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Oposição ignorada

Nunca antes a oposição ao governo Lula foi tão ignorada.

Apenas 8% dos brasileiros consideram o governo ruim ou péssimo, segundo a última pesquisa DataFolha. Para 28%, é regular.

A ampla maioria avalia o governo como bom ou ótimo: 64%. Já não é a população de baixa renda que deu as costas aos que criticam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A opinião pública, formada a partir das camadas mais cultas e de maior poder aquisitivo, também se descolou da oposição.

A elite culta e endinheirada vai muito bem, obrigado, e deixou os preconceitos de lado.

O desempenho da economia, as políticas sociais e o programa de investimentos em obras públicas respondem por tanto sucesso do governo.

A inflação está sob controle; o crescimento, bomba.

Lula capitaliza os feitos de seu governo com maestria, mesmo aqueles cujos resultados só virão a médio e longo prazos, como a perfuração do primeiro poço exploratório do pré-sal no litoral capixaba.

Com as mãos sujas do “ouro negro”, Lula redescobriu o petróleo no Brasil.

É um craque do marketing político.

Os prognósticos catastróficos em relação aos reflexos da crise norte-americana e da recessão européia no Brasil até agora não se confirmaram.

As previsões de que a alta da taxa de juros provocaria baixo crescimento, também não.

A expansão do consumo de massas e do mercado interno, na contramão da crise na economia mundial, amarraram por baixo o nosso dinamismo econômico.

O risco é a falta de infra-estrutura para crescer provocar inflação.

Nesse aspecto, a taxa de juros funciona como freio de arrumação.

É uma questão de pragmatismo.

Será que a oposição se tornou irrelevante no Brasil?

Para a maioria da população, sim; para a democracia, não.

Para contê-la, foi preciso o presidente Lula fazer um segundo mandato melhor que o primeiro.

Basta olhar a composição de seu ministério.

É mais robusto que o anterior, a começar pelo estado-maior do Palácio do Planalto, que se livrou da luta interna do PT e passou e emular com a oposição.

A formação do governo de coalizão, com a participação do PMDB, lhe deu mais estabilidade institucional e sustentação política.

Lula se compôs com algumas oligarquias regionais, porém sua base social foi enraizada nas camadas mais pobres da população do Norte e do Nordeste.

O intervencionismo econômico do governo e a ampliação do Estado brasileiro atraíram os apoios das camadas medias urbanas e das elites econômicas. Funcionam com pista dupla; uma, à esquerda, resgata o discurso nacional-desenvolvimentista; outra, à direita, serve de plataforma para os grandes negócios na mineração, siderurgia, telefonia e energia, principalmente. Nesse cenário, a oposição fala para menos de 10% da população, uma parcela que se opõe ao governo por razões ideológicas, corporativas ou muito localizadas. Esse é o gueto político em que corre o risco de se aprisionar, num momento em que o país encerra um ciclo político. E começa outro, cuja agenda está sendo delineada por tarefas que Lula herdou e não cumpriu, como a redução dos juros. E por contradições que agravou, como a expansão da carga tributária.

Isso significa que todos devem aderir ao governo porque a sucessão em 2010 será decidida por um “dedazo” do presidente Lula em favor da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT)? Longe disso. Tal unanimidade seria “mexicanizar” a democracia brasileira.

E a tese do terceiro mandato, alimentada por setores petistas? Para alguns, já não depende da correlação de forças, mas de uma posição de princípio do PT ou da vontade do presidente Lula. Não é bem assim. Mesmo com o Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF) submetidos a sucessivos desgastes, sua aprovação cedo ou tarde levaria o país a uma crise institucional. Basta olhar para a Venezuela e a Bolívia, nossos vizinhos.

As eleições municipais apontam para uma vitória maciça dos governistas, principalmente do PT e do PMDB, mas a oposição não será varrida do mapa. Submergiu no plano local, não conseguiu avançar nos espaços governistas, porém tem chances de manter as posições onde fez boa administração.

Com a a oposição acuada, a campanha eleitoral alavancou ainda mais a avaliação positiva do governo.

Lula é a grande estrela do horário eleitoral.

Em São Paulo, está em curso uma dramática guerra de posições para a sucessão de Lula, tanto na capital como nas grandes cidades do interior.

Se a oposição for derrotada, a candidatura do governador José Serra (PSDB) a presidente da República estará em xeque.

O tucano precisa de uma grande vantagem pelo eleitorado paulista para manter seu favoritismo às eleições de 2010.