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Causo nordestino

Causos & contos
Esta história de excesso de automóveis nas ruas brasileiras, faz-me lembrar de Dr. Gouvea - médico e político, orgulho da cidade de Iguatu - Ceará -. Ao atender um simplório camponês, remoendo-se em mal-estar digestivo, Dr. Gouvea perguntou  saber o que o humilde homem se alimentara na última refeição:

- Dr. Gouvea, ontem à noite eu comi duas nambus torradas, um preazinho que peguei no fojo, metade de um jerimum caboclo, arroz vermelho com capitão de feijão, duas taiadas grandes de melancia, meia rapadura, e um docinho de banana feito pela muié! Dr. Gouvea, interrompeu, e disse que já tinha o remédio para aquilo!

- Oh, doutor, passe um remedinho barato, daqueles que eu possa comprar! Dr. Gouvea disse-lhe que não era preciso, ia resolver ali mesmo: Pegou dois instrumentos e olhou sério para o matuto, atônito:
-- Que é isto doutor, vai me operar?

- Não! Respondeu o bondoso médico! Eu vou abrir é outro cu em você, porque um só, não dá conta de despachar o que você comeu, animal da bruta raça!

***

A Meca dos coxinhas


***
Tô no Shopping Iguatemi, a Meca dos Coxinhas. Os homens aqui andam uniformizados, todos com gel na chapeleta, sobrancelha Edney Silvestre e agasalho salva-vidas azul-chumbo.
Deselegância discreta ô caralho.
A crise tá tão braba que as lojas estão disputando até clientes não potenciais como eu. Fui arrastado pra dentro de um troço chamado "Espaço Alpha".

- Senhor, vamos cuidar da imagem?
- Você é publicitário?
- Não, sou o Jonas, gerente.
- O que é isso aqui?
- É uma barbearia premium.
- Humm.
- Olha como está a barba do senhor.
- Como assim?
- Está desalinhada. Cheio de buraquinho na sua bochecha.
- Tenho uma preguiça da porra de fazer a barba.
- Aqui você não precisa fazer nada. Vamos cuidar do senhor.
- Mas...
- O senhor conhece nossa missão, visão e valores?
- Isso aqui não é uma barbearia?
- Veja nossa carta, senhor.
- Carta?
- Temos várias opções. Essa aqui é a barba-executivo. Vai ficar show, hein?
- Hum. Tô vendo aqui o cardápio. Barba-Christian Bale?
- É uma das que mais saem. Mas não vai ficar bem no senhor.
- Por que?
- É preciso ter lábios mais finos.
- Humm. Gostei dessa aqui.
- Ah, a Lumberjack, a lenhador. Essa é top, mas também não é seu perfil.
- Não é meu perfil?
- Só combina com cabelo undercut ou razor part. E o senhor é calvo...
- Então tem que ser a barba-executivo?
- Sim, mas antes o senhor vai ter que limpar as células mortas.
- Células mortas?
- Sim, com Recharge After Shave.
- Quanto custa?
- R$ 143.
- E pra fazer a barba?
- R$ 99. E o senhor ainda tem direito de ficar meia hora no nosso lounge após a hidratação. E pode baixar a trilha no seu Spotify.
Alguma coisa acontece no meu coração...
Que só quando cruzo o Rascal com o Café Santo Grão...

Mais causos do Tom T. Cardoso 

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Quando minha carreira profissional deslanchou, por Tom T Cardoso

Minha filha de 12 anos já sabe falar alemão, inglês e espanhol.
Outro dia, entrou em casa chutando a mochila. Tinha tirado 8,1 em Biologia.
Abri o armário. Fui fuçar o meu histórico escolar. Estavam ali, os boletins dos tempos de Virgília, a escola estadual onde passei boa parte da minha juventude até conseguir completar o colegial. Perto de mim, o Bolsonaro é um acadêmico brilhante.
Eu era tão preguiçoso e cara de pau, que uma vez, precisando entregar um trabalho enorme de ciências, colei o capítulo inteiro de um livro do Mario Schenberg, ele mesmo, o lendário físico, amigo de meu pai e de Albert Einstein. Contava com a ignorância do professor de física para não ser desmascarado.
Acho que até ganharia um dez, com louvor, se não tivesse, distraído, incluído no texto a seguinte frase: "veja a figura ao lado".
Em 1990, já reprovado quatro vezes, consegui tirar 6,5 em OSPB (Organização Social e Política Brasileira) e ainda ganhei um elogio do professor por ser o único a explicar razoavelmente quem era Golbery do Couto e Silva. Um isolado momento de glória de minha vida escolar.
Eu era um caso curioso. Semi-analfabeto - não sei até hoje conjugar nenhum tipo de verbo e não faço a menor ideia do que seja adjunto adverbial -, lia, desde os onze anos, todos os colunistas dos quatro jornais trazidos pelo meu pai (também jornalista): JB, O Globo, Estadão e Folha.
Com 12 anos li "Minha Razão de Viver", do Samuel Wainer, e "A Regra do Jogo", do Claudio Abramo. Decidi ser jornalista.

