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Edy, o último Kavernista

Nem inocente, nem puro, nem besta... Aos 78 anos, Edy Star é uma figura bem humorada, despachada e cheia de boas histórias. Uma epígrafe: foi ele quem, em 1971, lançou a emblemática "Sessão das Dez", tema do lendário disco que uniu, num sopro, ele, Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada. Da turma, Edy é hoje uma estrela solitária.

> O quarteto fantástico
"Alguém tinha que ficar vivo para contar a história. Calhou que fui eu. Sinto saudade deles todos. Sinto saudade de Raul, sinto muito mais saudade de Sérgio Sampaio e sinto saudade da Miriam Batucada, que sempre foi uma grande amiga. Todos eram grandes artistas, geniais. O que eu posso dizer, eles morreram e eu fiquei", diz, simples e sereno, respondendo a pergunta que o acompanha com frequência desde que o disco "Raul Seixas e a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista" foi redescoberto.
O álbum - festejado quase 45 anos depois - é considerado um marco na carreira dos quatro, embora tenha permanecido apenas 15 dias nas prateleiras das lojas. Foi retirado pela gravadora. Mas Edy, assim como seus parceiros kavernistas, viveu ali apenas um breve capítulo de uma extensa carreira que já ultrapassa cinco décadas.
É músico, artista plástico e dramaturgo. Nasceu Edivaldo Souza, dia 10 de janeiro de 1938, em Juazeiro da Bahia. Ainda jovem, brilhou como músico nas rádios de Salvador e nos palcos do Recife antigo.

Rótulos
O sobrenome, Star, adotou naqueles anos 1970, após o disco coletivo, quando seus shows viraram febre na boate carioca "Number 1". Ali, tornou-se o pioneiro do Glam no Brasil. "O trash, no Brasil, ficou sendo Serguei, meu grande amigo. E eu fiquei sendo o Glam - o primeiro Glam. E... Me dão uma coroa, querido, eu boto na cabeça, não quero nem saber", pondera sobre a honraria histórica. Mas mostra pouco apego aos rótulos que, vez por outra, insistem em lhe acompanhar. Entre esses, há o de ser o primeiro artista brasileiro a se declarar homossexual.
Problemas por isso? "Dentro do meio artístico não existe essa coisa de ser gay ou não. Você é artista ou não é artista. Nunca afetou em absolutamente nada. Não me criou vantagens, também não criou prejuízos. Nunca fui discriminado. Também, eu já chego logo esculhambando, a rainha chegou", ri.

Andanças


Edy Star decidiu pela carreira artística no ano de 1960. Era funcionário da Petrobras e largou o emprego formal para seguir como músico numa companhia de circo. "Nessa época, eu já era apresentado como 'Edy, o embaixador do rock'", lembra. Os primeiros êxitos da carreira, no entanto, vieram por uma corrente completamente oposta: cantando e pesquisando o folclore brasileiro. Em meados da década de 1960, Edy montou residência em Recife, onde estreou show ao lado de Naná Vasconcelos, Marcel Melo (Quinteto Violado) e a cantora Teca Calazans. Em 1969, representou a cidade defendendo música de Capiba no festival "Brasil canta no Rio".
Do Recife ao Rio, foi um pulo, intermediado por Raul Seixas. Graças ao sucesso nas boates cariocas, recebeu convite para gravar um disco, "Sweet Edy". Acabou sendo o único registro da carreira solo, com músicas compostas para ele por amigos como Gonzaguinha, Caetano Veloso, Roberto Carlos e Erasmo e Raul.
Os caminhos da vida o levaram, ainda, para o teatro e uma temporada de quase 20 anos em Madri. Dirigiu até 2010 os shows da "casa de fiesta" Chelsea.
Sobre a vida? "Je ne regrette rien", responde, citando música consagrada por Edith Piaf, uma de suas musas inspiradoras. E relembra os versos que repete como mantra a cada aniversário. "Hoje de manhã, quando acordei, olhei a vida e me espantei. Eu tenho mais de 20 anos'... Eu tenho 78 anos, cara! 'Quando partimos no verdor dos anos (...) as esperanças vão conosco a frente...' Gosto muito desse poema, que fala sobre como é fugaz essa vida toda. Passa tudo muito rápido", lamenta. Cita versos de "20 anos Blues" e de "Contraste", poesia, coincidentemente, do príncipe dos poetas cearenses, Padre Antônio Tomás.

Fabio Marques - Repórter