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Juarez Q. Campos: colunista do dia

Lê-se que Lulovski mandou o Haddad colocar o bloco na rua; é o candidato do PT na corrida presidencial. Jogada perfeita; reduz a pressão sobre o STF que deverá julgar a anulação da sentença do Moro, posiciona o PT no jogo eleitoral eclipsando as demais candidaturas de esquerda, Boulos e Ciro, e começa a pacificar e organizar o partido de olho em 2022. 

Lula, 75 anos, sabe que é pouco provável que consiga o green light legal para recuperar os direitos políticos e não vai correr o risco de sujar a biografia com uma derrota para o Bolsonaro. Boulos, o chihuahua do Lula, ganiu baixinho: primeiro temos que discutir a frente, depois os nomes. Que frente, mané? O próprio PSOL, que comanda apenas 10 deputados, conseguiu entrar rachado na eleição para presidente da Câmara. Frente só no segundo turno e para apoiar o Haddad; Ciro já reservou a passagem para Paris. 
2022 vai virando um déjà-vu de 2018, a esquerda com Haddad, Ciro e Boulos, e uma ampla frente de centro-direita em torno do Bolsonaro. Com PSDB e DEM rachados, Dória deu adeus ao sonho de subir a rampa do Planalto e ainda corre o risco de sequer se reeleger em São Paulo. E o Huck já deve estar sonhando em comandar o domingão. Bolsonaro, o sniper, já riscou da to do list os nomes do Moro, Mandetta, Witzel e Maia, e assiste ao traíra do Mourão implorar por uma vaguinha de candidato a vice. É imperdível ver como o ACM Neto vendeu o Maia e o DEM para arrumar uma boquinha de cara-metade na chapa do capitão. Bolsonaro já começou a subir a rampa novamente, nada de Jeep, cabo e soldado; vai carregado pelo Centrão. É claro que tem o imponderável, uma recessão e desemprego maiores do que o projetado, um tsunami ou um Adélio. Mas vamos lembrar que o figura tá com o corpo fechado: tem os orixás do STF, STJ, PGR, PF, RF para protegê-lo. Ah, e o Bispo Macedo e os Faria Limers. 
A conferir.
Juarez Q Campos

Colunista do dia: Luis Nassif


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Xadrez dos aloprados no comando do titanic Brasil
A economia do planeta está sob influência negativa do desmanche de toda organização que vigora desde o fim da SGM - Segunda Guerra Mundia -
1ª Peça: desaleração das economias
Nos últimos meses houve uma redução abrupta da oferta de crédito, com reflexos nas diversas economias. E uma obsessão por ajustes fiscais que derrubou as condições sociais estimulando partidos radicais em praticamente todos os países.
Alemanha – no final do ano passado mostrou os primeiros sinais de recessão, com queda brusca na produção industrial. A dívida alemã está sendo negociada com rendimentos negativos, sinal de que se aproxima uma deflação da economia. No segundo semestre de 2018 houve uma queda de 3,2% na produção industrial da Alemanha. Em dezembro, as encomendas caíram 7% em relação ao mesmo mês do ano anterior. A recessão começou com a indústria automobilística e já se espalhou para construção, produtos químicos e farmacêuticos.
Itália – A Comissão Europeia reviu o crescimento em 2019 para 0,2%. Além disso, o país corre o risco de uma nova crise da dívida, tendo que refinanciar 400 bilhões de euros em dívidas em 2019.
Inglaterra – presa às indefinições do Brexit, sem liderança e sem estratégia clara sobre as regras de saída. Em 2016 montou-se uma campanha a favor do Brexit sem nenhuma informação mais concreta sobre as implicações da decisão na vida das pessoas. Seque analisaram-se as implicações na política interna, como a manutenção do Acordo de Sexta Feita Santa de 1998, que celebrou a paz na Irlanda do Norte, após três décadas de guerras sangrentas. Além disso, os números da economia mostram o menor crescimento desde 2012.
EUA – o FED (Banco Central dos EUA) interrompeu momentaneamente a alta nas taxas básicas de juros. Mas ficou a dúvida no ar sobre os próximos passos.
2ª Peça: alto endividamento

Jeferson Miola - colunista do dia

STF tira delações contra Lula das mãos de Moro e Globo reage com jornalixo
- A Globo reagiu com um jornalismo-lixo à decisão da segunda turma do stf de tirar das mãos do Moro as delações contra Lula, para transferi-las para a jurisdição devida, que é a justiça federal em SP.
O jornal nacional dedicou 14 segundos para a formalidade de comunicar a decisão do stf e, em seguida, dinamitou Lula durante quase 8 minutos numa reportagem enviesada e acusatória – uma proporção 35 vezes maior de tempo televisivo para acusar e condenar do que o tempo televisivo para comunicar formalmente o fato [a decisão do stf favorável a Lula].

No jornal das 10 da globo news, o porta-voz da Lava Jato Merval Pereira se disse “surpreso” com a decisão do stf.
Com semblante preocupado, Merval passou então a ditar suas erudições jurídicas para concluir que “há o perigo” de que esta decisão possa causar a nulidade não somente da parte das delações usadas ilegalmente por Moro contra Lula, como de todo este processo – que é de nítida perseguição judicial.
A preocupação do Merval não é à toa. A decisão do stf quebra um pilar fundamental da perseguição ao Lula, que é a inconstitucionalidade da tramitação dos processos contra o ex-presidente “coincidentemente” pelas mãos de Sérgio Moro, que não é o juiz natural dos casos.
Os desdobramentos concretos da decisão do stf são imponderáveis; é difícil predizer algum caminho diante duma suprema corte emparedada pela Globo e aliados de golpe.
Não estivesse o Brasil sob uma ditadura, sob um regime de exceção, o efeito desta decisão do stf implicaria na nulidade não só do processo do sítio de Atibaia, como da farsa fascista montada pela Globo e Lava Jato para encarcerar Lula.
Isso seria o terror dos terrores da Globo, que não hesitará em empregar métodos fascistas ainda mais surpreendentes na cruzada doentia contra Lula.
A luta pela libertação do Lula, que é a luta pela restauração da democracia e do Estado de Direito, se combina com o combate permanente conta a Globo.
Só 1 dos 2 sobrevive: ou a democracia ou a Globo.
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Colunista do dia - Fernando Horta

