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Papo de homem

A autencidade e o exemplo imperfeito de Oscar Wilde

Dos três elementos de estética de que tratei (expressão, presença e horizonte), ligados aos três critérios éticos (caráter, virtude e felicidade), os primeiros (expressão e caráter) estão conectados com a ideia de autenticidade.

A autenticidade é, portanto, um pré-requisito para a formação das heurísticas da economia da atenção (os critérios e metacritérios que usamos para nos embrenhar no mundo dos fenômenos cognitivos internos e externos).

“Seja você mesmo, os outros já foram cooptados.”

– Oscar Wilde

Um movimento da virada de século XX, o esteticismo, de onde ainda batem hoje as ondas da “arte pela arte” e tantos outros conceitos mais ou menos claramente vinculados com a fonte, teve como grande expoente o gênio da ironia fina aforística, a elusiva wit (traduzida como “espirituosidade”), Oscar Wilde.

Wilde é uma figura interessante para nossa era “pós-pós” como típico da modernidade já se deparando com aspectos e tensões da pós-modernidade. Seu principal romance, O Retrato de Dorian Gray, lida com as questões estéticas da duplicidade, isto é, a falta de autenticidade.

O esteta, na sua qualidade quixotesca, já ridicularizada na época de Wilde, assume seus ideais como valores naturalmente acima e intocáveis pelas configurações sociais. A barganha faustiana aqui segue na mesma velha dicotomia céu/inferno, antevendo o “inferno são os outros”; e, também, “o céu são as minhas prerrogativas”, no caso de Wilde, “meu ideal de beleza”, não corrompido por qualquer moral.

Beleza desvinculada de ética que ganha, hoje, a dimensão além do pertencimento, a preocupação não só com aqueles que escolhemos (como próximos, como queridos), mas principalmente para com aqueles que desprezamos, desconhecemos ou aparentemente não têm “nada a ver conosco” — embora para o esteticista, os mores particulares da classe alta britânica fossem mais o alvo do que essa visão mais atemporal e neutra da ética.

Também por isso, é extremamente complexo entender a vida de Wilde em nosso contexto atual. Eu, como ele mesmo, reconheço sua vida como uma tragédia e consigo admirar a obra, ainda que veja a arte e vida de forma diametralmente oposta a Wilde. Isso pode ser assim porque, a meu ver, um dos aspectos da “arte pela arte” do estetismo curiosamente se “purifica” da ausência explícita de visão ética, por um motivo bastante abstrato: a arte pela arte no seu ápice não venderia ou propagandearia a noção de “arte pela arte”; não ideologizando, deliberadamente evitaria a propaganda, até mesmo de si própria. Exporia o artista nu em sua contradição. Bom, quem dera.

A contradição em Wilde tem a ver com a autenticidade.

A homoafetividade muitas vezes foi (embora seja cada vez menos) uma das maiores fontes de duplicidade, obviamente porque surge em tensão com as expectativas da cultura. Ora, para qualquer tipo de outsider — deliberado ou não –, o inferno é, em grande medida, de fato os outros.

Porém, na cabeça vitoriana, e na cabeça de Wilde, moral e — seria adequado dizer aqui “opção sexual”? A configuração, digamos assim, do foco dos desejos do indivíduo (tendo ela uma dimensão deliberativa ou não) –, enfim, “esse segundo aspecto”, eram naturalmente conflagrados. Afinal, ética e os mores da sociedade britânica, como de praxe, eram aglomerados na perspectiva vitoriana — isto é, não havia noção de mores universais, ou valores éticos além dos costumes (o que etimologicamente soa um contrasenso mesmo).

Em certo sentido, há várias dimensões morais (éticas) na sexualidade: há o consentimento, há consequências biológicas (doenças, prole) e sociais (laços, contratos, expectativas) — mas na nossa cabeça pós-pós, homossexualidade simplesmente não é mais uma questão moral. Isso é coisa de moralidade prescritiva religiosa, tradicional, assim vemos.

Dois adultos consensuais fazem o que querem, tenham o gênero que tiverem: essa é nossa visão ética. Se ambos tiverem tesão, mas acreditarem na Bíblia, azar o deles — não temos nada a ver com as opções míticas das pessoas. Tire as patinhas daí, não venha me julgar de acordo com seus mores mórmons…

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Claro, há quem ainda mantenha que a homoafetividade é uma infração ética de algum tipo (como há gente em religiosidade medieval) — mas há duas categorias aí: os que acham que ela é imoral e são contra ela, e os que acreditam que ela é imoral e são contra noções de moral de qualquer tipo! Assim, teoricamente, era o esteta, o decadente, na era vitoriana. A dimensão moral permanecia, ela só era desafiada.

Pode parecer que tergiverso — podemos ser inautênticos ou dúplices de infinitas formas, e a homossexualidade na época vitoriana é apenas um exemplo dramático, e feito mais dramático ainda em se tratando de alguém tão preocupado com a autenticidade quanto Wilde. Poderíamos estar falando de alguém que segue uma carreira por pressão da família, ou do adolescente que finge gostar da música que o alvo de sua azaração admira.

