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Condomínio fechado


por Luis Fernando Veríssimo

O homem estava caminhando na praia e passou por um garoto que fazia uma construção de areia. Parou para olhar. Lembrou-se do seu tempo de garoto, quando também gostava de fazer aquilo.
— Bonito, o seu castelo de areia — disse o homem para o garoto.
O garoto olhou para o homem. Depois falou:
— Não é castelo.
— O que é então?
— Condomínio fechado.
Mais tarde, no grupo que se reunia para um papo à beira-mar, todos mais ou menos da mesma idade, o homem contou que o que lhe parecera serem as torres do muro do castelo na verdade eram guaritas para os guardas do condomínio, segundo o garoto.
— Vejam vocês. Que fim levaram os castelos de areia da nossa infância?
— A realidade do garoto é essa — disse alguém. — No outro dia minha neta quis saber por que a Cinderela não deu o número do celular dela pro príncipe.
— O curioso é o pulo, de castelo para condomínio fechado. Do feudalismo para a paranoia contemporânea, sem etapas intermediárias. Quinhentos anos de arquitetura ignorados.
— Mas os castelos feudais não deixavam de ser condomínios fechados. E os condomínios fechados não deixam de ser fortalezas medievais.
— Portanto o garoto, na verdade, é um gênio da síntese.
No dia seguinte o homem avistou o garoto no mesmo lugar da praia. Viu com satisfação que ele dava os retoques finais na sua obra, fazendo escorrer areia molhada da mão nos pontos mais altos da sua construção. Talvez ele tivesse decidido fazer um castelo, afinal. Castelos eram irresistíveis, seu fascínio atravessava o tempo e as gerações. O homem perguntou se o que o garoto estava fazendo eram ornamentos para os torreões do castelo.
— Não — disse o garoto.
— O que é então?
— Antenas parabólicas.
O homem seguiu seu caminho, suspirando.