Como se enxugasse gelo

Há dezesseis dias, Lula é um preso político do Estado de exceção que tomou o Brasil.
O resultado prático desta prisão, contudo, não foi bem avaliada nem pelo judiciário, nem pelos opositores políticos de Lula. O tão abominado “jeitinho” brasileiro, marca por muitos anos dos nossos políticos, agora é usado pela Justissa em sua cruzada moralista contra a esquerda. Mostra, pois, que qualquer crítica a este nosso traço cultural é apenas preconceito. Desde o primeiro grau, até Carmem Lúcia, a prisão de Lula foi concertada unicamente a partir do princípio do “eu posso, eu faço”. Desde a falta de provas, apresentações espalhafatosas para a mídia, vazamentos ilegais até a decisão vergonhosa dos três desembargadores de Porto Alegre, havia ainda, internacionalmente, um fio de respeito pelas instituições brasileiras. Diversos jornais e analistas estrangeiros se postavam com cuidado para falar do tema. Era sim, o processo brasileiro, eivado de irregularidades e claramente político, mas era custoso ao mundo ocidental olhar para o Brasil e ver a história da Europa recontada. Tudo na lava a jato é semelhante às perseguições dos tribunais nazistas e fascistas. O Velho Mundo não estava preparado para aceitar que o fascismo estava de volta, e pelas mãos dos (supostamente) mais “educados” e “cultos”.

Colunista do dia - Luis Nassif


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Xadrez do passaralho do Psdb
Peça 1-) a lógica do golpe
GGN - A lógica do golpe é simples e objetiva.
Há dois focos centrais.
O primeiro, o aprofundamento do desmonte do Estado brasileiro, com as reformas liberais, privatização, destruição do precário Estado de bem-estar construído na última década.

O segundo, a garantia de um presidente de direita nas próximas eleições - ou, na ausência de um candidato competitivo, até mesmo o adiamento das eleições.
Esses são os fios condutores para entender toda a lógica da turma do impeachment.

Peça 2 – o mercado de opinião

Tudo isso se dá no que se convencionou chamar de mercado. Não se trata apenas do mercado em si, mas de todo um sistema de opinião que engloba não apenas a estrutura de poder, mas a gendarmeria.
No topo, Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), a Procuradora Geral da República, os grupos de mídia, órgãos de controle de uma maneira geral. Na base, juízes de 1ª instância, procuradores, Polícia Federal, Polícia Militar etc.
Quando determinada questão ameaça os objetivos finais, acende-se uma luz amarela. O clima fica tenso, as autoridades envolvidas começam a receber sinais tácitos indicando que ali não se mexe. Dado o grau de pusilanimidade das organizações burocráticas e suas lideranças, não há a necessidade de ordens diretas, ameaças ou outras formas de pressão. São mais disciplinados que jornalistas da Globonews.
Quem sai da linha, é pressionado por seu próprio meio, colegas ou familiares. Essa sincronização do golpe mereceria um belo estudo acadêmico, sobre a força das ideologias na articulação de movimentos, como o impeachment, mesmo sem haver um cérebro condutor. Aliás, o único cérebro mofa em um presídio de Curitiba.

Peça 3 – os que irão morrer

No início do golpe, Aécio Neves era peça central; o governador Geraldo Alckmin, elemento secundário. Qualquer envolvimento de Aécio enfraqueceria o principal mote do golpe, que era o impeachment de Dilma.
O Procurador Geral da República Rodrigo Janot recomendou seu não indiciamento, apesar de evidências muito mais fortes do que aquelas, por exemplo, que envolviam o senador petista Lindbergh Farias, denunciado.
Mesmo em posição secundária, Geraldo Alckmin também foi poupado, e ajudou a salvar Dilma Rousseff da tentativa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), comandado por Gilmar Mendes, de cassar seu mandato logo após as eleições. Na última hora descobriu-se que que Alckmin poderia ser atingido por uma das acusações que se lançava contra Dilma.
Na medida em que a Lava Jato foi avançando, foram aparecendo mais e mais evidências contra Aécio.
Criou-se um ping-pong entre dois adversários mortais, mas irmanados na defesa de Aécio: Janot e Gilmar Mendes. OS dois revezavam-se nos pedidos de prorrogação do prazo de investigação de Aécio. Mesmo assim, a cada indício novo e a cada nova postergação das denúncias o capital político de Aécio ia se esvaindo.
Quando ocorreu o episódio JBS, Aécio dançou por dois motivos. Pelo seu excesso de ambição, foi considerado um peru gordo por Joesley Baptista, nas negociações com a PGR. Quando Janot recebeu o pacote, para atirar em Temer não poderia desconsiderar os grampos em Aécio.
A partir dali, Aécio virou pato manco.  Há uma boa probabilidade de que, na próxima semana, o STF autorize a denúncia criminal contra ele, além de mandar para a prisão Eduardo Azeredo, do mensalão tucano, à esta altura uma decisão vazia de significado político.
Principalmente porque a blindagem dos tucanos ficou ostensiva demais para ser aceita até por um país e uma mídia acostumados a toda sorte de hipocrisias.
Dentro dessa lógica, José Serra, Aloysio Nunes e Cássio Cunha Lima poderiam ser liquidados tranquilamente, sem atrapalhar os objetivos finais do golpe. Estão sendo poupados porque o algoritmo viciado do STF jogou seus processos no colo de Gilmar, e Gilmar não é desses de deixar companheiros feridos no campo de batalha. Apenas por isso.

