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Ricardo Kotscho: Fogo no cabaré


Já não bastava a guerra aberta com o vice, general Mourão, e a disputa sem fim entre militares de pijama e olavetes assanhadas para ver quem manda no governo.
A semana mal começou, e começou mal: nesta manhã, Bolsonaro bateu de frente com o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, que anunciara, em entrevista à Folha, um novo imposto, sem combinar com o presidente.
O presidente não pensou duas vezes: correu para o Twitter e desmentiu na mão grande o secretário, que teve a ousadia de taxar até o dízimo das igrejas.
"Quero me dirigir a todos vocês, dizendo que essa declaração não procede. Quero dizer que em nosso governo nenhum novo imposto será criado, em especial contra as igrejas', proclamou o capitão, em mensagem de 41 segundos.
Como assim, "em especial contra as igrejas"? Desde quando imposto é contra alguém e, por qual razão, as igrejas devem ficar isentas de pagar imposto de renda como todo mundo? É um direito divino por acaso?
O mais grave nesta história é a completa desarticulação do governo, não só na relação com o Congresso, mas também na área econômica.
Marcos Cintra é um dos homens de ouro do superministro Paulo Guedes, o czar de economia, e certamente deve ter conversado com ele sobre o novo imposto para substituir a contribuição previdenciária que incide sobre a folha de pagamentos.
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Guedes já foi confrontado e desmentido outras vezes pelo presidente, que quer mandar em tudo, sem entender de absolutamente nada.
Até quando Guedes vai aguentar o tranco dos chiliques do capitão?
Na semana passada, Bolsonaro já havia entrado em choque também com o general Santos Cruz, secretário geral do governo, por conta de um anúncio do Banco do Brasil que irritou o presidente.
Sem consultar ninguém, o capitão mandou o presidente do banco tirar o anúncio do ar e demitir o diretor de marketing, e avisou que daqui para a frente iria censurar previamente todos os anúncios de estatais.
Santos Cruz revogou a decisão da censura prévia, ao lembrar que a lei das estatais não permite a intervenção presidencial no conteúdo das campanhas publicitárias.
Agora, a chamada "ala ideológica" do governo, liderada pelo filho Carlucho 02, resolveu abrir fogo contra o general, como já estava fazendo com o vice Mourão.
Por medo de Bolsonaro, duas instituições públicas do Rio, o INCA (Instituto Nacional do Câncer) e a Fiocruz, simplesmente proibiram palestras de frei Leonardo Boff, sem citar lei nenhuma.
Por cumprir a lei, o general Santos Cruz sofre agora pressão dos bolsonaristas de raiz em sua cruzada de confrontação permanente.
Como é que um país pode ser governado desse jeito, de crise em crise, provocada pelos próprios membros do governo?
Enquanto isso, a economia está devagar quase parando e a reforma da Previdência tão esperada continua em banho maria, à espera das "negociações com os parlamentares", aos quais já foi oferecido um bônus de R$ 40 milhões por cabeça para quem votar a favor.
Com a população e a oposição só assistindo a tudo bestificados, os bolsonaros, seus generais, superministros e olavetes estão em processo de autocombustão.
E faltam ainda três dias para a nova ordem bolsonariana completar os primeiros quatro meses de governo.
Quem ainda aguenta tantos desmandos e ameaças à democracia? Quando teremos um plano de governo?

Publicado originalmente no Balaio do Kotscho e replicado no Jornalistas pela Democracia

Vida que segue

Ricardo Kotscho: Desconstrução do Brasil a galope: menos médicos, menos empregos, menos casas, mais miseráveis


Jair Bolsonaro está cumprindo o que prometeu: a desconstrução do Brasil segue em ritmo desembestado.

Parece que o país foi invadido por um exército de extermínio para não deixar pedra sobre pedra.

Num dos seus primeiros gestos de insanidade, o capitão alucinado expulsou do país os médicos cubanos porque eram comunistas (de direita ou de esquerda?).

Manchete da Folha desta quinta-feira conta o que aconteceu depois da invasão dos vândalos em Brasília:

"Em três meses, Mais Médicos tem 1.052 desistências após saída de cubanos".

