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Crônica do dia, por Robespierre Amarante

PEDRO DOIDO (Iguatu-CE)

Chapeado era sua profissão, contemporâneo de Mela-Mela mas sobreviveu a "Melinha Não Pode" ainda por algum tempo.
Sempre após um dia de trabalho pesado, Pedro Doido bebericava a caminho de sua casa,, que tenho duvidas do real endereço, parecia ser imediações do Prado ou Alto da Bonita.
Cada talagada de cachaça tinha efeito de Kryptonita em Pedro, aos poucos o chapeado deixava de ser Clark Kent para incorporar o Super-Homem, e gritava no meio da rua para todos mundo ouvir:
---- Eu não abro nem pro trem! 
No seu dialeto trôpego era o que ouvíamos com maior nitidez.
Ao passar ao lado de minha casa na Vila da Cidao, aquele homenzarrão moreno de cabelos já esbranquiçados, me causava temor
E foram inúmeras vezes entre o fim de tarde e o anoitecer, no seu discurso solitário que pouco entendíamos, até ele repetir o seu mantra:
---- Eu não abro nem pro trem!
Certa manhã, espalhou-se o rumor de que o trem qui vinha do Crato atropelara Pedro Doido, num horário em  que talvez ele estivesse sóbrio, não sei.
Uns diziam:
---- O corpo de Pedro Doido esta na pedra da Estação!
Eu, menino curioso, fui até lá, ver para crer,  e ao mesmo tempo não querer acreditar que o trem vencera a quem tanto o desafiara.
Cena terrível!
O homenzarrão Pedro, jazia na pedra da Estação em forma de um amontoado de carnes dilaceradas e ossos expostos.
Nas minhas retinas um quadro tão impressionante que mesmo após tanto anos, consigo descrever.
E ainda ecoa nos meus ouvidos as palavras de um Quixote parrudo anunciando aos moinhos de ventos imaginários:
---- Eu não abro nem pro trem!
Robespierre Amarante