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H menor Urgente

Na quarta-feira passada que passou, o ex-diretor da Gaspetro nomeado por FHC e demitido por Dilma, bateu ponto na CPI da Petrobras, entrou mudo e saiu calado. Mas com o bolso cheio de empresários - isso o pig não diz -. A GAFE - Globo, Abril, Folha, Estadão - só dão manchete com nome de políticos, dos empreiteiros e demais ladrões do erário público é um silêncio ensurdecedor, por que será?


Princípio filosófico do fundamentalismo criacionista

- que nem mesmo a Blabla não tem a menor ideia do que seja isso -

"Mais valem um Bournhausen e um Heráclito na mão que dois Lulas voando", Bessinha


Paulo Coelho: diálogo com o Mestre III

O mistério

- O que estamos fazendo nesta Terra?

- Sinceramente? Não sei. Já procurei em muitos cantos, em lugares iluminados e escuros; hoje estou convencido que ninguém sabe - apenas Deus.

- Não é uma boa resposta, para um mestre.

- É uma resposta honesta. Conheço muita gente que irá explicar-lhe em detalhes a razão da existência. Não acredite, são pessoas ainda presas à antiga linguagem, e só acreditam nas coisas que têm explicação.

- Quer dizer que não há uma razão para viver?

- Você não entendeu o que estou dizendo. Eu disse que não sei a razão. Mas claro que existe um motivo para estar aqui, e Deus o conhece.

- Por que não nos revela?

- Revela a cada um de nós, mas numa linguagem que às vezes não aceitamos, porque ela não é lógica - e estamos por demais acostumados a receitas e fórmulas.

"O nosso coração sabe por que estamos aqui. Quem escutar o coração, seguir os sinais, e viver sua Lenda Pessoal, vai entender que está participando de algo, mesmo que não compreenda racionalmente. Diz a tradição que, no segundo antes da nossa morte, a gente se dá conta da verdadeira razão da existência. E neste momento, nasce o Inferno e o Paraíso.

- Não entendi.

- O Inferno é, nesta fração de segundo, olhar para trás e saber que desperdiçamos uma oportunidade de honrar a Deus e dignificar o milagre da vida. O Paraíso é poder dizer, neste momento: "Cometi alguns erros, mas não fui covarde: vivi minha vida, e fiz o que devia fazer". Tanto o Inferno como o Paraíso irão nos acompanhar por muito tempo, mas não para sempre.

- Como posso saber se estou vivendo minha vida?

- Porque, ao invés de amargura, você sente entusiasmo. Essa é a única diferença. De resto, há que respeitar o Mistério, e aceitar - com humildade - que Deus tem um plano para nós. Um plano generoso, que nos conduz em direção à Sua presença, e que justifica estes milhões de estrelas, planetas, buracos negros, etc. Que estamos vendo nesta noite, aqui em Oslo (estávamos na Noruega).

- É muito difícil viver sem uma explicação.

- Você pode explicar porque o homem necessita de dar e receber amor? Não. E você vive com isso, não vive? Não apenas você vive com isso, como é a coisa mais importante da vida: o amor. E não existe explicação nenhuma.

"Da mesma forma, tampouco há explicação para a vida. Mas existe uma razão para estarmos aqui, e você precisa ser humilde o suficiente para aceitar isso. Confie em minhas palavras; a vida de cada um dos seres humanos tem um sentido, embora ele cometa o erro de passar grande parte do seu tempo na terra buscando uma resposta, enquanto se esquece de viver.

"Posso lhe dar um exemplo de uma época em que cheguei perto de entender tudo isso. Eu tinha comparecido à festa de comemoração dos 50 anos da minha formatura do ginásio. Ali, na escola onde estudei enquanto adolescente, encontrei muitos amigos. Bebemos, fizemos as mesmas piadas de meio século atrás.

Em um dado momento, olhei para o pátio da escola. Então, me vi criança, brincando com eles, olhando a vida com surpresa e intensidade. De repente, aquela criança que eu fui pareceu ganhar forma e se aproximou de mim".

"Me olhou nos olhos, e sorriu. Então, eu entendi que não havia traído os meus sonhos de infância. Que a criança que tinha sido um dia, ainda estava orgulhosa de mim. Que a mesma razão que eu tinha para viver quando criança, continuava viva em meu coração".

"Procure viver com a mesma intensidade de uma criança. Ela não pede explicações; mergulha em cada dia como se fosse uma aventura diferente e, de noite, dorme cansada e feliz".


A razão do desencontro, por A. Capibaribe Neto



Cheguei cedo ao lugar de costume para dividir boas taças de vinho com amigos e fiquei olhando em volta. À minha frente, quase na penumbra, estava um homem a consultar, ora o relógio, ora o celular. Diante dele, dois pratos, duas taças. Uma estava vazia e a dele pela metade, devido ao bebericar sem graça pela espera ansiosa de quem não chegava. Olhava o relógio, conferia o celular e não tirava os olhos da porta de entrada. Meus amigos chegaram depois de quase meia hora e logo estávamos degustando um Pinot Noir acessível e de boa safra. O homem continuava no ritual angustiante da espera e a garrafa diante dele já estava pela metade. Existe uma certa tristeza naqueles que tomam café da manhã, almoçam ou jantam sozinhos em mesa de restaurante de hotel, mas a tristeza de alguém diante de uma garrafa de vinho e uma taça à espera de uma companhia para um brinde tem tristeza maior. Já estávamos na segunda garrafa e o homem sozinho agora apoiava o queixo em uma das mãos enquanto o dedo indicador da outra contornava a borda da taça meio vazia fazendo um barulho irritante como um grito estridente intermitente. Quando do som ambiente veio uma música romântica ele respirou fundo, bebeu mais gole solitário. Voltei a prestar atenção na conversa descompromissada dos amigos. De onde estava, podia ver o semblante do homem, antes carregado de ansiedade, agora estava rendido à tristeza de uma quase certeza de que a outra taça à sua frente permaneceria vazia e naquela noite ele seguramente não brindaria com ninguém. Por um momento, ele quase se levanta por conta de uma mulher que assomara á porta, mas logo sentou-se quando a mulher que acabava de entrar estava acompanhada. Quando esperamos por alguém e essa espera fica comprida demais, a imagem que carregamos junto com a espera faz com que comecemos a ver em outras pessoas o rosto que nunca chega. Na garrafa de vinho do homem não estava apenas a verdade que dizem estar no vinho, estava também uma certeza de que a ausência sentida se confirmava, a cada gole bebido sozinho que uma promessa feita não seria cumprida. A verdade que estava no vinho do homem sozinho estava diante da mentira que ocupava o vazio da outra taça, cheia de mudas interpelações diante dele. Os minutos das horas lerdas que não passavam eram como açoites invisíveis a castigar sem pena seu coração dentro do peito angustiado. Para nós, festejando apenas a alegria de mais uma mesa de vinhos o tempo era generoso a passar no seu ritmo comum. Vi quando o homem pediu a conta ao garçom e pediu e que lhe chamasse um taxi. Dez minutos depois que ele foi embora deixando uma taça vazia, uma garrafa com algum vinho por beber e uma taça largada pelo meio sobre a mesa, vi quando uma mulher parecida com a que o homem achou que fosse ela chegou apressada e dirigiu-se ao mesmo garçom. Deu para escutar a resposta "se é quem estou pensando acabou de sair não tem dez minutos..." Ao que ela respondeu como uma desabafo: "ai, meu Deus... Fui assaltada, levaram minha bolsa, documentos, celular..." E saiu do lugar quase correndo em direção à porta. Bebi as duas últimas taças da noitada com a alegria comprometida e não comentei nada. Não pela contumácia dessa violência sem jeito que nos faz parecer indiferente, mas pela sensação de não saber como ajudar, a não ser que ela encontrasse o homem que bebeu sozinho e foi embora triste, sem saber que dentro da taça vazia agora tinha uma certeza de que a mulher estivera ali para o desencontro...




