[...] DUAS GRANDES QUESTÕES NO USO DA ENERGIA NUCLEAR
O grande nó do uso da energia atômica é a contaminação radioativa. Parece óbvio, mas há mais a considerar. É claro que a produção de energia é enorme na indústria nuclear e que nossa civilização precisa de fontes abundantes de energia: não poderá haver desenvolvimento sem isso. Mas o passivo ambiental em casos de desastres é tão grande, que mesmo eventos de baixa probabilidade deveriam ser levados em conta.
E a outra grande questão em Fukushima é a irresponsabilidade com que todas as autoridades envolvidas, governo e iniciativa privada japoneses, lidaram com a emergência. Precisaram de desmentidos externos, de outros países, para admitirem que a situação saíra realmente de controle. E foi do mesmo jeito também em Chernobyl. É assim que a questão nuclear vai ser tratada nos países quando 'o bicho pegar'?
Ficamos então com dois enormes problemas para aceitar o uso da energia nuclear: o grande estrago que eventos de baixíssima probabilidade podem trazer, quando eles finalmente acontecerem (e no longo prazo eles sempre acontecem), e o grande estrago sobreposto ao acidente por si mesmo, pelo manejo irresponsável dos que deveriam saber lidar com a catástrofe, o que acrescenta mais calamidade à uma situação já aterrorizante.
Não tenho resposta para o enigma da necessidade energética contraposto ao perigo de certas fontes de energia, mas acredito que soluções vão acontecer, de uma maneira ou de outra. Só espero que a 'solução' do nosso tempo não seja como a da civilização maia, com suas cidades abandonadas no meio da selva na época em que os espanhóis chegaram, onde construções vazias testemunhavam que existira vida, conhecimento e desenvolvimento, mas que tudo se perdera. E não acho que nossas cidades poderão ficar vazias por que alegremente e ecologicamente reverteremos à natureza (seja lá o que isso for). Mas por que elas, as cidades, poderão ficar inabitáveis.