Num mundo menos imperfeito, a resposta seria: os atributos clássicos, mais familiaridade com o meio digital.
Isso significa sobretudo gosto pela leitura, capacidade de se expressar num português elegante, discernimento para distinguir a manchete da nota de pé de página e curiosidade intelectual.
Mas o mundo em que vivemos é demasiadamente imperfeito.
As qualidades clássicas não são hoje requisito para nada.
Para conquistar um lugar numa redação e, nela ascender, o jornalista tem que estar disposto a matar Lula.
Em sua conta no Twitter, Xico Sá falou exatamente isso estes dias, com enorme repercussão.
Como eu, Xico Sá não pode ser desqualificado como petista, petralha ou o que for. É, como eu, um jornalista independente. Mas não cego. Na campanha presidencial, ele bateu em retirada da Folha, depois de chegar a seu limite de tolerância diante de uma cobertura francamente enviesada.
O talento importa muito menos, nestes dias, do que a disposição de caçar Lula por que meios for, incluídas aí a calúnia e a mentira.
É um movimento que se iniciou, como era de esperar, na Veja no primeiro mandato de Lula. O que era uma chuva localizada se transformaria, com o passar dos tempos, numa tempestade generalizada.
Os primeiros símbolos dos novos tempos foram Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo. Inexpressivos em tempos normais, se tornaram pistoleiros conhecidos quando a Veja inaugurou a perseguição a Lula.
Lula fez os dois. Sem Lula os dois seriam o que sempre foram, jornalistas do segundo escalão.