Café em cápsulas

Eu não ouvia nada tão triste desde que minha mãe me contou que não existia vida após a morte. Eu tinha 4 anos. Agora eu tenho 44 e não esperava passar de novo por um momento tão doloroso.
- Seu Tom, não vou mais trabalhar para o senhor. É o meu último dia. Era a Geni, a diarista que não faz café para qualquer um, me contando que havia recebido uma proposta de trabalho irrecusável.
- Quem é ele, Geni?
- Ele é seu amigo no Facebook.
- Quem?
- Chico Barbosa. Um careca, de óculos, cheio de pelo no ouvido.
- Eu sei quem é. Feladaputa. Invejoso.
- Ele foi bem objetivo comigo, Seu Tom. E me convenceu.
- Ele vai te pagar o dobro?
- Quase o dobro. Vou ter outras vantagens também. Não pude recusar, Seu Tom.
- Quais vantagens?
- Olha essa mensagem que ele me passou pelo Facebook.

“Prezada Genivalda. boa tarde. Você não me conhece, mas eu a conheço bem. Acompanho há tempos o seu drama pelo Facebook. O Tom, além de explorar a sua imagem, a usando para vender um livro de piadas, trabalha, mesmo no inverno, de cueca no sofá e a obriga a fazer pelo menos oito cafés por dia. Genivalda, a senhora não precisa passar por tantas privações. Venha trabalhar comigo. Sou um homem limpo, discreto, com algumas manias, é verdade, mas nada que se compare ao constrangimento de ver o Tom de cueca toda quinta-feira e ser citada por ele em quase todos os posts, sempre em posição vexatória. Aguardo uma resposta sua, para combinarmos o valor da diária. Ah, e não vai precisar fazer mais café, apenas introduzir uma cápsula na minha máquina Nespresso e adoçá-lo (são quatro gotas de adoçante)”.
  Não disse nada para a Geni. Ela volta semana que vem. Não vai suportar (ninguém suporta) uma das manias do Chico. Tenho certeza.



 

Mais um causo do Tom T. Cardoso

Sou filho de pais hippies. Meu pai abandonou a luta armada pra ouvir Caetano. O Leãozinho e a Vaca Profana são responsáveis pela minha existência. Sou grato a eles.
  Mas juro que muitas vezes deu vontade de nascer filho do Bolsonaro com a Marine Le Pen. Principalmente quando me lembro dos quatro anos em que estudei no Mutirão, uma escola semi-integral que se vendia como "alternativa", mas que, na prática, estava mais para sítio dos Novos Baianos administrado por Josef Mengele.
    A diretora, chefe do campo de concentração de Cotia, era uma mulher chamada Ana Maria Pimentel, que obrigava a gente a comer arroz integral e feijoada de soja em plenos anos 70, numa época em que as crianças levavam fandangos de lanche.
  E não havia nem um tempo de adaptação para as crianças. Pior: quem não comia toda a comida do prato, levava castigo, como ficar quatro horas de pé no pátio fantasiado de agrião ou de tomate, dependendo do peso e altura. Não estou brincando. É sério.
  A Ana Maria Pimentel era uma ególatra. Toda segunda, a gente tinha que cantar o hino nacional, o de São Paulo e o do Mutirão, que começava assim: "De manhã ao sair para escola, lá se vai estudante feliz... E terminava assim: "Graças aos professores e a diretora Ana Maria".
   Eu odiava a Ana Maria e o seu cheiro de grão de bico. Ela morava na própria escola, numa casa rodeada de plantas e flores. Desde que entrei no Mutirão, ouvi sempre a mesma história: a conexão da Ana Maria com a natureza era titanta que ela era capaz de identificar qual aluno havia feito xixi em determinada planta ou flor, mesmo a quilômetros de distância.
   A história virou lenda e ninguém nunca ousou mijar no seu orquidário. Só eu. Sou mais curioso que medroso e um dia, após a aula de horta (sim, sei até hoje plantar um rabanete), descarreguei o suco de tamarindo inteiro no girassol predileto da Bela Gil do Mal.
  Não sei se ela era paranormal, ou mantinha homens da KGB infiltrados no quintal. Só sei que, no dia seguinte, o bedel da escola me pegou pelo braço e me enterrou até o pescoço exatamente ao lado do girassol.
   A história foi parar na página policial da revista VEJA, o que obrigou minha mãe, finalmente, a tomar uma providência e me matricular na Escola Chácara Crescer, também igual ao sítio dos Novos Baianos, mas com administração Baby Consuelo, com professores maconheiros e aulas práticas de poligamia. 
   Aí sim o meu mundo passou a ficar Odara.



