“, por Celso Marcondes
Guilherme Leal: o vice de Marina Silva tenta seduzir o empresariado e evitar a polarização PT/PSDB. A menos de um mês licenciado da copresidência da Natura, o empresário Guilherme Leal, um dos homens mais ricos do País, investe agora na política. Candidato à Vice-Presidência da República pelo Partido Verde na chapa de Marina Silva, Leal é incisivo ao dizer que “o Brasil não pode crescer a taxas chinesas” e que deve “tornar-se um exemplo de economia sustentável”. Criticou os governos Lula e FHC e demonstrou otimismo ao avaliar o engajamento do empresariado com a causa ambiental. A seguir, a íntegra da entrevista, que teve uma parte publicada na edição 603 de CartaCapital.
CartaCapital: Quanto o Brasil pode crescer? 6 ou 7% ao ano seria um limite ou podemos almejar algo semelhante às taxas da China?
Guilherme Leal: O Brasil não pode crescer a taxas chinesas, o mundo enfrenta este dilema. Por isso temos a oportunidade de crescer de maneira responsável, de buscar caminhos para o desenvolvimento que nos coloquem como liderança neste novo padrão, nesta nova alternativa de desenvolvimento humano. Na década de 70 o Brasil teve a ilusão de crescimento, achando que com a crise do petróleo seria uma ilha de prosperidade, podia crescer a taxas elevadíssimas de maneira sustentável e levar o Brasil para outro patamar. Foi uma ilusão. Estamos em um momento muito favorável da economia brasileira. O mundo, apesar da crise de 2008, se dá conta que sua base de recursos naturais – que é a base da economia e da prosperidade e do bem-estar da humanidade – está ameaçada pelos padrões de produção e consumo atuais.
Milhões de pessoas têm, não apenas no Brasil, saído da linha de pobreza. Na Índia, na China, na Indonésia, o que é uma notícia excelente. Só que a capacidade de regeneração dos recursos naturais do planeta está sendo superada em mais de 30 ou 40% e este estado de coisas não é sustentável. A China está investindo fortemente num novo padrão de desenvolvimento, os EUA estão investindo fortemente nesta nova economia. O Brasil tem um potencial como nenhum outro país por conta de sua base de recursos naturais. Tem uma condição excepcional pela sua matriz energética limpa, sua diversidade, seu biomas e pelo gap de infraestrutura que tem. Ou seja, pelo que tem a fazer, pode fazer certo. Pode se tornar um exemplo de uma economia sustentável.
CC: Porém o País precisa de mais usinas, estradas, aeroportos, portos.
GL: Ele não tem poupança suficiente para financiar os investimentos necessários para essa taxa de crescimento. Sabemos que o Estado arrecada 38% da poupança, da riqueza produzida anualmente na nação e só investe 1,5% desta riqueza. Portanto, dependemos excessivamente da poupança externa para financiar este crescimento. Isso é um constrangimento, é uma restrição muito significativa, portanto é um outro fator. Se este crescimento não for devidamente financiado, teremos problema de financiamento, de pressões inflacionárias e coisas desta natureza. São restrições, temos que, buscar o crescimento, que é um fator ainda muito relevante para reduzir a pobreza, mas temos que investir na qualidade deste crescimento. A infraestrutura é necessária, o aperfeiçoamento de questões do custo-Brasil é fundamental, mas a grande diferença é investir na qualificação das pessoas, na educação.
CC: Mas o crescimento aumenta a demanda por carne, leite, energia. As classes C e D querem acesso aos automóveis, aos gêneros alimentícios. Como segurar?
GL: Não podemos repetir erros do passado. O Brasil teve oportunidades importantes de, definitivamente, deixar de ser um país emergente para se tornar um país desenvolvido. No sentido não apenas de ter altas taxas de consumo, mas de ser um país mais justo, com uma menor diferença e todos os seus cidadãos com possibilidades de exercer na plenitude suas potencialidades. Isto é, com acesso à educação de qualidade, à moradia de qualidade, às condições mínimas de saúde, de segurança. Se focar apenas num crescimento exacerbado e baseado pura e simplesmente no crédito e no consumo, será um equívoco.
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