Peça 4 – o fator Alckmin

Embora não desperte nenhum entusiasmo, nem entre os seus próximos, Alckmin ainda é peça chave no jogo político, como único candidato da direita com alguma possibilidade.
Essa é a razão principal da PGR ter remetido seu caso para ser julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, ao invés de remeter para o grupo da Lava Jato. E o autor da façanha foi o subprocurador Luciano Maia, com bela ficha no Ministério Público Federal, e, até assumir o cargo de vice-procurador, considerado corajoso e de posições independentes.
Mas não adianta. A lógica do poder brasiliense é imbatível. Por isso, um caso em que Alckmin, através de seu cunhado, recebe R$ 10 milhões da Odebrecht, que têm obras contratos grandes com o governo de São Paulo, foi transformado em um mero caso de irregularidade no financiamento de campanha. O pagamento foi por fora.
Apesar de federal ,o TRE de São Paulo é majoritariamente composto por juízes e desembargadores paulistas, historicamente alinhados com o PSDB.
A decisão de Maia – certamente endossada pela PGR – expôs de maneira nítida a parcialidade da nova PGR no jogo político.
Aliás, não bastassem essas trapalhadas, e o procurador-bufão Oscar Costa Filho, do MPF do Ceará, o mesmo que tenta todo ano anular o ENEM, intimou a Universidade federal do Ceará a retirar o nome “golpe” de um curso preparado por ela.
Às vezes tento convencer colegas que o MPF é mais que os Ailton Benedito – o de Goiás – ou  Oscar Costa “Enem” Filho, mas os fatos sempre me desmentem, como desmentiram quando supus em Raquel Dodge uma dimensão mais relevante do que a de Janot.

Peça 5 – os próximos passos

Não se imagine que o impacto da prisão de Lula vá refrear a marcha do fascismo.
As recentes votações do Supremo e as decisões da PGR comprovam que continuam a reboque da Lava Jato. E continuarão até a Lava Jato completar sua obra, de destruição final de Lula e de inviabilização do PT.
De qualquer modo, foram tantas as críticas que Dodge recebeu, até de jornalões, por sua benevolência contra Alckmin, que provavelmente deve ter-se dado conta de que foi mais realista que o rei, o que condicionará suas próximas ações. É possível que o país comece a assistir episódios inéditos de tucanos engaiolados.
Aliás, a análise política de autoridades do Judiciário, da PGR ao Supremo, mereceria estudos de Pavlov.
Depois de liquidado Lula, será fácil acabar com a operação. Bastará a mídia levantar a pauta proposta por Gilmar Mendes na última sessão do Supremo, sobre os indícios de corrupção, devido ao poder absoluto de que passaram a dispor.
PS – a ave da voto representa o Passaralho, figura mitológica que sobrevoa as redações nas vésperas das grandes demissões.
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Colunista do dia

Fernando Horta - a estética do fascismo
 Os regimes fascistas e nazistas foram os primeiros a entenderem a importância dos meios de comunicação de massa para a política. No final dos anos 20 e início dos anos 30, o rádio se constituía na grande novidade da tecnologia transformada em produto pelo capitalismo. O rádio, paulatinamente, diminuía de tamanho físico e se tornava um aparelho fundamental na vida das pessoas, em tempos de paz e, mais importante ainda, em tempos de guerra.

 O nazismo foi ainda mais além, reconhecendo, na segunda metade dos anos 30, a importância da comunicação, em todas as suas áreas. Hitler e Goebbels, por exemplo, conceberam a necessidade de uma comunicação efetiva, que transmitisse mais do que apenas o texto ou a narração. Contrataram a cineasta alemã Leni Riefenstahl porque, diziam eles, precisavam “aliar a arte à política”. Eis o ponto. Riefenstahl criou uma estética para representar o nazismo. Uma estética embebida em sentidos políticos e sociais que são replicados até os dias de hoje.
Walter Benjamim, estudando o fenômeno, afirmou que o cinema tinha sido “apropriado” pelo fascismo. A construção das massas como participantes pelo poder fascista se dá no sentido estético. Tão somente. É nos filmes, na retratação das festas nacionais, nos momentos políticos fabricados para consumo artístico que o fascismo se encontra com o povo. Este encontro tem sempre um sentido simbólico e estético que, nas palavras de Benjamim, captura “a aspiração por novas condições sociais” que as massas têm e a usa em benefício de uma “minoria de proprietários”.
O Führer tinha receio de que o nazismo fosse visto e compreendido como uma ideologia de ódio e guerra. A violência só poderia ser aceita, numa Europa que recém havia saído de uma guerra mundial (1914-1918), se ela tivesse um fim superior. Esta finalidade deveria ser entendida como imperativa, ética, boa e coletivamente significativa. O “povo” (volk em alemão) cumpriu este papel. Claro que o povo tinha que ser diminuído. Nem todos poderiam ser povo. As perseguições à todas as minorias éticas, aos homossexuais e aos dissidentes religiosos fizeram uma depuração do povo. A elitização da ideia de povo já estava constante na teoria da supremacia do ariano (alemão).
Trabalhar a comunicação sobre este “povo”, de forma mítica (criando uma história de superioridade) e estética (através da representação das lideranças como emergidas do “povo”), não era só uma questão lateral. O cerne da estética fascista é representar-se sempre como justo, e coletivamente bom. Várias são as estratégias para alcançar a “Força pela Alegria” (Kraft durch Freude), desde o aumento de festas e feriados nacionais, até a representação das lideranças sempre de forma sóbria, limpa e populares. O nazismo inventou o “João Trabalhador”. E o fez de forma consciente, eis que Hitler, no livro Mein Kampf, afirma que o objetivo central é brigar com os “vermelhos” pelo sentido dos termos “trabalhador”, “revolução” e “socialismo”.
As representações em imagens dos líderes fascistas obedeciam sempre ao mesmo padrão. Câmera posicionada abaixo do indivíduo, cores sóbrias e um jogo de luz e sombra que faziam a estética representar perfeitamente o discurso: um líder austero, superior e iluminado. A disputa de significados vinha sempre carregada contra os movimentos de esquerda. O fascismo é, antes de tudo, anti. Apresentava-se como uma solução viável ao capitalismo financeiro predatório (no contexto da crise de 29) através da exaltação da força do capitalismo nacional. Apresentava-se como uma alternativa à luta de classes, preconizada pelos socialistas e comunistas, através da noção de “todo”, de “pátria” e de “volk”. O povo é uno e indivisível. Para os fascistas, não há luta de classes, isto é uma invenção da esquerda para destruir a pátria.
A beleza do corpo, o belo como padrão estético das lideranças, foram explorados em todas as suas esferas, desde fotos até filmes. O filme de Riefenstahl sobre as Olimpíadas de 1938 (Olympia) tem como principal personagem o belo. O fascismo alimentava o estereótipo da perfeição não apenas esteticamente, mas como uma busca política. Hugo Boss foi o designer de todos os uniformes nazistas. A monstruosidade linda e bem vestida. Daquilo que é belo e uno surge ser também bom e correto. A estética fascista configurava a exata ideia da superioridade que o regime construía na cabeça de seus seguidores.
Não é difícil encontrar no Brasil atual a mesma estética. Líderes sóbrios, plano de foto inferior ao fotografado, cores neutras. O belo como predomínio do sentido, a austeridade da imagem que não guarda rasgos de cores, formas ou texturas. O jogo de luz e sombra a destacar a qualidade estética e transmuta-la em sentido social. A retórica acompanha a valsa com a estética. O líder anti luta de classes que vai unir o “povo” e fazê-lo trabalhar. Que cria, inova e faz renascer a ideia de país. Que “trabalha” e surge fisicamente em diversos papeis, aproximando-se esteticamente daquilo que não é.
Cria-se o anti.
Em qualquer banca, perto de você.***
É sempre bom lembrar que os paladinos da moral e ética, os arautos das ilegalidades do MP e Judiciário (contra seus inimigos), terminam por quebrar seus próprios espelhos, basta esta mesmas instituições (citadas acima), pisarem nos seus calos.