Mais que um médico, um Cidadão


E numa clínica particular um diretor apresenta outro conceituado Dr. a uma turma de alunos de medicina:

- Senhores, esse é o único médico brasileiro - que eu conheço -, que vota em Dilma Roussef, disse com um risinho debochado. Foi uma gargalhada geral. O médico apresentado pede a palavra e pergunta:

- Por favor, os que se beneficiam do Fies poderiam erguer o braço? Noventa por cento da turma ergueu os braços. E o médico eleitor do PT, completou:

- É por isso que é voto na Dilma!




Pnad reafirma a trajetória de queda das desigualdades

Novos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) reafirmam a trajetória de queda das desigualdades e mantêm as principais tendências verificadas nesta década. A correção da análise de dados e microdados, anunciada na sexta-feira (19) pelo governo federal, mostrou, entre outros reparos, a queda nas desigualdades sociais do país, medida pelo índice de Gini, e na desigualdade de renda proveniente do trabalho. Os novos números reforçam que a renda do brasileiro tem aumentado com velocidade crescente, nos últimos anos.
Entre 2011 e 2013, um brasileiro levaria 12,8 anos para ver sua renda mensal dobrar de valor. Se levado em consideração o período iniciado em 1993, esse mesmo cidadão levaria 23,6 anos para ver sua renda dobrar, apontam os dados revisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).




Os ministros Miriam Belchior, Tereza Campello, Henrique Paim e Marcelo Néri, durante coletiva sobre a correção dos dados da Pnad. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom /Agência Brasil
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Néri, observou que, apesar de ainda não haver números consolidados, 2014 deverá marcar a maior queda na desigualdade nos últimos dez anos.
Ele citou , como exemplo dessa tendência, o índice que aponta queda nas diferenças de renda familiar per capita. Segundo ele, o índice foi de 0,527 em 2011 para 0,524 em 2012 e 0,522 em 2013. Quanto mais próximo de 1 mais desigual e, portanto, a diminuição do índice é um resultado positivo para o país.
Néri ainda ressaltou que o rendimento dos brasileiros cresceu, em média, 5,5% por ano entre 2011 e 2013, e que a desigualdade também atingiu, no ano passado, seu menor nível histórico em outras dimensões, como nos rendimentos do trabalho e nos rendimentos pessoais de todas as fontes.
Apesar de o percentual de pessoas que ganham até um salário mínimo ter ficado em 25,2% da população ocupada em 2013, e não 24,8%, a desigualdade diminuiu porque a taxa dos que ganham de cinco a 20 salários mínimos passou de 7,6% para 7,3% entre as duas análises e os que recebem mais de 20 salários mínimos permaneceu em 0,7%.
Já o rendimento mensal do trabalho variou menos do que o estimado: 3,8%, e não 5,7%, com isso, o valor do rendimento médio mensal ficou em R$ 1.651, e não R$ 1.681. "O mundo está em crise e o Brasil continua aumentando a renda por dois anos consecutivos", afirmou a ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello.
No caso do desemprego, a taxa de 6,5% em 2013 não foi alterada pela correção dos dados da Pnad, mantendo-se em patamar baixo quando comparado a diversos países que enfrentam problema de desemprego.
A taxa de desocupação permanece a mesma, de 6,3% da população, mas o contingente de pessoas é 6,637 milhões, e não 6,693 milhões. O nível de ocupação total ficou em 61,8% da população, no lugar de 61,2%. O trabalho infantil caiu 10,6%, e não 12,3% divulgado.
Educação
Ainda de acordo com os dados revisados, a taxa de analfabetismo em 2012 era 8,7% da população e caiu para 8,5%. O dado divulgado anteriormente foi 8,3%. "Na faixa de 15-29 anos, fechamos a torneira o analfabetismo. Mantiveram trajetória de melhoria em todos os indicadores. As oportunidades estão sendo geradas pelo governo e refletem nos dados, principalmente, de quem está fazendo curso técnico", afirmou o ministro da Educação, Henrique Paim.
Após a correção dos dados, permaneceu a tendência de aumento de escolarização das crianças. Um favor de destaque foi o forte avanço à pré-escola, cuja taxa de acesso foi corrigida de 81,2% para 81,4%, a maior da série histórica, garantindo a entrada mais cedo de um maior número de crianças na educação formal, fundamental para novas quedas futuras das desigualdades. "Com os novos dados, percebemos um bom caminho a ser seguido na educação, proporcionando assim uma melhor qualidade de vida às pessoas com o passar dos anos", ressaltou Paim.
Veja apresentação com os dados revisados da Pnad
Investigação
De acordo com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, uma comissão, constituída por representantes dos ministérios do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG)Justiça e Casa Civil, além da Controladoria-Geral da União (CGU), avaliará a consistência dos dados da pesquisa. A comissão terá 30 dias para analisar os fatos e a responsabilidade funcional. Miriam Belchior destacou a rapidez com que o IBGE corrigiu os dados. "Isso não apaga o erro, que é gravíssimo, mas colocou à disposição da sociedade de forma transparente o mais rápido possível, as informações corrigidas."
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, houve um erro técnico que superestimou a população das regiões metropolitanas do País, o que influenciou em outros dados, como o índice de Gini, e provocou alterações nos resultados do Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Os dados revisados já estão na página do IBGE.
Fonte: Portal Brasil com informações do IBGE, Ministério do Planejamento e EBC.