Ou podemos falar do “desespero contido” das classes médias, do espalhafato do novo rico, da vergonha da pobreza, ou do falso contentamento do “dinheiro velho”… há duplicidade entre amigos, entre colegas e nos casais — e principalmente no Facebook dos momentos bem filtrados, e onde até os gritos por ajuda surgem como ironia.

Em qualquer âmbito, é possível perder o caráter, não estar ciente de si próprio e do outro, e resvalar para uma situação em que é difícil “escolher” (ou se aceitar em) uma forma de aparição.

Porque Oscar Wilde não é visto hoje exatamente como um mártir dos direitos civis homossexuais? Porque ele, por uma série de razões, muitas delas bastante compreensíveis, fracassou profundamente em ser autêntico. Como Dorian Gray, ele levava a vida de um esteta e um criminoso — por mais que nós entendamos que não era abominável em sua homoafetividade, para ele mesmo isso ainda não era claro, como o comportamento dele atesta.

Parte do problema é a confusão, própria da época, entre moralidade e esse sentido de sexualidade, sensualidade, estética, arte. Ora, Wilde e os outros estetas pregavam uma total separação entre ética e estética. O que se queria dizer com isso? Que a arte não servia para nos dizer como agir, não servia a um fim didático, não devia proselitisar, fazer propaganda. O que soa até muito bem. Mas ao que ela serve? Ela serve apenas para provocar sensações, de deleite ou de outros tipos. E talvez aí nisso haja certa limitação.

O seguinte trecho de transcrição do tribunal incriminou Wilde:

Charles Gill (advogado de acusação): O que é o “amor que não ousa dizer o próprio nome”?

Wilde: “O amor que não ousa dizer o próprio nome” neste século é um afeto de um um homem mais velho por um jovem, como o que existia entre Davi e Jonatas, como o que Platão tinha como a própria base da filosofia, e como o que está nos sonetos de Shakespeare e Michelangelo, e aquelas duas cartas de minha autoria, do jeito que são.

Neste século esse amor é incompreendido, tão incompreendido que pode ser descrito como o ‘amor que não ousa dizer o próprio nome’, e devido a ele que estou nessa situação aqui agora. É belo, é refinado, é a forma mais nobre de afeto. Com relação a ele não há nada que não seja natural.

É intelectual, e surge frequentemente entre um homem mais velho e um mais jovem, quando o mais velho tem intelecto, e o mais jovem tem tem toda a alegria, esperança e glamour da vida pela frente. Que ele seja assim, o mundo não entende. O mundo o ridiculariza, e algumas vezes nos coloca no pelourinho por causa dele.”

Sensação ou abstração? A quem pertence o eufemismo? Wilde disse tudo que era necessário para incriminá-lo. Se ele houvesse mentido de forma mais clara, até mesmo isso seria mais autêntico. Ele escolheu uma meia verdade que foi suficiente para a corte: não era nem bem verdade, nem foi prático.

Um mundo ideal como um balão desvinculado de tudo: das ignorâncias, dos sofrimentos, da própria verdade do quarto. Só algo com a aparência de sinceramente belo, mas que não diz nada a não ser o que, alas, a corte queria (e simultaneamente não queria!) ouvir. Pura sensação.

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O esteticismo também está associado, ou até pode ser mesclado com, o decadentismo e o simbolismo. O Retrato de Dorian Gray esfregava homoerotismo na cara do vitoriano — havia certa afetação sensacionalista em tratar do tema de uma forma simultaneamente tão direta e tão velada.

E não estou dizendo que a grande obra era isso, ou que isso sequer diminua seu valor: mas era também isso. Lorde Byron e seus excessos, Baudelaire e suas flores malvadas e paraísos artificiais, Aleister Crowley e o bad boy como sensação dos tabloides: mesma coisa. Esse é o nascimento do outsider como anti-herói, do rockstar.

Parte do estetismo era viver a arte, e isso incluía a afetação de ser uma celebridade, de causar comoção por não estar nem aí para o que os outros pensam, isto é, no fim se encontrando na verdade muito aí para o que os outros pensam.

Wilde foi, portanto, vítima (além de um tempo e espaço particular) do próprio jogo perigoso que jogava. Nunca admitiu (na época, publicamente) a própria homossexualidade como mais que platônica, mas definhou na cadeia por ela. Ora, se queria ser um mártir, começar uma causa que nem mesmo publicamente existia ainda, se é que a figura do gay (ou instância qualquer LGBT) ativista moderno pudesse existir na época, ele não teria cometido perjúrio, apenas escancarado que o amor dele era puro e físico.

Mas não, ele não queria essas coisas, preferiu mentir que praticava a veadagem dos anjos, sem genitais. Confessou amar homens, mas só lá no santuário platônico: não quis entrar nos detalhes da chuca.

