Por que o Pig não publica todos os áudios do escândalo Cachoeira/Veja?

por Zé Dirceu


Em seu comentário domingueiro sobre a própria Folha de S. Paulo e a mídia em geral, sob o titulo “Tema Proibido”, a Ombudsman do jornal, Suzana Singer, levanta corretamente algumas questões e coloca o dedo na ferida que continua sangrando enquanto a mídia não divulgar todos os áudios sobre as relações de Veja com Carlos Cachoeira-Demóstenes Torres.

Por que a Folha e outros veículos não publicam, então, os áudios envolvendo a revista, como já o fizeram com os diálogos que dizem respeito à Delta e a outros envolvidos no escândalo Cachoeira? Por que não cumprem plenamente sua missão jornalística, deixando o leitor formar sua própria opinião?

Há outras perguntas, formuladas pela ombudsman: Foram oferecidas vantagens à fonte? O jornalista sabia como as informações eram obtidas? Tinha conhecimento da relação próxima de Cachoeira com o senador Demóstenes? 

Como chefe da sucursal da Veja em Brasília, certamente o jornalista Policarpo Jr., de Veja, tinha conhecimento que seu subordinado tentou invadir meu apartamento no Hotel Naoum e que as imagens foram obtidas de forma ilegal. É publico e notório também que o jornalista sabia que o senador do DEM – ícone da luta contra a corrupção da própria revista e da maioria da mídia – tinha relações não políticas e ilegais com Carlos Cachoeira. 

Mais grave, ainda: o inquérito da Polícia Federal deixa claro o relacionamento de Cachoeira com Policarpo Jr. para troca de informações e interesses posteriormente estampados nas reportagens da revista, como por exemplo nas matérias do DNIT e do Ministério dos Transportes.  

Imagens em troca de reportagens

O próprio delegado responsável pelo inquérito da operação Monte Carlo afirma que Cachoeira obteve e liberou imagens ligadas à tentativa de invasão do meu apartamento no hotel em troca de reportagens favoráveis aos seus negócios ilícitos. Para favorecê-lo – a ele, Cachoeira, e a seu grupo –, e para a revista produzir capas com denúncias com objetivos políticos, não importando os métodos ilegais como foi o caso das matérias sobre o Hotel Naoum.

Nesse episódio, o jornalista pego em flagrante é réu confesso. Só não foi condenado porque o Juiz e o Ministério Público entenderam – acreditem se quiserem! – que não houve crime, mas apenas uma tentativa, já que a camareira impediu que o réu confesso invadisse meu apartamento. Imaginem se fosse o contrário!

Fica evidente o conluio entre Carlos Cachoeira-Demóstenes Torres e a citada revista para produzir matérias com o objetivo de desestabilizar o governo em troca de reportagens/notas favoráveis aos interesses da dupla agora acusada de vários crimes.

De qualquer forma concordamos com a ombudsman: cabe ao leitor e cidadão decidir. Que publiquem então todos os áudios e não apenas aqueles que resultem, de novo, da manipulação a serviço de interesses políticos, quando não criminosos, convenientes apenas aos que travam disputa sobre os rumos da CPI. Com todas as cartas na mesa os próprios leitores poderão chegar às suas próprias conclusões. Afinal, é este o papel da imprensa. Ou não é?

O judiciário a serviço do mais forte

CNJ - Conselho Nacional de Justiça - cria um Fórum Nacional do Poder Judiciário e Liberdade de Imprensa. A proposta apresentada pelo presidente Ayres Brito foi aprovada por unanimidade pelos integrantes do Conselho.

Tudo muito bom, tudo muito bem mas, que tal estes defensores da coitadinha da imprensa criarem também um Fórum Nacional do Poder Judiciário e Direito dos Imprensados? Du-vi-d-o-do que o sr. Ayres Brito e demais integrantes do CNJ aprovem por unanimidade esta proposta - duvido que sequer apresentem uma proposta deste tipo -, e sabem por que eles não fariam isto?