Briguilinks do dia

A Dilma o que é de Dilma, por Paulo Moreira Leite

Se as eleições fossem hoje, e o país vivesse pelas regras eleitorais anteriores a 1989, quando não havia o sistema de dois turnos, Dilma Rousseff estaria reeleita — na matemática.
Se o último Data Folha já registrou o crescimento de Dilma, em dois levantamentos internos, recém-saídos do forno, disponíveis na noite de sexta-feira, ela se encontrava na casa dos 38 e 39% das intenções de voto, apresentando uma tendência de alta, sem grandes saltos nem movimentos especulares, mas de notável regularidade.
A disputa quente, ao menos neste momento, é pelo segundo lugar. Enquanto Dilma cresce inclusive onde parecia parada, como São Paulo, Marina encontra-se em queda no país inteiro e sua diferença em relação a Aécio Neves diminui a cada levantamento.
Conforme pesquisas de tipo tracking — um levantamento baseada na média de intenções de voto de três dias consecutivos, considerada a mais apropriada para apurar as tendencias da disputa — a distancia de Marina para Dilma se ampliou.
Chegou a dez pontos. Em outro levantamento do mesmo tipo, a distância é de quinze pontos. Mesmo olhando esses números com a reserva necessária a todo levantamento dessa natureza, pois ele não obedece a nenhum controle além das próprias campanhas e seus patrocinadores, eles parecem confirmar que a boca do jacaré entre as duas concorrentes principais está abrindo.




á a diferença de Aécio para Marina diminuiu. Ficou em dez pontos, num dos levantamentos. Em apenas seis, em outro. Embora Marina ainda seja vista com a adversária provável no segundo turno, cresceu a visão, na campanha do PT, de que a chance de Aécio Neves ir para a segunda rodada deixou de ser um exercício imaginário e se transformou numa hipótese real.
Quando faltam quinze dias para a votação, a previsão é de um primeiro turno literalmente imprevisível, que pode lembrar 1989, quando Lula e Leonel Brizola chegaram emparelhados em segundo lugar e o candidato do PT venceu por 400 000 votos — diferença tão apertada que, fora o DataFolha, a maioria dos institutos nem arriscou uma previsão nas pesquisas de boca-de-urna, feitas após a votação.
Mesmo real, o crescimento de Aécio tem um limite. Sua agressividade de adversário original do PT pode contribuir para retirar eleitores conservadores de Marina. Ao mesmo tempo, impede que tenha acesso a eleitores da candidata do PSB que se situam num universo progressista, descontentes com o governo mas em medida ainda maior com a memória do PSDB.
A consolidação de Dilma numa dianteira respeitável envolveu duas situações particulares. O PT teve de mostrar agilidade para encarar uma mudança fora de qualquer cálculo — a troca de Eduardo Campos por Marina Silva, a apenas 45 dias antes da votação –, que deu origem a outra campanha, com outro adversário, outro programa, outro debate. Aquilo que fora pensado e preparado como um clássico confronto entre PT e PSDB transformou-se em outra disputa.
De uma hora para outra Dilma foi levada a enfrentar uma situação estranha ao mundo de pancadaria aberta que enfrentou desde a posse no Planalto, em 2011: uma candidata ex-PT, que podia valer-se de seu passado no partido e no ministério para receber apoio de petistas desgastados após 12 anos de governo, e de suas alianças do presente para conseguir apoio junto a quem fazia oposição desde sempre.Tudo envolvido num ambiente de religiosidade e mistério.
A crítica às propostas conservadoras de Marina, a começar pela independência do Banco Central, serviu para tirar o centro de gravidade da candidata do PSB — uma permanente ambiguidade — e definir um terreno onde a candidatura Dilma tem sido capaz de caminhar com segurança.
Outro aspecto envolve a avaliação do governo, o teste definitivo de qualquer governante que tenta uma reeleição. Mais do que falar sobre o futuro, uma candidata se ancora no passado de governo — para crescer ou afundar. Em qualquer parte do mundo, o eleitor prefere fatos a promessas, não é mesmo?
Os números melhoram regularmente, mostrando que Dilma não é uma candidatura no vazio nem caminha contra a corrente principal de eleitores. Seu crescimento ocorre aonde se esperava, junto a camada de brasileiros que residem nos patamares mais baixos de renda, junto aos quais o PT sempre obteve apoio.
Sem querer imaginar que tudo se passou às mil maravilhas e nada merece crítica, está provado que ela é uma presidente que tem o que mostrar, para decepção de quem imaginava que iria fazer oposição a um governo desastrado, e mesmo para aqueles que falavam em tom condescendente do copo meio cheio, meio vazio. Os debates e entrevistas têm mostrado que é difícil condenar o governo de voz baixa, olho no olho, com argumentos racionais. Essa é a grande mudança produzida na campanha.
A fase atual da campanha mostra o reencontro de Dilma e seu governo. A disputa política e a propaganda na TV permitiram fazer o contraponto ao jornalismo-catastrofe praticado pelos grandes meios de comunicação.
Os números mostram que, sem avanços espetaculares, mas num movimento constante, a cada dia cresce a parcela do eleitorado que gosta do que vê no governo e reconhece a continuidade de Lula. Este é o grande trunfo da presidente.



Marina Silva: "agora estão unidos, PT e PSDB, numa mesma artilharia para destruir quem tem programa, para destruir quem trata eles com respeito

André LB:
COMO É QUE É??? QUAL parte do programa, a que ela mudou ou que AINDA não mudou?
A de flexibilizar direitos trabalhistas?
De mudar a Lei anti trabalho escravo?
A de dar "independência ao BC?
De propor tarifaço para depois das eleições?
A de deixar os LGBT na mão?
De sugerir toda santa vez que abandonará o partido em que está - e de quem é o programa que ela muda como quem muda de camisa - na primeira oportunidade?




