por Marcos Coimbra
Embora seu estado de saúde fosse complicado, tudo indicava que o pior já tivesse passado. Quem tinha lutado contra uma leucemia e vencido não deveria ter grande dificuldade de superar uma pneumonia.
Para dizer o óbvio, sua morte deixa um vazio na política mineira. Especialmente no plano simbólico.
Ele nunca foi um líder político típico, daqueles que cultivam “suas bases” e ficam à frente de “seu grupo”. Talvez apenas no início da carreira, ainda em Juiz de Fora, tenha existido um “itamarismo”, com seu séquito de apoiadores e representantes.
Dessa época, alguns amigos ficaram, mas são poucos hoje em dia. Afinal, embora sempre tivesse permanecido ligado à sua cidade de coração, fazia tempo que Itamar tinha saído de lá.
Assim, são poucos os órfãos políticos que deixa. No Congresso e na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, por exemplo, não há bancadas que lhe fossem fiéis e que agora ficam sem a liderança.
Tampouco se pode dizer que seu desaparecimento modifique o partido pelo qual se elegeu senador ano passado. O PPS foi seu ancoradouro por breves momentos e não se pode dizer que eram profundas suas ligações com os companheiros atuais.
No plano partidário, aliás, Itamar foi, acima de tudo, um peemedebista. Pena que seus caminhos tivessem se separado tão cedo, pois, quando saiu do PMDB, não se sentiu mais em casa. Foi um longo percurso de sigla em sigla, sem nunca encontrar seu lugar.
O espaço que fica é no sentimento da sociedade, na opinião pública. Especialmente em Minas, mas também no restante do país, Itamar era um símbolo.
É curioso que, embora tivesse sido presidente da República e governador de estado, sua imagem pouco decorresse das passagens pelo Executivo. Ambas perderam conteúdo concreto. Não é como administrador público que as pessoas pensavam em Itamar.
Sua importância na solução da crise aberta pelo impeachment de Collor só não foi maior que na percepção de que a solução do problema econômico brasileiro exigia medidas não-convencionais. Quem, em última instância, tomou a decisão de implantar um programa anti-inflacionário sem qualquer garantia de sucesso foi ele.
Depois de tantas tentativas frustradas, era preciso coragem para apostar em um novo plano. Os ministros milagreiros que os propuseram sobreviveram, mas os presidentes não. Quem bancou os riscos do Real foi Itamar.
O sucesso do programa lhe foi, no entanto, subtraído. Não foi sem mágoas que teve que reivindicar, daí para a frente, seu papel na estabilização.
Para os mineiros, a memória do Itamar governador é controversa. A grande maioria das pessoas se lembra apenas do enfrentamento com Fernando Henrique, ilustrado pela resistência que opôs à privatização de Furnas.
Itamar era um símbolo em outra dimensão. Em Minas e no Brasil, um exemplo de político, que podia ser admirado por mais de um motivo.
De alguém que sempre foi firme na defesa de suas ideias (mesmo daquelas com as quais muitos não concordavam). De alguém que nunca colocou interesses privados acima dos públicos. De alguém que sempre foi coerente na defesa da democracia e do desenvolvimento.
Para o mineiros, também por outra razão: Itamar, à sua maneira, foi um representante legítimo do estado e do sentimento de sua gente.