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Para democratizar as verbas de comunicação
Thomas Traumann foi uma excelente aquisição para a Secom.
Trabalhamos juntos na Época em meados dos anos 2 000. Thomas é um jornalista competente e um homem de caráter.
Fazia, na revista, uma das seções mais lidas: Filtro. Como o nome diz, era uma filtragem das notícias mais importantes da política. (O espírito dela está presente em nosso Essencial.)
Eu era diretor editorial, e minha divisa era: “um olho na revista e outro no site”. Thomas, com seu Filtro, era a representação disso.
Na edição semanal, você tinha ali o principal do mundo político no papel. Diariamente, pela internet, você se informava por Thomas.
O mundo político acompanhava-o. Lembro que uma vez Serra, então forte candidato à presidência, nos contou que uma de suas leituras obrigatórias era o Filtro de Thomas.
Ele chega à Secom sob uma cínica desconfiança da mídia.
Absurdamente privilegiada há anos, décadas, por sucessivos governos com coisas como publicidade em doses abjetas e financiamentos a juros maternos em bancos públicos, a mídia teme que a Secom coloque algum dinheiro em blogs que representam, hoje, a garantia de que vozes e visões alternativas chegarão à sociedade.
As companhias de jornalismo defendem, essencialmente, seus próprios interesses – e os do grupo a que pertencem, o chamado 1%.
Antes da internet, elas comandavam – manipulavam – a opinião pública. Veja o que elas fizeram com Getúlio e, depois, Jango. Com Lula, no Mensalão, o mesmo comportamento padrão se repetiu – a tentativa de minar governantes populares. A diferença é que a estratégia não funcionou. A intenção era a mesma.
Foi nesse quadro que a internet surgiu e floresceu como uma vital contrapartida às empresas de mídia.
Colunistas que reproduzem o pensamento patronal estão criticando a nomeação de Thomas.
Reinaldo Azevedo – que tem uma velha obsessão por mim – é um deles.
É até engraçado. Quando dirigiu uma revista a favor do PSDB, Azevedo recebeu mensalões do governo paulista na forma de anúncios. Nem isso foi suficiente para salvar a publicação.
A revista para a qual ele trabalha – a Veja – é abençoada com a compra de lotes consideráveis pelo governo de Alckmin.
Os exemplares vão terminar em escolas estaduais cujos alunos estão na internet. São conhecidos os relatos de gente que vê as revistas indo para o lixo exatamente como chegam – na embalagem plástica.
Alguém pode imaginar jovens lendo revistas de papel, com a internet à sua disposição? Mas o governo Alckmin gasta milhões em Vejas que não serão lidas por estudantes que sequer a conhecem.
Thomas Traumann chega com uma missão relevante: dar mais nexo ao investimento publicitário oficial.
Faz sentido a Globo – com audiência em queda aguda por conta também da internet – continuar a receber tanto dinheiro em anúncios governamentais?
A Globo é uma bizarrice. Graças ao BV (Bonificação por Volume), uma espécie de propina para as agências, a Globo tem 60% da receita publicitária brasileira tendo 20% da audiência.
Todo este dinheiro – o governo colocou 6 bilhões de reais nos últimos dez anos – alimenta uma máquina que defende os interesses dos Marinhos, dos Marinhos e ainda dos Marinhos.
E defende bem: os herdeiros de Roberto Marinho têm, juntos, a maior fortuna do Brasil, como mostra a lista de bilionários da Forbes. São cerca de 55 bilhões de dólares, somados.
Durante muito tempo, só o governo pagava tabela cheia de publicidade quando os anunciantes privados tinham descontos que podiam passar de 50%. Era uma torração infernal de dinheiro público.
Dívidas com bancos oficiais eram pagos, frequentemente, com anúncios. Nos anos 1980, o Jornal do Brasil regurgitava de anúncios do governo.
Investir no jornalismo digital é fundamental – sobretudo para a sociedade. Jango não teria sido derrubado tão fácil se na época houvesse a internet para mostrar o que os jornais não mostravam.
Teríamos evitado, simplesmente, a ditadura militar – a qual, além de matar brasileiros, construiu um país campeão mundial de desigualdade.