O programa Mais Médicos do governo de Lula agora virou o Menos Médicos de Bolsonaro, que está implantando também o Menos Empregos, Menos Casas, Menos Radares, Menos Comida e Menos Vergonha na Cara.

Sem nenhum plano de governo ao tomar posse, a não ser acabar com a Previdência pública, o comandante do bolsonarismo em marcha resolveu detonar todos os programas sociais dos governos petistas, um a um.

As obras do Minha Casa Minha Vida estão todas sendo paralisadas por falta de pagamento, e multidões de miseráveis dormem nas calçadas das cidades.

A violência grassa por toda parte dentro do programa Mais Mortes, com as polícias liberadas para matar. E o plano Moro ainda nem entrou em vigor.

Sem radares e lombadas, que o capitão mandou tirar das estradas, muito mais gente vai morrer, mas estamos livres das multas.

Se algum guarda multar, será demitido, como aconteceu com o fiscal do Ibama que pegou Bolsonaro em flagrante pescando onde era proibido.

Só quem está com o emprego garantido é aquele inacreditável ministro da Educação, o colombiano que não sabe falar português, mas vai mudar os livros didáticos, para defender o Golpe de 64.

Para onde se olha, é só terra arrasada.

Em nome da "nova política", Bolsonaro vai receber hoje os presidentes dos partidos que ele detonou na campanha: Jucá, Kassab, Alckmin e companhia bela.

Assim segue o baile de mascarados, ao som dos latidos nas redes sociais, que agora querem comprar briga com o Hamas e expulsar russos e chineses da Venezuela.

Com o Itamaraty em chamas e o chanceler caçando inimigos por toda parte, o próximo alvo é o IBGE dominado por comunistas que não entendem de estatísticas.

Daqui a pouco, vai faltar general para controlar tudo, de acordo com os gostos do capitão afastado do Exército aos 33 anos, por indisciplina e problemas de saúde mental.

Quem está se divertindo muito em Brasília é só o velho Centrão de Eduardo Cunha, assistindo de camarote ao massacre de Paulo Guedes e as trombadas dos indigentes "articuladores políticos" do governo, comandados por majores, coronéis, generais e delegados, e um sujeito muito esquisito chamado Onyx Lorenzoni.

Mercado, mídia, bancadas do boi, da bíblia e da bala, e todas as guildas que bancaram e levaram Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, já estão todos perdendo a paciência.

Assim também já é demais!, devem estar todos pensando, depois que a nova ordem decretou que o nazismo é invenção da esquerda e a terra é plana.

Só falta o chanceler acusar o Papa Francisco de ser ateu, além de comunista, é claro.

E ainda nem chegamos aos 100 dias da lua de mel, até aqui uma eternidade de pesadelos.

Como tenho escrito, isso tem tudo para não acabar bem.

De que forma e quando vai acabar, ninguém sabe.

Façam suas apostas.

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Vida que segue 

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Ricardo Kotscho: acabou o governo dos Bolsonaros. Começa o dos generais da "Turma do Haiti"

A lambança na demissão do ministro dos laranjais foi a gota d´água.
Nenhuma surpresa. Acabou precocemente o governo do clã dos Bolsonaros, aos 50 dias de vida, na primeira crise que enfrentou.
A deprimente imagem do vídeo improvisado em que o presidente Jair Bolsonaro se rende à chantagem de Bebianno, e o cobre de elogios, deve ter arrepiado o brio até dos militares mais insensíveis.
Começa agora para valer o governo da junta militar comandada pelo general Augusto Heleno, o chefe da “turma do Haiti”.
Com a nomeação do general Floriano Peixoto para o lugar do defenestrado Gustavo Bebianno na Secretaria-Geral da Presidência, completa-se o quadro dos militares que estiveram nos últimos anos no Haiti liderando a tropa de paz da ONU.

Faz parte do grupo também o general da ativa Otávio do Rêgo Barros, o porta-voz sempre assustado.
O Haiti está em guerra civil outra vez, com o país em frangalhos e morrendo de fome, mas os generais se deram bem.

