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No mundo das baratas tontas

Todo santo dia alguém lança uma nova projeção para o comportamento da economia mundial (e da brasileira) em 2009. O diabo é que nada bate com nada. O tempo vai passando e nada de se entenderem. Continua a mesma barata-tonta já apontada, no blog, em dois textos recentes (ver aqui e aqui). Sem falar no histórico baixíssimo índice de acerto das previsões da turma.

Aqui vão dez das mais recentes previsões para o comportamento da economia brasileira, em 2009:

Governo 4%*
Banco Central 3,2%
Banco Mundial 2,9%
Unctad (Comissão das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) 2,9%
BIS (”Banco Central dos bancos centrais”) 2,8%
Boletim Focus do BC (relativa ao dia 23/1) 2%
CNI (Confederação Nacional da Indústria) 2,3%
Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) 2,1%
FMI 1,8%
IIF (think tank da banca) 0,8%
Banco Morgan Stanley 0%
(*) O ministro Guido Mantega diz que não é projeção, mas meta.

Aposto que vai ter quem venha dizer que não importa o número exato, mas a tendência. E essa, em todas as projeções, é de baixa.

Muito bem. Mas entre a mais pessimista da lista acima e a mais otimista, tem uma diferença de uns 5 milhões de empregos. Esta é a diferença, caso se utilize a régua do custo da criação de novos postos de trabalho, entre crescer zero ou 4%. Mesmo dando de barato que existe uma moda nas previsões (o intervalo entre 2% e 3%), se está falando em algo como a criação aproximada de 1,5 milhão de postos de trabalho. Não é pouco, não.

Continuo achando que o problema não está nas previsões macroeconômicas – elas são úteis, de algum jeito, para sinalizar tendências. O problema está em acreditar exclusivamente nelas para pensar o mundo e, pior, tomar decisões.

Para cumprir tal tarefa, em tempos como o atual, de mudanças radicais no ambiente econômico, as previsões macro, com base em modelos de equilíbrio geral, embora continuem sendo produzidas aos borbotões, são imprestáveis.

José Paulo Kupfer

No mundo das baratas tontas

Todo santo dia alguém lança uma nova projeção para o comportamento da economia mundial (e da brasileira) em 2009. O diabo é que nada bate com nada. O tempo vai passando e nada de se entenderem. Continua a mesma barata-tonta já apontada, no blog, em dois textos recentes (ver aqui e aqui). Sem falar no histórico baixíssimo índice de acerto das previsões da turma.

Aqui vão dez das mais recentes previsões para o comportamento da economia brasileira, em 2009:

Governo 4%*
Banco Central 3,2%
Banco Mundial 2,9%
Unctad (Comissão das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) 2,9%
BIS (”Banco Central dos bancos centrais”) 2,8%
Boletim Focus do BC (relativa ao dia 23/1) 2%
CNI (Confederação Nacional da Indústria) 2,3%
Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) 2,1%
FMI 1,8%
IIF (think tank da banca) 0,8%
Banco Morgan Stanley 0%
(*) O ministro Guido Mantega diz que não é projeção, mas meta.

Aposto que vai ter quem venha dizer que não importa o número exato, mas a tendência. E essa, em todas as projeções, é de baixa.

Muito bem. Mas entre a mais pessimista da lista acima e a mais otimista, tem uma diferença de uns 5 milhões de empregos. Esta é a diferença, caso se utilize a régua do custo da criação de novos postos de trabalho, entre crescer zero ou 4%. Mesmo dando de barato que existe uma moda nas previsões (o intervalo entre 2% e 3%), se está falando em algo como a criação aproximada de 1,5 milhão de postos de trabalho. Não é pouco, não.

Continuo achando que o problema não está nas previsões macroeconômicas – elas são úteis, de algum jeito, para sinalizar tendências. O problema está em acreditar exclusivamente nelas para pensar o mundo e, pior, tomar decisões.

Para cumprir tal tarefa, em tempos como o atual, de mudanças radicais no ambiente econômico, as previsões macro, com base em modelos de equilíbrio geral, embora continuem sendo produzidas aos borbotões, são imprestáveis.

José Paulo Kupfer

Nada bate com nada

Todo santo dia alguém lança uma nova projeção para o comportamento da economia mundial (e da brasileira) em 2009. 

O diabo é que nada bate com nada. 

O tempo vai passando e nada de se entenderem. 

Continua a mesma barata-tonta já apontada, no blog, em dois textos recentes (ver aqui e aqui). 

Sem falar no histórico baixíssimo índice de acerto das previsões da turma.

Dez das mais recentes previsões para o comportamento da economia brasileira, em 2009 estão Aqui:

Investindo contra a crise

Do petróleo ao sal de cozinha, das camisas ao telefone, das bebidas a bombas e válvulas... Empresas no Brasil tomam a direção contrária da crise e começam a anunciar investimentos num momento de desaceleração global. 

A OGX, empresa de petróleo e gás de Eike Batista, a PWR Mission, de bombas e válvulas, a Coca-Cola, a TIM, a Matte Leão, a Sal Cisne e até a pequena Grande Camiseira são alguns exemplos desse movimento. 

Até mesmo na indústria automobilística, as negociações para redução de jornada começam a esfriar. Leia mais Aqui

Escultural

A hipocrisia dos tucademos não tem limites

Vê-se por essa história do DEMO de ir à justiça eleitoral contra o presidente Lula e a ministra Dilma Roussef que a hipocrisia da oposição não tem limites. 

O DEMO é língua de trapo dos tucanos, que estão desesperados com sua divisões internas, com as medidas do governo para sair da crise sustentadas por amplo respaldo popular, com a popularidade do presidente Lula, e com o crescimento de Dilma nas pesquisas.

A verdade nua e crua é que o governo governa e foi a oposição que antecipou o calendário eleitoral. Dilma não é candidata. Eu mesmo afirmei isso na festa de aniversário de 29 anos do PT na última 3ª feira, em Brasília. É pré-candidata e nada impede que seja ministra, governe, administre e faça política.

Aliás, é o que o governador Serra faz, quando é recebido aos gritos e aplausos de "candidato" e nas vezes em que os tucanos o tratam como presidente - já na linha de FHC que sentou na cadeira de prefeito de São Paulo e perdeu as eleições em 1985 para Janio Quadros.

Da parte do presidente Lula, da ministra Dilma e do governo não tem campanha e nem uso da máquina. Tem governo no Brasil, que governa e bem, e tem o que é natural, uma situação em que Dilma é pré-candidata, como aliás, Serra, também o é.

Fim da sinistrose?

Boas notícias: depois de quatro meses de queda, a produção industrial e as vendas no varejo voltaram a crescer nos primeiros 40 dias do ano. O crédito bancário, em todo o país, voltou aos níveis de agosto, antes da crise


E com juros em baixa, nas últimas duas semanas. Mais: queda de 1,5% na taxa de inadimplência em bancos, financeiras e cartões, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela Serasa. 

Em São Paulo, o Índice de Confiança do Consumidor, da Federação do Comércio, subiu 6,8% até agora, depois das quedas de setembro a dezembro do ano passado - tempo do choque importado.

Até prova em contrário, o pior já teria passado. 
Joelmir Beting

PAC o novo New Deal

"(...) O PAC, Programação de Aceleração do Crescimento, é um plano que talvez não fizesse muito sentido quando ele foi lançado como um plano de aceleração do crescimento, porque a economia estava muito aquecida, e hoje em dia é visto quase como um New Deal americano [programa de aquecimento econômico do presidente americano Franklin D. Roosevelt implementado entre 1933 e 1937] numa época em que comparações com a grande depressão americana [de 1929] começam a se tornar mais comuns. Então, é meio como se o Brasil criasse um New Deal antes que a depressão fosse anunciada. Aqueles que acham que o Brasil estava com sorte, alguns anos atrás [conforme diz a imprensa e a oposição para desmerecer o crescimento continuado dos últimos anos], que sorte temos agora, porque é como se tivéssemos um bilhete de loteria, um seguro que não sabíamos que tínhamos (...)".