Os militares – apoiados pela mídia – fizeram um governo de ricos, por ricos e para ricos.
Thomas, na Secom, é a esperança de que cheguem ao fim as mamatas das empresas de mídia no que diz respeito às verbas oficiais.
Se Thomas se sair bem, mais que o governo Dilma, quem ganhará mesmo é a sociedade brasileira.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Para democratizar as verbas de comunicação
Thomas Traumann foi uma excelente aquisição para a Secom.
Trabalhamos juntos na Época em meados dos anos 2 000. Thomas é um jornalista competente e um homem de caráter.
Fazia, na revista, uma das seções mais lidas: Filtro. Como o nome diz, era uma filtragem das notícias mais importantes da política. (O espírito dela está presente em nosso Essencial.)
Eu era diretor editorial, e minha divisa era: “um olho na revista e outro no site”. Thomas, com seu Filtro, era a representação disso.
Na edição semanal, você tinha ali o principal do mundo político no papel. Diariamente, pela internet, você se informava por Thomas.
O mundo político acompanhava-o. Lembro que uma vez Serra, então forte candidato à presidência, nos contou que uma de suas leituras obrigatórias era o Filtro de Thomas.
Ele chega à Secom sob uma cínica desconfiança da mídia.
Absurdamente privilegiada há anos, décadas, por sucessivos governos com coisas como publicidade em doses abjetas e financiamentos a juros maternos em bancos públicos, a mídia teme que a Secom coloque algum dinheiro em blogs que representam, hoje, a garantia de que vozes e visões alternativas chegarão à sociedade.
As companhias de jornalismo defendem, essencialmente, seus próprios interesses – e os do grupo a que pertencem, o chamado 1%.
Antes da internet, elas comandavam – manipulavam – a opinião pública. Veja o que elas fizeram com Getúlio e, depois, Jango. Com Lula, no Mensalão, o mesmo comportamento padrão se repetiu – a tentativa de minar governantes populares. A diferença é que a estratégia não funcionou. A intenção era a mesma.
Foi nesse quadro que a internet surgiu e floresceu como uma vital contrapartida às empresas de mídia.
Colunistas que reproduzem o pensamento patronal estão criticando a nomeação de Thomas.
Reinaldo Azevedo – que tem uma velha obsessão por mim – é um deles.
É até engraçado. Quando dirigiu uma revista a favor do PSDB, Azevedo recebeu mensalões do governo paulista na forma de anúncios. Nem isso foi suficiente para salvar a publicação.
A revista para a qual ele trabalha – a Veja – é abençoada com a compra de lotes consideráveis pelo governo de Alckmin.
Os exemplares vão terminar em escolas estaduais cujos alunos estão na internet. São conhecidos os relatos de gente que vê as revistas indo para o lixo exatamente como chegam – na embalagem plástica.
Alguém pode imaginar jovens lendo revistas de papel, com a internet à sua disposição? Mas o governo Alckmin gasta milhões em Vejas que não serão lidas por estudantes que sequer a conhecem.
Thomas Traumann chega com uma missão relevante: dar mais nexo ao investimento publicitário oficial.
Faz sentido a Globo – com audiência em queda aguda por conta também da internet – continuar a receber tanto dinheiro em anúncios governamentais?
A Globo é uma bizarrice. Graças ao BV (Bonificação por Volume), uma espécie de propina para as agências, a Globo tem 60% da receita publicitária brasileira tendo 20% da audiência.
Todo este dinheiro – o governo colocou 6 bilhões de reais nos últimos dez anos – alimenta uma máquina que defende os interesses dos Marinhos, dos Marinhos e ainda dos Marinhos.
E defende bem: os herdeiros de Roberto Marinho têm, juntos, a maior fortuna do Brasil, como mostra a lista de bilionários da Forbes. São cerca de 55 bilhões de dólares, somados.
Durante muito tempo, só o governo pagava tabela cheia de publicidade quando os anunciantes privados tinham descontos que podiam passar de 50%. Era uma torração infernal de dinheiro público.
Dívidas com bancos oficiais eram pagos, frequentemente, com anúncios. Nos anos 1980, o Jornal do Brasil regurgitava de anúncios do governo.