Stephen Fry como Oscar Wilde, na cinebiografia “Wilde” (1997). Fry é homossexual, brilhante e autêntico. Seu documentário sobre a própria bipolaridade “Secret Life of the Manic Depressive” é bem interessante
Stephen Fry como Oscar Wilde, na cinebiografia “Wilde” (1997). Fry é homossexual, brilhante e autêntico. Seu documentário sobre a própria bipolaridade “Secret Life of the Manic Depressive” é bem interessante
Talvez isso não fosse uma opção, contemporizo, embora fosse: era só ir viver na França — apenas que a graça, para esse irlandês, era chocar os ingleses. Mas não foi só ele quem sofreu pela dança estética perigosa da ironia de seus escritos e de seus ideais “estéticos” (e desculpas): sua mulher e filhos, e seus parceiros também sofreram degradação social e econômica. E não foi tanto a homossexualidade ou as meias-verdades que causaram o sofrimento: foi essencialmente a húbris, que sustentou toda essa duplicidade.

Em certo sentido, Wilde foi autêntico ao ideal quixotesco do esteticismo: ele simplesmente não acreditava que uma corte fosse escrutinar os detalhes da sodomia em meio ao decadentismo dândi das tiradas sofisticadas, em meio aos tão elevados ideais da arte como valor absoluto (e a palavra “ideal” aqui é até mais-que-platônica, é o ideal dos ideais, a aesthesis desvinculada de causa e efeito, um mundo totalmente a parte das questões humanas e temporais, a não ser para as menosprezar e ridicularizar — húbris ao quadrado).

A duplicidade está em reconhecer a tensão entre o público e o privado e a usá-la para os próprios fins: Wilde confiava que a homoafetividade podia ser pública, se fosse platônica, ainda que não fosse de fato em privado. É uma forma peculiar de “don’t ask, don’t tell”.

Mas o que é ser autêntico a uma fabricação, a um sonho que inevitavelmente acaba por se tornar o que explicitamente evita ser, uma prescrição, uma propaganda? E, pior, qualquer neopentecostal mais literato vai encontrar na vida e na obra de Wilde moralzinha para boi dormir: “olha só no que deu… e ele ainda encontrou Jesus na cadeia.”

Já toquei um pouco no assunto em meus textos sobre teleologia (“Breve ruminação hiperbólica de alguns clichês teleológicos” e “Mais sobre teleologia: o gênio/demônio“, que se conectam aos aspectos de horizonte e felicidade, mencionados no início do texto em relação aos dois grupos de valores tríplices de estética e ética que preconizo), mas a tensão entre o individuo enquanto construto de fora para dentro e enquanto construto de dentro para fora (“nature vs nurture”), exatamente o conflito de Dorian Gray. O cerne do problema wildeano também no tribunal da sua vida cotidiana, é a questão da autenticidade.

Em outras palavras, retomando o daimon socrático e a vocação cristã, o que realmente somos não é totalmente determinado por deliberação e questões internas, mas sim é um reconhecimento da relação destas com as circunstâncias do mundo (representados pelo “chamado” a se ser o que se é, seja por uma entidade externa, no caso do teísmo cristão, seja por o que for o que seja um “daimon”).

Nossa cultura, com uma motivação econômica deturpada, nos doutrina a acreditar que somos seres plenamente deliberativos, isentos. Porém, na verdade somos tão condicionados por hábitos ocultos que não somos sequer capazes de reconhecer o que seria efetiva liberdade — pensamos que somos livres e, assim, não achamos nada de estranho em estarmos algemados.

Em nosso sonho de seres plenamente deliberativos, acreditamos que podemos nos construir como quisermos — “o que você vai ser quando crescer?”, os adultos brincam de nos perguntar, eles mesmos lidando com os papéis que lhes couberam em suas vidas de adultos. E não estamos só falando em carreira, há a cena famosa de Annie Hall em que as crianças falam como adultos descrevendo seu passado: “eu era viciado em heroína, daí fiquei viciado em metadona”.


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O Wilde anacrônico diria “eu era uma sensação, gênio, popular e chique… daí acabei sacaneando todo mundo ao meu redor, apodreci na cadeia e morri doente e pobre em exílio”. Somos o que conseguimos ser, mas em geral nem temos clareza dos nossos potenciais, tanto pelo lado de os idealizarmos quanto por os menosprezar.

Enquanto isso, toda nossa experiência de clicks e compras parece plenamente deliberativa. “Eu dou like no que eu quero” — mas será que é assim?

(E aqui eu abro um parêntese enorme: homossexualidade e deliberação. O progressismo atual é contra a ideia de qualquer grau de deliberação na homoafetividade, mas me parece que isso é assim apenas por que é a forma de combater as ideias abstrusas de naturalismo da ala do teísmo prescritivista homofóbico — ser “criado gay”.

Porém, o quanto há de deliberativo na homossexualidade, fora dessa discussão, é difícil dizer. Em todo mundo possível, eliminando as bobiças da gente do livro tribal dos judeus, não há nada de particularmente positivo ou negativo em algo ter elementos deliberativos, ou mesmo ser “antinatural” — seja lá o que isso quer dizer num mundo não teísta –, porque não há deus a desafiar ou mos tribal universal.