Pra desopilar


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Ontem fui almoçar com meu grande amigo Afonso, o "Galã":
- E aí tudo bem? Me conta as novidades.
- Conto já Tom. Espera apenas eu gravar um áudio e mandar pelo WhatsApp.
- Certo. Tô esperando.
"Ando devagar, porque já tive pressa/ E levo esse sorriso porque já chorei demais". Pronto, Tom. Cara, quanto tempo a gente não tomava uma.
- É mesmo. Pra quem você cantou isso aí? É aniversário da sua mãe?
- Não. Foi pra Nanda. 
- Sua nova namorada?
- Sim. A gente combinou na virada de cantar um para o outro, todos os dias, trechos de canções. Amanhã vou cantar pra ela, "Tempo Perdido" e sábado, "Folhetim"
- Isso não parece ideia sua. Você sempre foi meio grosseirão.
- Não, foi ideia dela mesmo. Ela está me transformando num cara melhor, Tom.
- Tô vendo. Onde vocês se conheceram?
- Não sei exatamente. Acho que na Recoleta, em Buenos Aires.
- Como assim não sabe exatamente?
- Nosso perfil se cruzou por lá.
- Que perfil, Afonso?
- Do Happn.
- Ah bom.
- Aí vocês marcaram um encontro de verdade.
- Não. Eu estava correndo a maratona e voltei no dia seguinte. Ela mora lá, faz um curso de roteiro. Mas volta em maio pra São Paulo.
- Então vocês nunca se viram?
- Não.
- E estão apaixonados?
- Sim, visceralmente.
- Cuidado, cara. 
- Tom, você não está entendendo. Bateu uma química, uma coisa de pele mesmo.
- De pele? Via WhatsApp? Afonso...
- Tom, a gente gosta das mesmas coisas. Ela curte Kurosawa, adora comida peruana. Sabe qual o drinque favorito dela?
- Qual?
- Negroni! 
- E isso já é o suficiente para ela ser a mulher da sua vida? E se ela tiver bafo? Bruxismo? E se votar no Bolsonaro?
- Todo mundo é imperfeito, Tom. E já conversamos sobre política. Ele é centro -esquerda. Uma mulher de grande vivência. E uma leoa na cama.
- Como assim? 
- A gente já transou várias vezes pela web cam. Gozamos sempre juntos. Nunca tive essa sintonia com mulher nenhuma.
- Ah, a tal química, a coisa de pele. 
- Isso! Agora você está começando a entender. 
- Beleza, se você está feliz, tá valendo.
- Aliás, Tom, nosso almoço não pode ser demorado. Vou no Leroy comprar tinta. Vou pintar todo o apartamento. A Nanda escolheu as cores.
- Do quarto do bebê também? 
- Quarto do bebê?
- Ué, se ela é a mulher da sua vida, você vão ter filhos juntos.
- Você acha...
- Sim! Faça uma surpresa pra ela. Decore o quarto do bebê e mostre pra ela.
- Boa, Tom! Vou trocar "Tempo Perdido" por "Eduardo e Mônica". A Nanda vai amar. Ela adora ser surpreendida.

