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Artigo do dia


Lados opostos, a mesma estratégia, por Ricardo Cappelli
Quando se avalia movimentos na guerra, pouco importa os valores que cada um representa. É a análise do que realizam no teatro de operações o que conta.
Vejam os movimentos de Bolsonaro. Doria ameaça levantar voo e seu jatinho leva um tiro de bazuca do Planalto. Witzel põe a cara de fora e o Capitão escala um sniper para acertá-lo. Moro, o mais popular, é trancado impiedosamente na solitária.
Até Luciano Huck – que não é da turma, mas pode dar umas beliscadas no filé – é alvejado.
O presidente tem uma estratégia clara. Uma agenda ultraliberal na economia e conservadora nos costumes. Reúne evangélicos, financistas, o agronegócio e parte da grande mídia.
Para que o projeto de reeleição fique de pé, não pode permitir que ninguém entre no seu cercadinho. Delimitá-lo bem é uma obsessão. Se Guedes não produzir um desastre econômico, algo entre 25 e 30% dos votos será suficiente para levá-lo ao segundo turno.
Vamos para o outro lado?
Vejam os movimentos do PT. É pouco provável que outro candidato, isolado, tenha mais votos que um petista, seja ele quem for. Na outra ponta do espectro ideológico, o partido de Lula ainda reina soberano.
A pancadaria com Ciro é cotidiana, difícil dizer quem começou. A esquerda tentou ampliar, se juntar com outras forças? Pau nesta “pseudo-esquerda” que abre mão de pautas estratégicas, de direitos, da soberania e etc. A polêmica em torno do movimento “Direitos Já!” é ilustrativa.
O PT não participa porque o movimento pode atrapalhar o seu projeto de poder. A decisão do partido é legítima e deve ser respeitada.
Mas o argumento da ausência da “agenda Lula” como pauta central é um “bode”. Se Lula sair da cadeia amanhã – o que seria ótimo -, arrumarão outro pretexto. Estão errados?
Se a fragmentação lhes garante uma vaga no segundo turno, por que perderiam protagonismo numa Frente? Ninguém deixa de dar as cartas porque é bonzinho.
O cálculo dos companheiros segue uma lógica. Responsabilidade e altruísmo são palavras bonitas que não costumam comparecer às grandes decisões políticas da história.
Na hora H, o que conta mesmo é a velha frase de Stalin: “quantas divisões tem o Papa?”
Bolsonaro tem convicção que derrota o petismo. O PT aposta que derrota o Capitão. Por isso se escolhem como adversários executando táticas parecidas. Radicalizam e defendem suas posições nos pólos com unhas e dentes à espera do tira-teima. Estão equivocados? Qual será o resultado deste eventual embate?
Não há no momento qualquer força maior que o Bolsonarismo ou o Lulopetismo. Quem quiser construir alternativa a esta polaridade, vai ter que tentar juntar um conjunto de forças e atores. Não haverá Don Quixote no meio de dois gigantes.
Remar contra a maré sempre é possível. Mas na guerra as vontades valem pouco. Será preciso encontrar aliados e construir um exército alternativo com urgência.  As eleições municipais estão chegando.

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P.S. - no Brasil a eleição presidencial é desligada totalmente da eleição municipal. Portanto o resultado eleitoral do ano que vem servirá apenas para manter discurso.

