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Fastio democrático


O atual fastio político – com atores medíocres como Macron, Macri, May, Trump, Trudeau, Bolsonaro ou Orban poluindo o palco – põe em xeque, afinal, o rascunho de democracia que vem sendo imposto ao Ocidente há dois séculos como projeção de algo real na parede da caverna concebida por Platão: um regime fundado na escolha racional pelos cidadãos entre partidos com projetos de governo definidos e conflitantes; a eleição periódica de parlamentos que legislam e executivos que aplicam as leis, sob a vigilância de judiciários que pairam, sustentados no ar pelo consenso e pela liturgia.
Isso soa falso, do começo ao fim. Primeiro porque, como se prova desde a experiência do iluminismo (ou a Revolução Francesa), a decisão dos cidadãos é emocional e momentânea; as técnicas que permitem determiná-la avançaram notavelmente ao longo do século XX. Nenhuma eleição expressa, hoje, escolha racional entre projetos, mas adesão a vórtices de amor e ódio cercando buracos negros.
Também os tais “projetos definidos” reduzem-se a nuances da mesmice política, porque o diferente, em todas essas “democracias”, é excluído, vilipendiado,

Nilson Lage: no governo, circo e palhaço; no país, a ruína; na cadeia, a honra

Somente o investimento estatal pode repor em marcha a economia brasileira – e não é preciso ser economista para perceber isso: financiar a construção de casas, ferrovias, estradas de rodagem, portos, usinas núcleo e hidroelétricas, dutos e refinarias de petróleo; a ação social e a cultura do país, que o povo guarda para seu carnaval.
Não há outro caminho – pois não há caminho.
O capital externo compra ativos e guarda – do Matte Leão à Phebo – e aplica fundos em lojas de varejo: milhares de farmácias, por exemplo. Começou a desmontar indústrias de montagem – tomara que não faça o mesmo, amanhã, e desacabe as de acabamento.
Não temos futuro, também, como exportadores de commodities. Somos vassalos políticos de um concorrente mais forte que, na melhor das hipóteses, agregará nossa agropecuária à deles, como for de seu melhor interesse, no volume e nos esquemas de comercialização.







Bens minerais de nada valem, se não somos capazes de gerir e proteger nossas reservas – pelo contrário, somos a puta oferecida do mercado mundial. Não temos força política para calar os que vão ocupando a Amazônia verde nem força armada para proteger poços de petróleo da Amazônia azul, que já não são nossos.
Há iminente revolução tecnológica – não é por aqui.
Há um pujante socialismo de mercado – que causa horror.
Somos a orgulhosa craca no casco do Titanic.
No Ministério da Economia, uma caricatura de múmias de Chicago contempla a carniça e baba.
No governo, um circo.
Na presidência, o palhaço.
Na cadeia, a honra nacional, que se preserva do striptease moral dessa gente toda.
Publicado originalmente no Tijolaço, site do jornalista Fernando Brito

Todo mundo quer ser bom, mas da lua só vemos um pedaço 
Vida que segue...

Crônica do dia


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O intolerável é só a intolerância, por Nilson Lage

Nasci em uma nação formada por três raças tristes às vezes, como agora; de outras vezes, alegres.
Amei negras e índias, menos brancas; nenhuma asiática por falta de oportunidade. O melhor amigo que tive, a quem devo carinho de irmão, é judeu. Estudei russo, embora tenha esquecido a língua; também inglês, francês, espanhol, latim, grego… Salivo com todas as culinárias e culturas humanas, até as que não conheço.
Descendo da mais cruel das gentes, as da Europa, aquela ponta miserável da Eurásia de onde partiram os assassinos de povos e devoradores de civilizações. Que bom que ao menos uma vovó indígena me restou na ancestralidade! Mas não culpo europeu algum de hoje – ou norte-americano, que é o europeu em casa nova – porque não creio na herança das culpas nem na responsabilidade das partes no desempenho do todo.
Acredito que, se não houvesse contenção social, a tendência heterossexual seria dominante, mas não a única, nem na sociedade nem na vida das pessoas – porque ao sexo biológico, já em si duvidoso, acrescenta-se a representação simbólica na linguagem, que espelha vida e tece estranhas relações entre intimidade e afeto.
Respeito as prostitutas, tanto as que se enquadram no vitimismo do discurso convencional quanto as vocacionadas e animadas na carreira que partilham com o mesmo estoicismo das meninas que, pelo avesso, se guardam para um “bom partido”. A vida é um jogo e fazem sua aposta.
A pornografia, ao contrário do que pretendem os moralistas, existe para adolescentes, os na idade própria e os que prosseguem sendo. Os demais acham apenas chato, se não for belo, e desenvolvem seus próprios métodos.
Tenho pena dos miseráveis, mas também dos muito ricos, que juntam fortunas de que não precisam, esmagando para isso tanto gente, perdem a noção do valor das coisas e, afinal, criam tolos armados de privilégios, com que tive que competir algumas vezes.
Desdenho desses farsantes que usam o nome de Jesus para tomar dinheiro do salário dos pobres e recorrem sempre ao Antigo Testamento, que é a história de um povo onde tudo acontece, porque não encontram o apoio de que precisam nos relatos do Cristo.
Sequer odeio os traficantes, porque sei que a droga, como muitas vezes a fé, é instrumento de controle social manipulado por interesses que não habitam morros nem correm riscos.
Sei que a luta de classes é o motor da História, mas não acredito que o ódio seja a melhor juízo na condução das batalhas.
É quando a raiva passa que a razão impõe o justo.
A única coisa que não se pode tolerar, que impede a solução dos conflitos, é a intolerância.