Investir no jornalismo digital é fundamental – sobretudo para a sociedade. Jango não teria sido derrubado tão fácil se na época houvesse a internet para mostrar o que os jornais não mostravam.
Teríamos evitado, simplesmente, a ditadura militar – a qual, além de matar brasileiros, construiu um país campeão mundial de desigualdade.
Os militares – apoiados pela mídia – fizeram um governo de ricos, por ricos e para ricos.
Thomas, na Secom, é a esperança de que cheguem ao fim as mamatas das empresas de mídia no que diz respeito às verbas oficiais.
Se Thomas se sair bem, mais que o governo Dilma, quem ganhará mesmo é a sociedade brasileira.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Psdb deve pedir cpi para as "Vaquinhas" de petistas
Hay que se indignar
Mas perder la ironia
Jamais!
"Vaquinha" de Dirceu começa com 600 mil reais
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pagou nesta sexta-feira 31 a multa imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como parte de sua condenação no processo do mensalão. Segundo o coordenador jurídico do partido, Marco Aurélio Carvalho, a compensação do pagamento deverá ser feita nos próximos dias, assim como o anexo ao processo do comprovante da guia de recolhimento da União. Como o depósito foi feito nesta sexta-feira, a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal ainda não confirmou o recebimento do dinheiro.
Multado em R$ 466,8 mil, Delúbio conseguiu arrecadar mais de R$ 1 milhão em campanha promovida por companheiros de partido pela internet. Agora, o excedente será usado para ajudar o ex-ministro José Dirceu a pagar a multa de R$ 960 mil estipulada pelo Supremo. Delúbio e José foram condenados na Ação Penal 4700, o processo do mensalão.
Segundo Marco Aurélio Carvalho, deve começar em breve a campanha de arrecadação para que Dirceu possa pagar a punição pecuniária. "O modus operandi do Dirceu vai seguir o mesmo modelo dos anteriores. Vai ser aberta uma conta na Caixa Econômica Federal que será divulgada por meio de um site. Temos confiança de que, mais uma vez, alcançaremos o valor da multa com excedente que será destinado ao próximo e último [condenado petista com multa a pagar], que será o deputado João Paulo Cunha [SP]", explicou.
O modelo de arrecadação adotado na campanha de Delúbio é semelhante ao que foi criado pela família do ex-deputado José Genoíno [SP], que apelou à militância petista para ajudar a pagar a multa dele no processo do mensalão. Para Marco Aurélio Carvalho, os militantes do partido têm demonstrado valores de "solidariedade e companheirismo", ao ajudar os correligionários condenados por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. "Reputamos o sucesso da arrecadação à militância, que respondeu de forma cívica e altiva aos excessos e provocações do ministro [presidente do STF e relator do processo do mensalão] Joaquim Barbosa".
Solidariedade e Gratidão
O que petista paga, você vê aqui.
Queremos ver os grandes sonegadores pagarem o que devem ao fisco.
Globo, Itaú, Natura...mostrem o DARF?
Ponto de vista
E perspectiva é que nos faz ver as coisas como nos parece ser.
O raciocínio, o estudo é que nos faz enxergar como ela de fato são.
Fernando Brito - o que a "vaquinha" por Genoino e Delubio ensina
“Existe uma militância política que não precisa ser paga – e que até paga, ela própria, do jeito que pode – para apoiar um partido, porque apóia as ideias e o significado destas ideias sobre a vida dos brasileiros.”
Artigo publicado no Tijolaço
Os jornais não disfarçam seu espanto com as doações públicas para que José Genoíno, primeiro, e agora Delúbio Soares paguem as multas que receberam do Supremo Tribunal Federal.
Claro que pode até haver alguma mutreta de algum depósito feito por gente “muy amiga” para desmoralizar a arrecadação de fundos, e é bom que se verifique isso.
Mas nenhuma eventual “armadilha” nesta “vaquinha” esconde o seu principal ensinamento.
Se o protagonismo de José Genoíno nas lutas contra a ditadura, seu drama pessoal de saúde e a comovente solidariedade de sua família – sua filha Miruna tornou-se um símbolo de integridade e amor filial – o que poderia explicar o apoio público de Delúbio Soares, um colaborador de segundo escalão do PT e o que mais foi vilanizado em toda essa história do chamado “mensalão”.