Sem dúvida os defensores das noções de espectro de orientação e gênero hão de convir que há espaço para aqueles que gozam com a artificialidade e em desafiar mores, ou que pelo menos o homoerotismo deliberativo é uma possibilidade. Pela dimensão de contravenção moral decadentista, que talvez Wilde reconhecesse, ela continha deliberação. Mas essa é outra discussão, uma vez que pouco importa se um aspecto ou outro é dado ou deliberado, o que importa é como se pode ser autêntico em meio a isso).

Ao contrário do curioso produto do puritanismo vitoriano, que no seu ápice intelectual sonhava um mundo sem a pressão da sociedade ignorantona, daquela gente simplória e de mau gosto que não entendia nada de “amor grego”, o nosso ápice intelectual sonha uma sociedade auto-organizada, igualitária e acolhedora — espelhando nosso autorreconhecimento como seres isentos e justos, “automaticamente livres”.

Você conhece alguém que não se ache isento e justo? Dá para começar a desconfiar de autenticidade, e entender que há autoengano em massa. Se o autoengano é o que há de prevalente no mundo, daí a autenticidade ser rara.

E o mesmo tipo de tensões vitorianas ainda estão, em certo sentido, presentes: talvez não a “guerra da cultura” (que já foi vencida, por mais que a gente ainda tema a “bancada evangélica”, ou possam haver retrocessos circunstanciais), mas a da construção do eu como fruto de si mesmo e da cultura entrelaçados, e não um tumor na cultura ou a esquizofrenia das pressões da legião.

No seu exemplo mais microscópico, isso se espelha nos extremos da pessoa que fere pelo candor — por não respeitar circunstâncias, e simplesmente “dar a real” avassaladoramente — e da pessoa com a fala totalmente ensebada, que nunca menciona o “elefante na sala”. Há espaço para o candor, e há espaço para o eufemismo e para a fala estratégica: da mesma forma a autenticidade não é o irrascível independente ególatra, e tampouco o almofadinha superajustado.

Há um equilíbrio, um ponto ideal de moderação, entre adaptação, pertencimento e visão estratégica, por um lado, e rompimento, pensamento fora-da-caixa e espontaneidade, por outro.

Figuras trágicas como Wilde ou Sócrates, em suas imperfeições, e em suas amostragens de um período e dos problemas humanos vividos em um período, são importantes por vários motivos. Um deles é o exemplo, óbvio, mas que não é para ser seguido em nenhum tipo de simetria, uma vez que o custo em termos de sofrimento pode ser bastante desnecessário — bem como espelhar e interpretar circunstâncias tão diferentes não ser exatamente fácil.

Eles são ainda mais interessantes como amostras de aspectos da autenticidade, em particular de como é difícil ser autêntico, e que custos se aproximar da (nem vamos dizer conseguir) autenticidade pode acarretar.

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… Eu queria comer do fruto de todas as árvores no jardim do mundo … E assim, na verdade, eu segui, e assim que eu vivi. Meu único erro foi que eu me limitei exclusivamente às árvores do que me pareceu ser o lado ensolarado do jardim, e evitei o outro lado por sua sombra e melancolia.”

Em De Profundis, Oscar Wilde reconhece que tudo que aconteceu com ele não foi culpa de mais ninguém.

EDUARDO PINHEIRO
Diletante extraordinário, ganha a vida como tradutor e professor de inglês. É, quando possível, músico, programador e praticante budista. Amante do debate, se interessa especialmente por linguística, filosofia da mente, teoria do humor, economia da atenção, linguagem indireta, ficção científica e cripto-anarquia.