E QUE RESPEITO É ESSE? O de "acusar" o PT de por um diretor na Petrobrás "para roubar"?

Apesar de sempre ter discordado de Marina, achei que ela tinha CARÁTER. Ela deve ter mudado de ideia quanto a ter caráter também. Pelo visto, ter caráter não é importante na "nova política". Ela me faz lembrar do filme "as mil faces do Sr. Lao", ou "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter".

Psdb lança o programa "Aécio Esperança"

HARVARD - Animados com a recuperação de Aécio nas pesquisas, líderes do PSDB lançaram as bases do programa Aécio Esperança. Na próxima propaganda eleitoral, Geraldo Alckmin aparecerá abraçado a policiais militares e entoará o jingle "Ligue 0500 2014 045 pra doar cinco pontos percentuais". No fundo a tropa de choque batucará, no ritmo do Olodum, com seus cassetetes nas costas de integrantes do MTST.




Em seguida, os roqueiros Lobão e Roger pedirão mantimentos e ajuda humanitária para conter o avanço do comunismo. Fechando a apresentação, o blogueiro Reinaldo Azagão aparecerá com ombreiras e gravata à Didi Mocó para protagonizar um esquete cômico com Dedé Constantino.

Merval Pereira especula que a campanha Aécio Esperança alterará drasticamente a corrida presidencial. "Trata-se de um fato novo que coloca em xeque o poder de mobilização do PT", analisou.
do The i-piauí Heral

Corrupção empresarial

Na varanda de uma cobertura de um luxuoso hotel, três grandes empreiteiros do país se vangloriam dos seus feitos (leia, Roubos).

- Estão vendo aquela ponte? Dez por cento no meu bolso. O segundo:

- Estão vendo aquele viaduto? Vinte por cento no meu bolso. O terceiro:

- Estão vendo aquele hospital? Perguntou, apontando para um terreno desocupado.

- Hospital, onde? Ali só tem um terreno baldio, disseram seus colegas.

- E ele, com orgulho e empáfia: Cem por cento no meu bolso!




Maurício Dias: por que o ódio ao PT?

O ódio ao PT e aos petistas em geral é um eixo importante sobre o qual também gira a campanha presidencial de 2014.

Esse sentimento antigo, manifestado abertamente por adversários de influência forte no eleitorado de oposição, permanece em estado latente e se manifesta mais claramente nas “guerras” presidenciais. Em tempos de “paz” é cochichado pelos cantos do Congresso e, igualmente, em reuniões sociais onde não há preocupação em expor preconceitos.

Nesses salões mais elegantes, os petistas são tratados de corja.

Recentemente, o asco jorrou surpreendentemente da boca do senador Aécio Neves, um mineiro até então pacato com os adversários políticos. A competição acirrada fez o candidato a presidente pelos tucanos sair dos seus cuidados.

“Sei que não vou ganhar. Minha luta é contra o continuísmo dessa gente. É contra isso que vou lutar”, confidenciou a Jorge Bastos Moreno, de O Globo. Isso, ainda no início de campanha, revelou o jornalista.

Reação incomum a do mineiro Aécio Neves, neto de Tancredo.




A tradicional cordialidade na sociedade mineira, por exemplo, aproximou o tucano Aécio do petista Fernando Pimentel. Em 2008, firmaram a aliança, com resistências no PT, para eleger o prefeito de Belo Horizonte. Acordo repudiado pelos petistas mineiros.
Na política, excetuadas as exceções, os adversários não são tratados como inimigos. Sabem que amanhã será outro dia e poderão estar no mesmo palanque.

O ódio embutido na frase de Aécio Neves tem explicação e antecedentes. Alguns bem mais explosivos e de maior violência verbal.
Em 2006, o senador Jorge Bornhausen (PFL-DEM) lançou uma provocação violenta contra a reeleição de Lula: “Vamos acabar com essa raça. Vamos nos livrar dessa raça por, pelo menos, 30 anos”. Falhou na previsão, como se sabe. Essas são algumas das raízes que fazem o ódio aflorar no processo eleitoral deste ano de forma mais transparente. O sentimento espalhou-se por uma parte considerável do eleitorado. De alto a baixo.

Para derrotar Dilma, um grande contingente de eleitores tucanos trocou de camisa. Optou por Marina. Aécio em poucos dias foi desidratado. Ele chegou a ter 23% das intenções de voto. Mas empacou. Dilma aproximou-se muito da possibilidade de vencer no primeiro turno. Aproximadamente, 30% dos eleitores formavam o grupo dos indecisos ou mostravam a intenção de votar em branco ou nulo.




O imprevisto jogou Marina na disputa. Ela rapidamente superou Aécio, que caiu para 15% das intenções de voto. Voltou a subir a 19% segundo o Ibope.

Trocar Aécio por Marina não é, efetivamente, resultado político adequado pelos critérios políticos mais tradicionais. A troca de candidato, no entanto, é fruto do medo de uma nova vitória do PT, cujo compromisso social assusta parte da sociedade com dificuldade de conviver com pobres.

Essa porção de privilegiados assusta-se com um pouco mais de igualdade. Da fonte do medo também brota o ódio.

Programa de Dilma Rousseff - 19/09/2014 (noite)

Em entrevista A Paulo Moreira Leite disseca a colcha de retalhos de Marina

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 Em entrevista exclusiva ao 247, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, desmonta o programa econômico de Marina Silva e aponta suas fragilidades; "A Marina tem uma resistência antiga e anacrônica ao petróleo e ao pré-sal. Ela ignora a importância do petróleo na matriz energética mundial", diz ele; em outro ponto polêmico, Mercadante também critica a postura de Marina diante do setor financeiro: "A proposta de independência legal do Banco Central é agravada quando associada à retração dos bancos públicos na oferta de crédito. Hoje, os bancos públicos respondem por aproximadamente 50% da oferta de crédito"; leia a íntegra da entrevista concedida a Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília

  


