- Domínio da farsa
- O réu não provou sua inocência
- Não tenho prova cabal, mas a literatura me permite condenar
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O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) atendeu a uma representação do desembargador Marcelo Malucelli e afastou o juiz Eduardo Appio, novo juiz da Lava Jato, da 13ª Vara de Curitiba. A decisão determina “a devolução e acautelamento do desktop, notebook e celular funcionais utilizados pelo referido Juiz Federal”.
Malucelli é da 8ª Turma e, segundo Luis Nassif, do GGN, o desembargador é “pai de um sócio do escritório do ex-juiz Sérgio Moro”. Recentemente, Malucelli tentou impedir o depoimento do advogado Rodrigo Tacla Duran à 13ª Vara Federal e que tentou retomar a ordem de prisão contra o advogado, que acusa Moro e Dallagnol de integrarem um esquema de extorsão de investigados da Lava Jato.
“Depois de reveladas as ligações familiares, ele se afastou das decisões envolvendo a Lava Jato. Mas continuou atuando em defesa da operação”, disse Nassif. “A alegação é bisonha. O motivo alegado é que Appio teria ligado para o filho de Malucelli, fora do horário de expediente — meio-dia — para saber se era mesmo filho do desembargador”.
Nas redes sociais, o ex-procurador da Lava Jato e deputado federal cassado Deltan Dallagnol (Podemos) comemorou a decisão. “URGENTE: TRF4 acaba de afastar o juiz militante “LUL22” da Lava Jato. O Tribunal descobriu que a ligação com ameaças feita ao filho do desembargador Marcelo Malucelli foi feita por Appio – conduta absolutamente inacreditável por parte de um juiz federal, capaz de gerar demissão”, publicou.
O julgamento ainda não havia sido retomado após o horário de almoço, mas os advogados que estavam na sala virtual continuaram ouvindo os debates e conversas “em off” entre os desembargadores da Câmara. Vilas Boas estava inscrito para sustentar em favor de um homem preso preventivamente pelo crime de roubo.
Antes da sustentação, ele gravou o momento em que a relatora, desembargadora Ely Amioka, e o segundo juiz, desembargador Maurício Valala, conversavam sobre o acusado. “Encontrei um vídeo desse réu dando um monte de soco em um professor de matemática. O professor até largou a profissão por causa desse caboclo aí. Ele também foi internado na Febem [hoje Fundação Casa] por roubo à residência, mesma coisa do nosso caso aqui, quer dizer, um santo”, afirmou a desembargadora.
“Um santo mesmo. Tem que ser beatificado e canonizado”, completou Valala. A conversa seguiu outros rumos e, 20 minutos depois, o advogado Vilas Boas pediu a palavra e informou que deixaria a sessão alegando que os magistrados fizeram um “pré-juízo de valor” a respeito do paciente. O presidente da Câmara, desembargador Sérgio Antonio Ribas, destacou que a conversa foi “extra-autos”.
Vilas Boas contou aos desembargadores que havia gravado a conversa, enquanto a relatora Ely Amioka disse que nada do que foi falado constava em seu voto (o pedido de HC foi negado e o acórdão ainda não foi publicado). “Eu tenho direito de pesquisar sobre o réu. Mas nada disso foi apreciado no voto, porque não integra o caso”, disse Amioka. Foi aí que o bate-boca ficou mais acalorado.
“O senhor fez uma coisa muito errada que é escutar a conversa dos outros. Ninguém lhe chamou para a conversa”, disse Sérgio Antonio Ribas. “A conversa estava disponível para todos,” respondeu o advogado, que pediu para consignar em ata a sua saída da sessão. O presidente não aceitou, alegando que o episódio ocorreu extra-autos, e disse que comunicaria a OAB-SP sobre a conduta de Vilas Boas.
Ele também repreendeu o advogado por se dirigir aos magistrados por “vocês” e não “vossas excelências”. “Vossas excelências simplesmente deixaram os microfones ligados. Não vou mais discutir com vossa excelência. Depois do que ouvi, estou saindo da sessão”, respondeu Vilas Boas. O presidente da Câmara rebateu e disse que o advogado foi “indelicado” e “faltou com respeito”.