A carta de Ricardo Kotscho para Lula


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Meu bom e velho companheiro Lula,
como não sei se as cartas enviadas para a Polícia Federal aí de Curitiba chegam ao destinatário, escrevo aqui no Balaio mesmo, que é a minha ligação com o mundo.
Também não sei se você tem acesso à internet, mas algum parente ou advogado poderia te repassar esta carta. Primeiramente, meus parabéns pelo título do teu Corinthians. Foi muito merecido, a vitória do tostão do Carille contra o milhão da porcada.
Fora isso, sem boas notícias por aqui.
Continua o troca-troca de ministros no governo e o Supremo deve se reunir de novo na quarta-feira para analisar a segunda instância, mas acho que desse mato não sai mais coelho.
Não duvido de mais nada e estou começando a não acreditar em mais nada vindo do Judiciário. É tudo jogo de cartas marcadas.
Aquela imagem do final da missa da Marisa no sábado não me sai da cabeça, e acho que nem nunca vai sair.
Você deve ter visto a foto de um menino de 18 anos, enteado do Chico, que rodou o mundo, aquele mar de gente te carregando sem você conseguir colocar os pés no chão.
Me fez lembrar os melhores momentos das nossas campanhas, das muitas caravanas, das assembleias na Vila Euclides no início desta longa travessia.
O que mais me impressionou naquela interminável sexta-feira em que você deveria se entregar em Curitiba foi a tua serenidade diante do fato consumado, ao tentar animar as pessoas que estavam chorando no sindicato e ainda encontrando tempo para brincar com os amigos, sem perder o bom humor, mesmo nos momentos de maior tensão.
Teve uma hora, lembra?, que o pessoal quis tirar uma onda do Eduardo Suplicy com aquela história de querer ir junto para a cadeia, e você cortou no ato:
“Vocês ficam falando, mas este é o único macho que tem aqui dentro. Quem mais quer ir comigo pra lá? Não liga, não, Eduardo, nós vamos ter muito tempo lá pra você me explicar esta história da Renda Mínima…”
Pena que você não pode acompanhar o que acontecia do lado de fora do sindicato, o dia inteiro com gente se revezando no caminhão de som para te prestar solidariedade, e mais gente chegando a toda hora.
Quando acabou a água no sindicato, o caminhão-tanque não conseguia passar porque as ruas estavam tomadas por militantes que vieram de várias partes do país. Reencontrei companheiros que não via há muito tempo e eles sempre lembravam de alguma passagem tua pelas cidades deles.
Para mim, o momento mais emocionante foi o ato inter-religioso no meio da tarde, bem na hora em que você já deveria estar em Curitiba.
Falaram os representantes de sete denominações religiosas, ao mesmo tempo em que três mil peões da Volks estavam chegando em passeata pela Via Anchieta. Anotei algumas falas:
“Nós, judeus, sofremos na pele e na história o que é nazismo. Aonde há arbítrio e injustiça nós estamos contra. E o Lula hoje é vitima da opressão e da injustiça”.
Logo em seguida falou um muçulmano representando os palestinos e usando quase as mesmas palavras:
“Nós estamos aqui hoje como estamos na Faixa de Gaza, lutando contra a opressão e a injustiça. E estamos aqui lutando pela liberdade de Lula”.
Depois veio um grupo de umbanda e candomblé, cantando e dançando, parecia uma festa ecumênica.
Foi muito tocante também o discurso em tua defesa feito pela nossa Luiza Erundina, firme e forte em cima do caminhão, de onde não arredou pé.
Naquela sala do sindicato onde se reuniram teus amigos mais antigos, o Djalma Bom distribuía cópia da carta que entregou com a assinatura de nove diretores do tempo em que você presidia o sindicato. Vi que vocês dois ficaram bem emocionados quando se abraçaram, lembrando outros tempos em que a polícia cercava o sindicato. Diz um trecho da carta:
“No ano de 1969, quando você começou sua militância como diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, tudo era proibido. Era proibido participar, discordar, contestar. Vivíamos num dos momentos mais cruéis da nossa história, da ditadura militar implantada em 1964, com forte repressão política contra o movimento sindical”.
E termina assim: “Não te garantem o direito constitucional da presunção da inocência. O que querem mesmo é te prender para que você não seja novamente presidente da República pela terceira vez como indicam as pesquisas eleitorais. Lula, nós acreditamos em sua inocência e você será sempre a nossa referência na luta contra qualquer tipo de injustiça”.
De tudo que li nos últimos dias sobre você, guardei uma frase do Jeferson Miola, colunista do portal 247, que resume o que também penso: “Com sua dignidade, Lula derrotou os indignos”.
Vida que segue.
Forte abraço do Ricardo Kotscho

