Dois escândalos ganharam a mídia, esta semana, ligados pela mesma conclusão a que nos acostumamos: não vão dar em nada. De um lado, empresas de prestação de serviços hospitalares, flagradas na fraude de superfaturamento e oferta de propinas a um jornalista disfarçado de gestor. De outro, o tradicional balanço sobre o julgamento do mensalão, outra vez ameaçado de virar fumaça, de não realizar-se no primeiro semestre nem nunca, sob o risco da prescrição dos crimes de que são acusados 38 réus.
No fundo dessas e de mais montanhas de falcatruas situa-se uma praga há séculos corroendo as instituições, a imagem e a credibilidade nacional: a impunidade. A existência de um sistema propositalmente viciado pela burocracia e privilegiado por incontáveis expedientes, cujo objetivo é manter fora da cadeia os bandidos do andar de cima, de colarinho branco ou sem ele.
Os fraudadores da lei são beneficiados desde as primeiras etapas. Valem-se das deficiências dos inquéritos policiais que permitem alforria para quem dispuser de bons advogados e de influência política. Ao contrário da maioria dos países desenvolvidos, o Ministério Público obriga-se a ficar de fora. Quando entra, vê-se limitado. Na Justiça, se os processos chegam até ela, sucedem-se as cascatas de facilidades através de recursos de toda espécie, sem falar na morosidade tradicional dos juízos e dos tribunais.
O resultado é a desmoralização não apenas dos agentes do poder público, mas da própria Justiça, fator de estímulo a quantos malandros se disponham a rasgar a lei e lambuzar-se na roubalheira.
Uma voz clama no deserto faz décadas, mas nem de perto arranha a periferia desse esquema que a todos envergonha e intimida: o senador Pedro Simon, isolado em sua indignação e, não sem motivos óbvios, visto como fator de desagregação do corporativismo presente no próprio Congresso.
Para concluir: quem acredita que irá parar na cadeia, de verdade, um só dos 38 mensaleiros, ou algum representante, muito menos diretor, das empresas flagradas em malfeitos hospitalares?