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Rascunhos de Drummond


Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra...

Tinha o caminho, o abismo e a pedra.

Nunca esqueci desse acontecimento
retido nas minhas retinas fadigadas.

Nunca esquecerei, no meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho, nunca esquecerei

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Poesia do dia

Lembrança do Mundo antigo




Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era
tranqüilo em redor de Clara.

As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava
[no jardim, pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!




de Carlos Drummond de Andrade - In sentimento do mundo, 1940

Drumondiana

Garoto, peço-te a graça / de não fazer mais poema / de Natal. / Um dois ou três, inda passa... / Industrializar o tema, / eis o mal"



Drumundiando

De tudo fica um pouco
do medo
do asco
do grito gago...

Da rosa fica muito
da alegria bastante
da felicidade fica mais!

Se eu gosto de poesia?

Gosto de gente
Gosto de vinho
Gosto de bichos
Gosto de plantas
Gosto de lugares
Gosto de chocolate
Papos amenos, amor, amizade...

Acho que a poesia está contida nisso tudo!

by Carlos Drumond de Andrade

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo 2014

cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha...
Você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)... 

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Natal para sempre

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidade ininterrupta, de manhã, de tarde, a noite.
De um vizinho ao outro, de uma rua a outra, de uma cidade a outra, de um estado a outro, de um país a outro, de continente a continente...
E será Natal para sempre!
Carlos Drummond de Andrade

Esperança industrializada

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos...
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente.

Carlos Drummond de Andrade

Mesmo que o hoje te dê um não


...lembre-se que há um amanhã melhor, a certeza de que os nossos caminhos devemos traçar ao lado de quem nos ama; com amor, paz, confiança e felicidade, é a base para se recomeçar.

Um recomeço, pra pensar no que fazer agora, acreditando em si mesmo, na busca do que será prioridade daqui pra frente; PLANOS? Pra que os fizemos, já que o amanhã é mistério? A qualquer momento pode ser tempo, de revisar os conceitos e ações, e concluir, que tudo aquilo que você viveu marcou, porém não foi suficiente pra que continuasse.

As lembranças passadas ficam, tudo que vivemos era pra ser vivido , o destino é como um livro do qual nós somos os autores, ele não vêm pronto, antes de nascermos ele está em branco, ao nascermos introduzimos as primeiras passagens, um começo, com o tempo através das escolhas vamos escrevendo-o página por página, rabiscadas, rasgadas ou marcadas, onde encontramos obstáculos onde indicarão a melhor hora pra recomeçar, nos últimos dias de vida concluiremos, e no final deixamos nossas historias marcadas no coração daqueles, que sempre farão parte de nossa historia, onde quer que estejam.

Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida e o mais importante, acreditar em você de novo.

Carlos Drummond de Andrade

Mãe

Para sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade

Poema do dia

Explicação

Meu verso é minha consolação. 
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça. 
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres, 
folha de taioba, pouco importa: tudo serve.

Para louvar a Deus como para aliviar o peito, 
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos 
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.

Meu verso me agrada sempre... 
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota. 
Eu bem me entendo. 
Não sou alegre. Sou até muito triste. 
A culpa é da sombra das baaneiras de meu país, esta sombra mole, preguiçosa. 
Há dias em que ando na rua de olhos baixos 
para que ninguém desconfie, ninguém perceba 
que passei a noite inteira chorando.

Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson, 
de repente ouço a voz de uma viola... 
saio desanimado. 
Ah, ser filho de fazendeiro! 
À beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer outro córrego vagabundo, 
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de. 
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria. 
Aquela casa de nove andares comerciais 
é muito interessante. 
A casa colonial da fazenda também era... 
No elevador penso na roça, 
na roça penso no elevador.

Quem me fez assim foi minha gente e minha terra 
e eu gosto bem de ter nascido com essa tara. 
Para mim, de todas as burrices, a maior é suspirar pela Europa 
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro 
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente. 
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos. 
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só, 
lê o seu jornal, mete a língua no governo, 
queixa-se da vida (a vida está tão cara) 
e no fim dá certo.

Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou. 
Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?

 Carlos Drummond de Andrade 
Considerado um dos maiores poetas brasileiros, autor de uma vasta obra poética, que também inclui contos e crônicas. Morou no Rio de Janeiro a maior parte de sua vidao. Foi traduzidos para vários idiomas e é uma referência fundamental na poesia brasileira. Nessa semana, poemas de seu primeiro livro Alguma Poesia, que faz 80 anos de sua primeira publicação.

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Não deixe o amor passar

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: 
pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: 
pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: 
existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: 
Deus te mandou um presente: 
O Amor.
Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: 
O AMOR.

Carlos Drummond de Andrade
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Etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que estar na moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
- Qualquer principalmente -.
E nisto me comprazo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Resumia uma estética.
Hoje, sou costurado,
Sou tecido,
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
- CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE -
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Pós-Ibope - A pergunta que não quer calar: E agora, José?

A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?
Carlos Drummond de Andrade
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As sem-razões do Amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.


Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.