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Roberto Requião - Razão, alma e coração

O pronunciamento corajoso do Senador Roberto Requião, um raro exemplo de coragem e caráter dentro do Senado miúdo que estamos vendo pela TV:

"Não pretendo, nesta histórica sessão, moderar a linguagem ou asfixiar o que penso. Não vou reprimir a indignação que me consome.

 Canalha! Canalha! Canalha!

 Assim Tancredo Neves apostrofou[Auro] Moura Andrade que declarou vaga a Presidência, com Jango ainda em território nacional, consumando o golpe de 1964.

 Duvido que um só de nós esteja convencido de que a presidente Dilma deva ser impedida por ter cometido crimes.

 Não são as pedaladas ou a tal da irresponsabilidade fiscal que a excomungam.

 O próprio relator da peça acusatória praticou-as à larga.

 Só que lá em Minas não havia um providencial e desfrutável Eduardo Cunha e nem um centrãoquerendo sangue, salivando por sinecuras e pixulecos.

 A inocência do relator é a mesma de Moura Andrade declarando vaga a Presidência.

 Ah, as palavras de Tancredo coçam-me a garganta.

 Este Senado está prestes a repetir a ignominia de março de 64.

 O que se pretende?

 Que daqui a alguns anos se declare nula esta sessão, com declaramos nula a sessão que tirou o mandato de Goulart e peçamos desculpas à filha e aos netos de Dilma?

 Tudo bem.

 Se mesmo sem culpa, esta Casa condenar a presidente, que cada um esteja consciente do que há de vir.

 Que ninguém, depois, alegue ignorância ou se diga trapaceado, porque as intenções do vice que quer ser titular são claras, solares.

 Vejam só alguns casos exemplares.

Desvincular o reajuste das aposentadorias e pensões do aumento do salário mínimo. Será a destruição do maior instrumento de distribuição de renda do país, que é a Previdência Social.

 Se pensões e aposentadorias não mais acompanharem o aumento do salário mínimo vai ser um massacre contra mais de 20 milhões de brasileiros.

 Para quê?

 Para pagar os juros da dívida; os juros que são hoje o maior instrumento de concentração de renda no Brasil.

Rever direitos e garantias sociais acumulados ao longo dos últimos 80 anos, especialmente direitos e garantias previstos na CLT. Impor, como pedra de toque dessa revisão, o negociado sobre a legislado.

Eliminar tímidas conquistas na área da igualdade de gênero.

Congelar por inacreditáveis 20 anos as despesas correntes e de investimento da União, excetuando-se as despesas financeiras com o serviço da dívida pública.

 Ou seja: congelar por duas décadas as despesas com saúde, educação, segurança pública, saneamento, infraestrutura, habitação, mas garantir o pagamento de juros.

 É como proibir que, por 20 anos, nasçam crianças, que jovens tenham acesso às escolas; que os brasileiros envelheçam ou fiquem doentes. E assim por diante.

 É espantoso que algum ser humano tenha um dia concebido tamanha barbaridade. E mais espantoso ainda que algum ser humano possa aprovar isso.

Privatização em regra e alienação radical de todo o patrimônio energético, mineral, florestal, agrário, territorial, hídrico, fabril, tecnológico e aéreo do Brasil.

 Depois da entrega do pré-sal, da venda de terras para os estrangeiros, querem entregar até mesmo o Aquífero Guarani, a maior reserva de água potável do planeta.

 O desmantelamento do país, o esquartejamento de nossa soberania e a submissão aos interesses geopolíticos globais gritam, berram, expõem-se à vista de todos.

 Tudo bem.

 Se as senhoras e o senhores concordam com a redução do Brasil a um medíocre estado associado, outro Porto Rico, que se sintam servidos. Não será a primeira vez que os abutres e os corvos caem sobre o nosso país, retalhando-o, estraçalhando-o, sugando-o.

 Essa combinação explosiva de entreguismo com medidas contra os aposentados, os assalariados, os mais pobres, contra direitos e conquistas populares alimentam as contradições de classe, em consequência, a luta de classes.

 As senhoras e os senhores estão preparados para a guerra civil?

 Não? Entrincheirem-se, então, porque o conflito é inevitável.

 O povo brasileiro, que provou por alguns poucos anos, o gosto da emergência social não retornará submissamente à senzala.

 Os dias de hoje, esses infelizes dias, lembram-me outros dias, também dramáticos, decisivos:

os dias de agosto de 1954.

 Assim, leio trechos da Carta Testamento de Vargas porque nela se reproduzem o drama de agora.

 "Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa.

Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

(….) A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho.

(…….) Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.

Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma.

(…..) Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado.

Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue.

Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado.

Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência.

(….) Esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto.

O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

Senadores,

É hora da Razão, Alma e Coração!

Não ao impeachment!

É hora de buscar um governo de Entendimento e União Nacional.

