por Carlos Chagas
Ontem transcorreu o Dia Internacional contra o Fumo. Poderia, também, ser chamado de Dia Internacional da Farsa. O cigarro faz mal? Faz. Mata? Mata. Deve ser proibido? Deve.
Então por que não o proíbem, no mundo e no Brasil? Ficam assustando a humanidade com os milhares de elementos tóxicos que os fumantes ingerem. Impõem imagens degradantes nos maços de cigarro e alertam para a iminência de incontáveis doenças mortais. Humilham e agridem com proibições muito justas entremeadas de perseguições descabidas a quem fuma.
Óbvio que fumar em ambientes fechados onde existem não fumantes é um acinte. Mas torna-se um exagero obrigar quem fuma a ir parar na chuva quando seria natural a existência de locais bafejados pelo ar livre ou protegidos por exaustores, os fumódromos. Já se fumou nos aviões, as empresas aéreas até distribuíam cigarros. Uma evidente agressão aos passageiros. Só que proibir que o cidadão fume no próprio carro é demais.
Tudo, no entanto, são subterfúgios. Farsas. Porque se é para acabar com o cigarro que mata, a solução única seria proibir o funcionamento das fábricas de cigarro. Bem como o plantio e o cultivo do fumo. Não é o que dizem fazer com a coca e a papoula, mas não fazem, para evitar a cocaína, a heroína e agora o craque?
Nessa hora falta coragem. Porque como no caso das drogas, a indústria do fumo é poderosa. Paga impostos monumentais, além de contribuir para as campanhas de todos os candidatos, nos países democráticos. Uma atividade que fatura e movimenta bilhões. É ela que mata, mas como pertence ao sistema econômico-financeiro, continua liberada e até estimulada.
Poderíamos seguir no raciocínio. Deve-se combater e tentar acabar com o crime e com as guerras? Por que, então, as nações desenvolvidas dispõem de amplíssimas indústrias bélicas? Fabricam-se armas grandes e pequenas como se fabricam sardinhas em lata. Alguém se preocupa em interromper a atividade do complexo industrial-militar?
Em todos esses casos, além de faltar coragem, falta vergonha.