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Os bóias-frias do futebol

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A Pública visitou o universo dos pequenos times e dos jogadores profissionais desempregados e subempregados que o Bom Senso F.C denuncia. Abuso é pouco, constatou.
Terça-feira de manhã, céu nublado, aquele “chove-não-chove” no ar. A reportagem da Pública está em Mauá, município da Grande São Paulo, para acompanhar um jogo de futebol sem torcida, estrelado pelo Grêmio Esportivo Mauaense, da Segunda Divisão do Campeonato Paulista, abaixo da Série A3.
Com o objetivo de montar uma equipe para o próximo campeonato do primeiro degrau do futebol profissional, os jogadores de Mauá enfrentam um time de jogadores ainda mais frágeis: o dos desempregados, reunidos em uma equipe montada pelo Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo (SAPESP) para que eles possam manter a forma enquanto não voltam a jogar profissionalmente.
Ali não há fotógrafos, jornalistas, símbolos das federações, placas de publicidade. Ninguém está nas arquibancadas para vibrar pelas jogadas no campo deteriorado, cheio de entulho. Dois cachorrinhos brincam no fundo do “campo” do Estádio Pedro Benedetti, municipal, que fica escondido atrás de um distrito da Polícia Militar.
Mas não falta emoção em um jogo em que cada um luta por um lugar ao sol, pela remota chance de realizar o sonho de se tornar, ou continuar a ser, um jogador profissional de futebol. A Pública acompanhou a partida, vencida por 3 a 2 pelo Mauaense, assistiu a ótimas jogadas e ao golaço de Jorge, o craque do time vencedor, do lugar do quarto árbitro – privilegiadíssima posição em um estádio “de verdade”- e, como faziam os jornalistas esportivos de outros tempos, desceu aos vestiários para entrevistar os jogadores.
Não estávamos ali para fazer uma crônica da partida, mas para saber como é a realidade dos jogadores da base da pirâmide do negócio futebol. Saber o que esperam aqueles que não ganham salários milionários, não saem em capas de revista, nem vendem milhões de camisas com seus nomes estampados, cuja existência era ignorada pela mídia até recentemente, quando o movimento Bom Senso F.C – formado por atletas da Série A e B do Campeonato Brasileiro – girou os holofotes dos bons gramados para iluminar a dura realidade do mercado de trabalho de futebol brasileiro em que campinhos como o de Mauá e o desemprego como os atletas da equipe da SAPESP são bem mais numerosos que as camisas do times de elite.
A maioria dos garotos que encontramos nos chuveiros têm por volta de 20, 21 anos, “velhos” para iniciar a carreira no futebol, e estão longe de obter um contrato para valer em um clube profissional. Mas não desistiram do sonho como diz o meia-atacante Eddy Rocha, um baiano de 21 anos, da equipe da SAPESP: “Me indicaram pro time do sindicato aí e eu tô aqui agora, mantendo a forma pra me empregar”, diz.