E o Lula ein?... Rep e esculhambação no "supremo com tudo"
Dizem que a elite quando não suja na entrada, suja durante e na saída. O juiz Marco Aurélio reafirmou esse ditado, e, querendo ou não, deu a senha para aumentar a histeria. No passado, já tinha dito que que “se o texto da lei é claro, ler de outro jeito é reescrever a Constituição”. Assim, fez leitura ao pé da letra e perdeu o “brilho”.
Festejado pouco antes, nas despedidas pela aposentadoria, teve minutos de glória na TV Globo. Depois virou demônio, ao soltar André do Rap que se escafedeu. Tinha tudo pronto, pois dava como certa a decisão de Marco Aurélio. Aos colegas de cela dizia que “não passaria o Natal aqui dentro” (na cadeia).
Policiais Civis revelaram à Folha de S. Paulo que em conversas monitoradas pelos serviços de inteligência, já se cogitava em agilizar o pedido de soltura, pois o ministro iria se aposentar em meados de 2021. Não citavam o nome de Marco Aurélio, mas os advogados de André certamente conheciam o perfil garantista.
O ministro Aurélio era um garantista, ou seja, ao contrário do ex-juiz Moro ou do juiz Bretas, decidia de acordo com a lei, sem inventar nada, sem fazer contorcionismos jurídicos. Coerente com o preto no branco, até “ajudou” a tirar Lula da prisão arbitrária e sem provas, pois votou contra a prisão em segunda instância.
O garantismo é imprescindível sempre. Na turbulência democrática, mais ainda, caso do Brasil que viveu um golpe em 2016, com supremo e tudo. Eis que o garantismo então decadente, parece renascendo, desta feita para garantir as falcatruas do próprio golpe. Bozo mente quando diz que a corrupção acabou.
Fux, em quem a Farsa Jato “trust” (confia), mais realista que o rei (seus pares), revogou a decisão de Marco Aurélio e mandou prender André Rap, que fugiu. Os ministros bateram boca, o STF disse que Fux não tem poderes para revogar ato dos pares, mas reafirmou ordem de prisão contra Rap.
Não se sabe o pito que decano toca na banda do golpe. O que se sabe é que num Supremo Tribunal de aparências, alguns ministros cumprem funções específicas. Como toda unanimidade é burra, um tribunal com “pluralidade de pensamentos, divergências doutrinárias” fica melhor na fita. Sob chantagem, então, nem se fala!
Marco Aurélio sabia e sabe que se quisesse poderia, dentro da lei, não ter liberado o traficante André do Rap. Ele disse que “processo não tenha capa”, mas o se o “bão e velho Aurélio” tivesse lido os autos, veria tratar-se de perigoso meliante. No mínimo pediria informações ao juiz da causa e ou ao omisso Ministério Público.
André do Rap tinha direito líquido e certo, mas as circunstâncias tornariam esse direito pastoso e incerto, seja pela gravidade de seus crimes, seja pelo risco de fuga. Desse modo, o ministro querendo ou não acabou reabrindo o debate sobre prisão em segunda instância, vedada por cláusula pétrea constitucional. Aguardem!
O caso reflete esquizofrenia no mundo jurídico. Nesse espaço foram apontadas inúmeras contradições do STF, tipo voto assim agora e mais tarde votarei de outro jeito. Sou contra, mas vou seguir o colegiado; não tem provas, mas a literatura permite; desenhando costuras e gambiarras jurídicas para a plateia.
É tanta esquizofrenia justiceira, que Deltan Dalagnol tentou emplacar um juiz de aluguel na Farsa Jato. Gravações divulgadas pelo “The Intercept” mostram DD na ativa. Não se sabe se irá chamar o perito Molina para dizer que a voz não é dele. Pior, a Associação dos Juízes Federais não achou nada demais. Dá para crer?
De todo modo, a Cruzada Moralista está em crise. Moralismo, punitivismo e garantismo estão em conflito. Todas as facções respingam no ex-presidente Lula, que é a mosca na sopa do entreguismo sabujo, da hipocrisia do mercado, e salvo exceções, dos militares traidores da Pátria – capitães do mato das elites corruptas.
