Clik no anúncio que te interessa, o resto não tem pressa...

Caiu o "Chefão"



Apesar da longa, aplaudida e consistente carreira como autor e diretor de teatro, tendo recebido todos os prêmios possíveis, no Brasil e no exterior, inclusive o "Faz Diferença", da Globo, Aderbal Freire-Filho não conseguiu escapar da sanha dos que o rotularam de "marido da Marieta Severo", de captar milhões na Lei Rouanet e de viver "de uma boquinha do PT"; "Nunca fui tão execrado publicamente", exclama; nessa entrevista ao 247, ele diz que "Cunha é um bandido. Mas os bandidos são muitos mais! Os cúmplices dele, o Temer, são bandidos"!; e que "caiu o chefe, mas o seu principal cúmplice, que faz tudo pra salvá-lo, é o presidente da República. E continua na marginalidade comprando votos para virar de interino permanente".

Estatura moral de Cunha x Dilma

Se a estatura moral de alguém pode ser medida na adversidade, é fácil identificar as diferenças entre Cunha e Dilma.

A definição clássica de Hemingway para coragem é "graça sob pressão". Dilma teve seu mandato afanado por um bandido que liderou uma gangue. Não foi vista ganindo ou dando show de autopiedade.

Esse mesmo sujeito apareceu na tarde de quinta feira, dia 7, para ler sua renúncia. Renegando tudo o que bravateou nas últimas semanas, pediu arrego.

No final de um discurso vagabundo, chorou. Não cabe dizer se foram lágrimas falsas. Cunha é um mitômano, o tipo que acredita em suas próprias mentiras — a versão degenerada do poeta de Fernando Pessoa, o fingidor que finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.

revista Piauí compilou as vezes em que o ex-presidente da Câmara mentiu no Twitter sobre se iria ou não renunciar. Ele apagou tudo.

 

Chorou, ou fingiu que o fazia, porque tem um caráter fraco, além de mau. É um desequilibrado que aparenta a frieza de um pistoleiro de aluguel ou vice versa.

As lágrimas rolaram quando falava da família. É uma tática para fazer crer que ele se importa com o destino dos seus. Ora, se fosse verdade, não as tinha envolvido em suas bandalheiras.

Essa face humana do psicopata vinha sendo cevada na imprensa nas últimas semanas. No último dia 3, seus aliados emplacaram matéria no Estadão dizendo que ele estava "abatido, desanimado, com a perspectiva de perder o mandato e acabar na cadeia".

Segue: "Numa das ocasiões, o peemedebista ficou nervoso, chegou a chorar e foi visto numa ligação telefônica pedindo para que a mulher se acalmasse."

Desde pelo menos julho do ano passado ele abriu CPIs, jurou vingança, fez o diabo. Estava acostumado a anos e anos de impunidade e enlouquece com a perspectiva de ir para a cadeia.

Dilma esteve na cadeia e foi torturada. Isso, obviamente, não explica totalmente a diferença de atitude, mas ajuda.

Se ela parecia abalada e confusa antes do impeachment, demonstrou desde então estoicismo e obstinação. Simplificando, é a tranqüilidade da honestidade contra o esperneio da canalhice.

Cunha representa a parte do Brasil que acha que os fins justificam os meios, o Brasil dos espertos. Na formulação do ignóbil Marco Feliciano, é o "malvado favorito" deles. O choro é o coroamento da fraude.

Quando Dilma afirma que é a vítima de uma farsa, ela é chancelada pelos fatos. Quando Cunha se vitimiza e se declara perseguido, causa ojeriza. Nem seus paus mandados acreditam nisso.

Ele ganhou a primeira batalha e agora enfrenta um final de carreira tragicômico. No médio prazo, sabemos quem vai para o lixo da história — sem ser chorado por ninguém.

Sobre o Autor

Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

O destino de Temer será pior que o de Cunha

democracia mais sólida e instituições mais isentas, a renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara seria recebida como a desmoralização última do processo de impeachment.

Responsável pela aceitação de uma denúncia estapafúrdia assinada por gente como Janaína Paschoal, Cunha é a tradução perfeita da ausência de moralidade e de legalidade que permeiam todo o processo que levou ao afastamento de uma presidenta legitimamente eleita.

A sua queda – ainda que com uma demora secular e sobretudo muito longe de ser a que realmente importa: a sua prisão – ratifica sobremaneira o vício e a injustiça do golpe que pretende cassar 54 milhões de votos soberanos.

O fato é que não vivemos num país justo. Aliás, quem mais deveria zelar pela justiça, o Supremo Tribunal Federal, contribuiu irreparavelmente pela desordem e pela instabilidade dos poderes.

Tivesse Eduardo Cunha sido tratado como realmente é, um criminoso internacional e sociopata perigoso, muito provavelmente não teríamos chegado a esse ponto.

A demora do STF em afastá-lo permitiu que um desequilibrado fizesse da casa mais importante da república um instrumento pessoal cuja única finalidade se resumiu a proteger e acobertar toda a sorte de crimes, chantagens e ameaças.

E ainda pior.

Permitiu, com a sua inépcia, que um traidor covarde, através da chancela de corruptos de igual estirpe, ocupasse um cargo que jamais teria pela vontade irrestrita e declarada do povo.

Definitivamente, a única coisa mais afrontosa que Eduardo Cunha na presidência da Câmara é, sem dúvidas, Michel Temer na presidência da República.

Se ainda resta a Cunha o discurso de ter chegado à presidência da Câmara pela via dos votos, nem isso Temer pode alegar. A ilegalidade de sua presidência é ainda mais aviltante e se aprofunda à medida que se aprofunda a ruína de quem deu início a tudo isso.

Humilhado, Eduardo Cunha saiu da presidência que tanto sonhou através de uma carta de renúncia ridícula que nada mais fez do que retratar toda a tragédia que foi a sua gestão.

Michel Temer terá, independente do que aconteça no Senado, um desfecho ainda pior.

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).

Sobre o Autor

Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina