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Ratos espertos

por Rogério Tuma - Carta Capital

O cérebro é formado por dois tipos de células, os neurônios que formam as redes de conexão e são tidos como responsáveis por todas as funções cerebrais, e por células da glia, que são os outros tipos de células com o papel de manter, modular e orientar a migração e o funcionamento dos neurônios. É como se os neurônios fossem as ovelhas e as células da glia os pastores, elas fornecem a carne, o leite e a lã, mas eles as cuidam e as orientam a se posicionar no cérebro e a exercer suas funções corretamente.
Em estudo publicado na revista Journal of Neurosciense de dezembro, o cientista Steve Goldman, da Universidade de Rochester (NY), e colaboradores coletaram células da glia de fetos humanos doados e as injetaram em cérebros de filhotes de ratos recém-nascidos. As células injetadas em pouco tempo amadurecem e tornam-se astrócitos, células em forma de estrela que suportam os neurônios. Um ano após o implante, as células humanas substituíram por completo as células da glia do rato e passaram a controlar todos os neurônios do cérebro murino.
Em um ano, as 300 mil células implantadas substituíram todas as células da glia naturais e se multiplicaram para chegar à cifra de 12 milhões, ocupando todos os espaços disponíveis para esse tipo de célula no cérebro do rato. Os neurônios continuaram a ser os originais, mas os astrócitos, que são as células que modulam a condução elétrica produzida por eles, e, portanto, vitais para as funções superiores como memória, cálculo e inteligência; e como os astrócitos humanos são dez vezes maiores que os do rato e possuem cem vezes mais conexões, eles funcionaram como um turbo para o cérebro do rato.
Testes de memória e de solução de labirintos foram aplicados para os ratos híbridos com cérebro meio humano e com seus pares naturais, e em todos os testes os híbridos mostraram-se muito mais espertos.
Em outro estudo os pesquisadores injetaram células imaturas da glia em cérebro de ratos que não produziam mielina suficiente. Mielina é a proteína que recobre os prolongamentos dos neurônios e acelera e aperfeiçoa a condução elétrica produzida por eles.
Nesse caso, as células imaturas de alguma maneira identificaram a deficiência de mielina e amadureceram, transformando-se em outro tipo de célula da glia, o oligodendrócito, uma célula que produz a mielina, compensando a falta da proteína.
Esses estudos são extremamente promissores, pois abrem caminho para pesquisas na área de regeneração do tecido nervoso lesado, como na doença Esclerose Múltipla, em que a mielina é destruída por células de defesa, os leucócitos, e em casos de acidente vascular cerebral e até trauma, quando há lesão dos prolongamentos dos neurônios, interrompendo a comunicação entre si, levando à disfunção cerebral e até ao coma.



A principal descoberta dos cientistas é de que não somente os neurônios são importantes para as funções cerebrais superiores, aquelas que nos tornam humanos, como memória, crítica, iniciativa e linguagem, entre muitas, as células da glia também têm fundamental papel nessas funções, e diferentemente dos implantes com neurônios como fazemos para tratar a doença de Parkinson que não são tão bem-sucedidos, pois os neurônios implantados não resistem por muito tempo, o implante dessas outras células permite até a  multiplicação delas.

Neurociência e...

[...] características de um líder
Quando pensamos nas qualidades que buscamos em líderes visionários, pensamos em inteligência, criatividade, carisma e conhecimento, mas também na busca do sucesso, o desejo de inovação e a vontade de desafiar as práticas estabelecidas. Na realidade, porém, o perfil psicológico de um líder é também o de alguém que assume riscos compulsivamente em busca da novidade. Em resumo, o que buscamos nos líderes parece ser o tipo de personalidade dos viciados. Como é possível? Em geral, acreditamos que os viciados são pessoas com pouca vontade, enquanto os empreendedores são pessoas com disciplina e força. Para entender esta aparente contradição é necessário analisar o cérebro e, sobretudo, as funções relacionadas com o prazer e a gratificação.

O prazer evoca sinais neurológicos que convergem para um pequeno grupo de áreas cerebrais interconectados conhecido como circuito cerebral do prazer, pequenos grupos de neurônios onde o neurotransmissor dopamina desempenha um papel central. Esse circuito de prazer que utiliza a dopamina também pode ser ativado por algumas - não todas - substâncias psicoativas que implicam um risco de vício, assim como as drogas. Os circuitos de prazer do cérebro também são ativados por meio de recompensas imprevisíveis. Enquanto a roleta gira ou os cavalos correm na pista, temos uma sensação de prazer, ainda que ao final não ganhemos.

A incerteza em si pode ser gratificante, o que sem dúvida é um atributo útil para empresas de alto risco e alto rendimento. Será que a personalidade aditiva tem vantagens? Algumas das figuras históricas mais admiradas tinham vícios, e não apenas os mais evidentemente criativos, mas também os cientistas, os guerreiros e estadistas. A personalidade obsessiva, caracterizada pela busca do risco e da novidade que costuma ser apresentada pelos viciados, pode adaptar-se ao trabalho e ser muito eficaz. No caso de muitos líderes, não se trata de serem bem sucedidos apesar de seu vício, mas que a mesma química cerebral que os converte em viciados também lhes confere uma conduta que se mostra paradoxalmente benéfica na liderança.

É por isso que, quando a sua empresa precisar de um novo líder, tem de buscar alguém que tenha uma função de dopamina atenuada: alguém que nunca está satisfeito com o status quo, alguém que queira o sucesso mais do que outros, mas que desfrute menos dele.
David Linden, Professor de Neurociências, Universidade Johns Hopkins - NYT -