Porque o mais corrupto dos poderes - o Judiciário - como sempre, desde que foi criado está a serviço dos que mais podem. E neste caso em questão, entre a Imprensa e o Imprensado o mais forte é a dita cuja. O Imprensado é o mais fraco.

Corja!





Esquema Cachoeira, Demóstenes, Veja e Delta funcionava assim


Pelas primeiras avaliações dos parlamentares que compõem a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) funcionava assim a associação criminosa entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e a construtora Delta.
1. A Delta se habilitava a uma licitação na qual houvesse garantia de aditamento do contrato (isto é, de reajuste posterior do contrato).
2. Tendo essa garantia, apresentava um preço imbatível, muitas vezes inexequível. No caso do aeroporto de São Paulo, por exemplo, o maior lance foi de R$ 280 milhões. A Delta apresentou uma proposta de apenas R$ 80 milhões.
3. Ganhava a licitação e depois aguardava o aditivo. Enquanto isto, a empresa ficava sem caixa para bancar seus fornecedores - de peões de obra a vendedores de refeições e cimentos. Aí entrava Cachoeira garantindo o capital de giro da empresa com dinheiro clandestino, do jogo. Ou com o fornecimento de insumos, através de empresas laranjas. Estima-se que o desembolso diário do bicheiro fosse de R$ 7 milhões, mais de R$ 240 milhões por mês.
4. Quando vinha o aditivo, a Delta utilizava o recurso - legal - para quitar as dívidas com Cachoeira, através das empresas laranja. Era dessa maneira que Cachoeira conseguia legalizar o dinheiro do jogo.
Quando algum setor relutava em fazer o aditivo, Cachoeira recorria ao seu arsenal de escândalos e chantagens, valendo-se da revista Veja.
Foi assim no episódio do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte). Aparentemente houve um conflito entre Cachoeira e o diretor Luiz Antonio Pagot. Providenciou-se a denúncia, destinada apenas a derrubar as resistências de Pagot. Como dizia um bom observador das cenas brasilienses, Cachoeira pretendeu assar o porquinho e acabou colocando fogo na choupana.
O que era para ser um alerta para Pagot coincidiu com a ação do governo de demitir a diretoria do DNIT.
O rastreamento das ações de Cachoeira pela CPMI se concentrará nos aditivos contratuais. E também nos pagamentos efetuados pela Delta a fornecedores. A partir daí será possível identificar o enorme laranjal que constituía o esquema Cachoeira, assim como os esquemas de corrupção nos órgãos contratantes.
Outro trabalho será identificar as reportagens da revista que serviram aos propósitos de Cachoeira. No caso da propina dos Correios, por exemplo, sabe-se que o grampo foi armado entre Cachoeira e o diretor da revista, com vistas a expulsar um esquema rival dos Correios. Detonado o esquema, o próprio Cachoeira assumiu o novo esquema, até ser desmantelado pela Polícia Federal.
Em todo esse processo, foi crucial a ligação do bicheiro com a revista. Foi graças a ela que Cachoeira conseguiu transformar seu principal operador político - senador Demóstenes Torres - em figura influente, capaz de pressionar a máquina pública em favor do bicheiro. E foi graças a ela que intimidava recalcitrantes na máquina pública.
Ontem O Globo saiu em defesa da Veja, com um editorial em que afirma que "Civita não é Murdoch". Referia-se ao magnata australiano Rupert Murdoch, cujo principal jornal, na Inglaterra, foi flagrado cometendo escutas ilegais para gerar reportagens sensacionalistas.
Em uma coisa O Globo está certo: Murdoch negociava os grampos com setores da polícia; já Roberto Civita negociou com o crime organizado.