Empresa anunciam investimentos

Do petróleo ao sal de cozinha, das camisas ao telefone, das bebidas a bombas e válvulas... Empresas no Brasil tomam a direção contrária da crise e começam a anunciar investimentos num momento de desaceleração global, mostra reportagem publicada nesta sexta-feira no jornal O GLOBO. A OGX, empresa de petróleo e gás de Eike Batista, a PWR Mission, de bombas e válvulas, a Coca-Cola, a TIM, a Matte Leão, a Sal Cisne e até a pequena Grande Camiseira são alguns exemplos desse movimento. Até mesmo na indústria automobilística, as negociações para redução de jornada começam a esfriar.

A Coca-Cola Brasil anunciou nesta quinta-feira que investirá R$ 1,75 bilhão este ano, acreditando que o consumo da Classe C será mantido. O valor é 16,6% maior que o de 2008. O presidente da empresa, Xiemar Zarazúa, ressalta que, em alguns anos, o Brasil pode chegar à segunda posição no mundo. Hoje está atrás dos Estados Unidos e do México. A empresa prepara lançamentos para este ano. O primeiro será uma versão do guaraná com chá verde, o Kuat Eko. Em 2008, as vendas subiram 7%, e o faturamento chegou a R$ 15 bilhões, alta de 25% frente a 2007.

A TIM Brasil, terceira maior empresa de telefonia móvel do país, também divulgou nesta quinta-feira que está negociando a aquisição do controle acionário da Intelig, operadora de longa distância do Grupo Docas, do empresário Nelson Tanure. Segundo analistas, o negócio pode ficar entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão. A companhia italiana também está investindo R$ 2,3 bilhões para a construção de redes de fibra óptica.

Já a OGX, empresa do grupo EBX, de Eike Batista, informou que está antecipando em um mês a exploração na Bacia de Santos, no bloco BM-S-29. O início da perfuração será em junho. O mercado reagiu bem ao anúncio: as ações subiram 3,74%. Com um caixa de R$ 7,5 bilhões, a OGX pretende investir US$ 2 bilhões em exploração e outro US$ 1 bilhão na produção. A OGX quer começar a produzir no fim de 2011.

A recuperação da produção e das vendas de veículos em janeiro, que subiram 92,7% e 1,5%, respectivamente, ante dezembro, trouxe alívio para empresas de autopeças, que passaram a rever planos de ajuste na produção. Valmir Marques da Silva, presidente da Federação Estadual de Metalúrgicos, CUT, diz que "muito menos empresas" estão sugerindo reduzir jornada e salários. Marques, que também preside o Sindicato do Metalúrgicos de Taubaté, citou a decisão da Ford de suspender as férias coletivas de 350 empregados de sua fábrica de transmissões.

Empresa anunciam investimentos

Do petróleo ao sal de cozinha, das camisas ao telefone, das bebidas a bombas e válvulas... Empresas no Brasil tomam a direção contrária da crise e começam a anunciar investimentos num momento de desaceleração global, mostra reportagem publicada nesta sexta-feira no jornal O GLOBO. A OGX, empresa de petróleo e gás de Eike Batista, a PWR Mission, de bombas e válvulas, a Coca-Cola, a TIM, a Matte Leão, a Sal Cisne e até a pequena Grande Camiseira são alguns exemplos desse movimento. Até mesmo na indústria automobilística, as negociações para redução de jornada começam a esfriar.

A Coca-Cola Brasil anunciou nesta quinta-feira que investirá R$ 1,75 bilhão este ano, acreditando que o consumo da Classe C será mantido. O valor é 16,6% maior que o de 2008. O presidente da empresa, Xiemar Zarazúa, ressalta que, em alguns anos, o Brasil pode chegar à segunda posição no mundo. Hoje está atrás dos Estados Unidos e do México. A empresa prepara lançamentos para este ano. O primeiro será uma versão do guaraná com chá verde, o Kuat Eko. Em 2008, as vendas subiram 7%, e o faturamento chegou a R$ 15 bilhões, alta de 25% frente a 2007.

A TIM Brasil, terceira maior empresa de telefonia móvel do país, também divulgou nesta quinta-feira que está negociando a aquisição do controle acionário da Intelig, operadora de longa distância do Grupo Docas, do empresário Nelson Tanure. Segundo analistas, o negócio pode ficar entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão. A companhia italiana também está investindo R$ 2,3 bilhões para a construção de redes de fibra óptica.

Já a OGX, empresa do grupo EBX, de Eike Batista, informou que está antecipando em um mês a exploração na Bacia de Santos, no bloco BM-S-29. O início da perfuração será em junho. O mercado reagiu bem ao anúncio: as ações subiram 3,74%. Com um caixa de R$ 7,5 bilhões, a OGX pretende investir US$ 2 bilhões em exploração e outro US$ 1 bilhão na produção. A OGX quer começar a produzir no fim de 2011.

A recuperação da produção e das vendas de veículos em janeiro, que subiram 92,7% e 1,5%, respectivamente, ante dezembro, trouxe alívio para empresas de autopeças, que passaram a rever planos de ajuste na produção. Valmir Marques da Silva, presidente da Federação Estadual de Metalúrgicos, CUT, diz que "muito menos empresas" estão sugerindo reduzir jornada e salários. Marques, que também preside o Sindicato do Metalúrgicos de Taubaté, citou a decisão da Ford de suspender as férias coletivas de 350 empregados de sua fábrica de transmissões.

Crônica de uma crise anunciada

por Eduardo Guimarães,

Estudo do professor da FGV Marcelo Cortes Neri divulgado ontem mostra que a crise não atingiu os mais pobres no Brasil, não lhes diminuiu a renda, não freou a queda da desigualdade e, o que mais impressiona, não impediu que as classes D e E continuassem encolhendo e que seus integrantes continuassem ascendendo à classe C mesmo no período negro de setembro, outubro, novembro e dezembro de 2008.

Nenhum dos grandes jornais (Folha, Estadão e Globo) deu chamada de primeira página para o Estudo da FGV. A cobertura limitou-se a notas escondidas e curtas nas páginas internas. Quanto aos telejornais, alguns tiveram a coragem de não divulgar o Estudo e outros deram pouquíssima importância a informação desse calibre.

O anúncio do Estudo intitulado "Crônica de uma crise anunciada - choques externos e a nova classe média" foi feito pelo professor Neri em entrevista coletiva à imprensa. Estimo que nem o pesquisador imaginava o tratamento pífio que a mídia daria ao seu trabalho.

O vídeo contendo a apresentação do Estudo à imprensa por Neri pode ser assistido clicando aqui, e o Estudo em si pode ser lido na íntegra clicando aqui.

O pesquisador atribui a programas sociais como o Bolsa Família e aos aumentos do salário mínimo os vastos sucessos sociais dos últimos anos do governo Lula, dando destaque para a queda da desigualdade e para o impressionante aumento de mais de 20% da classe C e o forte encolhimento do contingente de pobres e miseráveis nos últimos anos

Mas, em determinado ponto da entrevista de Neri à imprensa, ele faz uma afirmação sobre o PAC, programa governamental que a mídia e a oposição dizem que não existe, que todos os brasileiros precisam conhecer, sobretudo por tal afirmação ter sido proferida por esse pesquisador da FGV que vem atravessando vários governos e que jamais foi acusado por ninguém de partidarismo ou coisa que o valha.

Reproduzo abaixo, textualmente (para quem não tiver conexão rápida para assistir o vídeo acima mencionado), o que o professor Neri disse sobre o PAC:

"(...) O PAC, Programação de Aceleração do Crescimento, é um plano que talvez não fizesse muito sentido quando ele foi lançado como um plano de aceleração do crescimento, porque a economia estava muito aquecida, e hoje em dia é visto quase como um New Deal americano [programa de aquecimento econômico do presidente americano Franklin D. Roosevelt implementado entre 1933 e 1937] numa época em que comparações com a grande depressão americana [de 1929] começam a se tornar mais comuns. Então, é meio como se o Brasil criasse um New Deal antes que a depressão fosse anunciada. Aqueles que acham que o Brasil estava com sorte, alguns anos atrás [conforme diz a imprensa e a oposição para desmerecer o crescimento continuado dos últimos anos], que sorte temos agora, porque é como se tivéssemos um bilhete de loteria, um seguro que não sabíamos que tínhamos (...)".

Não é à toa que a mídia escondeu o estudo de Neri. Ele mostra que, se estivermos mesmo saindo da crise - e a mídia, seguindo conselho recente de FHC aos tucanos para combaterem as medidas anticrise de Lula, não quer aceitar tal hipótese -, tudo se deve à visão que o presidente teve ao se dedicar tanto ao PAC nos últimos anos enquanto a mídia e a oposição diziam que o programa "não existia".

O professor Neri conclui elencando vários fatores que permitirão ao Brasil superar a crise antes dos outros países e faz alertas de que as políticas públicas devem continuar na rota do PAC e dos programas sociais, porque, se houver desvios, poderemos perder a chance de sair dessa crise muito maiores do que entramos nela.

Crônica de uma crise anunciada

por Eduardo Guimarães,

Estudo do professor da FGV Marcelo Cortes Neri divulgado ontem mostra que a crise não atingiu os mais pobres no Brasil, não lhes diminuiu a renda, não freou a queda da desigualdade e, o que mais impressiona, não impediu que as classes D e E continuassem encolhendo e que seus integrantes continuassem ascendendo à classe C mesmo no período negro de setembro, outubro, novembro e dezembro de 2008.

Nenhum dos grandes jornais (Folha, Estadão e Globo) deu chamada de primeira página para o Estudo da FGV. A cobertura limitou-se a notas escondidas e curtas nas páginas internas. Quanto aos telejornais, alguns tiveram a coragem de não divulgar o Estudo e outros deram pouquíssima importância a informação desse calibre.

O anúncio do Estudo intitulado "Crônica de uma crise anunciada - choques externos e a nova classe média" foi feito pelo professor Neri em entrevista coletiva à imprensa. Estimo que nem o pesquisador imaginava o tratamento pífio que a mídia daria ao seu trabalho.

O vídeo contendo a apresentação do Estudo à imprensa por Neri pode ser assistido clicando aqui, e o Estudo em si pode ser lido na íntegra clicando aqui.

O pesquisador atribui a programas sociais como o Bolsa Família e aos aumentos do salário mínimo os vastos sucessos sociais dos últimos anos do governo Lula, dando destaque para a queda da desigualdade e para o impressionante aumento de mais de 20% da classe C e o forte encolhimento do contingente de pobres e miseráveis nos últimos anos

Mas, em determinado ponto da entrevista de Neri à imprensa, ele faz uma afirmação sobre o PAC, programa governamental que a mídia e a oposição dizem que não existe, que todos os brasileiros precisam conhecer, sobretudo por tal afirmação ter sido proferida por esse pesquisador da FGV que vem atravessando vários governos e que jamais foi acusado por ninguém de partidarismo ou coisa que o valha.

Reproduzo abaixo, textualmente (para quem não tiver conexão rápida para assistir o vídeo acima mencionado), o que o professor Neri disse sobre o PAC:

"(...) O PAC, Programação de Aceleração do Crescimento, é um plano que talvez não fizesse muito sentido quando ele foi lançado como um plano de aceleração do crescimento, porque a economia estava muito aquecida, e hoje em dia é visto quase como um New Deal americano [programa de aquecimento econômico do presidente americano Franklin D. Roosevelt implementado entre 1933 e 1937] numa época em que comparações com a grande depressão americana [de 1929] começam a se tornar mais comuns. Então, é meio como se o Brasil criasse um New Deal antes que a depressão fosse anunciada. Aqueles que acham que o Brasil estava com sorte, alguns anos atrás [conforme diz a imprensa e a oposição para desmerecer o crescimento continuado dos últimos anos], que sorte temos agora, porque é como se tivéssemos um bilhete de loteria, um seguro que não sabíamos que tínhamos (...)".

Não é à toa que a mídia escondeu o estudo de Neri. Ele mostra que, se estivermos mesmo saindo da crise - e a mídia, seguindo conselho recente de FHC aos tucanos para combaterem as medidas anticrise de Lula, não quer aceitar tal hipótese -, tudo se deve à visão que o presidente teve ao se dedicar tanto ao PAC nos últimos anos enquanto a mídia e a oposição diziam que o programa "não existia".

O professor Neri conclui elencando vários fatores que permitirão ao Brasil superar a crise antes dos outros países e faz alertas de que as políticas públicas devem continuar na rota do PAC e dos programas sociais, porque, se houver desvios, poderemos perder a chance de sair dessa crise muito maiores do que entramos nela.

Itamar Franco

Com vista para a serra do Curral, no décimo e último andar do edifício sede do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), centro de Belo Horizonte, está o escritório de quem já foi quase tudo na vida brasileira: prefeito, senador, vice-presidente e presidente da República, governador, embaixador em Washington, Lisboa, Roma. 

Nas urnas só sofreu duas derrotas, no início da carreira, para as funções modestas de vereador e vice-prefeito de Juiz de Fora, que só não é sua terra natal porque não nasceu em terra, mas no mar, num "ita" que saiu de Salvador e chegou ao Rio com um passageiro a mais, há 78 anos. 

Desde que voltou de Roma, Itamar Augusto Cautiero Franco é presidente do conselho de administração do BDMG.

Fundador do PMDB, Itamar saiu do partido quando, em 2006, ao pretender voltar ao Planalto, numa disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva, foi preterido pelo então governador do Rio, Anthony Garotinho. 

No mesmo ano, o ex-governador Newton Cardoso derrotou-o na convenção do PMDB mineiro que escolheu o candidato ao Senado. 

Nesta entrevista, Itamar conclama o governador Aécio Neves, a quem apoia para a Presidência em 2010, a desinibir-se e assumir ainda este mês a candidatura, "cruzar o Rubicão". 

Perguntado sobre quem será o candidato ao governo de Minas na chapa de Aécio, Itamar diz que está sem partido - "sou ex-político" - , mas estuda três convites. "Apenas para ter uma filiação..." Continua>>

Como te recompensar?

Neylor Magalhães

Todo o bem que alguém poderia receber, recebi de ti. 
O melhor sorriso no melhor momento, você me deu. 
Quantas vezes procurei mostrar-me bem, simplesmente para que você não se preocupasse ainda mais comigo. Eu sabia que, com o seu coração enorme, você sempre arranjaria motivos para me fazer sorrir. 
Eu sinto saudades... 
Saudades do futuro... Saudades do que seria... Do que seriamos juntos... Sinto saudades de você! Queria poder fechar os olhos e transformar esta fria realidade num sonho, no sonho que vivemos um dia. Queria ter a convicção de dizer que amanhã, logo cedinho, iremos nos encontrar e passar o dia inteirinho juntos. E assim todos os dias, todas as horas e os minutos possíveis... 
Quero te agradecer, te ajudar, enfim, te demonstrar de alguma forma que não esqueço, que jamais esquecerei o que você fez por mim. Jamais esquecerei os ensinamentos que você me passou com o seu jeito bonito, simples, honesto e humilde de tratar tudo e todos. 
Como te recompensar!? 
Como esquecer o amor que você me deu? 
Esse amor ainda é meu? 
Perguntas não calam em minha cabeça... 
Quero que saibas que te amo muito e que, mesmo de longe, torço para que você obtenha êxito e seja muito feliz em todos os caminhos que desejar seguir.