Fabio Hernandez

O grande amor só é Grande amor se terminar em maldição eterna

“Alô?”
- “Oi. Sou eu.”
Só pessoas que têm ou recentemente tiveram uma relação especial com a gente podem se apresentar dessa forma. Sem dizer o nome. Demora um bom tempo até que a gente esqueça o som de determinadas vozes. Por isso, declinar o nome, pelo menos por um período, é perda de tempo.
- “Oi, Nadja. Tudo bem?”
Era ela. Nadja, meu grande amor perdido. Eu sempre quis falar coisas inteligentes para Nadja, bem diferentes de um reles “tudo bem?”. Sempre quis impressioná-la com falas cinematográficas. Hoje vejo como isso foi ruim para o nosso romance. Eu deveria ter acreditado que ela pudesse gostar de mim como eu sou mesmo, com minhas frases banais e gramaticalmente manquitolas. Uma relação em que você se sinta na obrigação de parecer melhor do que é não pode ter um futuro muito brilhante.
- “Fabio, eu queria escrever um texto sobre a minha verdade. A minha versão sobre o fim do nosso romance. Você apresentou, na VIP, a sua verdade. Não acho muito justo. Aliás, não acho nada justo.” (Ela frisou o “nada” esticando deliciosamente a primeira sílaba. É uma das pequenas coisas que mais me trazem saudade. Me ocorre o seguinte pensamento: a saudade das pequenas coisas dói ainda mais que a saudade das grandes coisas.)
- “O que você está querendo é inusual, Nadja. Prometo que vou falar com meu chefe, mas posso adiantar que…”
- “Não me adiante nada, Fabio. Apenas pondere a ele que a revista não pode nunca apresentar um único lado de uma questão. Nem que essa questão diga respeito à vida amorosa de um de seus colunistas.”
- “Odeio você!”
Nadja jamais tivera muita paciência com embromações. Daí o corte abrupto de minha frase. Num momento isso me encantou. Depois confesso que senti falta, em Nadja, de uma dose um pouco maior de paciência. Pelo menos comigo. É curioso, nas relações, como muitas coisas que vemos no começo como virtudes no outro ou na outra se transformam depois, aos nossos olhos, em defeitos. O tempo é cruel como um velho cossaco russo, como dizia meu Tio Fabio, um homem sábio do interior. (Sempre acreditei a tal ponto em Tio Fabio que jamais verifiquei se os velhos cossacos russos eram mesmo cruéis.)
- “Eu quero expor o meu lado. Fabio, você sempre foi imaturo. Extremamente imaturo. Você gosta do amor impossível. Você gosta da fantasia, não da realidade. Você não deu certo comigo por mais que eu amasse você. Você não deu certo com a Constância por mais que ela amasse você. Será que você percebe que não dá certo com ninguém? Quando será que você vai crescer, Fabio? É isso que eu quero escrever no artigo para a VIP. Você é um embuste, Fabio. Alô, você está aí?
Ela queria uma prova de que seu golpes verbais estavam doendo. E eu dei, talvez por uma espécie de gentileza póstuma.
- “Sim. Pode ir em frente, Nadja.” (Recentemente li numa revista americana que a melhor coisa que você pode fazer quando se vê numa conversa destruidora com sua namorada é encerrar essa conversa enquanto os danos não são tão grandes assim. Infelizmente, em relação a Nadja, só li depois de um número considerável de conversas pesadas.)
- “Você me atirou para fora de sua vida com esse comportamento infantil, Fabio. E me atirou para os braços de outro homem. Bem melhor, aliás, que você, Fabio. Principalmente naquilo.”
Naquilo? Um dos maiores tremores de um homem é que seu sucessor seja melhor que ele naquilo. O ideal seria que nossos sucessores fizessem tudo – cantar, escrever poesias, ganhar dinheiro, eventualmente até dar uns beijos -, menos aquilo.
- “Vou falar com meu chefe, Nadja.”
- “Fabio. Eu… eu…”
Passou pela minha cabeça a possibilidade de que ela completasse a frase assim: “… amo você”.
- “… eu odeio você. Quero que você se ferre.”
Nadja me odeia e eu aceito que seja assim. O grande amor só é grande amor se terminar em maldição eterna, dizia meu Tio Fabio.
O cubano Fabio Hernandez é, em sua autodefinição, um "escritor barato".

Homem bom

Homem bom é aquele que te joga na parede e puxa o seu cabelo com jeito. Que consegue tirar o seu fôlego com apenas um beijo. Que quando coloca a mão na sua cintura te segure firme, deixando passar pela sua cabeça que ele quer te proteger, que ele te quer por perto. Então ele se torna realmente homem, porque ele não grita aos quatro cantos do mundo que ele te ama, ele fala isso no seu ouvido, ou olhando firme em seus olhos. Eles deixa transparecer o que sente em simples gestos. Homem bom é aquele que te faz sentir as melhores sensações, te dá os melhores beijos, os melhores amassos, as melhores mordidas, os melhores sonhos, os melhores desejos, os melhores momentos. 

Homem bom é aquele que te traz segurança, paz, prazer, felicidade, e que te faz sentir única.....

Este é o meu homem.

Miopia amorosa


Enxergar só uma característica do outro ou dar muita importância ao detalhe: experts ensinam a analisar o relacionamento e descobrir se você idealiza demais o parceiro