#LulaLivre



De São Bernardo a São Bernardo, por Ricardo Cappeli
A prisão de Lula estava dentro do roteiro traçado pela reação. A ofensiva teve início com a prisão de Zé Dirceu. A derrubada de Dilma foi o aperitivo. A prisão do ex-presidente, o esperado prato principal.
Uma coisa é prever, escrever, outra é ver a injustiça e a covardia acontecendo na sua frente. Uma derrota estratégica da esquerda brasileira.
Apesar da heróica resistência, a tristeza tomou conta dos que lutam por um Brasil livre, soberano e justo. Doeu, doeu muito ver Lula entrando naquele carro preto.
Luís Inácio foi um gigante. Rasgou sorrindo o roteiro que Moro havia pactuado com a Globo. Como sempre, escreveu sua própria história com coragem, força e inteligência. Desenhou a foto que correu o mundo. A bravura da militância presente demonstrou que a luta está longe do fim.
Na disputa de narrativas, a defensiva da Folha e a repercussão na mídia internacional demonstram que saímos vitoriosos.
É cedo para avaliar as conseqüências. O Lulismo segue vivo com ares de beatificação. A “Aliança do Coliseu”- bloco liderado pela Globo com setores antinacionais da burocracia estatal - dobrou a aposta. É difícil prever como o povo reagirá.
Pesquisa encomendada pelos Tucanos sobre a prisão de Lula explica a atitude tímida do PSDB. Nela aparece que o povo é contra a corrupção, claro, mas está se perguntando: “por que só Lula preso?” É insustentável. Este dado reforça os rumores de que podem entregar cabeças de alguns dos seus para tentar “lavar a prisão de Lula”.
O Pernambucano radicado em São Paulo começou sua vida política em São Bernardo liderando o sindicato dos metalúrgicos do ABC. Foi crescendo, ampliando, conquistando outros setores sociais, atraindo outros partidos para seu projeto de poder até deixar o Palácio do Planalto nos braços do povo.
O ato em São Bernardo do dia 7 de abril de 2018 estará nos livros de história. O Brasil da esperança está na mesma cela de Lula. Forças internacionais poderosas atuaram e atuam para desintegrar a nação.
Ao olhar as imagens pela TV e as presenças no carro de som, uma reflexão é inevitável. Por que voltamos para São Bernardo? Por que apenas PT, PCdoB e PSOL no ato? Voltamos por opção ou fomos empurrados, encurralados?
É pouco provável que Lula saia da cadeia antes das eleições. Minha cota de ilusões com eventuais piruetas jurídicas a nosso favor acabou.
Rosa Weber, que o jornalista Luís Nassif muito bem definiu como “aquela que fala Javanês”, depois de se esconder atrás do excêntrico “princípio da colegialidade”, prepara outro esconderijo com a Globo: a não alteração da segunda instância dentro do princípio da “Jurisprudencialidade”.
O Lulismo está longe de estar morto, mas vivemos a situação mais adversa das últimas décadas. Eles possuem um canhão de comunicação com o povo. O único do nosso lado capaz de disputar a narrativa, ouvido e respeitado, foi tirado de cena por um fascismo judiciário eivado de ilegalidades.
E agora? Para onde vai a esquerda?
O PT sai deste processo com a identidade fortalecida. Sem o ex-presidente arbitrando as visões distintas que habitam a legenda é difícil prever para onde irá. A nova realidade é objetiva. Os fatos têm pernas próprias, muitas vezes incapazes de aguardar uma orientação semanal.
Nada estratégico acontecerá sem que Lula seja ouvido. Mas a complexidade da situação vai impor limites.
É natural que o PT mantenha sua linha de ter Lula como candidato e registre a candidatura no dia 15 de agosto. “Liberdade para Lula” é a insígnia que deve mover todos os democratas daqui para frente.
Por outro lado, a dura realidade sinaliza que os pudores não existem mais. Fux, presidente do TSE, já declarou que o ex-presidente é “iregistrável”.
Ciro, um quadro extraordinário, foi novamente traído por seu temperamento. A ausência de líderes do PDT foi sentida. Nos momentos de alegria pode-se faltar à festa. O mesmo não pode se dizer nos momentos de dor e martírio.
Por hora, parece ter ficado mais longe a possibilidade do líder pedetista ser a expressão de um campo. Ao confundir a suposta defesa do PT com a luta democrática e nacional, cometeu um erro que pode lhe custar caro.
O encarceramento de Lula aumenta as chances de Joaquim Barbosa ser candidato pelo PSB. A bancada socialista está fechada com ele. A ausência do ex-presidente pode arrefecer a resistência que existe por parte de alguns governadores. Com Alckmin patinando, pode interessar inclusive a Márcio França.
Independentemente dos movimentos que aconteçam na frente do palco, todos legítimos, o campo popular e democrático só terá chance se houver unidade. O esfacelamento levará todos para o precipício.
É preciso quebrar o isolamento a que estamos submetidos. O impeachment nos empurrou para o canto do ringue. É preciso romper com a lógica de golpistas e não golpistas. Precisamos unir a esquerda para, a partir de um pólo, tentar atrair forças mais amplas.
Apenas um candidato à Presidência da República do campo. Um candidato desta Frente Ampla a governador em cada estado. Precisamos sair de São Bernardo e ocupar novamente o Brasil com uma ampla rede de alianças democráticas contra a ameaça fascista.
Uma eleição sem Lula estará irremediavelmente marcada pela falta de legitimidade.Infelizmente, parece ser este o campo de batalha que se apresentará. Vencer utilizando as armas que possuímos será a vitória de Lula e da democracia.
Os dias que se avizinham serão de enormes dificuldades. O pecado da disputa pela hegemonia do nada vai nos rondar. Que a sabedoria esteja conosco.