A lição preciosa deste episódio é algo que, ao longo do tempo, boa parte da direção do PT parece ter se esquecido.
A de que existe uma militância política que não precisa ser paga – e que até paga, ela própria, do jeito que pode – para apoiar um partido, porque apóia as ideias e o significado destas ideias sobre a vida dos brasileiros.
A de que existe, fora da mídia e do mercado, gente que tem opinião e valores, que entende que existe uma luta de afirmação deste país e que está aí, pronta e ansiosa por quem a mobilize por uma causa, mesmo que a espinhosa causa de apoiar quem foi condenado num processo que, embora político até a medula, foi sentenciado num tribunal.
A “vaquinha” não foi contra a justiça nem por piedade humana.
Foi um gesto político, mostrando que há milhares de pessoas prontas a deixar seu conforto, seus interesses pessoais e a se expor, corajosamente, por uma causa que não é a figura de Delúbio ou mesmo a de José Genoíno, com todo o brilho e respeito que ela merece.
A causa é o processo de transformação do Brasil.
Pela qual, meu deus, parece que muitos dirigentes políticos, acham inútil levantar orgulhosamente a bandeira.
Reduzem a política a acordos, posições, verbas, favores, influência e – sejamos sinceros – recursos para candidaturas.
É claro que na prevalência dantesca que o dinheiro assumiu na vida política brasileira, só um tolo teria a ilusão de que uma campanha – sobretudo as majoritárias – pudesse funcionar apenas com “vaquinhas”.
Os grandes doadores, com a impureza de intenções com que doam, continuarão a ser fonte essencial de financiamento de campanhas, enquanto não se adotar o financiamento público que a direita tanto combate.
As pequenas doações desta “vaquinha”, porém, revelam algo além de seu valor monetário e que não deve ser comemorado, mas ser, sim, objeto de reflexão.
Há quanto tempo o PT e o governo que, sob sua legenda, o povo brasileiro elegeu e reelegeu, não faz uma “vaquinha cívica” pelas causas que o levaram até lá?
Há quanto tempo não se dirigem à opinião pública para dizer que precisam da pequena mobilização que cada um pode dar para criar um caudal de vontade que sustente as mudanças?
Onde está a polêmica, a contestação ao que o coro da mídia diz – como disse dos acusados no “mensalão” – de que tudo está errado e o status quo é perverso, mau e contrário aos direitos do povo brasileiro?
Não é preciso ser radical ou furioso, mas é preciso ser firme e claro.
Os líderes políticos – e os governos que sob sua liderança se erigem – têm um papel didático e mobilizador a desempenhar para com o povo brasileiro.
Sem bandeiras, ele não se une, mas está pronto a unir-se quando estas se levantam, mesmo que absolutamente “contra a maré”, como ocorreu nestes casos.
Precisamos, urgentemente, de uma “vaquinha cívica” pelo Brasil.
Pelo projeto de afirmação que se expressa no desenvolvimento, onde o Estado – e apenas ele – é o fio condutor de políticas eficazes e justas, porque o “santo mercado” é, historicamente, incapaz e mesquinho para tudo o que não seja dinheiro rápido e cego para qualquer visão estratégica de Nação.
Assistimos o Estado brasileiro e suas ferramentas de progresso econômico – a Petrobras, o BNDES, a Caixa, a Eletrobras, o Banco Central – serem diariamente massacradas nos jornais e nas tevês e não vemos, quase nunca fora das campanhas eleitorais, buscar-se a solidariedade da população.
Uma solidariedade que existe e que vive adormecida pela incapacidade – ou opção errônea – de não ser anunciada aos quatro ventos, em lugar de serem gaguejadas explicações e “desculpas” aos senhores do poder real: o poder econômico.
Uma solidariedade que precisa ser despertada, sob pena de que também os nossos sonhos venham a ser condenados.