*Nilson Lage - parem de inventar "o povo brasileiro". Não é nada disso que vocês estão dizendo

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Em um país deste tamanho, faz-se multidão até de engolidores de espadas.
Olhem a dimensão relativa das faixas de renda.
Pensem que a maior parte do território – à exceção do litoral entre Bahia e São Paulo, das penetrações de trabalhadores escravos africanos nos ciclos da mineração e do café, e das áreas de imigração europeia recente do Sul – a população é de origem dominantemente indígena, pelo menos na linhagem materna; isto se constata na cultura do seringueiro, do vaqueiro, do pantaneiro, do jangadeiro, das periferias urbanas.
Seu aparente alheiamento tem muita semelhança ao dos povos de nossos vizinhos do continente – é uma forma de resistência, não tibieza.
O povo brasileiro é dominantemente mestiço e, na vida cotidiana, tolerante.
A miscigenação e a fusão étnica e cultural – a antropofagia dos modernistas – são costumes generalizados fora dos circuitos mais mundanos.
Nada disso aparece no discurso dominante.
Notem, por exemplo, que, apesar da invasão das igrejas comerciais de discurso pentecostal, a Igreja Católica continua sendo a instituição mais respeitada do país, ao lado das forças armadas, apesar, ainda, de toda a campanha que marcou a nossa pretensa e incompleta democratização.
A razão principal é que Igreja e Exército são corporações estáveis, ordenadas e consistentes.
O avanço das forças minoritárias e antinacionais que ascenderam ao poder resulta da organização e objetivos definidos, em oposição às forças que, se não fosse por esse defeito, poderiam confrontá-las facilmente, e com êxito.
O povo disperso não pode nada.
Se ele não se organiza é porque vocês não lhe propõem os instrumentos e, pelo contrário, procuram conduzi-lo segundo o interesse de vocês, não o dele – até porque não o conhecem."
*


Nilson Lage
- jornalista, Doutor em linguística, Mestre em Comunicação, Bacharel em letras, foi professor da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro e da UFF - Universidade Federal Fluminense e desde 1992 ensina na UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina -.


Nilson Lage: radicalizaram

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O Brasil se encaminha para a etapa final de um processo que acompanho e prevejo há anos.
Só a idade provecta, a desimportância pessoal e a mídia restrita que uso permitiram que expusesse minha certeza que, por certa, se confirma – assim mesmo porque me recuso a discutir com os apaixonados, os crentes e os convictos, que fazem dos desejos esperança e contam que alguém os realize.

Só um tarado formalista ou um bacharel brasileiro poderiam aceitar que o que ocorre tem algo remotamente parecido com democracia.
O legal não é legítimo: por meios institucionais, essa gente jamais devolverá o poder.
Ao contrário de 1964, quando o golpe foi dado contra o trabalhismo e no contexto da guerra fria, esse objetiva desmontar o Brasil – e o fará.

Quem se opuser será desacreditado, desmoralizado, combatido como criminoso, condenado por crimes quer os tenha ou não cometido, ou terá morte suspeita – provavelmente em desastre de avião, que é o mais fácil.
Radicalizaram.



O dragão da maldade comanda o Judiciário, o Legislativo, o Executivo, a mídia, as igrejas, armou um exército policial paralelo – uma espécie de SS frente a Wehrmacht. A dissidência será contida em guetos, sob pressão social, e se condenará a validar, pela existência, a iniquidade.
Ou uma improvável força oculta (nem poderia, obviamente expor-se) ergue-se com a força dos terremotos por sobre a desinformação da massa e o engano dos letrados – terá que buscar no povo forças para revolver o lixo o e enfrentar águias, hienas e urubus que cercam a carniça - ou .podemos cogitar do fracionamento do país em estados menores que (dou, como exemplo, guardadas nítidas diferenças, a Iugoslávia) poderiam, talvez, viver sob menor pressão e enfrentar com eficácia os problemas sociais que infernizam – e infernizarão cada vez mais – a nossa vida.
publicado originalmente na página pessoal de Nilson Lage - professor titular da UFCS - Universidade Federal de Santa Catarina.

Nilson Lage - uma coisa que me chateia é a hipocrisia

A realidade é essa, assumam

Se há coisa que me chateia é hipocrisia.
Quem queriam que financiasse o carnaval carioca?
O tesouro nacional?
As gravadoras, que fariam desfilar como destaques Beyoncé, Ricky Martin e Julio Iglesias, ao som de rock, country e rap?
As multinacionais, cobrindo de logos e marcas o desfile, com a rainha da bateria anunciando preservativos durex e a magnífica comissão de frente fantasiada de semente Monsanto?
Políticos com certificado de democracia, folha corrida e vida ilibada – com dinheiro de quem?
Queriam que o carnaval voltasse a ser, como antes, uma festa de bairro, com corsos de carrinhos da classe média (confetes, serpentinas…), escolas mambembes e blocos de sujos?
Assumam a realidade.



O jogo do bicho é uma tradição enraizada, assumida, consolidada no Rio de Janeiro e no Brasil Todo combate ao jogo do bicho é, na verdade, achaque de bicheiros.
O mesmo está acontecendo com o tráfico de drogas. O tráfico sustenta um aparelho repressivo corrupto, num nível muito mais alto do que se imagina.
Houve mil oportunidades, há milhares de jeitos de regularizar o jogo do bicho. Não regularizam porque não querem, ganham mais com ele.
Algo similar com a “guerra ao tráfico”, conduzida com a inteligência de uma bush-barata. Cada carga apreendida, cada bagrinho preso, é mais dinheiro que entra no sistema.
Para que vai à festa e gosta dela, não importa quem paga. Importa, sim, a mensagem estética, ética e politica do desfile.