Hoje só encontraremos isso com Plebiscito e Novas Eleições!

Não permitiremos que mandem no Brasil embaixadores de países poderosos!

Não permitiremos que mandem no Brasil banqueiros e seus lucros fabulosos!

Peço novamente:

Razão, Alma e Coração!

Amor

Não há canalha maior que o canalha que arrota superioridade moral

O julgamento do impeachment no Senado ficará marcado indelevelmente não apenas pela farsa em si, mas pelo baixo nível dela, expresso de maneira definitiva na advogada de acusação Janaína Paschoal.

Em seu discurso na terça, 30, depois de um dia em que Dilma passou 14 horas encarando seus "juízes", inclusive ela, Janaína aproveitou seu instante de brilhareco para constranger até seus aliados.

Messiânica, convencida, como Moro e seu "time", de que está salvando o país, quiçá o mundo, Janaína invocou o Senhor — aquele mesmo que já tinha aparecido para ela no Largo de São Francisco — e as crianças.

"Eu acho que se tiver alguém fazendo algum tipo de composição neste processo é Deus. Foi Deus que fez com que várias pessoas, ao mesmo tempo, cada uma na sua competência, percebessem o que estava acontecendo com nosso país e conferisse a essas pessoas coragem para se levantarem e fazerem alguma coisa a respeito", disse.

"Quero o povo brasileiro com o coração tranquilo, que sinta que isso aqui é necessário", prosseguiu. "Eu peço desculpas porque eu sei que, muito embora esse não fosse o meu objetivo, eu lhe causei sofrimento [a Dilma]. E eu peço que ela, um dia, entenda que eu fiz isso pensando, também, nos netos dela".

E chorou.

Não há canalha maior do que o canalha que arrota superioridade moral, o sujeito que espanca alguém enquanto sussurra que é para seu bem.

Se Janaína traz alguma novidade ao debate é a constatação triste de que avançamos de maneira irreparavelmente em direção ao passado. O traço medieval do golpe é a cereja do bolo.

Da Inquisição ao Estado Islâmico, do pastor Malafaia a George W. Bush, passando por Charles Manson e Chico Picadinho — todo fanático acha que está realizando a obra do Altíssimo.

Não foi Jesus Cristo quem pagou 45 mil reais para Janaína Paschoal produzir o parecer que fundamentou a denúncia. Em abril, confrontada por Vanessa Grazziotin na comissão do impedimento no Senado, Janaína contou: "Eu fui contratada pelo PSDB em maio. Nós propusemos o processo em setembro. Recebi 45 mil reais para fazer o parecer".

Os cidadãos indignados que atenderam a um chamado divino, como os rapazes do MBL, foram financiados pelo PMDB, PSDB, DEM e Solidariedade.

Miguel Reale Jr., orientador de Janaína, tucano histórico, encomendou o parecer. Ele decidiria, mais tarde, apresentar uma representação ao Ministério Público Federal contra Dilma por crime comum.

Janaína, Hélio Bicudo e Reale Jr acabariam entrando num acordo e apresentando em outubro o pedido de impeachment que seria acolhido pelo anjo Gabriel, disfarçado como Cunha.

Janaína ocupou, por duas vezes, cargos em governos tucanos. No segundo mandato de FHC, foi assessora especial do ministério da Justiça, exonerada em 2002. Atuou ainda na gestão de Geraldo Alckmin como assessora técnica de gabinete do governo.

Em março, declarou à BBC Brasil: "Entre a primeira intenção e a conversa com Hélio Bicudo foram três meses, depois de falar com muita gente. Falei sobre o tema na OAB de São Paulo, onde sou conselheira, e também com professores de direito e colegas advogados. Até o PSDB eu procurei, mas ninguém se habilitava".

No início de "Mein Kampf", Hitler escreveu: "Eu acredito que hoje minha conduta está em acordo com o desejo do Criador Todo Poderoso". Deu no que deu.

Se Deus existisse, já teria processado todo esse pessoal.

 

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Sobre o Autor

Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

0 1 GREENWALD: Presidente ELEITA é tirada por guangue de criminosos

 O jornalista norte-americano Glenn Greenwald, do site The Intercept, tem feito cada vez mais críticas ao processo de impeachment nessa reta final do julgamento.

Nesta segunda-feira 29, enquanto a presidente Dilma Rousseff respondia a perguntas dos senadores, ele publicou no Twitter um bom resumo do cenário político brasileiro:

"Uma presidente eleita duas vezes está sendo tirada de seu cargo por uma gangue de criminosos, para pôr no lugar uma facção de direita não eleita e ilegítima".

Nessa semana, Greenwald concedeu uma entrevista ao canal Democracy Now, dos Estados Unidos, em que comparou o comportamento corajoso de Dilma de ir se defender no Senado, mesmo sem ser obrigada, e o covarde de Michel Temer, que quebrou o protocolo na abertura da Olimpíada ao pedir para que seu nome não fosse anunciado, com receio de vaias, nem esteve presente na festa de encerramento.