Como te recompensar?


Neylor Magalhães

Todo o bem que alguém poderia receber, recebi de ti. 
O melhor sorriso no melhor momento, você me deu. 
Quantas vezes procurei mostrar-me bem, simplesmente para que você não se preocupasse ainda mais comigo. 
Eu sabia que, com o seu coração enorme, você sempre arranjaria motivos para me fazer sorrir. 
Eu sinto saudades... 
Saudades do futuro... Saudades do que seria... Sinto saudades de você! 
Queria poder fechar os olhos e transformar esta fria realidade num sonho, no sonho que vivemos um dia. Queria ter a convicção de dizer que amanhã, logo cedinho, iremos nos encontrar e passar o dia inteirinho juntos. E assim todos os dias, todas as horas e os minutos possíveis... 
Quero te agradecer, te ajudar, enfim, te demonstrar de alguma forma que não esqueço, que jamais esquecerei o que você fez por mim.
 Jamais esquecerei os ensinamentos que você me passou com o seu jeito bonito, simples, honesto e humilde de tratar tudo e todos. 
Como te recompensar!? 
Como esquecer o amor que você me deu? 
Esse amor ainda é meu? 
Perguntas não calam em minha cabeça... 
Quero que saibas que te amo muito e que, mesmo de longe, torço para que você obtenha êxito e seja muito feliz em todos os caminhos que desejar seguir.

Babaquice ou má-fé?

A Caixa Econômica Federal fechou o balanço de 2008 com lucro de R$ 3,88 bilhões, aumento de 62,3% sobre 2007. 

A carteira de crédito cresceu 43% no ano passado, chegando a R$ 80 bilhões

No quarto trimestre, a instituição ganhou R$ 619 milhões.

Inda tem babacas ou pessoas de má-fé que diz: É a mesma política de FHC.

Naquele tempo a política era fazer os bancos públicos darem prejuízo, pra depois pagar a banca privada se apossar deles. 

Felizmente não deu tempo deles doarem A Caixa, o BB, o BNB e o BNDES.

Xô, xô...Tucademos nunca mais.

Desabafo

"O Supremo Tribunal Federal pressiona o Congresso a reajustar os salários dos ministros da Corte dos atuais R$ 24.500 para R$ 27.716"...

So matando uns 3 ministros destes pra ver se eles criam vergonha na cara. É um escárnio com nós (povo) o que esta corja do judiciário está a fazer constantemente. Todo dia eles dão cusparadas e mais cusparadas na nossa cara. Eu rezo todos os dias pedindo a Deus e o Diabo que coloque um destes FHCs (farsantes , hipocritas, canalhas) na minha frente, pra que eu o mande prus quinto dos infernos. 

PAC paulista não é eleitoreiro

De olho em 2010, governador anuncia pacote de R$ 20 bilhões

Pré-candidato do PSDB à sucessão do presidente Lula, o governador de São Paulo, José Serra, anunciou o PAC paulista, versão estadual do Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal: um pacote de medidas para combater os efeitos da crise internacional. 

Entre as ações, investimentos de R$ 20 bilhões este ano, destinados a garantir 850 mil empregos. 

O plano prevê dinheiro para obras públicas, desoneração de impostos para empresas e incentivo a programas de qualificação de trabalhadores. 

Serra negou intenção política, cobrou juros mais baixos e criticou o Bolsa Família.

Antes tarde do que nunca. 

Desde 2007 quando o PAC foi lançado tucademos, pig e cia vinham criticando o programa, agora resolveram copiar.

Menos mal. 

Copiar o que é bom faz bem.

Mate, Roube, Estrupe o STF liberta

O Supremo Tribunal Federal mandou soltar cinco presos que, mesmo condenados por crimes graves, vão recorrer da sentença. De uma só vez, foram beneficiados um condenado por tentativa de estupro, um estelionatário, um ladrão e dois acusados por apropriação de bens e rendas públicas. 

É o desdobramento de decisão do STF da semana passada, segundo a qual têm direito à liberdade presos cuja condenação não transitou em julgado, ou seja, admite recurso. 

Como na primeira votação; o resultado foi 8 a 2. De novo, só os ministros Ellen Gracie e Joaquim Barbosa votaram contra, por entender que, em alguns crimes graves, o réu não merece recorrer em liberdade. Dos cinco beneficiados, quatro estavam soltos por liminar.

Julgamentos se arrastam no STF devido ao abuso de um recurso legal: o pedido de vista. Alguns ministros pedem vista e demoram até dois anos com um processo. 

Na pratica o STF está garantindo a impunidade de quem tem dinheiro.

A maioria dos ministros daquela corte está dizendo: Mate, Roube, Estrupe. Nos garantimos tua liberdade...desde que que tenhas dinheiro.

Justiça Já

Segundo o noticiário (e.g. http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL999385-5605,00.html), uma catadora encontrou 40 mil reais no lixo de um supermercado.

Recebeu, por devolver o valor, 200 reais do dono do estabelecimento.

A lei (Novo Código Civil) diz:
"Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.

Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos."

Ou seja, ela merece, no mínimo 2.000 reais - dez vezes mais do que ganhou.

Vamos fazer uma campanha para que a justiça seja feita.

[]s,

Roberto Takata

Valor entrevista Itamar Franco

Valor: O senhor deu poucas entrevistas desde que voltou da Itália. Numa delas, se queixou do tratamento que diz receber em São Paulo da imprensa e da classe política. A que atribui essa má-vontade?

Itamar Franco: Ao fato de eu não ser de São Paulo. Ao preconceito. A elite paulista não aceita, de um modo geral, quem não faz parte de seu clã. Mas não guardo mágoas... Você vai ver como essa elite vai tratar o governador Aécio Neves, que é de Minas.

Valor: O governador Aécio é o seu candidato a presidente?

Itamar: É o meu candidato. E é o candidato de Minas.

Valor: O senhor vê chances de ele sair candidato pelo PMDB, pois José Serra parece mais articulado que Aécio no PSDB? E como o senhor analisa este momento da política?

Itamar: Acompanhei essa eleição no Congresso e lembrei os tempos de estudante de física. Quando você olha através de um espelho côncavo um objeto numa determinada posição, vê uma imagem real e outra virtual. O que eu vi nessa eleição para as mesas? A imagem virtual. O PMDB elegeu os presidentes das duas Casas. Tenho certo direito de falar no PMDB porque fundei esse partido, fui o nono a assinar a ficha nacional, fiz parte da primeira executiva, quando ainda era MDB. Lá em Juiz de Fora, tínhamos que manter o livro de fundação do partido escondido da polícia. Fui prefeito em eleição direta numa cidade em que, dois anos antes, o general Olímpio Mourão Filho deflagrara o golpe. E fiquei 22 anos no PMDB, até que a ditadura partidária não me permitiu continuar. Mas, você pergunta se o governador Aécio vai entrar para o PMDB. Aí, é uma questão muito pessoal. Não sou intérprete do pensamento do governador.

Valor: O senhor ia comentar o quadro eleitoral para 2010. E falava da eleição no Congresso.