o desabafo de um amigo

De Ricardo Kotscho
Aguenta firme, Genoíno, e manda um abraço para toda a família, e aos amigos Zé Dirceu e Delúbio, que espero reencontrar em breve, quando a lei for cumprida e eles passarem para o regime semiaberto ao qual foram condenados.
Um dia, que espero não demore muito, a História fará Justiça com vocês.

Ricardo Kotscho: Vitórias de Dilma

A inflação oficial do mês de julho, que deverá ser anunciada hoje, ficará próxima de zero e o valor da cesta básica caiu pela primeira vez desde 2007.
Pesquisa do Ibope, encomendada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e divulgada na terça-feira, revela que 85% dos brasileiros são a favor da reforma política e 84%querem que as mudanças já entrem em vigor nas eleições do ano que vem, endossando a proposta feita pela presidente Dilma Rousseff, que foi rejeitada pelo Congresso e motivo de chacotas na imprensa.
Alegava-se que a presidente não tinha entendido direito a "voz das ruas", porque a reforma política nem constava das reivindicações dos protestos que varreram o país no mês de junho, e que ela estava apenas tentando dar uma resposta rápida às manifestações, mesmo sabendo que não haveria tempo hábil para aprovar as mudanças a tempo de serem implantadas em 2014.
No dia em que anunciou a proposta de reforma política, dei os parabéns a Dilma aqui no Balaio pela coragem que seus antecessores não tiveram de mexer no sistema político-partidário eleitoral, que está na raiz de todas as mazelas e demandas levadas às ruas por centenas de milhares de pessoas poucas semanas antes.
Desde a estreia do Jornal da Record News, em maio de 2011, Heródoto Barbeiro e eu sempre batemos nesta tecla, tornando-nos até chatos de tanto insistir na pregação de uma profunda reforma política, a mãe de todas as reformas que o país necessita para acabar com este "presidencialismo de coalizão" que, em nome da governabilidade, acaba tornando o país ingovernável com seus mais de 30 partidos e 40 ministérios.
E não é de hoje que penso isso. No meu livro de memórias "Do Golpe ao Planalto _ Uma vida de repórter", editado pela Companhia das Letras em 2006, escrevi no último capítulo:
A cada crise, fala-se novamente na necessidade de uma reforma política, que nunca acontece. Olhando as coisas agora de trás para a frente, fico com a impressão de que a raiz do problema não está nas pessoas ou nos partidos, mas num sistema político condenado a não dar certo. Para chegar ao governo, um candidato, qualquer candidato de qualquer partido, tem que fazer tantas concessões a alianças, mobilizar tantos recursos, que acaba amarrado a um conjunto de antigos interesses _ de tal forma que não consegue implantar as reformas reclamadas pelo país há muitas décadas.
Em meio ao segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, no final de uma entrevista, já na hora do café, depois de ouvir as queixas dele sobre a dificuldade de conviver com a base aliada, perguntei-lhe singelamente:
_ Presidente, o senhor conseguiu a reeleição, já está no segundo mandato, por que não dá um murro na mesa e governa do seu jeito, com quem achar melhor para o país?
