A maior parte do ano de 2002, os grandes meios de comunicação, o GAFE - Globo, Abril, Folha, Estadão -, publicaram matérias, pesquisas e boatos espalhando o terror no país, na sociedade. Era catástrofe, a tragédia anunciada que estava embutida na eventual vitória de Lula nas eleições de Lula naquela eleição. Esse movimento foi chamado genericamente de “risco Lula”. Na verdade, ele compunha de maneira ardilosa com outro grande mito criado pela “intelligentsia” vinculada ao financismo.
Ele procurava sintetizar o conjunto das dificuldades para que o crescimento da economia fosse alcançado por nossas terras: o tal do “custo Brasil”. À medida em que até aquele momento a nossa dependência com relação aos recursos externos era muito elevada, a lógica de comportamento do investidor/especulador estrangeiro era apresentada como o “risco Brasil”.
Esse foi o conjunto de variáveis que estimularam a propagação da chantagem implícita na campanha contra a candidatura de Lula há 16 anos atrás. O Brasil iria quebrar. A economia iria para o fundo do poço. O capital estrangeiro sairia para nunca mais voltar. A inflação explodiria. E o maior exemplo disso era a cotação da taxa de câmbio no mercado financeiro, onde os poucos mastodontes operadores manipulavam a cotação do dólar de forma irreal e meramente especulativa. As imagens assustadoras iam desde a fala de artistas como Regina Duarte e seu medo, até ameaças explícitas de agentes do mercado financeiro para uma suposta revoada de capital caso José Serra não vencesse as eleições. Pois a realidade que se seguiu à década posterior a 2003 foi exatamente a oposta.
No pleito atual, a situação é bem distinta. A estratégia de marketing da campanha de Bolsonaro é a tentativa de se apropriar do sentimento generalizado de uma espécie de multi-descontentamento da maioria da população e canalizar essa energia a favor do capitão-deputado. O arco de abrangência é amplo e inclui as pessoas que são contra tudo o que está aí, as pessoas que são contra os políticos em geral, as pessoas que têm críticas aos governos do PT, as pessoas que são a favor da Operação Lava Jato. Além disso, incorpora as pessoas que aceitam passivamente as orientações dos líderes religiosos de suas comunidades fundamentalistas ou ainda as que concordam com as propostas de natureza autoritária, homofóbica, machista e hipocritamente moralista do candidato.