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Millor, a Lava jato e a fábula do burro ou do canalha, por Luís Nassif


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Entre um burro e um canalha, não passa o fio de uma navalha
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Na abertura do 8o Congresso Nacional do Ministério Público, o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, foi incisivo: o Ministério Público se orienta pela Constituição, e não se fala mais nisso.
Disse mais: — Afirmo aos senhores e senhoras que uma instituição plural, democrática e altiva como é o Ministério Público brasileiro jamais estaria a reboque dos acontecimentos, de pessoas ou de interesses menores. Ao contrário, fomos moldados pelo constituinte para ser uma instituição de vanguarda, que dita o próprio caminho e que busca como norte apenas as leis e a Constituição.
Consta que, quando soube do teor das conversas de familiares de Lula, divulgadas pela força tarefa da Lava Jato com o seu consentimento, Janot teria reagido com uma gargalhada. Não sei se procede. Mas sei que foi graças ao seu empenho pessoal, dos procuradores da Lava Jato, da adesão de procuradores por todo o país, conseguiu-se o feito de consolidar no comando do país uma organização criminosa.
O MPF se tornou uma instituição tão de vanguarda que conseguiu bater a Operação Mãos Limpas. Na Itália foi necessário aguardar as eleições para chegar um Berlusconi. Por aqui, entregaram o país a seco para Temer, Padilha, Moreira e companhia. Enquanto ocorria o banquete dos piratas no Congresso, o nobre Janot falava para a história:
— A resposta positiva da sociedade ao nosso trabalho na Lava-Jato, bem como o severo crivo pelo qual sempre passaram nossas investigações no Poder Judiciário, inclusive no Supremo Tribunal Federal, demonstra que aquilo que alguns poucos inconformados chamam, levianamente, de loucura é, de fato, apenas o cumprimento sério e honesto de um mandato constitucional.
Janot bradava aos seus a relevância do “nosso trabalho na Lava Jato”, enquanto o coordenador político do governo Temer era flagrado negociando emendas milionários, uma emenda de R$ 8 milhões aqui, outra de R$ 7 milhões acolá. E tudo devidamente legalizado pelo controle imposto pela quadrilha ao Executivo.
Os craques conseguiram. Primeiro, tiraram do poder uma presidenta eleita, pouco importa os erros cometidos na condução da política e da economia. Tiraram por um motivo fútil com a ajuda indispensável do MPF.
O que imaginaram com a quebra da ordem constitucional? Que sir Galahad desceria dos céus, ungido pelo espírito anticorrupção emanado do MPF, e traria a paz, a bondade, a caridade e a honestidade para o Brasil? Que, depois de Dilma, tirariam Temer? O que fazer agora com a quadrilha que passou a utilizar até dinheiro das emendas parlamentares para compra de voto? Pergunte ao Janot.
Sem a onda a favor, que perdoava qualquer erro, minimizava qualquer abuso, Janot voltou à sua estatura normal. Sem noção de timing, pediu pela terceira vez a prisão de Aécio, enfraquecendo mais ainda sua posição junto ao Supremo. Agora, seus porta-vozes na mídia acenam com ações em massa contra os deputados quadrilheiros. E daí? Como manobrará os prazos, agora que entregaram ao comando da quadrilha? Como contornará o controle que impuseram ao Congresso, comprado a peso de ouro pelas emendas parlamentares?
No Twitter, uma brava procuradora buscava se consolar
“Alma quieta, espinha ereta, coração tranquilo. O @MPF_PGR fez a sua parte, dentro de suas atribuições constitucionais e legais. #orgulho
Ao que responde outro procurador, este do staff pessoal de Janot:
“Com certeza (...)! Tenho orgulho da nossa Instituição e da nossa missão de defesa da Ordem Constitucional”.
Que mané, orgulho? Objetivamente, o que fizeram foi entregar o país ao comando do mais corrupto grupo da moderna história política do país. E fizeram de maneira calculada, sincronizando os eventos da Lava Jato em momentos fatais para a deflagração do impeachment, saindo as ruas em passeatas pró-impeachment, abrindo representações contra colegas que defendiam a ordem legal. Ou não sabiam que o poder conferido à quadrilha os tornaria quase imbatíveis? O que queriam era colocar no coldre a marca da derrubada de uma presidente da República.
E, agora, qual sua estratégia para avançar contra os bucaneiros que tomaram de assalto o Congresso? Montar uma nova lista de Janot?
Como diria Millor...