_ Você está maluco? Se eu fizer isso, meu governo acaba no dia seguinte...
As dificuldades que Dilma Rousseff vem encontrando para governar mostram que, como nenhuma reforma foi feita, a política do toma-lá-dá-cá continua se impondo e  emperrando o desenvolvimento do país, e multiplicando as denúncias de malfeitos em todos os níveis da administração pública.
Os resultados da pesquisa da OAB/Ibope me deixaram feliz porque mostram não estou sozinho. A imensa maioria da população pensa da mesma forma, como se pode ver por alguns números:
* 92% dos entrevistados disseram ser favoráveis à realização da reforma política por meio de projeto de lei de iniciativa popular.
* 78% da população não aprova que empresas privadas façam doações para as campanhas (o ovo da serpente). Como a pesquisa não perguntou sobre financiamento público de campanha, a única alternativa que resta é a que prefiro: só podem ser feitas doações por pessoas físicas.
* 80% defendem a imposição de limites de gastos para uso em campanhas eleitorais (esta questão está intimamente ligada à anterior).
* 90% querem penas mais severas para o uso de "caixa 2" nas campanhas.
* 56% apoiam mudar a forma de eleição dos deputados com a adoção de uma lista de propostas e candidatos apresentada pelos partidos.
O apoio à reforma política, em termos muito semelhantes à proposta por ela apresentada, e a queda na inflação constituem duas vitórias robustas de Dilma no pior momento do seu governo, quando já se previa um "apocalypse now" na reabertura do Congresso. A primeira semana do fatídico mês de agosto, porém, mostra que a presidente recuperou forças tanto na economia como na política, ao chamar as principais lideranças partidárias para conversar no Palácio do Planalto e restabelecer um diálogo que estava emperrado.
Para completar, o inferno astral mudou de lado e agora atormenta a oposição tucana, às voltas com as denúncias sobre falcatruas nas obras do Metro paulistano nas gestões de Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, mas é muito cedo para se falar em recuperação da popularidade perdida pela presidente após os protestos de junho.
O ministério gigante, que Dilma por teimosia não quer mudar, é reconhecidamente muito fraco; os problemas continuam onde estavam; os desafios na economia são os mesmos e a reforma política não deve sair tão cedo, apesar do imenso apoio popular demonstrado pela pesquisa do Ibope, mas os fatos dos últimos dias, sem dúvida, dão um novo alento ao governo para sair das cordas e retomar a iniciativa política. Nada como um dia após o outro, com uma noite no meio, claro.
Por isso, subscrevo este trecho da coluna do meu colega Fernando Rodrigues publicada hoje na Folha:
"É que... governo é governo. Se Dilma resolve propor um plebiscito para fazer a reforma política, entorpece o Congresso e a mídia durante semanas. Por mais escalafobética e fora de hora que seja a formatação da ideia, quem há de ser contra consultar os eleitores a respeito de como melhorar a política brasileira?"
Pelo que a pesquisa do Ibope mostrou, são muito poucos, mas fazem um barulho danado.

