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Panelada goumert


Ingredientes
  • 1/2 kg de bucho de boi
  • 200 g de linguiça calabresa em rodelas
  • 1 pata de boi em pedaços
  • 1/2 kg de tripa de boi
  • Sal, pimenta-do-reino, alho, cebola, tomate e cheiro-verde a gosto
Como fazer
Corte o bucho em pedaços, fatie a pata e as tripas em anéis com dois dedos de espessura e tempere tudo com sal. Cozinhe em uma panela com água e folhas de louro por cerca de 2 horas, até ficar tudo macio. Retire a panela do fogo, e, quando esfriar, retire a gordura que fica no caldo, desprezando todo o caldo formado. Tempere tudo com o sal, o colorau, a metade do alho, o sal e a pimenta-do-reino. Em uma panela, doure as cebolas no óleo. Acrescente a outra metade do alho, o pimentão, e em seguida os tomates. Junte a linguiça calabresa e o bastante de água para cozinhar. Acrescente o cheiro-verde. Coloque azeitonas e sirva.
Um amigo cearense me perguntou: 

- E o que tem de diferente nessa panelada?
- Para ficar goumert, tem de colocar azeitona depois dela pronta. 
É a molecagem cearense
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A onda gourmet

O salgadinho ganhou aparência esnobe, assim como docinhos e sanduíches. Mas, essa afetação toda melhorou o sabor?.

Criaram novos pratos?
Criaram novas receitas?
Inventaram tempero melhor que a fome?

Eu trabalho, pago meus impostos, tenho direito a uma varanda com vista e espaço gourmet

por Antonio Prata

Quem te escreve aqui é Espírito Paulistano. O senhor não me conhece, como deixa claro a sua rejeição por 47% dos motoristas, quero dizer, dos cidadãos de nossa pujante metrópole. Não votei no senhor, mas tampouco me apavorei com a sua vitória. Apesar de vir do PT, o senhor aparenta ser de boa família, tem essa pinta de pai em propaganda do Itaú Personnalité, chama-se Fernando e traz o sobrenome Haddad, que me remete ao Maluf, ao Kassab, ao Habib's: três marcas das quais São Paulo pode se orgulhar. Desde que assumiu a prefeitura e começou com as faixas de ônibus, contudo, percebi que por trás da pinta Personnalité se escondia um administrador démodé.




"Non ducor duco" ("Não sou conduzido, conduzo") é o lema da nossa cidade, mas, em vez de valorizar a livre iniciativa dos bandeirantes, que se perpetua no direito inalienável ao transporte individual, a ultrapassar pela direita, a trafegar pelo acostamento, o senhor quer nos botar em fila dentro de coletivos, como índios cativos. São Paulo é uma cidade de vencedores, prefeito. Se o cidadão não conseguiu sequer comprar um carro, não deveria ser ajudado, deveria ser expulso. Isso, sim, melhoraria o trânsito.

Depois das faixas, o senhor me vem com este Plano Diretor. Proíbe, entre outras coisas, prédios altos no miolo dos bairros. Ora, eu trabalho, pago meus impostos, tenho direito a uma varanda com espaço gourmet e vista para as casinhas geminadas, lá embaixo, não? O senhor afirma que, se todas as casinhas derem lugar a prédios altos, o trânsito vai piorar. OK. Eu me mudo pra outro prédio, no miolo de outro bairro: é assim que a nossa cidade funciona, estimulando a construção civil, gerando empregos, intensificando o aquecimento global, quero dizer, da economia.

Que saudades do doutor Paulo, quando os tapumes de obras viárias estampavam o slogan "São Paulo crescendo, São Paulo não pode parar". Saudades da época em que a rua era da Rota, não de japoneses "black blocs" com bombas incendiárias não inflamáveis.

O senhor me acha reacionário. Diz que São Paulo quer uma revolução "desde que não se mexa em nada". Mentira! Quero uma revolução mexendo no cerne dos nossos problemas, como fez o Kassab ao criar cupons padronizados para todos os valets da cidade. Há questão mais séria, numa metrópole, do que os valets?Senhor prefeito, caso haja algo de Personnalité por trás de todo esse ranço da FFLCH, escute-me: se vossa excelência continuar a priorizar o transporte público em vez do individual, se continuar a negociar com movimentos populares e a limitar a atuação das construtoras, se seguir criando espaço para as bicicletas e empregos para craqueiros, corremos o sério risco de ver, em alguns anos, uma pequena diminuição na distância entre ricos e pobres nesta cidade --e tudo o que eu, Espírito Paulistano, menos quero, é pobre perto de mim.

Sem mais, subscrevo-me,

E.P.




Obs.: Este é um texto de ficção. As ideias do E.P. não representam as crenças do autor, e qualquer semelhança entre as mesmas e opiniões de pessoas vivas ou mortas é apenas uma boa razão para eu me mudar pra Reykjavik

Culinária na tv, uma bela falácia

Tenho um amigo que é bom para sugerir pautas. Ele prefere não ser identificado. Sua última sugestão, na verdade, daria um bom quadro de humor. Perguntou para mim se eu costumava assistir aos programas de culinária. Vejo alguns. Ver todos é tarefa impossível. Daí começou a conversa que ajusto no tempo verbal para os leitores.
Em algum programa vocês chegaram a ver o apresentador ou o convidado provar o que foi feito e dizer: “Uau! Isso ficou horrível!”? Nunca aconteceu. Mas, fora das câmeras, posso apostar que já aconteceu e deve acontecer direto.
Semana passada, falei do inglês cabotino que decidiu ensinar ao mundo como se cozinha e come. Por que seus restaurantes são um fracasso de público e crítica? Porque as câmeras não estão ligadas. Porque seus amigos não estão lá para dizer: “Nossa! Como isso está maravilhoso!”
Emeril Green é o programa do chef Emeril Lagasse. Um chefconhecido nos Estados Unidos, que fez um acordo com o Whole Foods Market e faz o programa acontecer nas instalações do supermercado. O programa é charme zero, mas vale notar a quantidade de pimenta-do-reino moída que o chefcoloca em tudo. É assustador. Nada além do gosto de pimenta deve sobreviver. Mas, até hoje, nenhum convidado reclamou.
E que tal aquele programa do chef Curtis Stone, que tem o carisma de uma barbatana de colarinho? O sujeito aborda uma moça no supermercado e promete fazer um jantar encantador para ela e o marido. A pior parte: ela aceita.Em um filme, na sequência, veríamos o pessoal do CSI entrando na casa da mulher e vendo suas partes assadas, cozidas, marinadas. E alguém diria: “É ele. O serial killer gourmet”.
Outro ponto interessante da conversa: o vocabulário do especialista, do gourmet, já está na boca de qualquer apresentador em qualquer situação. O sujeito dá uma bocada em um sanduba que leva 500 gramas de bacon frito.
Frito em fritadeira. Uma folha de alface, duas rodelas de tomate e 500 gramas de bacon. Outra fatia sobre tudo, claro. Ele morde, revira os olhos, solta exclamações e diz: “Isso tem textura, tem a crocância do bacon com a suavidade do pão. Os açúcares do bacon com a acidez do tomate... hummm! Você sente a suculência, a força com delicadeza...”
Chega, né? Com meio quilo de bacon na boca você fica sem sentir gosto de outra coisa que não seja bacon durante 12 anos. Vai contaminar sua boca e seus sentidos. Não estranharia se você ficasse surdo.
Mas tudo faz parte do show. Quem sabe um programa de humor gourmet esteja tomando forma.
por Márcio Alemão na Carta Capital