Ele publicou ontem um texto intitulado: "Impeachment de Dilma caminha para o fim e ameaça a democracia brasileira". Leia aqui.

Dilma deu início ao julgamento dos canalhas perante a História, porJeferson Miola

A consumação do golpe de Estado baseado no processo fraudulento de impeachment da Presidente Dilma é uma questão de horas.

A liturgia que está sendo seguida neste julgamento, com longas sessões no Senado presididas pelo Presidente do STF, é apenas um verniz para aparentar normalidade de funcionamento das instituições que, na verdade, estão sendo destroçadas com o golpe.

A maioria do tribunal de exceção em que se transformou o Senado da República é formada por senadores e senadoras golpistas que já condenaram por antecipação a Presidente Dilma, muito antes do início do processo e independentemente da inexistência de fundamentos jurídicos e legais.

Esse tribunal de exceção não fará um julgamento justo, honesto e imparcial, porque decidirá fascistamente, com base apenas numa maioria conspiradora que violenta a Lei e a Constituição para tomar de assalto o poder de Estado.

Uma maioria que forjou argumentos jurídicos fraudulentos através de militantes partidários infiltrados nas instituições do Estado como o Tribunal de Contas da União, para derrubar uma adversária que não conseguiram vencer nas urnas.

Não existe racionalidade, razoabilidade e, menos ainda, verdade na decisão pré-concebida desta maioria que se vale unicamente da condição majoritária, mas não de eventual crime de responsabilidade que poderia justificar a cassação do mandato presidencial.

Nas quase 15 horas de depoimento no tribunal de exceção, Dilma desmascarou os algozes de 2016 que não trajam a farda militar que trajavam seus algozes da ditadura civil-militar de 1964 que também tinham sociedade com o Grupo Globo, mas que nem por isso deixam de ser gorilas oligárquicos que atentam contra a democracia e o Estado de Direito.

pronunciamento da Presidente Dilma na abertura da sessão do tribunal de exceção é uma peça memorável que organiza a narrativa sobre o golpe e instrumentaliza a resistência democrática e popular do próximo período.

É um discurso que adquire a mesma transcendência histórica de libelos famosos de vítimas da opressão e da tirania burguesa como a carta aberta Eu acuso, de Émile Zola [1898]; como A história me absolverá, de Fidel Castro [1953]; e como a Carta Testamento, de Getúlio Vargas [1954].

O gesto de Dilma é equiparável à trajetória de militantes revolucionárias como Olga Benário e Rosa Luxemburgo, que enfrentaram corajosamente e frontalmente seus opressores.

Os canalhas sofreram uma derrota estratégica na "assembléia geral de bandidos" de 29 de agosto de 2016. Eles foram surpreendidos por uma mulher que não só é mais madura que a jovem corajosa e ousada que enfrentou pela primeira vez um tribunal de exceção com 23 anos de idade em janeiro de 1970, mas que continua sendo uma "brava mulher brasileira" lutadora da igualdade e da justiça social.

Dilma teve uma atuação magistral. Gigante, contrastou com o nanismo moral dos seus algozes. Ela ensinou aos golpistas a diferença entre o golpe militar que destrói a árvore da democracia a machadadas e o golpe parlamentar dos fungos, que parasita a árvore da democracia silenciosamente.

Dilma foi uma mulher destemida, que revelou temor pela única morte que um ser humano digno e decente pode temer, que é a morte da democracia.

Este 29 de agosto de 2016 entra para a história não como mais uma etapa da farsa do impeachment da Presidente da República que está em vias de ser perpetrado, mas como o dia em que Dilma decretou o início do julgamento histórico dos canalhas.

A partir desse dia, esses canalhas fascistas foram reduzidos à condição de fungos desprezíveis que parasitam a árvore da democracia. Eles serão julgados e condenados pelo povo muito mais cedo que tarde.

Assim como seus inquisidores de janeiro de 1970 escondiam seus rostos para não serem reconhecidos, os fascistas que em 2016 cassarão seu mandato legítimo também viverão escondendo seus rostos, e serão escravos de uma vergonha que os acompanhará pela eternidade da História.

Senadores, votem com consciência

"É muito grave afastar uma presidente da República sem crime de responsabilidade, mesmo que o impeachment esteja previsto na nossa Constituição", disse a presidente Dilma Rousseff, no final de sua sessão de defesa, que durou mais de 14 horas; "Por isso eu peço aos senhores senadores e às senhoras senadoras que tenham consciência na hora de avaliar este processo", afirmou; Dilma fez discurso histórico em defesa não apenas de sua história de vida, como do próprio regime democrático, hoje ameaçado no Brasil; na fala inicial, disse que depois das torturas, na juventude, e da luta contra o câncer, só teme a morte da democracia.