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Entre um burro e um canalha, não passa o fio de uma navalha
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Na abertura do 8o Congresso Nacional do Ministério Público, o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, foi incisivo: o Ministério Público se orienta pela Constituição, e não se fala mais nisso.
Disse mais: — Afirmo aos senhores e senhoras que uma instituição plural, democrática e altiva como é o Ministério Público brasileiro jamais estaria a reboque dos acontecimentos, de pessoas ou de interesses menores. Ao contrário, fomos moldados pelo constituinte para ser uma instituição de vanguarda, que dita o próprio caminho e que busca como norte apenas as leis e a Constituição.
Consta que, quando soube do teor das conversas de familiares de Lula, divulgadas pela força tarefa da Lava Jato com o seu consentimento, Janot teria reagido com uma gargalhada. Não sei se procede. Mas sei que foi graças ao seu empenho pessoal, dos procuradores da Lava Jato, da adesão de procuradores por todo o país, conseguiu-se o feito de consolidar no comando do país uma organização criminosa.
O MPF se tornou uma instituição tão de vanguarda que conseguiu bater a Operação Mãos Limpas. Na Itália foi necessário aguardar as eleições para chegar um Berlusconi. Por aqui, entregaram o país a seco para Temer, Padilha, Moreira e companhia. Enquanto ocorria o banquete dos piratas no Congresso, o nobre Janot falava para a história:
— A resposta positiva da sociedade ao nosso trabalho na Lava-Jato, bem como o severo crivo pelo qual sempre passaram nossas investigações no Poder Judiciário, inclusive no Supremo Tribunal Federal, demonstra que aquilo que alguns poucos inconformados chamam, levianamente, de loucura é, de fato, apenas o cumprimento sério e honesto de um mandato constitucional.
Janot bradava aos seus a relevância do “nosso trabalho na Lava Jato”, enquanto o coordenador político do governo Temer era flagrado negociando emendas milionários, uma emenda de R$ 8 milhões aqui, outra de R$ 7 milhões acolá. E tudo devidamente legalizado pelo controle imposto pela quadrilha ao Executivo.
Os craques conseguiram. Primeiro, tiraram do poder uma presidenta eleita, pouco importa os erros cometidos na condução da política e da economia. Tiraram por um motivo fútil com a ajuda indispensável do MPF.
O que imaginaram com a quebra da ordem constitucional? Que sir Galahad desceria dos céus, ungido pelo espírito anticorrupção emanado do MPF, e traria a paz, a bondade, a caridade e a honestidade para o Brasil? Que, depois de Dilma, tirariam Temer? O que fazer agora com a quadrilha que passou a utilizar até dinheiro das emendas parlamentares para compra de voto? Pergunte ao Janot.
Sem a onda a favor, que perdoava qualquer erro, minimizava qualquer abuso, Janot voltou à sua estatura normal. Sem noção de timing, pediu pela terceira vez a prisão de Aécio, enfraquecendo mais ainda sua posição junto ao Supremo. Agora, seus porta-vozes na mídia acenam com ações em massa contra os deputados quadrilheiros. E daí? Como manobrará os prazos, agora que entregaram ao comando da quadrilha? Como contornará o controle que impuseram ao Congresso, comprado a peso de ouro pelas emendas parlamentares?
No Twitter, uma brava procuradora buscava se consolar
“Alma quieta, espinha ereta, coração tranquilo. O @MPF_PGR fez a sua parte, dentro de suas atribuições constitucionais e legais. #orgulho”
Ao que responde outro procurador, este do staff pessoal de Janot:
“Com certeza (...)! Tenho orgulho da nossa Instituição e da nossa missão de defesa da Ordem Constitucional”.
Que mané, orgulho? Objetivamente, o que fizeram foi entregar o país ao comando do mais corrupto grupo da moderna história política do país. E fizeram de maneira calculada, sincronizando os eventos da Lava Jato em momentos fatais para a deflagração do impeachment, saindo as ruas em passeatas pró-impeachment, abrindo representações contra colegas que defendiam a ordem legal. Ou não sabiam que o poder conferido à quadrilha os tornaria quase imbatíveis? O que queriam era colocar no coldre a marca da derrubada de uma presidente da República.
E, agora, qual sua estratégia para avançar contra os bucaneiros que tomaram de assalto o Congresso? Montar uma nova lista de Janot?
Como diria Millor...