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Roberto Freire, Alckmin e a "nova política" de Campos e Marina

Eduardo Campos mal teve tempo de celebrar a confirmação de Marina Silva como sua vice e já está às voltas com um problema mal resolvido de sua coligação. Nesta segunda-feira, dia em que se dissiparam as dúvidas quanto à ordem dos nomes na chapa, o presidenciável do PSB foi instado pelo deputado Roberto Freire, presidente do PPS, a reconsiderar a decisão de lançar um candidato próprio ao governo de São Paulo, como defende Marina.
Integrante da minúscula coligação de Eduardo Campos, o PPS deseja um acordo com o governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, candidato à reeleição. “Qualquer candidatura que for criada no improviso, seja pela Rede seja pelo PSB, não terá o efeito de uma aliança com Alckmin”, disse Freire ao blog, confirmando que reabriu o debate em conversa com Campos.
Freire diz estar convencido de que a sucessão de 2014 será decidida pelo eleitorado de São Paulo. E acha que, se quiser entrar na briga para valer, Campos não pode improvisar no maior colégio eleitoral do país. “O Eduardo tem perspectivas de crescer. Eu disse a ele que não dá para imaginar uma disputa real pelo poder ficando isolado com uma candidatura inexpressiva em São Paulo.”
Alckmin deseja o acordo com o PSB. Não desistiu de organizar um palanque duplo — com Campos e o presidenciável do PSDB, Aécio Neves. O governador tucano já havia oferecido a vaga de vice na sua chapa para o deputado Marcio França, seu ex-secretário de Turismo e presidente do diretório paulista do PSB. Ante a resistência de Marina, Alckmin sinalizou a disposição de ceder também a vaga de candidato a senador.
“Mesmo com todos os problemas, o Geraldo concentra ao seu redor uma estrutura de poder, é uma força política que tem representatividade, é democrática e convive bem com setores de esquerda”, afirmou Freire. “Não há razão para não marcharmos junto com ele. É isso que eu defendi junto ao Eduardo.”
E qual foi a resposta? “Ele diz que gostaria de buscar algo ‘novo’ em São Paulo. Mas não está excluindo a outra possibilidade. Sinto que a preocupação com o ‘novo’ é uma questão política que o Eduardo levanta. Diria até que o problema não é Marina. Até porque Marina sabe que não tem uma candidatura consistente em São Paulo.”
A seção paulista do partido de Freire já tomou sua decisão. Em São Paulo, o PPS manterá sua aliança com Alckmin mesmo que os parceiros PSB e Rede insistam em lançar um candidato próprio ao governo do Estado. Na conversa com Campos, Freire aconselhou-o a “levar em conta que Aécio está imprimindo um bom comando à sua campanha, fechando bons acordos. Já não está isolado no Rio. E fechou um bom entendimento na Bahia, o quarto colégio eleitoral do país.”
Não fosse por outras razões, prosseguiu Freire, o desempenho de Aécio reforça a necessidade de Campos de “ter uma presença maior em São Paulo.” O presidente do PPS pensa em voz alta: “O Alckmin já percebeu que é bom para a reeleição dele ter a presença dos dois candidatos de oposição do seu lado. Para o Eduardo também seria ótimo. Pode não ser muito bom para o Aécio.”
São Paulo foi tema de outra conversa mantida por Eduardo Campos, dessa vez com Márcio França, o dirigente do PSB paulista que Alckmin gostaria de ter como vice. Desde que o nariz torcido de Marina conduziu o partido para a tese da candidatura doméstica, França declarou-se, ele próprio, candidato. Fez isso para evitar que a opção recaísse sobre um nome vinculado à Rede —Walter Feldmann, por exemplo.
Segundo apurou o repórter, Campos sondou França sobre a hipótese de ele trocar a candidatura ao governo de São Paulo pela coordenação da campanha presidencal do PSB. Conforme relato que fez a amigos, o deputado afirmou que, se recebesse o aval do partido para aceitar a posição de número 2 na chapa de Alckmin, poderia conciliar as duas atribuições.
Porém, se a opção de Campos for mesmo pelo lançamento de um candidato próprio em São Paulo, França prefere manter seu nome na disputa, a despeito de avaliar que a tarefa será inglória. Sem o apoio do PPS e com escassos 50 segundos de propaganda no rádio e na tevê, o PSB iria à briga de São Paulo como um fiasco esperando para acontecer.
E se lançássemos em São Paulo a candidatura de Luíza Erundina?, perguntou Campos em privado. Recordaram-lhe que a octagenária Erundina talvez não seja enxergada pelo eleitorado como a encarnação do “novo”. De resto, embora seja amiga de Marina e desfrute do respeito de todos, Erundina não parece disposta a arrostar o desafio de uma campanha para o Palácio dos Bandeirantes.
De concreto, por ora, apenas a impressão de que, na campanha de Edurardo Campos, São Paulo é um palanque por fazer. No dizer de Roberto Freire, não houve, ainda uma mudança. “Mas Eduardo pelo menos começou a dialogar e não deixa de levar em consideração que Alckmin é uma alternativa”.
por Josias de Souza