Por Paulo Moreira Leite
Aos 60 anos de idade, Aloizio Mercadante encontra-se no ponto mais alto de quatro décadas de uma atividade politica iniciada como liderança estudantil na luta contra regime militar, no início dos anos 1970.  Como ministro-chefe da Casa Civil, ele representa os olhos e os ouvidos da presidente Dilma Rousseff, cuja confiança conquistou depois de um retorno tímido a Brasília, como ministro de Ciência e Tecnologia, quase um cargo de consolação após a derrota na disputa pelo governo de São Paulo, em 2010.  Promovido a ministro da Educação em 2012, Mercadante assumiu a Casa Civil no início deste ano, quando Gleisi Hoffman se afastou para disputar o governo do Paraná. Escalado, inicialmente, para administrar o governo enquanto a própria Dilma enfrentava a dupla jornada de presidente e candidata, Mercadante tornou-se, nas últimas semanas, uma peça importante na campanha pela reeleição, também.Com uma formação acadêmica que vem da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, reforçada por cursos de pós-Graduação na Universidade de Campinas, Mercadante dedicou um de seus livros mais recentes, ("Brasil - A construção retomada") a Celso Furtado, o grande mestre do pensamento desenvolvimentista, autor de  "Brasil- A construção interrompida", obra que foi uma das fontes de inspiração da vida acadêmica do ministro. Ninguém poderia imaginar que, em 2014, no calor da disputa presidencial, um assessor de Marina Silva colocaria em dúvida as ideias do mestre para dar combate a política econômica do governo Dilma. Foram críticas "preconceituosas e rebaixadas," rebate Mercadante, nesta entrevista exclusiva ao 247.Conhecido, nas assembleias estudantis, como uma das oratórias mais calibradas de sua geração, Aloizio Mercadante abriu um espaço em sua agenda desumana, na semana passada, para dissecar, ponto a ponto, o programa de governo de Marina Silva. A entrevista:

247 – O senhor já definiu o programa de Marina como uma colcha retalhos, que tenta unir o Neo-Liberalismo de Collor – FHC com políticas sociais e ampliação do mercado interno do governo Lula. Como entender isso?
Aloizio Mercadante – Estamos discutindo o futuro do Brasil e, portanto, o debate democrático deve ser feito de forma rigorosa e profunda. Convivi com Marina Silva por décadas, no Partido dos Trabalhadores (PT) e como parlamentar da mesma bancada no Congresso Nacional. Minha análise, extremamente crítica à candidatura de Marina, leva em conta a composição de forças heterogêneas, predominantemente conservadoras, que estão reunidas em torno de sua candidatura e as inconsistências e contradições presentes em seu programa de governo no  discurso de campanha, que merecem reflexão criteriosa. O programa de governo de Marina Silva é uma colcha de retalhos, mal costurada. Além do improviso e da precariedade de suas propostas, são gritantes a quantidade de plágios já comprovados e os sucessivos recuos diante de diversos temas.  

247 - Por que isso acontece?
Mercadante – Isso reflete o caráter de sua candidatura, que não é resultado do acúmulo de debates que costumam ocorrer no interior dos partidos políticos estruturados. Nos últimos anos, a candidata passou por três partidos e tentou, sem sucesso, criar um novo partido, mas não conseguiu reunir em torno de si, de forma organizada, quadros técnicos e políticos que fossem capazes de formular coletivamente um programa de governo à altura dos desafios que o país tem pela frente. O que ela fez foi costurar uma aliança política que não passa de uma aglomeração de personalidades e de apoios difusos. Por isso, seu programa acaba reunindo, às pressas, um conjunto de propostas contraditórias que denunciam sua tentativa de acomodar demandas de diversos setores, sem compromisso com a coerência e a eficácia de suas promessas de campanha.

247 – Qual a grande contradição?
Mercadante – A maior contradição está na opção em radicalizar o projeto neoliberal e a política econômica ortodoxa, e, ao mesmo tempo, dizer que vai ampliar as políticas sociais postas em prática nos últimos doze anos. Ela ignora que não há diálogo possível entre suas propostas neoliberais para a área econômica, inspiradas nos governos Collor e FHC, e as políticas de inclusão social dos governos Lula e Dilma. Na verdade, nunca uma candidatura presidencial levou tão longe seu compromisso com o Estado mínimo e políticas neoliberais tardias. Isso não aconteceu nem mesmo nos momentos de profunda crise econômica, em que o país esteve sujeito aos pacotes do FMI.

247 – 
Por exemplo....Mercadante – Na área econômica, ela se compromete com uma politica de choque nos preços de energia, “o tarifaço”, que teria forte impacto na inflação; com a independência jurídica do Banco Central, na contramão de toda a reflexão teórica e política pós-crise de 2008 sobre o papel do Estado na regulação do sistema financeiro; com a criação de um Conselho Nacional de Responsabilidade Fiscal, formado por tecnocratas “independentes  e sem qualquer vínculo com o governo”; com a redução do papel dos bancos públicos e do crédito direcionado para a indústria, a agricultura, a construção civil e para os consumidores de baixa renda; e com a eliminação da política de conteúdo local, que poderá desarticular principalmente a industrial naval e a cadeia de petróleo e gás. Essas medidas implicam delegar aos credores da dívida pública e aos bancos privados o poder de arbitrar as taxas de juros e de câmbio e a regulação do sistema financeiro. Elas reduziriam drasticamente o poder de um governo democraticamente eleito para atuar no campo fiscal e da política orçamentária. Outro efeito é suprimir o papel do Estado na execução de políticas anticíclicas, como aconteceu a partir de 2008,  que se mostraram cruciais para o enfrentamento da crise internacional e para fomentar os investimentos e aumentar o emprego.  

247 – O que está errado no programa?  
Mercadante – A conta não fecha. Na  área social a candidata promete elevar gastos em cerca de R$ 260 bilhões, o que equivale a aproximadamente 5% do PIB. Quer antecipar a meta de 10% do PIB para a educação (R$ 170 bilhões/ano), prevista no PNE, elevar o gasto com saúde para 10% da receita corrente bruta (R$ 40 bilhões/ano), aumentar em dois pontos percentuais o Fundo de Participação dos Municípios (R$ 9 bilhões/ano), estender o Bolsa Família para mais 10 milhões de famílias (R$ 19 bilhões/ano), acabar com o Fator Previdenciário (R$12 bilhões/ano), criar o passe livre estudantil (R$ 12 bilhões/ano), e multiplicar por 10  orçamento do Fundo Nacional de Segurança Pública (R$ 3,7 bilhões). Marina sabe muito bem que na vida pública é preciso eleger prioridades. E o que ela faz é desenhar uma política ortodoxa e recessiva que conflita com suas promessas sociais. Como a conta não fecha, ela não tem como esconder a real prioridade, que será o ajuste fiscal ortodoxo. Ao mencionar as promessas para a área social, Eduardo Giannetti, seu principal assessor econômico, enfatizou que “os compromissos assumidos no programa serão cumpridos à medida que as condições viabilizarem, sem prejuízo do equilíbrio fiscal. ”   Ao dizer isso, Giannetti está avisando: se a conta não fechar os pobres vão ter de esperar. 