Notas sobre Davos, mídia e Blablablarina
Eduardo Fagnani [1]
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) acabou de lançar o Relatório de Monitoramento Global Educação para Todos. [2]
O documento tem por objetivo avaliar os progressos mundiais no cumprimento dos seis objetivos estabelecidos por 164 países reunidos no Foro Mundial sobre Educação realizado em Dakar em 2000. Na ocasião foi aprovado o “Marco de Ação de Dakar 2000”, intitulado “Educação para Todos: Cumprir nossos compromissos comuns”.
O relatório é leitura obrigatória para aqueles que lutam pela promoção da educação de qualidade como direito universal. Com mais de 500 páginas, o documento apresenta os progressos obtidos em cada um dos seis objetivos fundamentais estabelecidos em Dakar. [3] As demais partes abordam temas específicos como financiamento, crise da aprendizagem, qualidade do ensino e estratégias para capacitação dos docentes. Na parte final são feitas recomendações específicas sobre diversos aspectos. O ponto crítico do relatório é que nenhum dos seis objetivos estabelecidos será cumprido globalmente até 2015.
Apontado diversas vezes como exemplo positivo, o Brasil conseguiu atingir as metas de "educação primária universal" e "habilidade de jovens e adultos", mas ainda precisa avançar para melhorar a qualidade do ensino e diminuir os índices de analfabetismo. Ao apresentar o relatório a coordenadora da UNESCO no Brasil assinalou alguns dos problemas crônicos da educação nacional. Todavia, ressaltou que “não podemos negar os grandes avanços que o Brasil apresentou" (UNESCO aponta má qualidade como principal problema da educação no Brasil. 29/01/2014; www.terra.com.br).
Ignorando a riqueza do relatório, os “pessimistas crônicos” voltaram ao ataque. Resumiram as 500 páginas do documento na seguinte manchete, reproduzida em uníssono pelos meios de desinformação: “Brasil é o 8° país com maior número de analfabetos adultos, diz UNESCO”.
Se não estiverem mirando nas eleições de 2014, essa “síntese analítica” revela dois traços dos controladores da informação. Primeiro, o analfabetismo funcional corre solto. Leem textos, mas não os compreendem perfeitamente.
Segundo, a incompetência para analisar dados. O Brasil é o quinto país mais populoso do mundo. É óbvio que em termos absolutos tem mais analfabetos que Nauru, o segundo país menos populoso do mundo. A lógica elementar sugere que o fenômeno seja analisado em relação à população total do país em questão (taxa de analfabetismo).
O mais impressionante é que essa manchete não está escrita no documento da UNESCO. O relatório apenas ressalta que “em 10 países vivem 557 milhões de adultos analfabetos, o que representa 72% da população de adultos analfabetos do mundo” (página 82). No gráfico que ilustra o texto (“72% da população mundial de adultos analfabetos se concentra em 19 países”) o Brasil aparece acompanhado de alguns dos países mais populosos do mundo (China, Índia, Indonésia, Paquistão e Nigéria, entre outros).
Esse duplo equívoco também foi cometido pela ex-senadora Marina Silva (FSP, 31/01/2014): “A UNESCO divulgou relatório que coloca o Brasil – entre 150 países pesquisados – em 8º lugar no número de analfabetos adultos”. Esse dado contestaria as afirmações de Dilma Rousseff em favor da educação nacional feitas no Fórum Econômico Mundial. “O Brasil fica longe de Davos”, sentencia. A ex-senadora aponta ainda que “os investimentos do Ministério da Educação caíram 13% de janeiro a novembro de 2013 em relação ao mesmo período do ano anterior”.
Sabemos todos que a educação no Brasil tem raízes históricas profundas (CARVALHO, 2001) que não foram enfrentados pelos curtos períodos de democracia do século passado. A partir da Constituição de 1988 o Brasil tem feito um enorme esforço para enfrentar o inaceitável quadro da Educação Nacional. Entre 1992 e 2011 a taxa de analfabetismo (15 anos e mais) caiu de 17,2 para 8,4% (IBGE/PNAD). É provável que a meta estabelecida em Dakar (6,3%) para 2015 não será atingida. Mas fizemos avanços e estamos próximos dela.
É importante observar que a taxa de analfabetismo é crescente a partir dos grupos etários com mais de 30 anos, atingindo 11,1% para as pessoas entre 50 a 59 anos e 24,5% para quem tem 60 anos e mais. O fato positivo é que o analfabetismo das pessoas mais jovens é relativamente menor. Entre 12 e 14 anos, por exemplo, a taxa caiu de 12,1 para 1,2 % entre 1992 e 2011.