Coragem: a marca do governo Dilma


Os bancos já estão chiando contra a cruzada da presidente Dilma Rousseff para baixar os juros e aumentar o crédito. É normal, é um bom sinal. O sistema financeiro estava habituado há tanto tempo a nadar de braçada e impor ao país a sua própria "política econômica", que não se poderia esperar outra coisa.
A melhor prova de que a presidente mexeu numa ferida, e está certa na sua decisão, é que os bancos já convocaram seus "consultores" e "especialistas", todos muito bem remunerados, para criticar as medidas do governo em jornais, revistas e emissoras.
Para não dar muito na vista, eles qualificam as medidas como "populistas", de um lado; de outro, imaginem, eles se mostram preocupados com os pequenos poupadores após as mudanças introduzidas semana passada no rendimento das cadernetas de poupança.
Com Dilma não tem tema tabu nem áreas em que é melhor não mexer só porque, afinal, "foi sempre assim". No encontro que teve na semana passada com empresários para explicar as novas regras da poupança, ela cortou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que queria fazer média ao apoiar as medidas tomadas aproveitando um momento de alta popularidade da presidente.
"Eu tenho que fazer as coisas que entendo que deva fazer, independentemente dos índices de popularidade".
Tem sido assim desde a sua posse. Antes de completar um ano e meio no gabinete presidencial do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff já está deixando a sua marca.
Se o governo Fernando Henrique Cardoso foi marcado pela estabilização econômica e o do presidente Lula pela inclusão social de mais de 30 milhões de brasileiros, o de Dilma vem sendo caracterizado pela coragem ao enfrentar obstáculos dentro e fora do governo para o desenvolvimento do país, que não são poucos. "A vida quer é coragem" _ não por acaso, este é o título do ótimo livro de Ricardo Amaral sobre a trajetória política e pessoal da presidente Dilma Rousseff.
Foi assim na chamada "faxina ética", que marcou seu primeiro ano de governo, sem medo de enfrentar o descontentamento de líderes dos partidos da sua base aliada. E será assim de novo, quando vetar pontos do novo Código Florestal aprovado por ampla maioria na Câmara.
"Fazer o que tem que ser feito" parece ser o seu lema, até com assuntos delicados como o da Comissão da Verdade, que deverá ser instalada ainda este mês. Os nomes já estão sendo definidos. O fato é que a mulher presidente vem fazendo coisas que seus antecessores homens não tiveram coragem de fazer.
Quem a conhece sabe que Dilma não tem medo de cara feia. Ainda na semana passada, quando recebeu um aviso dos barões da mídia, repassado pelo vice presidente  Michel Temer, de que eles aceitariam a convocação de jornalistas da "Veja" na CPI, mas não a do dono da Editora Abril, Roberto Civita, respondeu com apenas duas palavras: "Problema deles".
Afinal, não é a presidente da República quem convoca ou deixa de convocar alguém para depor na CPI e, além do mais, ela vem mantendo uma saudável distância dos trabalhos da comissão.
Em pleno funcionamento de uma CPI, cuja instalação foi apoiada pela base do governo, o que não é muito normal, Dilma continua tocando a sua agenda sem dar muita bola para os embates no Congresso Nacional. "O governo tem que governar. Cepeizar é com o Congresso", ouvi de um importante interlocutor da presidente na minha passagem pelo Palácio do Planalto na semana retrasada.
Na outra ponta, em que a oposição perdeu completamente o discurso da moralidade, depois da descoberta da parceria Demóstenes-Cachoeira, o eterno presidente do PPS, Roberto Freire, usou o twitter para atacar o governo e cair no ridículo.
"Isso é uma ignomínia! Dilma pede e B.C. (Banco Central) coloca em circulação notas com a frase "Lula seja louvado"", repicando piada do site de humor G17, sem se dar conta de que a "notícia" era uma brincadeira.
Seria bom também alguém avisar Roberto Freire que é falso o o Facebook criado com o nome da presidente Dilma, citado hoje na coluna de José Simão, na "Folha". É uma brincadeira a frase que ele reproduziu, mas não deixa de expressar um sentimento verdadeiro para quem convive com Dilma no Palácio do Planalto.
"Se fosse para ser simpática, seria guia da Disney, e não presidenta".
Por mais que às vezes seja difícil, só não podemos perder o bom humor.

