Uma das principais características do homem contemporâneo é que ele se sente extremamente desconfortável diante do corpo do homem contemporâneo.
Não, não como as mulheres que, expostas a séculos de padrões de beleza irreais e uma sociedade que cobra padrões estéticos um tanto quanto opressivos, acabam questionando a própria beleza e se cobrando de maneiras absolutamente injustas. Não, o homem contemporâneo não se sente tão desconfortável diante do próprio corpo – ainda que eu, com essa barriga, provavelmente devesse me sentir.
Na verdade, o homem, quando se sente desconfortável em relação ao corpo do homem, está quase sempre desconfortável com outro homem, não com ele.
Perceba. No banheiro, temos regras implícitas para o uso do mictório – você nunca deve usar aquele ao lado de um que já esteja sendo utilizado se puder usar outro. Temos momentos de desconforto em vestiários, porque um desvio de olhar num momento inadequado – “queria só ver onde tinha deixado minhas meias” – pode gerar momentos constrangedores.
Ficamos desconfortáveis ante a visão de caras de sunga branca na praia, damos risadinhas babacas quando os caras do vôlei dão tapinhas uns nas bundas dos outros, tachamos de gay quem usa regatinha.
Isso acontece pelos mais diversos motivos, claro. Vivemos em uma cultura que, por muito tempo, viu demonstrações de afeto e de sentimentos como algo feminino. Homem não chora, homem não abraça e, se abraçar, não coloca a cabeça no ombro do amigo. Isso seria esquisito.
Claro, também vivemos numa sociedade que frequentemente ainda vê a homossexualidade como uma doença que pode ser contraída se você fizer contato visual com um pênis, ficar encarando um tórax ou assistir aquela cena de Crazy Stupid Love em que o Ryan Gosling tira a camisa, não como uma manifestação do desejo sexual do outro.