247 – Como seria isso?
Mercadante – No programa de Marina, o  investimento social será subordinado à meta fiscal, estabelecida por um novo organismo  chamado  Conselho de Responsabilidade Fiscal. É este conselho,  independente do governo, a quem competiria assegurar o superávit primário. Ou seja, se as contas apertarem -- e nós sabemos que isso acontece nos melhores governos --  os pobres, novamente, vão ser esquecidos na hora de definir sua parte no orçamento público. O programa de Marina traz de volta um neoliberalismo tardio e uma política econômica ortodoxa, que, na prática, representa a negação da estratégia adotada nos últimos 12 anos, baseada na decisão de fazer da inclusão social e da distribuição de renda os eixos estruturantes do desenvolvimento econômico. Os governos Lula e Dilma foram responsáveis pela maior distribuição de renda de nossa história e pela saída do Brasil do Mapa da Fome, segundo a ONU. Na politica econômica proposta por Marina, o social é apenas uma variável de ajuste da política fiscal, que foi terceirizada para o seu comitê de tecnocratas.  

247 – No programa de governo, a candidata omite o papel do pré-sal e não ressalta os avanços recentes do país com energia eólica. Por que?
Mercadante – A Marina tem uma resistência antiga e anacrônica ao petróleo e ao pré-sal. Ela ignora a importância do petróleo na matriz energética mundial, não apenas como fonte de energia, mas também sob a forma de produtos e serviços.  São milhares de empregos gerados na exploração e distribuição, na petroquímica e em tantos outros setores em que o petróleo e seus derivados são empregados. O setor também é responsável por estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação, com impacto direto na produtividade da indústria e da economia como um todo. Em 2009, ao ser entrevistada no programa Roda Viva, Marina defendeu que investir na exploração do pré-sal era uma “aposta errada”, um erro estratégico, pois os resultados relevantes só viriam em 20 anos. Nesse prazo, os combustíveis fósseis já teriam sido superados pelos biocombustíveis de segunda geração. Passados quatro anos, o pré-sal já é uma realidade, produzindo 540 mil barris/dia. Os governos Lula e Dilma implantaram o regime de partilha, que define a Petrobras como operadora única do pré-sal e estabelece uma política de compras públicas e de incentivo ao conteúdo local. Isso permitiu a construção de 15 novos estaleiros, que hoje empregam mais 80 mil trabalhadores. Nossa indústria naval estava destruída e hoje é a quarta do mundo.  

247 – Assessores de Marina  dizem que o governo Dilma desenvolve essa política porque está preso a uma visão ideológica superada.
Mercadante – É inacreditável que uma candidatura presidencial defenda  a compra de nossas plataformas e navios de países asiáticos  e acredite que essa iniciativa possa ter algum efeito positivo sobre o investimento e o crescimento do Brasil. O único efeito é que os empregos daqui vão migrar para países do outro lado do mundo, que não abrem mão de suas políticas de promoção industrial e de comércio exterior. São essas políticas estratégicas que o coordenador de campanha, Walter Feldman, considera “doutrinárias” e que, na sua opinião, devem ser totalmente revistas. Essa revisão fará com que o  pré-sal deixe de ser explorado pela Petrobras como única operadora, sob o regime de partilha. A eliminação do regime de partilha implicariam entregar às grandes empresas privadas internacionais nossa reservas estratégicas, e também reduziria significativamente a participação do povo brasileiro na distribuição dessa importante riqueza. A vinculação dos royalties do pré-sal e de metade do Fundo Social para as áreas de educação e saúde é o melhor exemplo de como transformar uma riqueza não-renovável em riqueza permanente e essencial para toda sociedade.

247 – Qual seria o impacto de medidas como redução do uso de combustíveis fósseis, criar uma tarifa sobre emissão de CO2, reestabelecer a CIDE?
Mercadante – Essas medidas não apenas trariam um imediato aumento dos preços dos combustíveis, mas também da energia elétrica gerada por termelétricas e de todos os produtos e serviços que utilizam, direta ou indiretamente, derivados de petróleo. É espantoso que o programa de governo de Marina nem sequer cite as termoelétricas movidas a combustíveis fósseis, que têm se mostrado essenciais para a segurança e economicidade do sistema elétrico, especialmente no último período.

247 – Por que Marina fala em rever o plano de instalação de novas usinas hidrelétricas?
Mercadante – A energia hidrelétrica é outro alvo da candidata. Hoje, as usinas hidrelétricas são a principal fonte de energia elétrica do país e os reservatórios são uma forma estratégica de estocar energia. O Brasil possui algo em torno de 160 GW de potencial hidrelétrico não aproveitado, metade dele concentrado na região Norte. Recentemente, Marina declarou que será necessário rever o plano de instalação de novas Usinas Hidrelétricas na região Norte, subestimando o imenso potencial disponível e o papel estratégico dessas usinas, de eclusas e de hidrovias para a nossa logística. No caso das hidrovias, elas são fundamentais para reduzir os custos logísticos da produção agrícola da região Centro-Oeste, permitindo também desafogar os portos das regiões Sul e Sudeste.    

247 – Sem pré-sal, sem hidrelétricas, como o país poderia obter a energia de que precisa e vai precisar nos próximos anos?
Mercadante – Além de subestimar o papel estratégico da energia hidrelétrica para o desenvolvimento sustentável da economia brasileira, o  programa de governo propõe justamente o oposto. Diz que   é preciso reorientar a matriz energética em direção às “fontes renováveis modernas (solar, eólica, de biomassa, geotermal, das marés, dos biocombustíveis de segunda geração)”.  Não vamos ignorar que nos governos Lula e Dilma o país já avançou bastante na geração de energia limpa, como eólica, a solar e a biomassa. A oferta dessas fontes passou de 240MW para 3.101MW. A oferta de energia eólica vem crescendo entre 30% e 40% ao ano, o que nos coloca como segundo país que mais investe em geração eólica no mundo. Essa expansão tem ocorrido em paralelo ao desenvolvimento da produção doméstica de equipamentos para o setor, fruto das políticas industriais e de conteúdo local, que são tão duramente criticadas pela candidata. O problema é que, como ela mesma admite,  essas opções devem trazer maior custo para o consumidor, sem, no entanto, garantir a segurança energética do país.