Corrupção e hipocrisia

Título original: Corrupção e Estado
Autoria: Simone Del Rio


A tradição udenista volta a prestar serviços à nação. A cada eleição são divulgadas acusações sobre a corrupção de políticos no país. Desde Vagas até hoje, políticos e a mídia  manipulam o eleitorado, ora com promessas de por fim à corrupção, prometendo caçar os infratores, ora com acusações aos adversários políticos da hora para que a punição seja feito pelo voto.
As formas de corrupção variam, desde a formação de quadrilhas nacionais, com ou sem ramificações no exterior, para "comprar votos no Congresso, ganhos com privatização de empresas, com a administração de obras em que qualquer instância do Estado, subornando agentes públicos de todas as esferas do poder. 
No Rio Janeiro a intimidade com a ilegalidade fez tradição, em escala menor mas perene, como na  grana extra para obter habilitação no DETRAN, nos pontos de táxis dos aeroportos e rodoviária, a extorsão aos turistas, a dos guardas de trânsito corruptos, policiais e os ex-policiais no combate ao tráfico e simultaneamente fornecedores de armas e ainda componentes de milícias. Sem esquecer do famoso jogo do bicho e dos bingos e das caixas de jogos eletrônicos. Qualquer carioca conhece as jogadas e os truques para escapar ou colaborar com a bandidagem.
Faça um passeio pela zona oeste e visitem os pés sujos ( na zona sul, procurem os bingos clandestinos). Os donos usam um camiseta suja, o "bar" oferece apenas bebidas e um ovo cozido colorido, às vezes há uma sinuquinha para distrair a galera. Outros botecos são mais jeitosos, com música e aperitivos para acompanhar a cervejinha, televisão para o futebol.  Os donos são mais arrumadinhos.
Mas no andar de cima ou na casa ao lado, há um movimento estranho, intenso. Homens  com o uniforme da PM, nunca se sabe, aparecem às vezes, levam  máquinas eletrônicas, sai no jornal, não prendem ninguém. Se há também droga na jogada, também não se sabe, se alguém fosse preso por quanto tempo ficararia à disposição da justiça?  Há juízes na jogada?  Nesses períodos curtos de entressafra, pés sujos e  botecos  ficam  meio desanimados, e logo o movimento reaparece.
 Pode parecer pouca titica, mas não é. Os donos de camiseta suja, os donos e de alguns empregados dos botecos mais bacaninhas, os PM da banda podre ficaram ricos? Muito ricos? Como? Fazem parte do esquema milionário dos jogos eletrônicos ilegais? Os fiscais fiscalizam ou têm medo dos poderosos chefões por trás do mega negócio?
É bandidagem, não é? Caso de polícia?
Entretanto, ela floresce nas campanhas eleitorais. Candidatos de "ganho" (dinheiro, votos, cargos, empregos, prestígio social ?), especialmente dos pequenos partidos coligados aparecem do nada. Sabem que receberão uns 100 votos. Por que se empenham em distribuir tickets refeição, transporte,  peixes na semana santa, mimos de ocasião, mesmo antes da campanha oficial?  Quem distribui cargos e funções sem concurso nas agências administrativas municipais e estaduais na zona oeste? Quem inventou a terceirização? 
E quem perde as eleições, com ou sem ficha limpa? Não tem problema, nossa democracia tornou-se monárquica. Os políticos agora têm linhagem. Filhos, irmãos, mulheres herdam os cargos, financiados pelos parentes e amigos dos amigos.   
É caso de polícia apenas? Parece o retrato do caos, do terror, mas não é.
Leiam o artigo do IPEA, assinado por Clarisse Furtado, leiam, por favor:
"Subornos, desvios de verbas e fraudes provocam perdas econômicas mundiais de 1 trilhão de dólares por ano. Organizações internacionais procuram meios de detectar, controlar e punir os responsáveis pelo rombo. Aqui e em todo o planeta."
Examinem especialmente as soluções quanto ao inquérito policial ter a iniciativa do MP e não pelas delegacias de polícia. A redução do número de cargos do governo e o controle do financiamento das eleições são apontadas com soluções para controlar esse vínculo que desmoraliza a democracia.
Repito, leiam o artigo do IPEA: