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Poesia da noite
SONETO ANTIGO
Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.
Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.
O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.
Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.
Cecília Meireles
Pobre adora uma capa
Põe capa no sofá
No botijão
Na tv
No controle remoto...
Só não coloca capa onde deveria, para evitar mais filhos.
por Kaco Antibes
Aécio Neves - a oposição sou eu
No atual estágio, a melhor maneira de resumir a encrenca sucessória é lançando mão da analogia do barco. Num instante em que Dilma Rousseff afirma que 'não se deve mudar a tripulação no meio da viagem', Aécio Neves subiu no mastro nesta terça-feira para gritar: 'Está afundando!'. Distribuiu uma boia de 12 pontas.
Beneficiado pelo penúltimo gesto de José Serra, que se jogara ao mar na véspera, Aécio desfilou pelo convés fazendo pose de representante único da oposição. "Encarnaremos a mudança de verdade", disse. Nas entrelinhas, ouviu-se: meu amigo Eduardo Campos anda dizendo por aí que 'é possível fazer mais'. Não se iluda. É mais do mesmo. A mudança legítima sou eu.
Um barco, como um país, é uma coletividade em movimento. Para Aécio, o Brasil vai de mal a pior. "Queremos falar de eficiência e planejamento", ele cutucou. Não considera normal que uma obra como a transposição do São Francisco, orçada em cerca de R$ 4 bilhões, "se arraste por mais de quatro anos além do inicialmente previsto para sua inauguração e já tendo gastado mais do que o dobro."
A obra da transposição é gerida pelo Ministério da Integração Nacional. Até o início de outubro, chamava-se Fernando Bezerra (PSB) o titular da pasta. É homem de Eduardo Campos. Deixou o cargo, meio a contragosto, depois que Campos e a Executiva do seu PSB decidiram devolver para Dilma as cabines que ocupavam no deck.
Para não se alongar, Aécio citou apenas mais um exemplo de obra ineficiente e mal planejada. "Não é razoável que o Brasil inicie a construção de uma refinaria em Pernambuco, chamada Abreu e Lima, orçada em R$ 4 bilhões, e já tenha gastado R$ 17 bilhões. E nada acontece. Não se sabe quando essa obra será inaugurada.''
Como se sabe, o governador de Pernambuco é Eduardo Campos. Pegou em lanças pela refinaria. Já vistoriou as obras com Lula e Dilma. A Venezuela deveria ser sócia. Mas Hugo Chávez morreu seu colocar um centavo no negócio. Com outras palavras, o que Aécio disse foi: meu amigo Eduardo é sócio do Planalto na ineficiência e na falta de planejamento que provocam a existência de dois brasis: "o Brasil real e o Brasil virtual da propaganda."
Um país, como um barco, pode perder o rumo. Para Dilma, a embarcação não sofre senão sacolejos passageiros. Coisa provocada por intempéries trazidas por ventos que sopram do estrangeiro. Para Aécio, o barco já não está à deriva. Encalhou. E pode ser tomado por piratas a qualquer momento.
"O Brasil, que há dez anos despontava como país em desenvolvimento em melhores condições de adentrar o mundo dos países desenvolvidos, hoje está no final da fila", disse Aécio, antes de acusar Dilma e o petismo de danificarem os instrumentos de navegação herdados de FHC.
"Nós criamos a responsabilidade fiscal, com oposição ferrenha dos nossos adversários. Eles criaram a contabilidade criativa, que tem desmoralizado o Brasil e fez com que o nível de investimentos desse terceiro trimestre de 2013 caísse mais de 2%."
Aécio faz um aceno para os dois terços de passageiros que informaram ao Datafolha desejar um comandante que faça coisas diferentes das que Dilma tem feito. Como que decidido a produzir um motim, gritou que a bagagem está sendo lançada ao mar.
"A manipulação dos dados, a incompetência de controlar efetivamente a inflação no Brasil, tudo isso levou o governo a usar o patrimônio dos brasileiros —como a mais emblemática e poderosa das nossas empresas, sucatenado-a e fazendo com que a Petrobras perdesse quase 40% do seu valor de mercado e se transformasse na empresa não financeira do mundo mais endividada. Hoje, pasmem, atrasa o pagamento dos seus fornecedores."
Um navio, como uma nação, também tem diversas classes. Para Dilma o pleno emprego e os programas sociais içaram milhões de passageiros para os decks 'D' e 'E'. Para Aécio, o barco continua dividido em duas classes. Há os que usufruem do ar refrigerado do deck 'A' e há o resto, que dorme perto das máquinas, junto com os ratos. Mudança? Só depois que deixarmos de ser "o país do pleno emprego de dois salários mínimos." Bolsa Família? Nada contra. Mas "nenhum pai jamais se orgulhará de deixar como herança para os filhos um cartão do Bolsa Família.''
Desde junho, os passageiros estão chiando. Dizem que a viagem custa os olhos da cara e exigem saber pelo menos para onde estão sendo levados. Dilma promete um barco 100% de classe média com serviço médico importado de Cuba. E Aécio: "Os médicos cubanos continuarão no governo do PSDB, mas receberão aqui o salário de R$ 10 mil, porque nós não financiaremos uma ditadura por meio de um projeto de saúde meramente eleitoreiro."
Ganha um bilhete na primeira classe quem for capaz de dizer, a dez meses da eleição, que rumo tomará o barco. Por ora, só há uma certeza: quem passar mal na quinta classe será atendido por médicos cubanos.
Papai Noel acusado de ser petista
Oposição acusa Papai Noel de populista.
De comprar votos com presentes e pede providências a justiça eleitoral, para que o proíba de usar vermelho.
LEN - @LEN_Brasil
Senado - relação funcionários x senador 105 para cada um
Luis Nassif esse está à altura do cargo?
Pode-se discordar – por razões ideológicas - da regulação soberana instituída em dezembro de 2010 para a exploração do pré-sal.
Pode-se conceber, não sem razão, que a energia fóssil é uma fonte crepuscular de abastecimento da civilização.
Da transição dessa dependência para uma matriz menos poluente depende uma parte importante do futuro da sociedade humana.
Pode-se associar as duas coisas e disso extrair uma visão estratégica do passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.
Mas, objetivamente, nenhuma agenda relevante de debate sobre os desafios brasileiros pode negligenciar aquela que é a principal fronteira crível do seu desenvolvimento nas próximas décadas.
Foi exatamente esse sugestivo lapso que cometeu um dos candidatos a candidato do dinheiro grosso em 2014.
O pré-sal brasileiro, a maior descoberta de petróleo registrada no planeta neste século, não cabe na agenda eleitoral de Aécio Neves, divulgada com o alarido previsível nesta 3ª feira.
Em oito mil e 17 palavras encadeadas em um jorro espumoso do qual se extrai ralo sumo, o presidenciável do PSDB não menciona uma única vez –repita-se-, uma única vez-- o trunfo que mudou o perfil geopolítico do país: o pré-sal. Não é um simples tropeço da memória.A mais concreta possibilidade de emancipação econômica do país, não se encaixa na concepção de futuro do conservadorismo.
Em outras palavras: a omissão fala mais do que consegue esconder.
O pré-sal, sobretudo, avulta como o fiador das linhas de resistência do governo em trazer a crise global para dentro do Brasil, como anseia o conservadorismo.
Um dado resume todos os demais: estima-se em algo como 60 bilhões de barris os depósitos acumulados na plataforma oceânica. A US$ 100 o barril, basta fazer as contas para concluir: o Brasil não quebra porque passou a dispor de um cinturão financeiro altamente líquido expresso em uma fonte de riqueza sobre a qual o Estado detém controle soberano.
A agenda mercadista não disfarça o mal estar diante dessa blindagem, que esfarela a credibilidade do seu diagnóstico de um Brasil aos cacos.
Seu diagnóstico e a purga curativa preconizada a partir dele são incompatíveis com a existência desse incômodo cinturão estratégico.
Ao abstrair o pré-sal em oito mil e 17 palavras a agenda tucana mais se assemelha a uma viagem de férias à Disneylândia do imaginário conservador, do que à análise do Brasil realmente existente –com seus gargalos e trunfos.
Fatos: desde o início da crise mundial, em 2007, o Brasil criou 10 milhões de novos empregos.
Para efeito de comparação, a União Europeia fechou 30 milhões de vagas no mesmo período.
E condenou outros tantos milhões de jovens ao limbo, negando-lhes a oportunidade de uma primeira inserção no mercado de trabalho.
A Espanha, a título de exemplo, fez e faz, desde 2007, aquilo que o conservadorismo apregoa como panacéia para os males do Brasil hoje.
Com que desdobramentos palpáveis?