Diferentemente da música “La Vie em Rose”, que embala tantos momentos românticos ideais, a vida real não é totalmente cor de rosa. O seu amado – como todas as pessoas – também tem defeitos, às vezes difíceis de enxergar. Se esse é o seu caso, cuidado: você pode estar sofrendo de miopia amorosa.
Segundo o psicólogo Ailton Amélio, isso ocorre quando se projeta no outro aquilo que se gostaria que ele fosse. “Apaixonar-se envolve admirar o outro. E a admiração envolve idealização”, explica o especialista, autor do livro “Relacionamento Amoroso” 
A miopia faz com que você olhe de tão perto que acabe enxergando só uma característica do parceiro. “Você vê apenas um ponto, geralmente aquele que pensava ser o mais importante em um homem”, explica a coach de relacionamentos Margareth Signorelli.
Esse tal ponto varia de mulher para mulher, de acordo com idade e características pessoais. Uma mulher madura pode estar procurando um parceiro bem-sucedido, não necessariamente rico. Já uma mais jovem pode estar buscando apenas um corpão. Elas focam tanto nesses pontos pré-definidos que acabam esquecendo que o parceiro não é só aquilo.
Foi exatamente o que aconteceu com a universitária Marcella Munhoz, que sempre quis – e arrumou – um namorado com abdômen definido. A relação era ótima, até que ele começou a cobrar dela que também perdesse peso. “Ele me fazia sofrer horrores, colocava minha autoestima super para baixo”, desabafa a estudante.
Ao realizar o sonho do tanquinho próprio, Marcella apresentou o primeiro sintoma de miopia amorosa: focou demais em uma parte – o abdômen – e acabou se esquecendo do todo. “Tem que enxergar de longe. Só se afastando podemos ver que a pessoa é muito mais do que isso”, aconselha a coach.
E esse “muito mais do que isso” pode não ser nada agradável. Quando observado de longe, talvez o príncipe se mostre, na verdade, um sapo – daqueles que destratam o garçom, não falam português corretamente, são um tanto frouxos com os amigos enquanto bancam o machão com você, entre outras atitudes extremamente broxantes.


“Todo meu tempo livre era para ele”
A analista de trade marketing Thalita Gut Pilcsuk viveu um romance que já começou com pouca probabilidade de dar certo. Bem colocada profissionalmente e com mestrado concluído, ela se apaixonou por um homem com baixo grau de instrução e que havia voltado para a casa dos pais após um divórcio.
Mesmo com tantas diferenças, Thalita apostou na relação. “Eu achava que ele era o amor da minha vida. Todos diziam que eu estava vivendo a vidinha que ele queria e tinha deixado minha família, meus amigos. Todo meu tempo livre era para ele”, conta a analista de trade marketing, que sustentou a relação emocionalmente e financeiramente por dois anos.
Afastar-se de pessoas próximas é mais um sintoma da miopia. “Você monta uma lente que distorce e tende a ver do seu jeito”, comenta Amélio. A partir desta distorção, é muito comum o míope amoroso brigar com amigos e familiares que tentam lhe abrir os olhos, o que o afasta ainda mais do próprio círculo.
Marcella e Thalita superaram a miopia e, hoje, estão em outros relacionamentos. Marcella recorreu a sessões de terapia para ajudar. “Com muita clareza, minha terapeuta me mostrava aos poucos o quanto aquela pessoa não me fazia bem”, declara. A maior lição da experiência foi aprender a fazer uma autoanálise e se colocar em primeiro lugar.
O desfecho de Thalita foi um pouco mais dramático. Ela acabou descobrindo que o ex a traía com uma amiga de melhores condições financeiras. “Até hoje, não sei exatamente quem é a pessoa a quem me dediquei por dois anos. Era um desconhecido, por quem eu não sentia absolutamente nada”, conclui a analista de trade marketing.
Mas nem sempre a miopia amorosa é algo ruim. Depende da recorrência, da intensidade e de quanto ela complica a vida de uma das partes. “O mecanismo pode ser bom para preservar o relacionamento, mas se torna disfuncional quando a pessoa está carente e tende a repetir isso. Tem gente mais predisposta a se apaixonar e distorcer”, completa Ailton.

Jorge Amado: hoje faria 100 anos


Hoje, completam-se 100 anos do nascimento de Jorge Amado, o romancista do povo, um dos maiores e seguramente o mais popular dos escritores brasileiros. Com mais de 30 livros publicados, a maioria traduzida em dezenas de países, sua obra é, antes de mais nada, uma declaração de amor a nossa gente e, sobretudo, uma denúncia das desigualdades sociais em nosso país.


Muitos de seus livros, é sempre bom lembrar, chegaram a ser censurados e banidos pela ditadura do Estado Novo (1937-1945). Os motivos? Jorge militou por mais de duas décadas no Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi deputado federal (de 1945 a 1947, quando opartido foi proscrito), e mesmo após seu afastamento do Partidão, em 1956, quando das denúncias contra o regime de Stalin, nunca deixou de defender a justiça e a igualdade social.

Nascido em Itabuna, no sul da Bahia, Jorge Amado teria todos os motivos para continuar a tradição familiar e ser um fazendeiro de cacau. Mas, aos 19 anos lançou seu primeiro livro “O país do Carnaval” e anos depois, na capital federal, à época o Rio de Janeiro, ingressou na faculdade de Direito, abraçando a militância política. Continua>>>


Homem em extinção


Se tem uma espécie de homem que está em perigo de extinção, é o Romântico à moda antiga.

Ficou tão fácil ter qualquer mulher que o homem não luta mais para conquistá-la. Não tem mais longos telefonemas, levar ao cinema, mandar flores ou café da manhã, escrever bilhetinhos… não tem mais quem dê valor à magia da conquista.

Hoje os rapazes chegam na balada e ficam encostado em alguma parede, e quando passa uma garota que desperte o interesse ele simplesmente agarra no braço dela e puxa. Ele sabe que só pode esperar duas reações: ou ela empurra e diz que não quer, ou ela nem pergunta nada e já manda um beijo na boca.