O Afonso foi lá comprar tinta e a frase do Millôr não me saiu da cabeça:
"Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem"
***

Alexandre Frota liga pra Jair Bolsonaro, por Tom T. Cardoso

- Fala, capitão!
- Quem é?
- Alexandre...
- Opa, Ministro, que honra.
- Não virei ministro ainda não, brother. Mas você pode me nomear. Tô dentro.
- Não é o Alexandre de Moraes?
- Não. É o Frota!
- Não entendi. De qual frota você é?
- Alexandre Frota, o ator e ativista.
- Ah, sim. 
- Capitão, você mandou bem. Não sabia que você passava o rodo também.
- Do que você está falando, rapaz?
- De comer gente, brother. 
- É, mas estão me enchendo o saco com essa história.
- Eles têm inveja da gente, capitão, da nossa pegada. O Lula não come ninguém.
- Já você, come tudo que vê pela frente, né? Agora tenho que desligar, tá bom?
- Capitão, deixa eu ser o seu vice, vai. Uma chapa puro-sangue. Dois comedores de gente, sem frescuras. Vamos ganhar no primeiro turno.
- Sei, não.
- Já tenho até um slogan: "Bolsonaro e Sua Frota: Pau pra toda obra". Gostou do trocadilho? Aliás, sua ereção é orgânica?
- ....
- Capitão, taí?
-. ....
- Capitão?
-.....
- Sargentinho mascarado. Come ninguém. Vou ligar pro Maroni.

Publicado originalmente por Tom T. Cardoso no seu Facebook
***

Causos do Tom T.


Entro no avião. Poltrona 2C, corredor. Na 2A, na janela, um baixinho, careca. No meio uma loira, lindíssima, de vestido até os pés, dona de uma beleza e elegância que me fizeram lembrar na hora de Grace Kelly em "Janela Indiscreta" Eu também quebraria as duas pernas para ter a companhia daquela moça. 
Estou longe de ser o James Stewart da história, mas tenho meus rompantes de cavalheirismo. O meu primeiro impulso ao vê-la foi me oferecer para sentar no meio, evitando que ela dividisse o encosto da poltrona com o braço peludo e ensebado do careca.  Mas o Danny DeVito da janela se mostrou ainda mais oportunista do que eu:

- Quer sentar na janela? 
- Ah, que gentil. Obrigada.

Eu tive que me levantar para que a troca fosse feita. Ela se acomodou, cruzando as pernas lentamente (que classe!), enquanto o braço do DeVito ocupava 95% do nosso encosto compartilhado, acabando com a minha viagem.
Nada me irrita mais do que não poder apoiar o braço durante um voo. Para quem gosta de ler, como eu, é um tormento - a falta de apoio compromete toda as articulações do corpo. Sinto dor até no calcanhar.

Enquanto tentava ao menos apoiar meu cotovelo, evitando gestos bruscos - é fundamental você demonstrar que não faz a mínima questão do encosto, sob o risco do seu vizinho perceber sua angústia e aí sim começar a dificultar a tomada de território -, o DeVito puxou conversa:
- De onde você? Pela beleza, já sei.
Tava demorando. Todo cavalheiro de ocasião é, no fundo, um canalha.
- Se você já sabe, por que tá perguntando?
Linda e rápida, a Grace.
- Você é gaúcha, né?
- Não. 
- Ah, você é catarinense?
- Não. 
- De Curitiba?
- Não.
- De onde você é?
- Sou do Rio.
- Eu também! Da Zona Sul?
- Não.
- Ah, você mora na Barra.
- Eu não. 
- De onde você é?
- Zona Norte.
- Da Tijuca?
- Não. 
- Ah, já sei: do Méier. Minha tia é de lá.
- Também não. Você é ruim de adivinhar né?
- Kkk Hoje eu tô.
- Eu sou boa. Quer ver eu adivinhar na primeira qual a sua atividade?
- Quero!
- Você é do IBGE. Só pode. Se não é, não perca tempo: você nasceu pra isso.

Eu ri tão alto que a comissária, já sentada pra decolagem, esticou o pescoço olhando pro corredor, assustada.
O DeVito, coitado, se afundou na poltrona, constrangido, e eu aproveitei pra tomar todo o território.
Aposto que ela é da Penha.
Tom T. Cardoso