Pregar a revolução nas colônias de Portugal e Espanha foi a missão dada pela Inglaterra para Sir William Walker. Ele deveria encontrar um escravo corajoso capaz de liderar e convencer outros a lutar contra os portugueses. Esse grupo de revolucionários receberia todo apoio, inclusive financeiro. Dirigido pelo engajado Gillo Pontecorvo, eis parte do enredo de Queimada (1969), filme estrelado por Marlon Brando. Num misto de ficção e realidade, ambientado numa fictícia ilha caribenha, o longa metragem é inspirado na história do Haiti. Na prática, a obra é um manual de tramas, manhas e artimanhas do submundo capital e, ao mesmo tempo, se revela um manual de doutrinação política.
Traições, corrupção, delações, “ganha, mas não leva”, além de jogo sujo fazem parte da trama, entre outros ingredientes. Entretanto, um dos pontos mais interessantes é quando o desempenho do líder nativo (consentido), José Dolores, vai além dos interesses do “poder obscuro”. Nesse ponto, entra em debate - o que fazer com ele? O que seria melhor? Prender, matar ou deixar vivo, mas desmoralizado? E se ele se transformar em mito e sua história inspirar mais povos igualmente explorados? O que aconteceria com as outras ilhas do Caribe?. Sem saída aparente, optam pela prisão e destruição da imagem daquele líder. A ilha de Queimada é atrasada e partir daí começa uma “campanha” para convencer o povo de que a fome, os mortos e os feridos, além da queima do canavial (principal fonte de renda da ilha) é culpa de Dolores. Isso reporta o leitor a algum fato?