Em relação aos gastos com educação, a ex-senadora deveria saber que entre 2003 e 2010 os gastos federais mais que dobraram (valores constantes), passando de R$ 18,8 para 45,5 bilhões (IPEA, 2012). Dentre as ações empreendidas, destacam-se, especialmente, os esforços para a universalização do ensino infantil: entre 2003 e 2011 o percentual de crianças de 5 a 6 anos que não estava na escola caiu de 21,3 para 8,4%. Aprofundar esse esforço é um importante antidoto contra o analfabetismo ao mesmo tempo em que favorece a educação de qualidade.
Apesar dos avanços nas últimas décadas, a educação nacional ainda acumula desigualdades e ausências. A escolaridade media da população é baixa em relação aos parâmetros internacionais. O analfabetismo de jovens e adultos permanece elevado. A universalização da oferta ainda apresenta lacunas no ensino infantil, médio e superior. Estar na escola não garante o aprendizado e a questão da qualidade permanece viva.
Para enfrentar esses desafios temos que nos distanciar de Davos, ao contrário do que prega a ex-senadora.
Referências:
CARVALHO, José M (2001). Cidadania no Brasil: o longo caminho. RJ: Civilização Brasileira.
IPEA, (2012). Gasto Social Federal: uma análise da prioridade macroeconômica no período 1995-2010. CASTRO, J.A e outros; Brasília. Nota técnica 9.
[1] Professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (CESIT/IE-UNICAMP) e coordenador da rede Plataforma Política Social – Agenda para o Desenvolvimento (www.politicasocial.net.br).
[2]http://www.unesco.org/new/es/education/themes/leading-the-international- agenda/efareport/reports/2013/
[3] De forma sintética: 1) Estender e melhorar a educação integral da primeira infância;
2) Garantir o acesso ao ensino primário gratuito e obrigatório de boa qualidade;
3) promover as necessidades de aprendizagem de todos os jovens e adultos;
4) Reduzir pela metade a taxa de analfabetismo dos adultos;
5) Garantir a igualdade entre géneros com relação à educação;
6) melhorar todos os aspectos qualitativos da educação.
Bom caráter também trai
Dilma afirma que modelo de parceria com setor privado é um sucesso
“Acho que são todos importantes pra elevar a competitividade da economia brasileira. (…) A grande vantagem é que esse modelo não é de manutenção de estradas. (…) Uma característica é o fato de que durante o período sem trecho construído, não tem cobrança, mas assim que tem 10%, começa a cobrar pedágio. (…) É um processo muito importante para que a gente eleve a produtividade da economia brasileira”, afirmou.
Concessões
As cinco concessões anunciadas contemplam a licitação da Ponte Rio-Niterói, que o contrato vigente se encerra em 2015; a BR 163, com ligação com a BR-230, entre o Mato Grosso e o Pará; a BR-364 com a BR-060, que liga o Mato Grosso ao Goiás, entre Rondonópolis e Goiânia; a BR-364, que liga a capital goiana a Minas Gerais; e a BR-476, conectada com as BRs 153, 282, 480, passando pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Santa Catarina.
Maldito alcoolismo
Nosso ônibus de cada dia
Mensagem da tarde
Criação coletiva
- Ataneri Miranda Veiga ahhh ... isso é receita certa,e se contratar o Joaquinzão como consultor, o Barça ainda fica é devendo...
- Giovanni Gouveia ou pedir arrego ao Fluminense...
- Cássio César verdade!
- Giovani de Morais Simples assim..
Paulo Moreira Leite - Debate sobre inquérito secreto mostra esforço para negar direitos aos réus
- pergunta por que, afinal, fazer tanta questão do segredo?
- Que mal isso pode causar?
- A quem?
do Tijolaço - Ser assessor de Comunicação – agora elevado a status de Secretário – de Governo não é fácil
Não venham com essa de que Helena Chagas caiu por causa dos "blogs sujos". Caiu porque vivia noutro planeta.
Autor: Fernando Brito