Colunista do dia - Fernando Horta



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A história como arma
No início desta semana, o chefe da CIA no governo Trump, Mike Pompeo, sugeriu que a agência estaria trabalhando com o México e a Colômbia para depor o governo de Nicolás Maduro. A CIA tem inúmeras “covert actions” na sua história, e o que impressiona é que seu chefe tenha falado de uma delas. De fato, a ação na Venezuela não é mais “covert” há muito tempo. Tanto Capriles quanto Leopoldo López receberam auxílio logístico e até financeiro da CIA, faltava a confissão que Pompeo deu.
Muitos dirão que esta confissão demonstra, “mais uma vez”, que o Brasil também é alvo da CIA e que 2013-2016 seria, então, uma consequência da voracidade yankee. Eu creio que neste tipo de afirmação joga um papel forte o nosso complexo de vira-latas. Entendemos que sequer um golpe nós não temos capacidade de dar sozinhos. É muita falta de fé na nossa direita e nas nossas elites.
Não nego que estas ações possam realmente ocorrer, mas os maiores atores do golpe brasileiro são a elite capitalista (daqui e de qualquer lugar do mundo) e nossa elite política. Ainda vamos levar um tempo refletindo e pesquisando sobre os eventos no Brasil, mas, se vamos usar a Venezuela para pensar o Brasil, convém tomarmos um cuidado de ver tudo. Antes da CIA e, talvez, do próprio exército norte-americano agirem por lá, os conservadores norte-americanos já colocavam suas garras naquele país. Sempre primeiro os interesses privados se fazem estabelecer e só após, um tanto quanto relutante, o Estado norte-americano se movimenta.
Em 1999, assumia a presidência da Venezuela o coronel do Exército Hugo Chávez. Ele governaria durante 14 anos (até sua morte em 2013). Eleito com 56% dos votos em 1998, já em abril de 1999 houve a chamada de uma assembleia constituinte, que foi ratificada por voto popular em dezembro do mesmo ano, por 72% dos votantes. Em 2000, Chávez teve 60% dos votos (contra pouco mais de 37% do seu opositor), em 2004 a oposição chamou um “referendo revocatório” para tentar afastar Chávez do poder, e este teve mais de 5,9 milhões de votos de apoio, num total de 10 milhões.
Se é verdade que a abstenção seguiu crescendo nas eleições venezuelanas (em 2005, nas legislativas, chegou a 75%), também é verdade que Chávez seguia fazendo eleições e vencendo. Em 2006, foi eleito com 62% dos votos, em 2008 seu partido conquistou a maioria das eleições regionais e em 2009 Chávez emendou a constituição através de referendo para retirar o limite de reeleições, tendo obtido 55% dos votos. A oposição, já há muito articulada barrou a reforma constitucional de 2007 e comemorou em 2010 que Chávez não tinha conseguido 2/3 do parlamento. Em 2012, Chávez foi reeleito com 55% dos votos (na vitória sobre Capriles) e nas eleições regionais (ocorridas em dezembro) o partido de Chávez ganhava 20 dos 23 cargos para governadores de regiões.
Nos 14 anos de governo de Chávez, ele propôs 13 sufrágios (entre eleições e referendos), a maioria acompanhado por observadores internacionais, como o próprio presidente norte-americano Jimmy Carter. Este foi o fenômeno que impressionou às elites norte-americanas. Especialmente entre 1999 e 2001, Chávez era o principal inimigo dos EUA, muito por ter implementado sua constituição bolivariana e lutado por aumentar os preços do petróleo venezuelano que se destinava aos EUA. Em setembro de 2000, Chávez dizia, com razão, que o barril de Coca-Cola era mais caro que o barril de petróleo. O barril de Coca Cola (se ela fosse vendida em barril) custava quase US$ 79, enquanto o de gasolina custava US$ 59 dólares.
Estes dois primeiros anos foram cruciais para os ataques a Chávez. A intelligentsia americana ficou sem entender como aquele coronel conseguia tanto apoio popular, parecendo desconhecer que em 1999 mais de 4,8 milhões de venezuelanos viviam em situação de extrema pobreza e sem acesso a saúde. Isto significava um quinto da população. Se contadas apenas sobre a parcela indígena, o grau de pobreza extrema atingia mais de 50% em 1999.
Não havia a necessidade de qualquer maior evidência do que os indicadores brutos econômicos, para se ver o fracasso do Estado venezuelano até 1998. Mas os think tanks dos EUA não podiam aceitar a realidade. Postaram-se a arrumar uma outra explicação para o “fenômeno” Chávez e vieram com um absurdo: a reutilização do termo “populismo”. A primeira arma contra a revitalização da América Latina no século XXI, se ancorava no colonialismo intelectual que nossas elites sempre compram.
Décadas foram necessárias para que os pesquisadores de América Latina conseguissem a construção de um arcabouço de teorias e conceitos que fossem genuinamente produzidos na região, com significação e correção empírica. O termo “populismo”, por exemplo, passou desde a conceituações dos italianos Gino Germani e Torcuato di Tella, ainda na década de 40, até chegar a Ernesto Laclau, no século XXI, por inúmeras correções, pesquisas e discussões. Terminou, totalmente enviesado, em textos de jornalistas que mal sabiam do que falavam. Dali eram consumidos por uma classe média desprovida de ferramental intelectual e capacidade crítica, para ser apresentado com um viés negativo. Uma mácula na América.
Não, a América Latina não se transformava em “populista” a partir de Chávez. O conceito partia de uma visão errada de traição. Era usado para designar uma política de perfídia em que um governante carismático enganava a população, obtendo seus votos. Foi esta a primeira arma da luta norte-americana contra as mudanças políticas e econômicas na América Latina. É significativo que hoje Trump seja conceituado como “populista”. Mostra o quanto o conceito serve apenas politicamente aos grupos que o usam. Na esteira do “enganar o povo”, a narrativa sobre a Venezuela nunca mudou, e, para piorar, toda a América Latina foi engolfada. Do “populismo” para o “período de maior corrupção da história” foi um passo. Mesmo jornalistas malformados e mal-informados, ainda hoje, repetem este discurso.
O Populismo foi um fenômeno latino-americano que teve seu auge entre as décadas de 30 e 50, na América Latina. Os nomes mais conhecidos são Getúlio Vargas no Brasil, Juan Domingos Perón na Argentina e Lázaro Cárdenas no México. Mas, o número de líderes populistas é muito maior, entrando no grupo o peruano Victor Raul Haya de la Torre, o equatoriano José Maria Velasco Ibarra ou o colombiano Jorge Gaitán, por exemplo. O conceito é baseado em cinco características: (1) ocorre em países em meio aos processos de industrialização e urbanização, (2) com o controle dos meios de comunicação na mão do Estado ou sujeitos a este (naquele momento o rádio), (3) aproveitando-se da formação dos primeiros núcleos de proletários para monopolizar as organizações sindicais através (4) da figura carismática de um governante conciliador por meio de (5) um discurso nacionalista de defesa tanto do trabalho quanto do capital. É preciso que se tenha TODOS estes pontos para se caracterizar o líder como “populista”.
A corruptela do termo, utilizado para deslegitimar as mudanças latino-americanas, falava apenas do líder carismático que enganava os trabalhadores. A assim foi feito. É fácil ver as diferenças para o fenômeno do final do século XX, e todas elas foram ignoradas numa campanha de difamação que atingiu diretamente Chávez, Rafael Correa, Evo Morales, os Kirchner e, depois, chegando a Lula. Não foi a CIA, ou o Departamento de Estado que lançaram os primeiros ataques às revoluções sociais na América Latina pós-neoliberalismo. Também as armas não eram agentes secretos ou pressões econômicas. As primeiras e mais profundas agressões vieram a partir de um colonialismo intelectual, usando erradamente o conceito de “populismo”. A primeira arma foi, portanto, a narrativa histórica.***