Recordar é viver

Entrevista histórica feita por Mino Carta e Bernardo Lerer com Lula, a exatamente 35 anos atrás
IstoÉ – Lula, os políticos estão cercando você e seu sindicato. Que acha disso?

Lula – A gente tem que dar risada, porque esse negócio é realmente muito engraçado. Eu acho que este é o momento que o trabalhador deve tirar proveito de alguma coisa. Mas é preciso agir com inteligência, saber jogar, e isso é difícil. você pode ser hostilizado dentro do próprio movimento sindical. Eu participei certa vez de uma reunião com cerca de cem dirigentes sindicais, no qual se discutiu a formação de um novo partido, o apoio a este ou aquele político, em lugar de discutir a libertação do movimento sindical. E me pediram para falar e eu fui muito agressivo, disse o que pensava. Não agradei nem um pouco. Quem fala a verdade fica marginalizado. Não fui mais convidado para reuniões.
IstoÉ – Na sucessão paulista, você tem candidatos?
Lula – Eu acho que o movimento sindical de alguma maneira tem de se manifestar, porque quem cala, consente. Mas não existe compromisso meu com nenhum candidato. Agora, a gente começa a perceber que o negócio deve ser bem lucrativo se todo mundo quer ser governador, e sem ter direito ao posto, isto é, sem ter compromisso com o povo, mas apenas com quem indica e com os grupos que o apoiam. Engraçado: eleição direta ninguém quer. (Ele apoiaria e faria campanha para o candidato do MDB ao Senado, Fernando Henrique Cardoso.)
IstoÉ – Você não chegou a ser sondado pelo MDB para ser candidato a deputado?
Lula – Especulou-se a respeito. Mas eu não sou inscrito em nenhum partido, e graças a Deus esgotou-se o prazo para inscrição. Jamais participaria da MDB ou da Arena, são farinha do mesmo saco e tem os mesmos objetivos. A Arena e o MDB não representam a classe trabalhadora. Eu só me inscreveria no partido que afinasse comigo ideologicamente. Não me interessa partido de cima para baixo. E é isso que acontece sempre: quando algo começa a fervilhar por aí, vêm meia dúzia de caras, os mesmos de sempre, mexem maravilhosamente na coisa toda e continuam mandando.
IstoÉ – Mas onde está você ideologicamente?
Lula – Eu digo de peito aberto que não tenho compromisso com ninguém, e que o sindicato de São Bernardo e Diadema é uma das poucas coisas independentes que existem nesta terra. Só tenho compromisso com os trabalhadores que me elegeram. No mais, a gente é chamado de dedo-duro pela oposição, de comunista pelo governo e de subversivo pelos patrões. É uma condição muito boa, porque a gente pode dar pau em todo mundo e ninguém pode falar: “vou pegar o Lula porque ele assina a Voz Operária“. Nunca assinei a Voz Operária, mas já li: era um jornal que não dizia nada para mim, jornal para intelectual, não para conscientizar o povão. Então eu tenho uma preocupação muito especial de manter o sindicato independente. A gente andará de cabeça erguida enquanto puder criticar você e amanhã aplaudir, se for o caso, e sem dor na consciência. Infelizmente tem muitos dirigentes sindicais que estão com o boi na sombra…
IstoÉ – E a ideologia, Lula, a ideologia?

A entidade LulaDilmaLulaDilmaLula


“Se a eleição fosse hoje, Dilma ou Lula venceriam”, anuncia a manchete da “Folha” deste domingo para surpresa dos muitos analistas da grande imprensa que nos últimos meses chegaram a prever o fim da hegemonia do PT e das suas principais lideranças, que em janeiro completam dez anos no comando do país.

Após sofrer o mais violento bombardeio midiático desde a sua fundação, em 1980, o PT chega ao final de 2012, em meio do seu terceiro mandato consecutivo no Palácio do Planalto, como franco favorito para a sucessão presidencial, sem adversários à vista, segundo o Datafolha.

Os dois petistas estão praticamente empatados: Dilma teria 57% dos votos e Lula, 56%, ambos com mais votos do que todos os adversários juntos.
Na pesquisa espontânea, Lula, Dilma e o PT chegariam a 39%, enquanto os candidatos de oposição somariam apenas 7%.

A grande surpresa da pesquisa é a força demonstrada por Marina Silva (ex-PT e ex-PV), que ficaria em segundo lugar nos quatro cenários pesquisados. O curioso é que Marina, que teve 19,3% dos votos na eleição de 2010, está há dois anos sem partido, desaparecida do noticiário político, e chega a 18% das intenções de voto na pesquisa estimulada, bem acima do principal candidato da oposição, o tucano Aécio Neves, que oscila entre 9% e 14%.

Por mais que a mídia se empenhe em jogar criador contra criatura, a verdade é que a atual presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parecem formar uma entidade só, a “Dilmalula” _ e é exatamente daí que emana a força da dupla, cada um fazendo a sua parte no intricado jogo do poder.

Dilma, que até aqui vem sendo preservada pela imprensa, mais preocupada em destruir a imagem de Lula e do seu governo, saiu esta semana em defesa do ex-presidente quando se tornaram mais violentos os ataques _ e foi bastante criticada por isso.

Mas é exatamente na lealdade entre os dois, tanto pessoal como no projeto político, que se baseia esta parceria aprovada por 62% da população brasileira, de acordo com a pesquisa CNI-Ibope divulgada esta semana.
Desde a posse em janeiro do ano passado, Dilma e Lula combinaram de se encontrar a cada 15 dias para conversar pessoalmente sobre os rumos do governo, afastando assim as intrigas que costumam frequentar os salões palacianos.