Itamar: [Desenha nomes no papel e vai unindo-os com setas; depois faz um círculo em torno dos dois blocos formados).O presidente José Sarney é ligado ao Lula. O Michel Temer é ligado a José Serra mais Orestes Quércia. Temer é um bom nome dos quadros do partido, mas pertence ao PMDB de São Paulo. O PMDB de São Paulo é comandado por Quércia que, por sua vez, já está apoiando o Serra. Por via de consequência, Quércia é o possível candidato a senador, numa composição PMDB/PSDB. Então, o quadro político tem mais ou menos esse desenho. O grave é que o PMDB, que é base do governo, que tem ministros, se alia a quem? Ao DEM, que é oposição. Como é que a opinião pública pode entender a política nacional se na Câmara alta da República dois partidos que deveriam ser diferenciados ideologicamente se unem? Não visaram os interesses nacionais. Por quê? Porque daqui a pouco, este aqui [aponta para o círculo em que colocou Temer, Quércia, Serra e DEM] vai estar combatendo o governo Lula. E este outro pode estar somando com o presidente e até dar o candidato a vice. Mas nunca este estará na linha deste [mostra com a caneta um e outro círculos]. Por isso digo que nosso quadro político é imagem virtual. Não real.

Valor: Qual é a relação dessa eleição no Congresso com 2010?

Itamar: Serra foi beneficiado pela eleição do Temer, mas não foi beneficiado pela do Sarney. Não dá para dizer, porém, que o governador Aécio foi o beneficiado. Entendo que o presidente Sarney ficará ainda mais ligado ao Lula e fará o que Lula determinar. Sarney não é um simples apoiador do Lula. Ele comanda todo o sistema energético brasileiro. Dou um exemplo. Furnas sempre foi dirigida por mineiros. O dr. José Pedro [Rodrigues dos Santos, mineiro, amigo de Itamar] saiu há pouco da presidência de Furnas. Não foi nenhum mineiro para lá, não. Foi quem o Sarney determinou. Ele controla o próprio ministro [Edison Lobão], a Eletrobrás, Furnas, a Eletronorte. Até na Petrobras tem influência. Então, este homem está hoje devedor de Lula, muito mais do que Lula lhe deve pelo apoio. Controlar o sistema energético é ter muito poder. Quando Fernando Henrique tentou privatizar Furnas, eu era governador, e lutei contra. Graças a minha resistência, Furnas e Cemig continuam brasileiras. Mas isso, hoje, a gente só comenta. Para alguns eu não existi nem existo. Quando saí da Presidência ainda fiquei aborrecido, mas me lembrei de um verso de Castro Alves. Percebi que algumas pessoas que eu achava que eram estrelas eram apenas pirilampos ["Julguei-te estrela - e eras pirilampo", do poema "Dalila"].

Valor: Quem são os pirilampos?

Itamar: Quando era criança pegava os pirilampos e punha numa caixinha de fósforos. Meus arquivos têm alguns pirilampos... Mas por enquanto não mostro para ninguém.

Valor: Como é isso de ditadura partidária no PMDB?

Itamar: As ditaduras partidárias são reais. E se tornaram mais fortes quando o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que o mandato pertence ao partido. O que penso é que precisávamos ter um percentual de candidatos independentes, para não ficarmos submetidos à ditadura partidária. Por que o governador Aécio quer prévias? Porque não quer se submeter à ditadura partidária, que também existe no PSDB. Num PMDB controlado por Sarney, Quércia, Geddel, Jader, Padilha, quem os derrota?

Valor: O Aécio é candidato a presidente. Se não for, vai para o Senado. Quem sai para governador?

Itamar: Aí vem o cacoete de engenheiro. Na matemática, quando o número de incógnitas é muito maior do que as equações, a questão não se resolve. A política mineira e a nacional têm excesso de incógnitas. Quem será o candidato a governador? Não sei. Eu estou sem partido, mas estudo o convite de três partidos. Não vou dizer quais. Possivelmente vou me filiar a um deles. Apenas para ter uma filiação.

Valor: O senhor sente falta de políticos que expressem abertamente o que pensam?

Itamar: Essa eleição no Congresso me fez pensar nisso. Os presidentes das duas Casas não falam nada sobre seus alinhamentos. E também não dizem o que pensam da reforma tributária, da fiscal, e sobretudo da reforma política. Desde estudante, estive ao lado de quem defendia ideias. Na política, meu primeiro inspirador foi Alberto Pasqualini [1901-1960], senador gaúcho que me fez entrar para o Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, um homem com ideias avançadíssimas para a época. Até há pouco tempo você era eleito pelo que falava em praça pública. Hoje não. Você é preparado no estúdio, lhe dão um discurso para ler no teleprompter. Fui de um tempo que tinha de chegar na televisão e dizer o que pensava. Se falasse besteira estava liquidado.

Valor: E numa campanha chegou a brigar no estúdio. Como foi?

Itamar: O adversário é que quis me bater. Eu era candidato a senador em 1974. Os programas eleitorais eram ao vivo. O juiz eleitoral ficava assistindo, se alguém falasse algo que contrariasse a legislação o juiz interrompia. Eu estava viajando pelo interior. Aí o sujeito que já era senador e candidato à reeleição [senador José Augusto Ferreira Filho, Arena] colocava uma cadeira vazia e dizia: "Que dê esse prefeitinho que não veio? Tá com medo de debater". Todo programa dele tinha o diabo daquela cadeira vazia. Um dia fui lá. A porta do estúdio estava aberta, entrei e sentei na cadeira. Falei pro locutor. "Estou aqui pra debater". O juiz achou que era combinado e deixou minha imagem no ar. O locutor disse que desta vez era o candidato deles que estava viajando. E eu disse: "Então vou ficar aqui sentado". Tudo isso no ar. O juiz percebeu que não era combinado e cortou o programa. Nisso o candidato que estava viajando chegou. Pegou um pedaço de pau e veio pra cima de mim. O estúdio ficou cheio de deixa disso. Um fotógrafo da Veja bateu a foto do meu adversário com o porrete na mão.

Valor: E a crise mundial como vai se refletir por aqui?

Itamar: Os Estados Unidos, têm um quarto do PIB mundial, e são o epicentro desta crise. É evidente que a crise vai chegar aqui. Desde 1983, os Estados Unidos já tiveram picos trimestrais de crescimento de 9,3%. Mesmo depois do 11 de setembro, um ano depois, chegaram a 7,5%. Mas 2008 fechou com menos 3,8%, uma queda muito grande. Para o Brasil, as projeções de 2009 são do professor Carlos Alberto Teixeira, um mineiro. Nosso PIB vai crescer 2%, depois de ter crescido 5,4% em 2007 e estimar-se 5,6% em 2008. O saldo comercial será de apenas US$ 9 bilhões, e déficit de conta corrente de US$ 25 bilhões. Não será uma marolinha. Mas no mundo todos parecem meio perdidos. Os economistas também. Até setembro não vi um economista de consultoria alertar sobre a crise iminente.

Valor: O governo está agindo corretamente? O que precisa mudar?

Itamar: Não vou analisar o presidente. Em 2002, eu era governador de Minas. Fui o primeiro governador de oposição a apoiar a candidatura de Lula. Eu tinha um bom relacionamento com o depois ministro Zé Dirceu e ele pediu para me engajar na campanha. E fui o único governador de oposição a falar no comício de encerramento em São Bernardo. Era chuva que só Deus sabe. O candidato Lula pegou no meu braço e disse " gostaria que você falasse". Depois nos afastamos não sei por quê. Ele me convidou para ser embaixador na Itália, falei que só ficava dois anos, fiquei, Ele ofereceu outro posto, eu não quis, voltei. Hoje não temos nenhum contato.

Valor: O senhor não respondeu sobre o que deve ser feito no Brasil.

Itamar: A primeira coisa que o governo tem de fazer não é novidade. Mudar a política monetária. Não se pode continuar com a taxa de juro mais alta do mundo.

Valor: A crise atrapalha os planos de Lula de fazer o sucessor?