247 – Qual a importância desses fatores – custo e segurança – para a economia de um país?
Mercadante – A  produção regular de energia a baixo custo é estratégica para a competividade da economia de qualquer país. Os Estados Unidos não permitem  a exportação do gás de xisto extraído de suas imensas reservas, recém-descobertas. Eles estão mantendo os preços extremamente baixos para dar competitividade à sua indústria, mesmo com o país ocupando a vanguarda tecnológica nas áreas de produção de energias limpas.

247 – E a energia nuclear?
Mercadante – Os preconceitos de Marina se estendem à energia nuclear, que simplesmente é ignorada em seu programa de governo. Com Angra I e II e a construção de Angra III, o país  continuará a gerar energia elétrica de baixo custo e fornecimento constante, ao contrário da energia gerada por usinas eólicas, solares e de marés, que dependem fortemente dos ciclos da natureza. O desenvolvimento da indústria nuclear também é essencial para a área da saúde. 

247 – Marina mostrou-se capaz de recusar pesquisas nucleares para fins medicinais.
Mercadante – Em junho de 2010, a então senadora Marina Silva foi a única a votar contra a PEC 100/2007 que autorizava a produção, comercialização e utilização de produtos de radioisótopos para fins medicinais, sob supervisão da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Na segunda votação dessa mesma PEC , quando se viu totalmente isolada no plenário, ela mudou o voto. 

247 – É razoável criticar o desempenho do Brasil na proteção do meio ambiente?Mercadante – A ONU reconhece que o Brasil é o país que mais contribuiu para a redução de emissões de gases de efeito estufa de todo planeta. Já atingimos 80% da meta voluntária que assumimos para 2020, de reduzir de 39% a 32% as emissões. O que o Brasil já reduziu em um ano equivale a todas as emissões do Reino Unido por igual período. Outra dimensão relevante é a redução do desmatamento da Amazônia.

247 – Qual o desempenho nessa questão?
Mercadante – Quando o presidente Lula assumiu o governo, tínhamos 21 mil km2 de desmatamento/ano. Durante a gestão de Marina no Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento bateu recorde e chegou a 24 mil km2, e em 2007 reduzimos para cerca de 11 mil km2. Na gestão da presidente Dilma, tivemos as menores taxas de desmatamento da história da Amazônia, em torno de 5 mil km2 ano. O Brasil está construindo uma estratégia de desenvolvimento que combina crescimento econômico, inclusão social e sustentabilidade ambiental.  

247 – Ao falar que pretende governar com os melhores -- sem explicar melhores para  que -- Marina recupera o mito da eficiência técnica, que era o discurso favorito do regime militar e de todos governantes  que não prestam contas de seus atos.   
Mercadante – O programa de governo de Marina Silva traz duas propostas para a área econômica que transferem decisões políticas estratégicas para as mãos de tecnocratas. A proposta de independência legal do Banco Central, retira da população o direito de influir, ainda que indiretamente, em decisões que afetam o seu dia a dia, como, por exemplo, se o Banco Central deve considerar os impactos de suas decisões sobre o emprego e a renda. A constituição brasileira apenas prevê a independência dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O que ela está propondo é praticamente um quarto poder: o poder dos bancos, traduzido em um Banco Central com uma diretoria blindada diante de qualquer governo democraticamente eleito pelo povo.  A autonomia operacional do BC vem sendo praticada há décadas no Brasil, mas a independência completa representa um retrocesso na relação entre o governo democraticamente eleito e o capital financeiro. É inacreditável que essa proposta ganhe força depois da crise financeira internacional de 2008. Recentemente, o presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, admitiu que a busca exclusiva do combate à inflação por um Banco central independente “tornou-se uma distração perigosa para a economia”. Economistas laureados com o Nobel e ex-economistas chefe do FMI e do Banco Mundial, como Joseph Stiglitz, Paul Krugman e Simon Johnson, destacam que os excessos dos bancos centrais independentes, sempre dispostos a atender os pleitos dos mercados financeiros em matéria de regulação bancária e política monetária, estão na raiz da crise de 2008.Também ressaltam que os países com bancos centrais menos independentes, como o Brasil, a Índia e a China, foram aqueles que melhor enfrentaram a recente crise internacional. O debate mundial, após 2008, caminhou no sentido contrário ao da proposta de Marina, pois o que está em pauta é como aprofundar a regulação e o controle sobre o sistema financeiro, estabelecer regras prudenciais e coibir os riscos e as consequências econômicas e sociais de novas crises financeiras.

247 – O programa também fala na ampliação do espaço para os bancos privados.
Mercadante – A proposta de independência legal do Banco Central é agravada quando associada à retração dos bancos públicos na oferta de crédito. Hoje, os bancos públicos respondem por aproximadamente 50% da oferta de crédito. Como diz seu principal assessor econômico, Eduardo Giannetti, a indústria deve se preparar para ser “desmamada”. Outro economista ligado à campanha, Alexandre  Rands, qualifica os empresários como “prostitutas” na sua relação com os bancos públicos. São visões preconceituosas e rebaixadas da relação entre o Estado e setor privado, que, se levadas adiante, terão graves consequências para a indústria e todo o setor produtivo. Por sinal, também foram preconceituosas e rebaixadas as críticas ao ilustre brasileiro Celso Furtado e aos economistas da Unicamp.  Não satisfeita em delegar exclusivamente a técnicos as decisões de política monetária e a regulação do sistema financeiro, a candidata também propõe delegar a condução da política fiscal a outro grupo de tecnocratas não eleitos pelo povo, “sem vinculação a nenhuma instância de governo”: o Conselho Nacional de Responsabilidade Fiscal. Dessa forma, ela propõe terceirizar instrumentos fundamentais que os governos democráticos dispõem para a implementação da política fiscal e orçamentária e o enfrentamento de crises.  