Colunista do dia: Diogo Costa

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Eleição 2018: Perda de tempo #PrevisãoEleiçao2018
É pura perda de tempo ficar gastando munição com John Dólar, com Osmarina Silva ou com o Bozonaro.
John Dólar não manda absolutamente nada dentro do PSDB e não será o candidato presidencial.
Osmarina vai ser candidata para atrapalhar a esquerda, como faz desde 2010, mas não tem chance alguma (nunca teve).
Bozonaro é um coió de mola que nem sabe se será de fato candidato (os tucanos querem oferecer a ele a vaga de senador no Rio).
A disputa real, que envolve povo e PIB, será entre Lula (PT) e Alckmin (PSDB). Péssima notícia para quem não gosta da polarização entre PT e PSDB - mas ela é real e não uma miragem.
A grande esperança dos golpistas é o Picolé de Chuchu contra um Lula cercado e perseguido implacavelmente pelas instituições tucanas do MP, da PF e da "Justiça". E também pela mídia venal (Globo à frente).
Não citei o PSOL e outros partidos porque para chegar a um segundo turno é preciso fazer mais do que 1% de votos válidos.

Editorial


A urgência da Esperança não admite mais ilusões
Assim como não calaram Nelson Mandela, não calarão Lula, armado de um projeto social arrebatador de Futuro
golpe jogou a cartada com a qual pretende virar uma página dupla da história brasileira.
 
Encerrar a era Vargas e o ciclo Lula.
 
Estripou os direitos trabalhistas conquistados e defendidos ao longo de 74 anos, desde a criação da CLT, por Getúlio, em 1943; ato contínuo, condenou ao cárcere, por uma década, o maior líder popular brasileiro, Lula, de 71 anos, presidente duas vezes, favorito inconteste nas sondagens eleitorais para 2018.
 
Quis o destino que o conjunto acontecesse na mesma data em que, há 55 anos, Jango criava o 13º salário para os trabalhadores brasileiros, recebido com manchetes aterrorizantes pela mídia que dois anos depois festejaria o golpe de 1964.
 
A apoteose das últimas horas de certa forma esgota o repertório da ‘progressão’ golpista em 2017.
 
O da resistência democrática, ao contrário, pode enrijecer.
 
Longe de ser o fim, a tentativa conservadora de inocular prostração na sociedade, poderá inaugurar uma escalada de mobilizações e impor maior clareza programática no projeto de futuro capaz de unir a frente popular e arrebatar o país.
 
A prefiguração do futuro preconizado pelo golpismo é medonha.
 
Com certa soberba histórica nem se disfarça a pindaíba social reservada à nação brasileira.
 
A sofreguidão reflete de certa forma o escaldado retrospecto das oito vezes em que essa ofensiva foi interrompida, em meio século de luta de classes.
 
Em 1954, pelo levante popular após o suicídio de Vargas; em 1961, na campanha da legalidade pela posse de Jango; em 1984, na luta pelas Diretas Já! -- derrotada, mas que levou à conquista superior da Carta Cidadã, de 1988 e, finalmente, nas quatro vitórias presidenciais sucessivas de Lula e Dilma em 2002, 2006, 2010 e 2014. Era demais o risco de um novo revés em 2018.
 
Derrubar Dilma para inviabilizar Lula fazia parte do ciclo político da tolerância conservadora em nossa história. Erros na condução da crise econômica serviram apenas de lubrificante: a engrenagem já fora acionada quando as urnas de 26 de outubro de 2014 refugaram, pela quarta vez sucessiva, o projeto antissocial e antinacional ora imposto à nação.
 
A ofensiva revanchista culminada nas últimas horas calcifica as representações dos trabalhadores (sindicais e partidárias), sangra sua estrutura financeira, ataca sua credibilidade e busca encarcerar sua principal voz.
 
Se o nome disso não é golpe será preciso inventar um outro para defini-lo.
 
A existência altiva de uma organização de trabalhadores constitui um freio inestimável às arremetidas da barbárie capitalista em qualquer época, em qualquer sociedade.
 
Dispensar à destruição do PT e de Lula uma centralidade equivalente a atribuída pelos mercados à revogação do direitos sociais e trabalhistas explicita a funcionalidade de Moro.
 
O seletivo afinco do juiz da praça de Curitiba em atender à demanda política número um do conservadorismo -- calar a única voz ouvida por aqueles aos quais a Globo gostaria de falar sozinha-- é um requisito para viabilizar a restauração do trabalho avulso diante da coesão patronal.
 
Descortina-se –mesmo aos olhos antes distraídos—a natureza do futuro que se reserva à sociedade brasileira: uma nação feita de gente barata, um país entregue ao abismo da desigualdade abissal, sem laços compartilhados no trabalho, na velhice e no ganha pão.
 
Esse Brasil mexicanizado, de vidas ordinárias, entregues ao arbítrio do mercado e das gangues, mimetiza, num país de carências bíblicas, as incertezas e vicissitudes do voo turbulento do capitalismo global, em um estágio de mutação desordenada.
 
