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Aniversário do humor contra o racismo




  • “Quando aquele cavalheiro nervoso entrou no hospital dizendo ‘eu sou coronel, eu sou coronel’, o médico tirou o estetoscópio do ouvido e quis saber: ‘Fora esse, de que outro mal o senhor se queixa?’ .... 
  • “Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica ‘Electra’, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 A.C...” 
  • “Quando a Censura Federal proibiu em Brasília a encenação da peça Um Bonde Chamado Desejo, a atriz Maria Fernanda foi procurar o Deputado Ernani Sátiro para que o mesmo agisse em defesa da classe teatral. Lá pelas tantas, a atriz deu um grito de ‘viva a Democracia’. O senhor Ernani Sátiro na mesma hora retrucou: ‘Insulto eu não tolero’ ". 
  • “Em Campos (RJ) ocorreu um fato espantoso: a Associação Comercial da cidade organizou um júri simbólico de Adolph Hitler, sob o patrocínio do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. Ao final do julgamento, Hitler foi absolvido”
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FEBEAPA: Festival de Besteiras que Assola o País




Stasnislaw Ponte Preta, aniversário do humor contra o fascismo, por Uriano Mota

Hoje onze (11) de janeiro, dia de nascimento de Sérgio Marcus Rangel Porto¹, os resumos biográficos falam que Stanislaw Ponte Preta era o seu pseudônimo, quando  mais próprio seria dizer que esse era o heterônimo. A simples ou quase simples razão é que, sob a pele de Stanislaw Ponte Preta, Sérgio Porto cresceu para a fama ao criar o imortal FEBEAPÁ, o Festival de Besteiras que Assola o País.

A partir de 1966, o FEBEAPÁ desmontou pelo ridículo o Brasil da ditadura brasileira. Com humor, ele destruiu a farsa moral dos golpistas e seguidores. De todas as armas da inteligência ele usava: sátira, deboche, piadas, copia, cola e comenta - todos os recursos ele publicou contra os policiais, militares golpistas e seguidores de Olavos de Carvalho em geral.
Mas neste dia de hoje, o que Stanislaw Ponte Preta diria da ministra que viu Jesus na goiabeira? A piada vem pronta. Talvez que, na visão da ministra, o Salvador tenha se tornado um grande bicho-de-goiaba. E o que Stanislaw falaria sobre o vídeo em que essa irrecuperável, impagável, extraordinária ministra declara que não aceita a teoria de Darwin nas Escolas? No mínimo, ele diria que a ministra Damares é a maior prova da teoria evolucionista. Mas por enquanto ela apenas imita a espécie humana.
Tentemos continuar. O que diria Stanislaw Ponte Preta de um governo que pretende expurgar da educação o grande Paulo Freire? O palavrão Bolsonaro já é uma sinistra piada, indiferente ao respeito universal do educador cujo livro Pedagogia do Oprimido é a 2ª. obra mais citada em todo o mundo na área de educação. Talvez Stanislaw destacasse que  Bolsonaro deveria parar de repetir palavras. Ou seja, bem que merecia ser  alfabetizado. Então, só assim, o palavrão deixaria de acreditar que as agressões policiais a professores e estudantes não foram inventadas pela Pedagogia do Oprimido.   
E quanto aos esbarros e tortas na cara da comédia da Casa Civil? Bastaria o mais ilustre Stanilaw recortar e colar esta notícia:  
“Na Casa Civil, a ‘despetização’ anunciada pelo ministro Onyx Lorenzoni rende episódios insólitos até hoje. Dois servidores do segundo escalão que escaparam do primeiro corte, mas querem deixar o órgão para atuar na iniciativa privada, não conseguem ser exonerados. Motivo: o abalo causado na estrutura administrativa do órgão pela demissão em massa foi tão grande que, hoje, falta gente para tocar pedidos de exoneração e nomeação”.  Para isso, Bolsonaro nem precisa mais divulgar o retrato oficial do seu mandato. Na vergonha mundial “já ir” o seu retrato.
Mas penso que a  insubstituível atualização do FEBEAPÁ neste momento Brasil já foi publicada por Stanislaw Ponte Preta, como aqui:

  • “Quando aquele cavalheiro nervoso entrou no hospital dizendo ‘eu sou coronel, eu sou coronel’, o médico tirou o estetoscópio do ouvido e quis saber: ‘Fora esse, de que outro mal o senhor se queixa?’ .... 
  • “Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica ‘Electra’, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 A.C...” 
  • “Quando a Censura Federal proibiu em Brasília a encenação da peça Um Bonde Chamado Desejo, a atriz Maria Fernanda foi procurar o Deputado Ernani Sátiro para que o mesmo agisse em defesa da classe teatral. Lá pelas tantas, a atriz deu um grito de ‘viva a Democracia’. O senhor Ernani Sátiro na mesma hora retrucou: ‘Insulto eu não tolero’ ". 
  • “Em Campos (RJ) ocorreu um fato espantoso: a Associação Comercial da cidade organizou um júri simbólico de Adolph Hitler, sob o patrocínio do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. Ao final do julgamento, Hitler foi absolvido”