Itamar: Não. Só se ela for realmente avassaladora. Do modo que está vindo, não. A gente tem que reconhecer. O Brasil está mais preparado do que antes de 2003. Acho que a crise não vai afetar o presidente. Se você andar pelo interior, e eu tenho andado, vai perceber que o Bolsa Família beneficia mais ou menos 11 milhões de famílias. Se multiplicar isso por baixo, por três, pois elas têm parentes, amigos pobres que ajudam outros pobres, vai dar muita gente. E esta gente o presidente está conseguindo manter ao seu lado. Vou dar um exemplo, me permita que não cite a cidade. Há uma cidade em Minas, ribeirinha ao São Francisco, cuja praia fica do outro lado do rio. Tem uma barcaça que faz a travessia. Quando a prefeitura não paga a passagem de R$ 1, a prainha da outra margem recebe mais ou menos seiscentas pessoas no fim de semana. Quando a prefeitura paga a passagem, há dez mil na prainha. O cidadão vai de graça e gasta o real dele com um peixe, uma pinguinha. Agora ponha nisso 90 reais por filho em idade escolar... Conversei com um prefeito de outra cidade do interior. Perguntei: "Me diz lá, o que estão achando do senhor presidente?". E ele: " Ó, vou dizer uma coisa. Já falam em terceiro mandato". Não aprovo o terceiro mandato, nem o prefeito apoia. Mas isso mostra que a crise tem de ser mesmo avassaladora, para desfazer o prestígio do Lula.

Valor: E a Dilma?

Itamar: Acredito que a ministra Dilma Roussef é uma candidata muito forte. Não está falando o mineiro em favor da conterrânea. Fala o observador da política, homem que já foi político e hoje não é mais.

Valor: E espera que os leitores e a torcida do Atlético acreditem que não é mais político...

Itamar: Um ex-político. Mas, como ia dizendo, essa senhora vai dar trabalho. São aqui de Minas três figuras que mais entendem de energia neste Brasil: José Pedro Rodrigues dos Santos, ex-presidente de Furnas; o presidente da Cemig, dr. Djalma Morais e o dr. Marcelo Siqueira, também ex-presidente de Furnas. Eles podem atestar que ela entende muito de energia. A ministra fez uma palestra no Copacabana Palace, falou mais de duas horas sem olhar uma vez para o papel. É candidata forte. Não se iludam.

Valor: Dizem que não é política.

Itamar: Já vi tanta gente que não era política chegar lá. Eu até discordo um pouco, ela é política desde jovem. Tanto que foi presa política aos 21 anos.

Valor: Mas o seu candidato é o governador Aécio, não?

Itamar: É o governador Aécio. Mas ele tem que assumir-se como candidato. Ele tem de chegar e dizer "Vim, vi e quero vencer".

Valor: Como César?

Itamar: Exatamente. Como César, ter a ousadia de atravessar o Rubicão. Alea jacta est, a sorte está lançada, que, aliás, César não disse em latim, mas em grego. Se não atravessar o Rubicão, não vai a Roma. Aécio tem de atravessar o Rubicão logo. Este mês ainda.

Valor: Por que este mês?

Itamar: Porque a luta está aí. O Serra já atravessou o Rubicão dele, só não sei se vai transpor as montanhas... Nada contra o Serra, só estou analisando. Faz dois meses que não converso com o governador Aécio, a não ser pelo telefone. Acho que ele tem um bom combate a fazer no campo das ideias. Tem que mostrar o que quer para o país.

Valor: E o que ele quer?

Itamar: Ah, não sei. Sei que o presidente Lula está bem com a opinião pública não só porque tem o Bolsa Família. É porque a oposição não tem mensagem.

Valor: Depois de se reeleger governador, Aécio disse que ia percorrer o país para pregar uma nova forma de o PSDB fazer política. Isso parece que não andou.

Itamar: Sabe por que não andou? Porque tem que atravessar o Rubicão. E o Rubicão não é tão difícil de atravessar. Em verdade é um riacho... Mas há um anseio em Minas para que Minas volte à Presidência da República. Minha opinião é de que o presidente Fernando Henrique fez um mal ao país ao inventar a reeleição. Ele me disse que não ia fazer isso. Mas ele tem uma memória que eu chamo de peneira, retém algumas coisas e deixa escorrer as outras. Ele e o grupo dele acham até que ele é que assinou o Plano Real. Não fui eu não. Quando chega a noite, no seu quarto, ele apaga as luzes, joga um foco e proclama: "Olha aí, eu é que assinei o Plano Real". Mas esquece de uma coisa: o grande sacerdote do plano real chama-se Rubens Ricupero... Eleito graças ao Plano Real, Fernando Henrique deveria fazer em seguida as reformas tributária, a fiscal e a política.

Valor: Mas tinha condições políticas de fazer logo essas reformas?

Itamar: Tinha, pois foi eleito em primeiro turno. Mas ficou mordido pela reeleição. Não queria briga, contrariar interesses, sacrificou tudo pela reeleição. Depois dele, os presidentes pensarão antes de tudo na reeleição. Quando eu estava na Presidência, disse ao meu líder no Senado: "Pedro Simon, não vamos lutar pela reeleição". Estávamos em 1994 revisando a Constituição. E a reeleição não passou no Congresso por nove votos. Sabe por quê? Porque o Fernando Henrique tinha cerca de 16% e o Lula vinha com uns 35% nas pesquisas. Eles tinham medo de colocar a reeleição por causa do Lula. O mesmo aconteceu com o mandato de quatro anos. Não foi de cinco, por causa do medo da vitória do Lula. A história terá de me fazer justiça: fui presidente, não me candidatei à reeleição. Fui governador, e não me candidatei à reeleição. Sou contra.

Valor: E como foi sua primeira eleição a senador, em 1974, em pleno regime militar?

Itamar: Teve um homem bom, chamado senador Franco Montoro. Em 1974, eu era prefeito e fui à casa do doutor Tancredo. Falei: "O senhor vai ser candidato ao Senado?" "Eu não sou burro", ele me disse. "Pois eu gostaria de ser", eu disse. "Você não vai ter 300 mil votos", mas mandou consultar a cúpula do então MDB de Minas. Consultei e ninguém queria. Daí fui ao Franco Montoro em São Paulo. Expliquei a situação. O que Montoro me disse nunca mais esqueci: "Os políticos brasileiros só estamos enxergando a superfície e na superfície vamos ser derrotados. Governo militar, presidente Geisel, imprensa, tudo é contra nós. Mas se você aprofundar um pouquinho o olhar, eu lhe aconselharia a ser candidato porque vamos fazer mais de dez senadores". O MDB elegeu 16 senadores, inclusive o Quercia em São Paulo.

Valor: E agora será que só estamos enxergando a superfície?

Itamar: Não sei. Não temos mais um Montoro na vida.

Valor entrevista Itamar Franco

Valor: O senhor deu poucas entrevistas desde que voltou da Itália. Numa delas, se queixou do tratamento que diz receber em São Paulo da imprensa e da classe política. A que atribui essa má-vontade?

Itamar Franco: Ao fato de eu não ser de São Paulo. Ao preconceito. A elite paulista não aceita, de um modo geral, quem não faz parte de seu clã. Mas não guardo mágoas... Você vai ver como essa elite vai tratar o governador Aécio Neves, que é de Minas.

Valor: O governador Aécio é o seu candidato a presidente?

Itamar: É o meu candidato. E é o candidato de Minas.

Valor: O senhor vê chances de ele sair candidato pelo PMDB, pois José Serra parece mais articulado que Aécio no PSDB? E como o senhor analisa este momento da política?