O discernimento do futuro inscrito na apoteose golpista pode gerar no eleitor de 2018 o efeito que se quer prevenir com a eliminação de Lula da urna. É ostensivo o anseio conservador pela condenação ‘célere’ do candidato que lidera as sondagens, como pede o editorial da Folha no dia seguinte à sentença de Moro. 
 
A tentativa da destruição gêmea de Lula e dos direitos sociais e trabalhistas desnuda perigosamente a virulência dos marcos do projeto conservador para o país.
 
A literalidade dos impactos na vida cotidiana, sobretudo dos mais humildes que perdem a proteção da lei e a voz que poderia representa-los pode ser a tocha de uma espiral de conflitos de consequências imprevisíveis.
 
O golpe de 1964 levou quase cincos anos para encontrar um chão ‘institucional’ baseado no terror, na tortura e na censura.
 
A manipulação midiática e a farsa de um parlamento contra o povo não serão suficientes para sustentar a reordenação conservadora atual, se for escancarada a sua âncora de des-emancipação social. 
 
A verdade é que o esgotamento da ordem neoliberal no mundo requisita um poder de coordenação econômica e de planejamento democrático inverso ao que se desenha aqui.
 
Reduzir o país a uma dívida pública paga em dia, a juros suculentos, às custas da agonia falimentar dos serviços públicos, dos direitos, da renda e do emprego só é viável no imaginário de quem já se dissociou até fisicamente do destino da sociedade e da sorte do seu desenvolvimento.
 
Quem? 
 
A minoria rentista que da escada do avião acena recomendações de uma dantesca ‘purga’ na Constituição de 1988 para equilibrar ‘o fiscal’, às favas o povo, esse estorvo da boa finança (leia nesta pág. http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditorial%2FBye-bye-Brasil%2F38336).
 
O jogo, portanto, atingiu o ápice da violência de classe.
 
Não é temerário prever um aguçamento do conflito social no período que se abre.
 
Com um agravante.
 
Inabilitadas pela ruptura da legalidade, as instituições mediadoras, a exemplo de uma parte ostensiva do judiciário --sem falar da mídia e da escória parlamentar de despachantes do mercado-- perderam sua credibilidade ao se acumpliciarem na demolição do pacto da sociedade sem consulta-la.
 
Após quatro derrotas presidenciais sucessivas, sendo a última, de outubro de 2014, com seu quadro mais palatável, as elites decidiram queimar as caravelas e os escrúpulos que supostamente ainda carregariam. 
 
Fizeram-no, como se constata na escalada do cerco ao PT e à Carta de 88 convictas de que só escavando um fosso profundo na ordem constitucional teriam o poder necessário para a demolição requerida.
 
Aquela capaz de transformar a construção inconclusa de um Brasil para todos, na recondução da ordem e do progresso para os de sempre. 
 
Não deixam dúvida as encomendas e as entregas: o golpe veio apunhalar a democracia para atingir o interesse popular. 
 
Vem aí um vergalhão de privatizações e abastardamento de serviços essenciais.
 
Reafirma-se a rigidez recorrente da velha fronteira histórica onde acaba a tolerância do dinheiro e do mercado e começam as bases da construção de uma sociedade mais justa na oitava maior economia do planeta.
 
‘A democracia prometeu mais do que o capitalismo pode conceder sem mergulhar a economia em uma crise fiscal desestabilizadora’, martelam diuturnamente os colunistas do jogral midiático que não cogitam jamais de uma reforma que estenda, por exemplo, a coleta de tributos aos R$ 334 bilhões em lucros e dividendos –isentos de IR—apropriados em 2016 por pessoas físicas das faixas de renda mais altas da sociedade.
 
Ao contrário.
 
O que se enxergou do esgotamento de um ciclo de expansão, agravado pela crise econômica global, foi a oportunidade para um acerto de contas capaz de fazer o serviço completo.
 
Cortar o ‘mal’ pela raiz.
 
Explica-se assim a sanha do assalto às fontes originárias da universalização de direitos na sociedade, desde a CLT de 1943, à Constituição Cidadã de 1988 e o partido que deles se tornou o principal promotor.
 
Pode dar errado.
 
Ter um Estado que trata encargos sociais como estorvo do mercado, por mais que gere uma euforia inicial nos donos do dinheiro, não resolverá as grandes pendências nacionais emolduradas por um pano de fundo desafiador.
 
O capitalismo revira os nós de suas tripas em uma transição épica de padrão tecnológico. 
 
O salto da industrialização 4.0 baseada na robótica, na integração e digitalização dos processos vai ralear e atomizar o mundo do trabalho e desse modo toda a sociedade. 
 
A indústria continuará vital como núcleo irradiador de produtividade e tecnologia na sociedade. Mas será cada vez menos o núcleo ordenador do emprego e dos direitos. 
 
A dispersão laboral que a esperteza conservadora quer acelerar aqui com a implosão da CLT e o barateamento da previdência aponta para uma fragmentação social de consequências imponderáveis.
 
Só a ação planejadora da democracia e do Estado pode impedir que isso transborde em anomia conflitiva, violenta e desesperada.
 
Eis o paradoxo da política de estabilização golpista.
 
A coesão social hoje passa a depender cada vez mais –e não menos-- de políticas públicas amplas, massivas, inclusivas que a sabedoria fiscal dos ‘reformistas’ aqui trata de desossar.
 
O modelo atual de previdência social de fato se esfumou num horizonte de emprego instável e escassos vínculos trabalhistas.
 
Mas a miopia ideológica do conservadorismo extrai daí a oportunidade de apagar o incêndio social com o maçarico da exclusão . 
 
A alternativa ao caos existe.
 
A seguridade social do futuro terá que ser financiada com um imposto geral, progressivo, cobrado de toda a sociedade. O contrário é o apartheid da velhice –e não apenas dos pobres, mas também da classe média-- em privação, abandono, desespero familiar e depósitos de barbárie.
 
O mesmo vale para os demais bens e serviços.
 
No dizer do professor Luiz Gonzaga Belluzzo (que recomenda o filme de Roberto Andó, ‘As confissões’, de onde deriva a enunciação de um personagem para adaptá-la à hora do Brasil) --‘Se queremos reaver a esperança, não podemos mais oferecer ilusões’.
 
A esperança capaz de levantar a rua e redimir os laços sociais em nosso tempo não nascerá da nostalgia de um padrão de desenvolvimento irrecuperável.
 
