O brasil é maior
Uma carta a Brizola, por Fernando Brito
Caro Governador,
Só daqui a um tempo, que nem eu tenho como precisar, poderei entregar pessoalmente esta pequena carta.
Como fizemos ao longo de anos, certamente vamos revisar o texto, disputando e remendando algumas palavras, como fizemos durante duas décadas de Tijolaços, por horas seguidas. Mas, como naquela época, espero estar interpretando corretamente seus pensamentos, embora sem a mesma agudeza.
Governador, embora o senhor nos faça muita falta, prefiro que o senhor não esteja mais por aqui.
Porque é muito triste ver o que fizeram ao nosso país. Fome, desamparo, pobreza e miséria por toda a parte, violência política assustadora e muitas regressões ao passado em tudo, até na vacina da pólio, algo monstruoso para nossas crianças.
Fico pensando quantas vezes usaríamos palavras de seu vocabulário incomum: energúmenos e paquidermes iam-lhe sair às dezenas, com seu sotaque inconfundível, para referir-se aos toscos e insensíveis que estão na nata deste país.
Aos 100 anos de vida, até para o senhor, acostumado às lutas mais brutas, seria dose para elefante encarar o que vivemos hoje. Para nós, ao menos, é.
Porque chegamos à fase conclusiva de nossas vidas tendo que, como fazemos hoje, nos apresentar ao combate, em lugar de estarmos numa noite de confraternização de velhos companheiros. Ou não, porque talvez seja exatamente isso que nos torna irmãos: a luta, da qual jamais desertamos.
Não preciso explicar o que se passa – aí de cima o senhor deve estar vendo até mais com mais clareza – e nem ficar falando em ideologia: lembro de sua frase dizendo que ela era indispensável como bússola quando a realidade era nebulosa, mas que quando a visão era limpa e clara, era nos olhos e nas referências sociais que deveríamos confiar.
Está tudo claro, comandante. O povão, como naqueles tempos de suas gloriosas campanhas ao governo do Rio, já escolheu quem será o seu instrumento e ninguém lhe comprou a consciência com um prato de lentilhas – e olhe que a fome é grande.
Escolheu Lula, se não por tantas outras razões, por aquela que, em 89, nos deu o invencível Darcy Ribeiro: a de que da boca do líder metalúrgico,”não ouviremos mais falar do tolo orgulho de sermos a segunda economia agrícola do mundo, produzindo soja para engordar porcos no Japão, mas indiferente à fome do povo”.
Há gente pequena, que se confunde e não segue o chamado que o povo brasileiro nos faz. Gente pretensiosa, que se crê dona da verdade e despreza o processo social que nos deveria conduzir. Gente que prefere ficar à margem e, pior, vociferando contra a escolha popular, esquecendo daquilo que o senhor sempre nos dizia: confiem na sabedoria e na memória popular.
É claro que não esquecemos das rusgas e conflitos que tivemos com Lula. Mas também lembramos, como se fosse hoje, do momento em que, com tudo isso, o senhor lambeu as feridas da derrota de 89 e não deixou que se desviasse dele um voto sequer dos milhões que vieram do Rio, do Rio Grande, e de onde mais houvesse um brizolista.
Diferenças havia, e não somos, o senhor dizia, todos cordeirinhos brancos e apascentados.
Não! Somos lenha boa, daquela que sai faísca. A fidelidade ao povo brasileiro e ao fio da História, que nunca se desamarrou de nossas vidas, nos traz aqui hoje e nos trará sempre, enquanto vivermos num país não for a pátria da educação, da justiça, da liberdade, pátria de tudo o quanto representam as lutas sociais do povo brasileiro.
Não usurpo, Governador, as suas decisões, ainda mais quando não podem mais ser tomadas neste plano onde ainda estou. Por isso não digo o que o senhor faria. Mas, depois de tantos anos, sei bem de que lado estaria Brizola, o homem que me ensinou que nós somos apenas aprendizes do socialismo, cujo mestre era o próprio povo.
