.

Um belo exemplo

Está senhora recebia uma cesta básica da prefeitura de Cajazerinha, se aposentou e a primeira coisa que fez?

Foi a prefeitura e mandou tira-la do programa.

Afirmou:Eu agora tenho como se manter. Dê a cesta para uma pessoa que precise.

Seria bom o pessoal do Minha Casa, Minha Vida dá uma passarinho pela casa dessa senhora e financiar uma moradia para ela, não é mesmo?

O trem da corrupção. E agora Serra?

Pedro Marcondes de Moura, Sérgio Pardellas e Alan Rodrigues, em ISTOÉ

A primeira reação da maioria dos políticos que se tornam alvo de denúncias de corrupção é negar enfaticamente sua ligação com os malfeitos. A partir do surgimento de novas evidências, em geral as justificativas vão sendo readaptadas. Quase todos agem assim. O ex-governador de São Paulo, José Serra, cumpriu o primeiro passo da má liturgia política, mas não o segundo.

Mesmo com o escândalo do Metrô de São Paulo chegando cada vez mais próximo dele, Serra mantém as alegações iniciais. O ex-governador tucano diz que durante sua gestão não tomou conhecimento de qualquer cartel montado por empresas de transportes sobre trilhos. Muito menos que teria incentivado o conluio, pois sempre atuava, segundo ele, a favor do menor preço.

Mas Serra não poderá mais entoar por muito tempo esse discurso, sob o risco de ser desmoralizado pelas investigações do Ministério Público. Novos documentos obtidos por ISTOÉ mostram que a máfia que superfaturou contratos com o Metrô de São Paulo e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) não só agiu durante o governo Serra como foi incentivada por agentes públicos a montar um cartel.

Conforme a documentação em poder do MP, as irregularidades ocorreram entre 2008 e 2011. No período em que a maior parte dos contratos irregulares foi assinada, Serra era governador (entre 2007 e 2010).

Os superfaturamentos estão relacionados a um controverso projeto de modernização de 98 trens das Linhas 1-Azul e 3-Vermelha do Metrô. A reforma dos veículos, com cerca de quatro décadas de operação e considerados "sucata" pelas autoridades que investigam o caso, custam ao erário paulista R$ 2,87 bilhões em valores não corrigidos, um prejuízo de quase R$ 1 bilhão. Para se ter uma ideia, os valores se assemelham aos desembolsados pelo Metrô de Nova York na aquisição de trens novos. E quem vendeu os trens ao Metrô nova-iorquino foi justamente uma das companhias responsáveis pela modernização em São Paulo.

Além do flagrante superfaturamento, o promotor Marcelo Milani, do Patrimônio Público, já confirma a prática de cartel. O conluio, segundo ele, foi incentivado por agentes públicos em pelo menos um dos dez contratos relacionados à modernização. Trata-se do contrato do sistema de sinalização, o CBTC. Em depoimento ao MP, o engenheiro Nelson Branco Marchetti, ex-diretor técnico da divisão de transportes da Siemens, relatou que representantes da multinacional alemã e da concorrente Alstom foram chamados para uma reunião por dirigentes do Metrô e da Secretaria de Transportes Metropolitanos.

Na época, o órgão era comandado por José Luiz Portella, conhecido como Portelinha, braço direito de Serra. Durante o encontro, as companhias foram incentivadas a montar cartel para vencer a disputa pelo contrato do sistema de sinalização dos trens das linhas 1, 2 e 3 do Metrô. Os executivos das empresas ainda sugeriram que o governo licitasse a sinalização linha por linha, o que triplicaria a concorrência. Mas o governo foi enfático ao dizer que gostaria que um consórcio formado por duas empresas vencesse os três certames. A Alstom acabou vencendo sozinha o contrato para o fornecimento do CBTC para as três linhas do Metrô.

Em outro depoimento prestado à Polícia Federal, Marchetti já havia relatado que as pressões do governo paulista eram constantes. "No edital havia a exigência de um capital social integralizado que a CAF (empresa espanhola) não possuía. Mesmo assim, o então governador do Estado (José Serra) e seus secretários fizeram de tudo para defender a CAF", declarou ele sobre o contrato para fornecimento de vagões pela CPTM em que o ex-governador e Portella teriam sugerido que Siemens e CAF se aliassem para vencer a licitação. A prática narrada acima acrescenta novos elementos ao escândalo na área de transporte, que Serra, apesar das constantes negativas, não tem mais como refutar.