Então fica a pergunta: São os homens que deixaram de ser romântico ou as mulheres que deixaram de dar valor ao romantismo?

Amor, quero mais!

Você sabia que muitos homens morrem de medo de encontrar uma mulher com mais fome de sexo do que eles?

"Maior que o medo de brochar? Bem...brochar já nem é medo, é pavor mesmo!

Quando comecei a escrever essa matéria, a primeira dificuldade foi encontrar um homem que aceitasse a idéia de uma mulher ter mais tesão que ele. Sabe como é, a maioria ainda acha que uma garota que agüenta mais do que dois picotes numa noite deve ser ninfomaníaca ou tarada. Entre os mais jovens, e com experiências mais restritas à garotinhas, não encontrei nenhum que confessasse ter encontrado nenhuma que os fizesse pedir arrego. Mas até dá para entender - afinal, devido à inexperiência, muitos fazem um
sexo tão automático, sem imaginação e apressado, que a garota fica sem pique para varar a noite transando.

Sem contar que muitas garotinhas, devido também a inexperiência nem sabem direito o que é sexo. Por isso que muitas acreditam que o que estão recebendo dos parceiros é o máximo que podem ter. E acaba ficando aquela sensação de "propaganda enganosa", de terem ouvido tantas maravilhas sobre o sexo, mas cadê o orgasmo? Cadê o sexo que dura mais do que 15 minutos!?

Na imensa maioria das vezes as mulheres aguentam fazer muito mais sexo que qualquer homem - tudo é uma questão dela querer ou não!

Mas como muitos homens estão acostumados a conduzir a transa - muitas vezes se preocupando apenas com seus interesses - a mulheres acabam aceitando que cabe à eles determinar até que ponto elas devem ou não querer mais! Ou seja: "Acabou a brincadeira, Zulmira!... E nem venham pedir beijinhos e cafunés, porque estou cansado!!"

Cansado!? Mas, cansado de quê!?

Então, quando um homem deste tipo encontra uma mulher diferente, mais experiente, destas que não aceitam um sexo de coelhinho, o infeliz acaba levando uma porrada bem no meio de sua auto-estima de macho: "Será que não estou sendo homem o suficiente?"

Na cama posso garantir que não, meu chapa!

Afinal, qual macho consegue encarar numa boa que vai ter que voltar para a cama, e ficar lá até satisfazer sua garota? Então o pinto murcha, a bunda treme mais que gelatina, bate um desespero e surgem as desculpas esfarrapadas: " Putz, amor, eu sei que merece muito mais, mas tenho que ir buscar minha vó no Bingo!"

O quê? Se tem homem que foge da raia? Vixe! Uma porrada!

Mas existem sempre aqueles que, acredite, ficam agressivos e birrentos quando a mulher pede mais! E pode se apostar que é bem capaz dele encarnar o "bambi-macho-ofendido" que existe dentro de todo "Goza-e-Dorme" , surtando em uma cena pra lá de patética:

"Porra, você só pensa em sexo!? A noite também foi feita pra dormir, caralho!!!"

Oras, não dá para levar à serio um cara de pinto mole, gritando e tendo chiliques porque não é capaz de dar um arrocho de verdade na sua garota.

Aliás, se criarem uma lei contra propaganda enganosa no sexo, vai ter muito macho respondendo processo!

"Senhor Juiz, ele me prometeu que daria três trepada em uma noite, mas ele mal conseguiu dar a segunda... E só conseguiu porque eu usei o meu dedinho para fazer um 'fio-terra' nele! "

Como é difícil tentar prender um homem num quarto de motel quando ele acha que três horas é muito tempo para ficar trancado com você... Claro, de repente ele começa a ficar impaciente, arruma desculpas para ficar chato e intragável... No final vocês deixam o motel como dois estranhos, mal se tocam e ainda tem que agüentar a cara amarrada do traste, que se sentiu ofendido por você ter coragem de sugerir que poderiam esticar um pouco mais.

E pensar que você nem teve chance de dar umazinha na banheira de hidromassagem...

Tudo bem que você acredite que nós, homens, sejamos diferentes das mulheres porque dependemos só do bimbo para transar, mas a coisa não é bem assim. O pinto serve para penetração, mas nenhum homem precisa só dele para ser agradável, entendeu? Ele pode te beijar, te pegar no colo e encher de mimos, dançar peladinho ao som de uma destas músicas bregas de rádio de motel, enfim, ele pode fazer com que você acredite que não ele te levou para cama só para uma bimba rápida, mas para namorá-la!!!

Aliás, se o bimbo "desmaiar", ainda tem a língua e os dedos para fazer uma mulher feliz.

Porém, para muitos homens, encontrar uma mulher que pede mais sexo significa encarar alguém que sabe mais de sexo que ele. Eu explico: muitos são completos ignorantes e não sabem nada do corpo feminino. Tudo que sabem é penetrar, sacudir os quadris para frente e para trás, gozar e achar que está tudo bem. Com as outras garotas até podia funcionar, bastava terminar, dar uns beijinhos e dizer algumas palavras doces, algo como um pagamento pelo prazer que elas não tiveram na cama.