Itamar: Acompanhei essa eleição no Congresso e lembrei os tempos de estudante de física. Quando você olha através de um espelho côncavo um objeto numa determinada posição, vê uma imagem real e outra virtual. O que eu vi nessa eleição para as mesas? A imagem virtual. O PMDB elegeu os presidentes das duas Casas. Tenho certo direito de falar no PMDB porque fundei esse partido, fui o nono a assinar a ficha nacional, fiz parte da primeira executiva, quando ainda era MDB. Lá em Juiz de Fora, tínhamos que manter o livro de fundação do partido escondido da polícia. Fui prefeito em eleição direta numa cidade em que, dois anos antes, o general Olímpio Mourão Filho deflagrara o golpe. E fiquei 22 anos no PMDB, até que a ditadura partidária não me permitiu continuar. Mas, você pergunta se o governador Aécio vai entrar para o PMDB. Aí, é uma questão muito pessoal. Não sou intérprete do pensamento do governador.

Valor: O senhor ia comentar o quadro eleitoral para 2010. E falava da eleição no Congresso.

Itamar: [Desenha nomes no papel e vai unindo-os com setas; depois faz um círculo em torno dos dois blocos formados).O presidente José Sarney é ligado ao Lula. O Michel Temer é ligado a José Serra mais Orestes Quércia. Temer é um bom nome dos quadros do partido, mas pertence ao PMDB de São Paulo. O PMDB de São Paulo é comandado por Quércia que, por sua vez, já está apoiando o Serra. Por via de consequência, Quércia é o possível candidato a senador, numa composição PMDB/PSDB. Então, o quadro político tem mais ou menos esse desenho. O grave é que o PMDB, que é base do governo, que tem ministros, se alia a quem? Ao DEM, que é oposição. Como é que a opinião pública pode entender a política nacional se na Câmara alta da República dois partidos que deveriam ser diferenciados ideologicamente se unem? Não visaram os interesses nacionais. Por quê? Porque daqui a pouco, este aqui [aponta para o círculo em que colocou Temer, Quércia, Serra e DEM] vai estar combatendo o governo Lula. E este outro pode estar somando com o presidente e até dar o candidato a vice. Mas nunca este estará na linha deste [mostra com a caneta um e outro círculos]. Por isso digo que nosso quadro político é imagem virtual. Não real.

Valor: Qual é a relação dessa eleição no Congresso com 2010?

Itamar: Serra foi beneficiado pela eleição do Temer, mas não foi beneficiado pela do Sarney. Não dá para dizer, porém, que o governador Aécio foi o beneficiado. Entendo que o presidente Sarney ficará ainda mais ligado ao Lula e fará o que Lula determinar. Sarney não é um simples apoiador do Lula. Ele comanda todo o sistema energético brasileiro. Dou um exemplo. Furnas sempre foi dirigida por mineiros. O dr. José Pedro [Rodrigues dos Santos, mineiro, amigo de Itamar] saiu há pouco da presidência de Furnas. Não foi nenhum mineiro para lá, não. Foi quem o Sarney determinou. Ele controla o próprio ministro [Edison Lobão], a Eletrobrás, Furnas, a Eletronorte. Até na Petrobras tem influência. Então, este homem está hoje devedor de Lula, muito mais do que Lula lhe deve pelo apoio. Controlar o sistema energético é ter muito poder. Quando Fernando Henrique tentou privatizar Furnas, eu era governador, e lutei contra. Graças a minha resistência, Furnas e Cemig continuam brasileiras. Mas isso, hoje, a gente só comenta. Para alguns eu não existi nem existo. Quando saí da Presidência ainda fiquei aborrecido, mas me lembrei de um verso de Castro Alves. Percebi que algumas pessoas que eu achava que eram estrelas eram apenas pirilampos ["Julguei-te estrela - e eras pirilampo", do poema "Dalila"].

Valor: Quem são os pirilampos?

Itamar: Quando era criança pegava os pirilampos e punha numa caixinha de fósforos. Meus arquivos têm alguns pirilampos... Mas por enquanto não mostro para ninguém.

Valor: Como é isso de ditadura partidária no PMDB?

Itamar: As ditaduras partidárias são reais. E se tornaram mais fortes quando o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que o mandato pertence ao partido. O que penso é que precisávamos ter um percentual de candidatos independentes, para não ficarmos submetidos à ditadura partidária. Por que o governador Aécio quer prévias? Porque não quer se submeter à ditadura partidária, que também existe no PSDB. Num PMDB controlado por Sarney, Quércia, Geddel, Jader, Padilha, quem os derrota?

Valor: O Aécio é candidato a presidente. Se não for, vai para o Senado. Quem sai para governador?

Itamar: Aí vem o cacoete de engenheiro. Na matemática, quando o número de incógnitas é muito maior do que as equações, a questão não se resolve. A política mineira e a nacional têm excesso de incógnitas. Quem será o candidato a governador? Não sei. Eu estou sem partido, mas estudo o convite de três partidos. Não vou dizer quais. Possivelmente vou me filiar a um deles. Apenas para ter uma filiação.

Valor: O senhor sente falta de políticos que expressem abertamente o que pensam?

Itamar: Essa eleição no Congresso me fez pensar nisso. Os presidentes das duas Casas não falam nada sobre seus alinhamentos. E também não dizem o que pensam da reforma tributária, da fiscal, e sobretudo da reforma política. Desde estudante, estive ao lado de quem defendia ideias. Na política, meu primeiro inspirador foi Alberto Pasqualini [1901-1960], senador gaúcho que me fez entrar para o Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, um homem com ideias avançadíssimas para a época. Até há pouco tempo você era eleito pelo que falava em praça pública. Hoje não. Você é preparado no estúdio, lhe dão um discurso para ler no teleprompter. Fui de um tempo que tinha de chegar na televisão e dizer o que pensava. Se falasse besteira estava liquidado.

Valor: E numa campanha chegou a brigar no estúdio. Como foi?

Itamar: O adversário é que quis me bater. Eu era candidato a senador em 1974. Os programas eleitorais eram ao vivo. O juiz eleitoral ficava assistindo, se alguém falasse algo que contrariasse a legislação o juiz interrompia. Eu estava viajando pelo interior. Aí o sujeito que já era senador e candidato à reeleição [senador José Augusto Ferreira Filho, Arena] colocava uma cadeira vazia e dizia: "Que dê esse prefeitinho que não veio? Tá com medo de debater". Todo programa dele tinha o diabo daquela cadeira vazia. Um dia fui lá. A porta do estúdio estava aberta, entrei e sentei na cadeira. Falei pro locutor. "Estou aqui pra debater". O juiz achou que era combinado e deixou minha imagem no ar. O locutor disse que desta vez era o candidato deles que estava viajando. E eu disse: "Então vou ficar aqui sentado". Tudo isso no ar. O juiz percebeu que não era combinado e cortou o programa. Nisso o candidato que estava viajando chegou. Pegou um pedaço de pau e veio pra cima de mim. O estúdio ficou cheio de deixa disso. Um fotógrafo da Veja bateu a foto do meu adversário com o porrete na mão.

Valor: E a crise mundial como vai se refletir por aqui?

Itamar: Os Estados Unidos, têm um quarto do PIB mundial, e são o epicentro desta crise. É evidente que a crise vai chegar aqui. Desde 1983, os Estados Unidos já tiveram picos trimestrais de crescimento de 9,3%. Mesmo depois do 11 de setembro, um ano depois, chegaram a 7,5%. Mas 2008 fechou com menos 3,8%, uma queda muito grande. Para o Brasil, as projeções de 2009 são do professor Carlos Alberto Teixeira, um mineiro. Nosso PIB vai crescer 2%, depois de ter crescido 5,4% em 2007 e estimar-se 5,6% em 2008. O saldo comercial será de apenas US$ 9 bilhões, e déficit de conta corrente de US$ 25 bilhões. Não será uma marolinha. Mas no mundo todos parecem meio perdidos. Os economistas também. Até setembro não vi um economista de consultoria alertar sobre a crise iminente.

Valor: O governo está agindo corretamente? O que precisa mudar?