O problema é que para o golpe, é preciso garantismo. Como diz um amigo, não o “garantismo científico” (de Afrânio Jardim ou Ferrajolli, por exemplo), mas sim o de ocasião. Afinal de contas, o Centrão está comprado, o dinheiro está aparecendo até dentro de cuecas. A autoria, literalmente, se prova até com exame de fezes.
Diante do conflito garantismo, moralismo, punitivismo e oportunismo, não dá pra saber se vão desenterrar a Teoria do Domínio do Fato. É possível que nessa crise esquizofrênica o moralismo perca espaço, porque para as elites e as Forças Armadas, “o mais importante é que nossa bandeira jamais será vermelha”.
A “Cruzada Moralista” colou, sem nunca contemplar o STF, mesmo que nos bastidores fosse chamado de grande balcão de negócios. Nem com Fux sentado na liminar que garantia auxílio moradia para todos os juízes, num país onde movimentos de luta por moradia são criminalizados. Boulos e Carmem Silva que o digam!
Em meio a esquizofrenia justiceira, surge o Caso da Cueca. O juiz Luís Roberto Barroso (TSE) cassou o voto popular e afastou o senador Chico Cueca (amigo do Presidente) sem ouvir o Senado.
Só para lembrar, Delcídio Amaral (PT) foi preso e depois inocentado. A Justiça já tentou afastar Renan Calheiros, que se recusou a receber a intimação e se manteve no cargo. Aécio Neves foi afastado e voltou, depois que o Senado derrubou a decisão do STF. Isso tem a ver com a separação dos poderes.
Os Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), são independentes e harmônicos, para que um não se sobreponha aos outros. Juiz algum pode transformar sua própria vontade em lei. Assim, uma lei aprovada pelo Congresso só vale se for de acordo com a Constituição. Do contrário, o STF pode anular.
O STF e Congresso patinam entre o garantismo e a tirania. Mas é preciso garantismo para garantir fidelidade do Centrão. Há quem pense que, no pré-golpe 2016, só a Presidenta Dilma foi bisbilhotada pela CIA, que as coniventes FFAA (exceções silentes) só tenham monitorado o MST.
Só mesmo uma Corte de Justiça sob chantagem rasgaria tantas biografias. O silêncio sobre a parcialidade de Moro é sintomático. Weintraub, hoje homiziado nos Estados Unidos, disse que se dependesse dele, “botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”. A gente volta à esquizofrenia semana que vem.
O autor do artigo é o jornalista e delegado da Polícia Federal Armando Rodrigues Coelho Neto, que também foi membro da Interpol.
Moro, Deltan e um general* moribundo personagem de histórias em quadrinhos são três corruptos. Aliás, devo também ser corrupto. Quase nenhum de nós sobreviveria a uma sindicância mal feita. Pisamos na grama, furamos fila – um amigo “bondozo” ajudou. Deixamos de pedir nota fiscal, nos distraímos quanto ao troco errado… Infestados de pecadilhos, na escola fingimos não ver que alguém assinou a lista de frequência no lugar do colega. Aliás, vi um ministro do STF assinando no lugar de outro, durante uma banca de conclusão de curso. Ultrapassamos o sinal. Sob olhares de soslaio, de esguelha, fomos cúmplices omissos de violações éticas… E o mais grave: quando crianças, com a boca salivando, fomos omissos frente ao amiguinho dando lambidinha no bolo de aniversário…
A cada dia que passa, exposta à luz do sol [Vaza Jato], a Lava Jato vai se desmanchando.
As novas revelações da Vaza Jato que vieram a público nesta sexta-feira, 18 de outubro, por intermédio do El País Brasil, em parceria com The Intercept Brasil, confirmam o caráter político e persecutório dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato no suposto combate à corrupção.
Augusto Aras, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a Procuradoria Geral da República, manifestou a intenção de nomear a procuradora Thaméa Danelon, do MPF em São Paulo, para chefiar o grupo da força-tarefa que atua na Procuradoria Geral da República. Mais do que uma aliada de Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, ela é uma espécie de sua serviçal. Pior: quando atua por conta própria, dispõe-se a praticar irregularidades com o desassombro do seu amigo mais famoso. Se Aras escolher Thaméa, estará indicado uma candidata certa a ter seus atos censurados pelo Conselho Nacional do Ministério Público se um pingo de vergonha na cara restar à maioria de seus 14 membros.