O senhor nos tocou reunir, chefe, e estamos aqui. Não questionamos as decisões do PDT hoje tão pequenino e esmaecido. Como naquela triste descrição de Drummond fez do esbulho da sigla histórica do trabalhismo, nós também não podemos fazer nada mais com as três letras, que a gente tanto amava e que hoje, como doem.
Mas devemos fazer por seu nome o que o senhor fez pelo trabalhismo: não permitir que essa ideia se perca no oportunismo eleitoral e num insano egoísmo pessoal. Não será posto, como nunca o fizeram, a confrontar-se com o povo brasileiro. Muito menos pela mão de quem foi, enquanto o senhor andava por estas plagas, um aliado eventual, mas não seu companheiro de partido, como fomos todos nós.
Nós estamos aqui, governador, para dizer que não será em seu nome ou em nome do brizolismo que se dividirá o povo brasileiro, que se arriscarão as liberdades e a democracia dará uma sobrevida política a este paquiderme energúmeno, que diz “e daí?” para a morte de nossos irmãos.
Não em seu nome, Brizola, não em nosso nome, que é o seu.
Brizola sempre, Lula já.
Crônica dominical
Governador, (afinal era assim que sempre o chamava, porque nunca tive idade para chamá-lo de Brizola nem a bajulação de chamá-lo de “chefe”)
Ontem, 21 de junho, se completaram 15 anos desde a última vez que o vi com vida, entrando como um desesperado com um telefone celular no centro cirúrgico do Hospital São Lucas, para colocar o Dr. Adib Jatene em contato com os médicos que tentavam salvar sua vida, algo impossível, como ouvi dele próprio.
Não fiz questão, ontem, porém, de falar de sua morte e deixo para escrever hoje, um dia 22, como era 22 o dia de janeiro de outro 22, o ano em que o senhor nasceu Itagiba Brizola – que virou Leonel por artes do Leonel Rocha, insurreto gaúcho de 1923 – na perdida Cruzinha, beirada do distrito de Carazinho, beirada de Passo Fundo.
Tive o privilégio improvável de conviver com o senhor por 22 anos. Diariamente, por 18 destes anos.
Jamais compreendi como o senhor me suportou.
Nossa relação sempre foi elétrica.
Nos momentos de intimidade, o senhor me chamava, lembro todo dia, de “Brito velho”, embora eu tivesse 36, quase 37 anos a menos.
Brito velho, eu sabia, era o Carlos de Brito Velho, seu contemporâneo e adversário figadal, nas lutas politicas dos gaúchos, nos anos 50.
Nunca me incomodei com isso, ao contrário.
Sempre gostei desta tensão entre nós, que nunca foi agressiva e intolerante.
Eu fazia o papel que me era vital, o de ser rebelde, e o senhor, o que lhe era o mais raro a um líder político, o de poder continuar a apreciar a rebeldia.
Tenho saudades deste convívio, embora ele fosse absorvente ao ponto de aniquilar a “vida pessoal”.
Minha mulher à época, permita a indiscrição, dizia que “Leonel Brizola é o melhor anticoncepcional que existe”.
Não havia manhã, não havia fim de noite, não havia férias, feriados, lazer.
Nem para mim, nem para o senhor.
Mas existiam as noites de sexta-feira.
E a ‘balada” era escrever a sua coluna nos jornais, o Tijolaço que nomeia este blog, no qual, sem autorização, busco perpetuar o que fomos.
Era uma tortura – deliciosa, confesso – de décadas.
Como o senhor não podia ir a um botequim, o escrever era uma arte de convívio, de conversa, de troca de ideias.
No início, uma aula para mim. O texto ditado pelo, andando, falando como num debate.
“O bem escrito é o bem falado”, dizia.
Depois, com o convívio, o tema sugerido, sabendo que eu caminharia como pelos seus passos, não por o seguir, mas por ter o mesmo rumo.