'A Espanha levará 20 anos para recuperar os 3 milhões de empregos perdidos durante a crise global iniciada em 2008. A economia espanhola só conseguirá alcançar a taxa de desemprego de 6,8% - média na zona do euro, à exceção dos países do sul do continente-- a partir de 2033' (PricewaterhouseCoopers (PwC); estudo divulgado pela consultoria nesta terça-feira, 3/12).
A ênfase sobressaltada e seletiva da agenda tucana, insista-se, não decorre de escorregões da lógica.
Ela atende a interesses de bolso, ideologia e palanque.
A prostração inoculada diuturnamente pelo noticiário econômico é um dente dessa engrenagem, não um recorte isento do país.
A escolha menospreza singularidades que podem subverter a dinâmica da crise, entre elas a maior de todas: o impulso industrializante representado pelo pré-sal, uma oportunidade ímpar –talvez a última da história-- de regenerar uma base fabril asfixiada por décadas de esmagamento cambial e competitivo.
Só se concebe desdenhar dessa fresta –como faz a agenda do PSDB— se a concepção de país aí embutida menosprezar o papel de um parque manufatureiro próprio.
Mais que isso: se a alavanca acalentada para devolver dinamismo à economia for o chamado 'choque de competitividade', tão a gosto da Casa das Garças tucana.
Do que consta?
Daquilo que a emissão conservadora embarcada na mesma agenda alardeia dia sim, o outro também.
Uma abrupta redução de tarifas que mataria um punhado de coelhos ao mesmo tempo: dizimaria o parque industrial 'ineficiente' –como fez Pinochet no Chile; como fizeram Ernesto Zedillo e Vicente Fox no México, com as maquiladoras; reduziria de imediato a inflação e despejaria boa parcela do operariado industrial na rua, barateando o 'custo Brasil' e aleijando os sindicatos e o PT.
É esse o recheio que pulsa na omissão ao pré-sal na agenda tucana.
O velho recheio feito de ingredientes tão excludentes que se recomenda dissimular em um texto eleitoral propagandístico: ajuste fiscal drástico; ampla abertura comercial; livre movimento de capitais; intensa privatização das empresas estatais (quando Aécio fala em 'estatizar' a Petrobrás é a novilíngua, em ação beligerante contra o PT); eliminação dos subsídios e incentivos a diferentes segmentos produtivos; cortes de direitos trabalhistas e de poder aquisitivo real dos salários.
Ou seja, o ideário neoliberal que jogou o planeta na crise na qual se arrasta há cinco anos.
Por último, ressuscitar o espírito do Nafta e atrelar a diplomacia do Itamaraty aos interesses norte-americanos.
Reconheça-se, não é fácil pavimentar o percurso oposto, como vem tentando o Brasil desde 2008.
O dinamismo industrial que o Brasil perdeu nas últimas décadas –sob cerco da importação barata da Ásia teria que ser substituído por um gigantesco esforço de inovação e redesenho fabril, a um custo que um país em desenvolvimento dificilmente poderia arcar.
O atraso na sua inserção nas grandes cadeias globais de fornecimento e tecnologia seria praticamente irreparável.
Exceto se tivesse em seu horizonte a exploração soberana, e o refino, das maiores jazidas de petróleo descobertas no século 21. Que farão do Brasil a maior fábrica de plataformas de petróleo do século XXI. Que já estão fazendo da ilha do Fundão , na URFJ, no Rio, um dos maiores centros de pesquisa tecnológica de energia do planeta.
É esse bilhete premiado que a agenda de Aécio omite olimpicamente: o trunfo que avaliza a possibilidade da reindustrialização, como resposta brasileira à crise.
O pré-sal não é uma panacéia, mas uma possibilidade.
Que já produz 400 mil barris/dia.
Em quatro anos, a Petrobras estará extraindo 1 milhão de barris/dia da Bacia de Campos.
Até 2017, a estatal vai investir US$ 237 bilhões; 62% em exploração e produção.
Dentro de quatro anos, os poços do pré-sal estarão produzindo um milhão de barris/dia. Em 2020, serão 2,1 milhões de barris/dia.
Praticamente dobrando da produção atual.
O pré-sal mudou o tamanho geopolítico do Brasil.
E pode mudar o destino do seu desenvolvimento.
Não é uma certeza, mas uma possibilidade histórica.
Os efeitos virtuosos desse salto no conjunto da economia brasileira exigem uma costura de determinação política.
Que a agenda eleitoral do PSDB renega e descarta.
Saul Leblon
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