Itamar: Não vou analisar o presidente. Em 2002, eu era governador de Minas. Fui o primeiro governador de oposição a apoiar a candidatura de Lula. Eu tinha um bom relacionamento com o depois ministro Zé Dirceu e ele pediu para me engajar na campanha. E fui o único governador de oposição a falar no comício de encerramento em São Bernardo. Era chuva que só Deus sabe. O candidato Lula pegou no meu braço e disse " gostaria que você falasse". Depois nos afastamos não sei por quê. Ele me convidou para ser embaixador na Itália, falei que só ficava dois anos, fiquei, Ele ofereceu outro posto, eu não quis, voltei. Hoje não temos nenhum contato.

Valor: O senhor não respondeu sobre o que deve ser feito no Brasil.

Itamar: A primeira coisa que o governo tem de fazer não é novidade. Mudar a política monetária. Não se pode continuar com a taxa de juro mais alta do mundo.

Valor: A crise atrapalha os planos de Lula de fazer o sucessor?

Itamar: Não. Só se ela for realmente avassaladora. Do modo que está vindo, não. A gente tem que reconhecer. O Brasil está mais preparado do que antes de 2003. Acho que a crise não vai afetar o presidente. Se você andar pelo interior, e eu tenho andado, vai perceber que o Bolsa Família beneficia mais ou menos 11 milhões de famílias. Se multiplicar isso por baixo, por três, pois elas têm parentes, amigos pobres que ajudam outros pobres, vai dar muita gente. E esta gente o presidente está conseguindo manter ao seu lado. Vou dar um exemplo, me permita que não cite a cidade. Há uma cidade em Minas, ribeirinha ao São Francisco, cuja praia fica do outro lado do rio. Tem uma barcaça que faz a travessia. Quando a prefeitura não paga a passagem de R$ 1, a prainha da outra margem recebe mais ou menos seiscentas pessoas no fim de semana. Quando a prefeitura paga a passagem, há dez mil na prainha. O cidadão vai de graça e gasta o real dele com um peixe, uma pinguinha. Agora ponha nisso 90 reais por filho em idade escolar... Conversei com um prefeito de outra cidade do interior. Perguntei: "Me diz lá, o que estão achando do senhor presidente?". E ele: " Ó, vou dizer uma coisa. Já falam em terceiro mandato". Não aprovo o terceiro mandato, nem o prefeito apoia. Mas isso mostra que a crise tem de ser mesmo avassaladora, para desfazer o prestígio do Lula.

Valor: E a Dilma?

Itamar: Acredito que a ministra Dilma Roussef é uma candidata muito forte. Não está falando o mineiro em favor da conterrânea. Fala o observador da política, homem que já foi político e hoje não é mais.

Valor: E espera que os leitores e a torcida do Atlético acreditem que não é mais político...

Itamar: Um ex-político. Mas, como ia dizendo, essa senhora vai dar trabalho. São aqui de Minas três figuras que mais entendem de energia neste Brasil: José Pedro Rodrigues dos Santos, ex-presidente de Furnas; o presidente da Cemig, dr. Djalma Morais e o dr. Marcelo Siqueira, também ex-presidente de Furnas. Eles podem atestar que ela entende muito de energia. A ministra fez uma palestra no Copacabana Palace, falou mais de duas horas sem olhar uma vez para o papel. É candidata forte. Não se iludam.

Valor: Dizem que não é política.

Itamar: Já vi tanta gente que não era política chegar lá. Eu até discordo um pouco, ela é política desde jovem. Tanto que foi presa política aos 21 anos.

Valor: Mas o seu candidato é o governador Aécio, não?

Itamar: É o governador Aécio. Mas ele tem que assumir-se como candidato. Ele tem de chegar e dizer "Vim, vi e quero vencer".

Valor: Como César?

Itamar: Exatamente. Como César, ter a ousadia de atravessar o Rubicão. Alea jacta est, a sorte está lançada, que, aliás, César não disse em latim, mas em grego. Se não atravessar o Rubicão, não vai a Roma. Aécio tem de atravessar o Rubicão logo. Este mês ainda.

Valor: Por que este mês?

Itamar: Porque a luta está aí. O Serra já atravessou o Rubicão dele, só não sei se vai transpor as montanhas... Nada contra o Serra, só estou analisando. Faz dois meses que não converso com o governador Aécio, a não ser pelo telefone. Acho que ele tem um bom combate a fazer no campo das ideias. Tem que mostrar o que quer para o país.

Valor: E o que ele quer?

Itamar: Ah, não sei. Sei que o presidente Lula está bem com a opinião pública não só porque tem o Bolsa Família. É porque a oposição não tem mensagem.

Valor: Depois de se reeleger governador, Aécio disse que ia percorrer o país para pregar uma nova forma de o PSDB fazer política. Isso parece que não andou.

Itamar: Sabe por que não andou? Porque tem que atravessar o Rubicão. E o Rubicão não é tão difícil de atravessar. Em verdade é um riacho... Mas há um anseio em Minas para que Minas volte à Presidência da República. Minha opinião é de que o presidente Fernando Henrique fez um mal ao país ao inventar a reeleição. Ele me disse que não ia fazer isso. Mas ele tem uma memória que eu chamo de peneira, retém algumas coisas e deixa escorrer as outras. Ele e o grupo dele acham até que ele é que assinou o Plano Real. Não fui eu não. Quando chega a noite, no seu quarto, ele apaga as luzes, joga um foco e proclama: "Olha aí, eu é que assinei o Plano Real". Mas esquece de uma coisa: o grande sacerdote do plano real chama-se Rubens Ricupero... Eleito graças ao Plano Real, Fernando Henrique deveria fazer em seguida as reformas tributária, a fiscal e a política.

Valor: Mas tinha condições políticas de fazer logo essas reformas?

Itamar: Tinha, pois foi eleito em primeiro turno. Mas ficou mordido pela reeleição. Não queria briga, contrariar interesses, sacrificou tudo pela reeleição. Depois dele, os presidentes pensarão antes de tudo na reeleição. Quando eu estava na Presidência, disse ao meu líder no Senado: "Pedro Simon, não vamos lutar pela reeleição". Estávamos em 1994 revisando a Constituição. E a reeleição não passou no Congresso por nove votos. Sabe por quê? Porque o Fernando Henrique tinha cerca de 16% e o Lula vinha com uns 35% nas pesquisas. Eles tinham medo de colocar a reeleição por causa do Lula. O mesmo aconteceu com o mandato de quatro anos. Não foi de cinco, por causa do medo da vitória do Lula. A história terá de me fazer justiça: fui presidente, não me candidatei à reeleição. Fui governador, e não me candidatei à reeleição. Sou contra.

Valor: E como foi sua primeira eleição a senador, em 1974, em pleno regime militar?

Itamar: Teve um homem bom, chamado senador Franco Montoro. Em 1974, eu era prefeito e fui à casa do doutor Tancredo. Falei: "O senhor vai ser candidato ao Senado?" "Eu não sou burro", ele me disse. "Pois eu gostaria de ser", eu disse. "Você não vai ter 300 mil votos", mas mandou consultar a cúpula do então MDB de Minas. Consultei e ninguém queria. Daí fui ao Franco Montoro em São Paulo. Expliquei a situação. O que Montoro me disse nunca mais esqueci: "Os políticos brasileiros só estamos enxergando a superfície e na superfície vamos ser derrotados. Governo militar, presidente Geisel, imprensa, tudo é contra nós. Mas se você aprofundar um pouquinho o olhar, eu lhe aconselharia a ser candidato porque vamos fazer mais de dez senadores". O MDB elegeu 16 senadores, inclusive o Quercia em São Paulo.

Valor: E agora será que só estamos enxergando a superfície?

Itamar: Não sei. Não temos mais um Montoro na vida.