E para a reforma da previdência:

  • “O Instituto Nacional de Previdência Social […] baixou uma circular prevendo o seguinte: se o senhor é segurado do INPS, não tem certidão de casamento, mas necessita de maternidade para sua mulher ter filho, terá que fazer o pedido com trezentos dias de antecedência, conforme o regulamento previdenciário. Mas como o período de gestação é de apenas duzentos e setenta dias — o que dá nove meses — o senhor deve dar uma passadinha lá no INPS trinta dias antes de pensar em fazer qualquer coisa”
Se ainda existe dúvida sobre o FEBEAPÁ no Brasil de hoje, aqui vai esta informação para os evangélicos fanáticos que creem numa cura gay:

  • “O professor Raul Pitanga, com setenta anos de idade, anuncia algo assombroso: conseguiu descobrir a cura para o homossexualismo. O professor vai comparecer nos próximos dias à Academia Brasileira de Medicina para explicar que o homossexualismo é uma doença curável. […] O professor septuagenário tem toda razão. O problema é a recaída”. 
Então completaria Stanislaw Ponte Preta para os novos livros didáticos: e foi proclamada a escravidão.
1) Sérgio Marcus Rangel Porto - cronista, jornalista, escritor, radialista, comentarista, teatrológo, compositor que certamente é mais conhecido como humorista, pelo pseudonimo de Stanislaw Ponte Preta. Nasceu, viveu e morreu no Rio de Janeiro (1923/1968).
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Dilma obedeceu Bonifácio e não Lula

Febeapá

Sergio Porto, notável cronista da cena brasileira, usava o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta para ridicularizar o ridículo, enfrentar arbitrariedades, registrar o cotidiano. Entenda-se bem: Sergio não se escondia atrás de Stanislaw. Todos sabiam que eram a mesma corajosa e bonita pessoa.

Sergio morreu cedo. Stanislaw se imortalizou na beleza do que ambos escreviam, na coragem com que denunciavam a ditadura, na aguda percepção que tinham da vida.
Sergio criou Stanislaw, que tinha um primo imbecil chamado Bonifácio, o Patriota. Perfilava-se até para mata-mosquito uniformizado, entoando o Hino Nacional. Outro personagem é tia Zulmira, sábia como ela só.
Sujeito de bom gosto, Stanislaw escolhia as “10 mulheres mais certinhas” de cada ano, muitas delas amigas de Sergio, inveterado namorador. Quando morreu, não pode mais namorar e seu Stanislaw, que não morrerá jamais, parou de escrever, entrando ambos para a glória da crônica brasileira.
Em pleno alvorecer do golpe de 1964, Stanislaw, invenção de Sérgio, lançou o Febeapá - Festival de Besteira que Assola o País, para estigmatizar fatos bizarros que vinham junto com o autoritarismo. Caso do sargento da Vila Militar que denunciou um vizinho como “comunista”. Este, preso e espancado, não abriu o “bico”, não entregou ninguém.
Passou aos olhos dos torturadores como figura perigosa e resistente. Berrava feito bezerro desmamado e não delatava companheiros, simplesmente porque não os tinha. Jamais pertencera a organizações clandestinas.
Era apenas o “Ricardão” da mulher do sargento, que viu, na caça às bruxas, momento ótimo para tentar serrar os incômodos chifres, não de todo desconhecidos da vizinhança.
O Febeapá volta. Com o ministro Haddad e a cartilha que ensina as crianças a dizerem “nós pega os peixe”. Volta, sobretudo, com o ex-presidente Lula, para quem “o caso Palocci é problema pessoal do governo”. Que eloquente síntese da mistura que esse homem faz entre o público e o privado.
Bonifácio, o Patriota, imbecil porem sério, se perguntaria: “se é pessoal, qual o nome do tal de governo? Quero recomendar-lhe que cante 100 vezes por dia o Hino da República e demita Antônio Palocci”. Dilma obedeceu Bonifácio e não Lula. Palocci caiu.
Tia Zulmira morreria de rir: “se governo virou pessoa, espero que não se desentenda com dona Argentina, saindo no braço com ela no boteco”.
Stanislaw não perdoaria: “Lula consagrou o Febeapá indo a Brasília e se reunindo com Sarney para ‘salvar Palocci’”. A sociedade não deixou.