O resultado está aí: com julgamento do mensalão, Operação Porto Seguro e novas denúncias contra o PT e Lula quase todos os dias, as pesquisas mostram que a grande maioria da população continua satisfeita com o governo e quer que ele continue.

No auge do bombardeio dos últimos dias, e certamente ainda sem saber os resultados das pesquisas, Gilberto Carvalho, ministro da secretaria-geral da Presidência da República, amigo tanto de Dilma como de Lula, desabafou:
“Os ataques sem limites que estão fazendo ao nosso querido presidente Lula têm um único objetivo: destruir nosso projeto, destruir o PT, destruir o nosso governo”.

Pelo jeito, até agora não conseguiram. Ao contrário, apenas revelaram o tamanho do abismo que existe hoje entre o mundo real dos brasileiros, que vivem melhor do que antes, e o noticiário dos principais meios de imprensa, que coloca o país permanentemente à beira do abismo, envolvido em crises sem fim.

Isso talvez explique também porque aumentou, no mesmo Datafolha, o índice dos que não confiam na imprensa, que passou de 18% em agosto para 28% em dezembro.

Por tudo isso, penso que é hora do PT sair da defensiva e contar ao país e aos seus militantes o que está em jogo neste momento, dizendo de onde partem e com que interesses os ataques denunciados por Gilberto Carvalho.

Ricardo Kotscho: no Recife campanha pega no breu


Barcos no rio Capiberibe com placas mostrando fotos de Lula, Dilma e Humberto Costa, o candidato do PT; por toda parte cartazes e cavaletes da propaganda de Geraldo Júlio, do PSB, candidato do governador Eduardo Campos; bandeiras de vários partidos tremulando no cais do porto em frente a Brasília Teimosa, que agora tem um shopping no lugar das antigas palafitas;páginas e páginas sobre a disputa eleitoral nos dois principais jornais da cidade.
Ao contrário de São Paulo, de onde vim na sexta-feira, aqui a campanha pegou no breu. Na primeira vez nos últimos muitos anos em que a polarização não se dá entre esquerda e direita, a Frente Popular do Recife que governa a cidade há quase 12 anos rachou e agora PT e PSB se enfrentam na chamada "guerra dos padrinhos".
Com os aliados federais Lula e Dilma de um lado e Eduardo Campos do outro, Humberto e Geraldo lideram a última pesquisa do Jornal do Comércio/Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau, divulgada esta semana, com a diferença entre os dois mostrando sensível queda.
O senador Humberto Costa tinha 35,5% em julho e caiu para 31,1% agora; Geraldo Julio, ex-secretário estadual que disputa sua primeira eleição, saiu de 6,8% e chegou a 22,2%. O ex-governador Mendonça Filho, que aparecia em segundo, caiu de 20,7% para 15,1% e Daniel Coelho, do PSDB, não sai da faixa dos 5%.
Carros de som e cabos eleitorais tomaram a cidade. Aguarda-se para o começo de setembro a vinda de Lula, mais uma vez o principal trunfo do PT, depois de uma sangrenta disputa interna que deixou sequelas no partido e o prefeito João da Costa fora da campanha de Humberto.
Sem grandes comícios até agora, os candidatos se limitam a fazer longas caminhadas por feiras, bairros e morros, uma tradição recifense. O governador Eduardo Campos até agora ainda não apareceu na campanha de rua de Geraldo Júlio para não ofuscar o candidato que aindanão é conhecido por metade do eleitorado, mas é presença constante no programa de televisão.
Pela longa conversa que tive com Campos no almoço de sexta-feira e as entrevistas que fiz com os dois principais candidatos, é inevitável que daqui para a frente a inesperada disputa entre PT e PSB no Recife abale a aliança nacional dos dois partidos, uma situação que se repete em Fortaleza e Belo Horizonte. A reportagem completa sobre o que está em jogo nesta disputa será publicada na edição de setembro da revista Brasileiros.