Nem do seu ‘ajuste’ pelas mãos dos alfaiates das crises humanitárias. 
 
A reforma estabilizadora e crível virá de políticas públicas que inovem diante das incertezas sociais e laborais, e respondam com justiça tributária ao desamparo que estilhaça e subordina a sociedade à ganância financeira.
 
Não por acaso, o que mais se evidencia nessa ciclópica transição emendada à crise de 2008, é a falta que faz agora tudo o que foi subtraído do Estado e da democracia no ciclo neoliberal anterior à explosão das subprimes – regulações, direitos, soberania, garantias trabalhistas, tributação da riqueza --que cedeu lugar ao endividamento paralisante do Estado, salários dignos, indução pública do investimento, amparo social enfim, laços de pertencimento e solidariedade fiscal e humana.
 
A virulência anacrônica do golpe brasileiro quer nivelar o país nesses quesitos, implodindo estruturas que o ciclo de governos progressistas preservou e ampliou.
 
Sua vitória pode estar fadada a ornamentar o cemitério da estagnação e o inferno da desigualdade. 
 
A volta da fome ao país, denunciada agora à ONU, é um sinal da combustão social que arde com rapidez assombrosa. O quadro falimentar do estado no Rio de Janeiro velado por uma procissão de corpos que cresce à razão de um assassinato a cada duas horas é outro grito de alarme.
 
A conclusão explode aos olhos de quem não foi contaminado pela cegueira tóxica do jornalismo isento.
 
Falta investimento público, falta demanda, faltam oportunidades, inclusão e sentido de esperança no capitalismo do século XXI. 
 
Esse corner humano e macroeconômico que o golpe mimetiza para barrar reformas e retificações de privilégios --requeridas pelo esgotamento do ciclo anterior de expansão-- é justamente o desafio ao qual o projeto progressista terá que responder com o desassombro histórico. 
 
A resposta conservadora é a ‘noite de São Bartolomeu’ em marcha que instaura a paz salazarista dos cemitérios.
 
Graças ao monopólio midiático, interditou-se o debate das alternativas à delicada transição de ciclo econômico (local e global) para a qual não existe saída fora da repactuação da sociedade em torno de políticas que fortaleçam, não esmaeçam, as dimensões compartilhadas do presente, do futuro e do passado da cidadania.
 
A manipulação midiática logrou assim avalizar ‘soluções’ que na verdade radicalizam a contraposição de interesses unilaterais, privilegiam os mercados e não os cidadãos, impõem uma regressão civilizacional inconciliável com a manutenção do Estado democrático e, por fim, corroem aquilo que tão arduamente se reconquistou, a autoestima brasileira.
 
Sobra o quê? 
 
Uma ruptura mais profunda do que a mera destituição de um Presidente da República.
 
De diferentes ângulos da economia e da sociedade já emergem avisos de saturação estrutural.
 
Em 1964, a transição rural/urbana impulsionada pela ditadura militar abriu uma válvula de mobilidade momentânea –às custas de uma urbanização de periferias conflagradas-- para as contradições violentas de uma sociedade que já não cabia no seu modelo anterior. 
 
Mesmo com essa válvula de escape, a repressão do regime foi brutal. Hoje não há fronteira geográfica ‘virgem’ para amortecer a panela de pressão da nova encruzilhada do desenvolvimento turbinada pela finança e a tecnologia poupadora de empregos e direitos.
 
As legiões que não couberem aí serão escorraçadas, como estão sendo, pela explosiva segregação que se anuncia, atiradas a uma periferia constitucional e, assim, coagidas a reagir de forma explosiva ou perecer.
 
Erra esfericamente quem imagina que esse estirão pode ser mitigado com a maciça entrega do que sobrou do patrimônio público depois do governo do PSDB.
 
Privatizações não agregam força produtiva nem vagas; apenas concentram ainda mais a renda; definham adicionalmente o já enfraquecido poder indutor do investimento público, reduzem o fôlego do Estado com remessas descasadas de receitas exportadoras. 
 
Radicalizam , enfim, o que o país mais precisa superar.
 
A reedição de um novo ‘1964’ exigiria, desse modo, uma octanagem fascista drasticamente superior à original, para prover o aparelho de Estado do poder de coerção necessário à devolução da pasta de dente social a um tubo que na verdade nem existe mais. 
 
Não há uma terceira escolha. 
 
É voltar às urnas na esteira de forte mobilização da sociedade; ou entregar a nação a uma ‘longa noite de exceção’ de desdobramentos incontroláveis.
 
Essa é a disjuntiva. 
 
Moro se empanturrou da ração midiática na qual foi cevado nos últimos anos. 
 
A sentença com a qual pretende ‘limpar esse terreno’, interditando o nome de quem pode barrar a imissão de posse violenta, não vai mudar, nem resolver a encruzilhada estrutural da qual Curitiba é um simples adereço de mão do conservadorismo.
 
A opção à deriva imponderável cabe à resistência democrática progressista --se cumprir certos requisitos. 
 
Ela terá que ser construída nas ruas, a partir de um desassombrado aggiornamento de sua visão de futuro.
 
A esperança capaz de levantar as ruas –repita-se—não admite mais ilusões. 
 
A repactuação do desenvolvimento brasileiro só deixará de ser uma miragem flácida se calcada em amplas políticas de infraestrutura e inclusão social –inclusive dos filhos de uma parte expressiva da classe média que terão que se inserir em sistemas públicos de educação, saúde e lazer. 
 
O novo é o que é público e comum. Assim como as escalas se ampliam na economia das grandes corporações, elas terão que ser magnificadas também na esfera dos acessos e direitos consagrando o bem comum. 
 
Moro não calará Lula, assim como não silenciaram Mandela, se ele se tornar desde já o porta-voz desse arrebatador projeto de futuro compartilhado.
 
Aquele que repactua a nação consigo mesmo e com o século XXI através de políticas públicas e tributárias que viabilizem o que a elite brasileira – e sua escória parlamentar—se empenha em sonegar: o direito de a maioria sair da soleira do lado de fora do país e da civilização para desfrutar da principal riqueza do nosso tempo: direitos, oportunidades, serviços e espaços públicos dignos para todos.

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