Quando o cara descobre que existe uma imensa diferença entre uma mulher satisfeita e uma resignada, o caldo entorna de vez...

Bate o medo, o imenso pavor de olhar para o rosto da garota e ver a insatisfação. E por mais que ele tente tirar um suspiro, um gemidinho de prazer, só fica aquele silêncio, aquela sensação de estar sendo reprovado. E como desgraça pouca é bobagem, quanto mais o cara é ruim de cama, mais tempo a mulher demora para gozar... Se é que ela vai gozar.

Só que ele, como um verdadeiro macho, não vai ser humilhado por uma mulher na cama. Então ele se esforça, aperta aqui, chupa ali,enfia o dedo em tudo quanto é canto, vira a mulher do avesso, mas nada acontece...

"Que merda!!! Será que ela ainda vai demorar muito pra gozar!?

Se depender de sua performance, só se for na mão...

E sem a sua ajuda!!

Fim de novela

O destino às vezes tem uma forma estranha de se manifestar. Ora são aqueles encontros a que a gente comparece sem confirmação de presença, porque é uma imposição compulsória, ora porque alivia tensões, acabando expectativas ou simplesmente mandando recados recheados de dúvidas, que podem prolongar uma história ou um enredo que se lhe pareça interessante. Ontem esse destino se manifestou.


Já estava decidido dentro de mim transformar-lhe numa lembrança adormecida, enterrada bem fundo no coração e nunca mais acordá-la, por conta da sua estranha forma de querer bem, de amar, de demonstrar gostar de alguém, quando o telefone tocou e era você. 

Cheguei a achar estranho o que bem poderia ter sido uma coisa comum entre amigos que se curtem, mas não foi. Foi como se esse destino quisesse dar uma sobrevida a um sentimento que bem sabe ser puro, ser verdadeiro, ser profundo. Foi bom ter ido ao seu encontro e descobrir que aquela mulher, tantas vezes recebida com alegria na festa única de abraços parecidos, estava distante. 

Tê-la ali, tão ao alcance das mãos, nunca pareceu tão distante. Se um dia cheguei a sentir vontades quase incontidas de tomar seu rosto entre minhas mãos, bebê-lo em beijos intermináveis, sentir as batidas do seu coração quase a sair pelo decote generoso e farto, amoldando suas formas aos meus contornos e deixar que a linguagem de desejos coincidentes falasse por si, um simples aperto de mãos me pareceu o bastante. A descoberta surpreendeu-me e ao mesmo tempo entristeceu-me. A viagem do céu ao inferno é rápida, a paisagem é uma desolação só, mas o baque é único e a dor, se é que dá tempo a gente sentir, é única, rápida e a gente assimila sem nem ao menos sentir a profundidade. 

De repente, a mulher maravilhosa, única e especial, bem ali, bem diante de mim, havia ido embora na sua essência e eu me sentia diante de uma sombra sem muita definição, um arremedo de uma silhueta bem recortada e consistente. Se seus braços um dia foram espécie de porto seguro para a fragilidade da minha nau de carências, em meio às tormentas de solidão, agora podiam se cruzar, se fechar em defesa fosse do que fosse, porque as experiências de tantas borrascas me ensinaram que a calma aparente do olho dos furacões serve para aliviar o medo e refazer forças para novas lutas, novas batalhas e com elas aprendi a expandir meus horizontes sem restringir as expectativas de sobrevivência, sem grandes receios de lutar para sair dali com vida. 

Minha coragem agora é bem maior e a sua indiferença foi um santo remédio, uma vacina forte. As provações dessas experiências circunstantes me ensinaram a não esperar por milagres. Já disse e vou repetir mil vezes se mil vezes ainda for preciso: tudo na vida tem um começo, um meio e um fim. Se amanheço, posso começar; e se começo, tenho um dia inteiro para viver com intensidade as emoções de um momento que se me apresente como especial. 

Depois, entardeço, mas não deixo que esmoreçam as esperanças no advento do dia seguinte, e quando anoiteço, durmo com meus sonhos, coleciono as lembranças mais caras; e se no dia seguinte tudo foi devorado pelo passado voraz, alimento-me de saudades que ninguém me toma e de lembranças que ninguém apaga.

Posso continuar gostando de você pelo que você foi e pelo que representou enquanto representava o papel de mulher apaixonada ou deslumbrada com as cores cúmplices das noites coniventes. A pessoa em que você se transformou, indo e vindo, como se nada tivesse acontecido, nem mesmo sei quem é e por ela não nutro nenhum sentimento, seja ele qual for. 

Para mim, aquele aperto de mão foi como o final de uma novela em que todos escapam, em que nada faz sentido, sem bandidos ou mocinhos, mas por detrás dele, existe a recordação de um abraço especial e um beijo único, mas aí já é outra história. Fim da novela; agora, só as letrinhas...

A. CAPIBARIBE NETO