Depois, a liberdade de tomar as rédeas e ter apenas a sua mão de taura velho a refreá-las, não deixar que o xucrotomasse o freio nos dentes.
Jamais entendi porque o chamavam de autoritário, porque duvido que alguém gozasse tamanha liberdade de falar sobre e pelo outro como tive com o senhor.
Com o devido perdão de meus contemporâneos jornalistas, perdi a conta das “aspas” que formulei em seu nome, como suas declarações.
Obrigado, governador, por ter tido este privilégio, que jamais foi um sofrimento, apesar dos que acham que a política é garantir um fim de vida com sinecuras e privilégios.
Sei, que apesar de todas as suas diferenças com o Lula – dois bicudos não se beijam – ouvi de sua boca sempre o reconhecimento à natureza exótica dos que são flor da terra.
Não falo nunca em seu nome, mas sei que muito do que falo tem a sua alma, sem a sua verve, é claro.
Mas não creio que fôssemos brigar pelo que digo hoje.
Não levo a sério o “Brito Velho”.
Sou um velho agora, tão velho quanto o senhor era quando o conheci, pelo que creio que finalmente confluimos as nossas idades.
Somos jovens, eternamente jovens!
Com um abraço de quem, agora, o tempo permite se dizer seu amigo,
Fernando Brito
Ciro Gomes vira "minion" de si mesmo, por Fernando Brito
De Leonel Brizola para os irmãos Gomes (Ciro & Cid)
Política do AdSense: Não é permitido aos editores pedir que outras pessoas clique nos anúncios nem usar métodos de implementação fraudulentos para receber cliques. Isso inclui, oferecer remuneração para que os usuários visualizem anúncios ou realizem pesquisas, prometer arrecadar dinheiro para terceiros por meio de tal comportamento ou colocar imagens próximas a anúncios individuais.
Brizola revira-se no túmulo
Lembrando Brizola
Se a Rede Globo for a favor, somos contra. Se for contra, somos a favor!
Hoje Brizola faria 96 anos, o que ele diria sobre o momento que passamos?
"Nossos caminhos são pacíficos, somos pacatos, nossos métodos democráticos, somos democratas, mas se tentam nos reprimir, só Deus sabe da nossa reação"...
O velho Briza, atualíssimo
***
O que era o trabalhismo para Leonel Brizola
“Compreendo o trabalhismo como o primado dos valores do trabalho, a luta contínua para aumentar a participação dos trabalhadores na riqueza social, opondo-se a toda e qualquer forma de exploração do homem pelo homem, de classes sociais por outras classes sociais e de nações por outras nações. Desse modo, o trabalhismo expressa, fundamentalmente, as aspirações de todos os que dependem do trabalho para viver”
Psicografia política
Brizola:
Lula, como sempre fica com os teus
Os que te pedirem carona, dê
E grande como és
Pede a Ciro aceitar ser teu vice
Leonel Brizola - o político que combateu baratas e ratos
Nunca desista, por Cláudia Bensimon
Minha singela homenagem aos 13 anos da morte de Leonel Brizola
Leonel Brizola ''Filho do improvável'' \o/
Lula incorpora Brizola
Vive les enfants du ‘Brizolon’! Vive les jeunes du Brésil!
Leonel Brizola foi para Delfim Netto o que Lula é para Moro, Obsessão
Pois não é que no meio de uma entrevista o ex-ministro todo poderoso da ditadura, Delfim Netto, sem sequer ser citado o nome de Leonel Brizola, sem lé nem cré dispara sua verborragia cheia de merda:
Os "politicamente correto", me reprenderão dizendo: você é um ignorante, hoje ninguém mais caduca, quando muito tem mal de Alzheimer.
Não há Brasil sem o povo brasileiro. pic.twitter.com/TV7wd16YVE— Leonel Brizola (@leonelbrizola50) 24 de março de 2017