Novos documentos e depoimentos em poder do Ministério Público também reforçam que o esquema criminoso teria o apoio de políticos e funcionários públicos beneficiados pelo recebimento de propina.

Na última semana, outro executivo da Siemens, além de Everton Rheinheinmer, confirmou a existência de pagamento da comissão para agentes públicos de São Paulo. Em depoimento à Polícia Federal, o vice-chefe do setor de compliance da multinacional alemã, Mark Willian Gough, relacionou uma conta em Luxemburgo de Adilson Primo, ex-presidente da companhia no Brasil, no valor de US$ 7 milhões, aos subornos.

À ISTOÉ, um ex-dirigente da MGE, outra empresa envolvida no cartel, também confirmou que representantes da Siemens cobraram de sua companhia o pagamento de propina a autoridades, em troca da obtenção de contratos com o governo paulista. A cobrança teria partido do próprio Rheinheinmer. O dinheiro, segundo o ex-executivo da Siemens, teria como destinatários parlamentares da base aliada ao governo tucano na Assembleia Legislativa.

Ainda de acordo com o ex-dirigente da MGE, Rheinheinmer também teria o procurado para abrir uma conta no banco suiço Credit Suisse, em Zurique. O ex-dirigente da MGE afirma que era para lá que a Siemens mandaria parte do dinheiro desviado. "Fui procurado por Everton da Siemens tanto para pagar propina para a base aliada quanto para abrir a conta na Suíça", confirmou à ISTOÉ o executivo da MGE.

O Ministério Público paulista investiga o superfaturamento na modernização dos 98 trens das Linhas 1-Azul e 3-Vermelha do Metrô paulista há pelo menos um ano e meio. Um dos fatos que chamaram a atenção do promotor Milani foi a falta de competitividade na licitação dos quatro lotes de veículos reformados. Cada um deles foi disputado por um único consórcio, que reunia uma ou mais empresas. Ao final, sagravam-se vencedores com propostas acima dos valores estabelecidos pelo Metrô em consulta de tomada de preço feita com as próprias empresas.

Tamanho disparate nos preços fez com que até dirigentes das companhias oferecessem descontos para a estatal. Um deles foi assinado pelo ex-presidente da Siemens Adilson Primo. As apurações, no entanto, esbarravam em um obstáculo. A iniciativa de reformar veículos com cerca de quatro décadas em operação só existe no Estado de São Paulo. Em outros lugares do mundo, esses veículos seriam aposentados e trocados por novos por questão de segurança dos usuários e desempenho do sistema. Sem parâmetro de comparação de preços, ficava inviável concluir se a decisão tomada pela gestão de José Serra lesava ou não os contribuintes paulistas.

Após realizar 30 oitivas, porém, o promotor pôde confirmar as irregularidades.

Ao contrário do que se pensava inicialmente, quando o Metrô de São Paulo justificou que a opção pela reforma aconteceu porque ela sairia 60% mais barato do que o valor a ser desembolsado para compra de trens novos, os altos custos da modernização dos trens não apareciam apenas nos quatro contratos de reforma. Em um claro movimento de despiste, o governo paulista fracionou o serviço e acrescentou outros seis contratos à reforma. O serviço foi, oficialmente, orçado em R$ 1,6 bilhão. Só que, na verdade, a modernização dos 98 trens, com 588 vagões, teve um custo de R$ 2,87 bilhões. Sem contar as correções monetárias.

Segundo o Ministério Público, o Metrô de Nova York realizou a compra de 300 vagões, neste ano, por US$ 600 milhões, o equivalente a RS 1,4 bilhão. Pagou proporcionalmente menos pelos veículos novos do que São Paulo está desembolsando na revitalização daquilo que o MP classifica como sucata. Procurado, o Metrô nega problemas com os trens e irregularidades nos contratos.

Em depoimento ao MP em 9 de setembro ao qual ISTOÉ teve acesso, o ex-diretor do Metrô e signatário de contratos da reforma dos trens Sérgio Correa Brasil confirmou que a estatal não previa no orçamento "o chamado truque, bem como a caixa que importariam em 40% do custo final". No entanto, esses e outros itens, de acordo com seis contratos extras analisados pelo MP, foram licitados e estão sendo trocados. Diante das irregularidades, o promotor Marcelo Milani deu, na terça-feira 3, um prazo de 30 dias para que o presidente do Metrô de São Paulo suspenda os dez contratos de modernização.