247 – Quais as consequências práticas dessas propostas?
Mercadante – Concebidas sob o pretexto da racionalidade técnica, elas levam para o caminho da recessão,  com o choque de preços de energia, o encarecimento do crédito, o aperto monetário e fiscal, a terceirização da politica fiscal e, consequentemente, o rompimento completo com os compromissos sociais e com a própria estrutura produtiva do país.

247 – Por que os ataques aos bancos públicos?
Mercadante – O programa de Marina Silva critica duramente os bancos públicos – que supostamente impediriam o desenvolvimento do crédito privado e do mercado de capitais – e condena os aportes do Tesouro nacional ao BNDES, bem como seus critérios na concessão de financiamentos. Entretanto, a presença e atuação dos bancos públicos têm sido fundamentais no financiamento de projetos estratégicos para o nosso desenvolvimento econômico, como grandes obras de infraestrutura e de modernização da indústria. É evidente que é importante desenvolver o crédito privado e novos instrumentos de crédito de longo prazo, mas é um equívoco privatizar o mercado de crédito e abrir mão de instrumentos públicos, para o investimento de longo prazo A atuação dos bancos públicos foi muito importante não apenas para a reação à crise de 2008, mas também para a manutenção de boa parte do dinamismo do mercado doméstico e para a recuperação do investimento, que permitiram combinar crescimento econômico com inclusão social. Diante da crise internacional, a política industrial e os bancos públicos (BB, BNDES, CEF, BASA, FINEP e BNE) têm sido utilizados pelos governos como instrumentos de política anticíclica e de renovação da estrutura produtiva. Nos últimos anos, houve um aumento do ativismo do Estado em vários países, como os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul, para não mencionar a China, que é o principal exemplo de dinamismo e utilização de bancos públicos. No fundo, a candidata retoma uma velha proposta do sistema financeiro, que deseja acabar com o crédito direcionado e barato para atividades estratégicas em áreas como agricultura, habitação e investimento de longo prazo. Ou seja, estariam comprometidos os R$ 180 bilhões de reais/safra para a agricultura comercial e familiar, previstos no plano Safra 2014-2015, os R$ 190 bilhões de reais/ano destinados pelo BNDES principalmente à indústria e infraestrutura, e os recursos destinados aos programas de financiamento à habitação popular, como o programa Minha Casa Minha Vida. Com isso, o crédito ficaria mais caro, tanto para quem produz, quanto para quem quer comprar sua casa própria, derrubando assim os Investimentos e empurrando nossa economia para um ajuste ortodoxo e recessivo. Marina propõe eliminar a política de compras governamentais e conteúdo local.  Os principais alvos de suas medidas são a cadeia de petróleo e gás e a indústria automotiva. Isso significaria desarticular o Inovar Auto, que atraiu 12 novas montadoras para o país, adensou a cadeia produtiva no setor e está estimulando a pesquisa, desenvolvimento e inovação dessa indústria. Também significaria retomar o processo de desnacionalização de nossa indústria de autopeças, revertendo os esforços recentes. Da mesma forma, a suspensão da exigência de conteúdo local na cadeia de petróleo e gás desmobilizaria a capacidade de nossos estaleiros. Sofreriam, ainda, duro impacto os esforços de inovação e agregação de valor da indústria de fármacos e de tecnologia da informação. A indústria de defesa também foi abandonada no programa de governo, apesar de ser estratégica para a soberania e o desenvolvimento tecnológico, pois demanda muita pesquisa e alta tecnologia, e para a balança comercial, pois essa indústria atualmente exporta US$2,5 bilhões por ano. O Brasil vem desenvolvendo importantes projetos, como a construção de submarinos para a defesa do pré-sal, os aviões cargueiros (modelo KC 390 da Embraer), Super Tucano, os novos caças Grippen, o sistema de monitoramento da Amazônia Azul, os Helicópteros Militares HX-BR, o Sisfron (Sistema de Monitoramento de Fronteiras), o veículo blindado Guarani e os veículos aéreos não tripulados – VANTS, muito importantes para a vigilância de nossas fronteiras.  

247 – O programa fala em reordenar gastos públicos para ganhar eficiência...
Mercadante – Como já disse, Marina Silva propõe aumentar significativamente o gasto com programas sociais, prevendo um incremento de pelo menos R$ 260 bilhões mas em nenhum momento diz de onde virão os recursos necessários. Apenas diz que esse aumento seria financiado com ganhos de eficiência da administração pública e pelo fim do componente fiscal dos subsídios aos bancos públicos.  Sem ingenuidade, nem demagogia, para se chegar a um ganho de eficiencia dessa ordem exigiria arrochar salários, desestruturar carreiras e reduzir o atual quadro de servidores públicos. É bom lembrar que quando se tentou algo do gênero, o resultado foi o acúmulo de processos e condenações da União e a desestruturação de unidades chave,  para o planejamento e a gestão do Estado. Ela também propõe cortar as linhas de crédito subsidiado e direcionados que beneficiam a agricultura, a habitação popular, a indústria, a infraestrutura e os exportadores.

247 – Os aliados de Marina dizem que suas linhas de política externa se baseiam no pragmatismo, que seria uma contraposição a diplomacia de Lula. O programa assume o ponto de vista da diplomacia tucana na qual o país só teria a ganhar com uma “integração subordinada” ao governo dos EUA.
Mercadante – As propostas de política externa da candidata representam a retomada da estratégia de inserção subordinada do Brasil na economia mundial. Sua concepção de integração às cadeias globais de produção vem acompanhada da renúncia a todas as formas de política industrial. O governo brasileiro abriria mão dos principais instrumentos necessários para o Brasil assegurar uma posição nessas cadeias globais, com bons empregos à população, impulso à inovação tecnológica e aumento do conteúdo nacional de nossos produtos. O México é um exemplo do alinhamento comercial defendido por Marina. De 1999 a 2010, o PIB per capita em Paridade de Poder de Compra (PPP) do México cresceu 9,1%, enquanto que o do Brasil cresceu 31%. No mesmo período, pobreza atingiu 51% da população mexicana, enquanto que o Brasil, de 2001 a 2012, presenciou uma redução sem precedentes da desigualdade e da pobreza extrema, que caiu de 14% para 3,5% de acordo com a ONU. Qual o modelo de desenvolvimento parece mais adequado: o conduzido por Lula e Dilma ou o adotado pelo México? De forma envergonhada, ela também propõe relativizar o Mercosul e a estratégia de interação regional ou mesmo abandoná-lo. Mas ao se associar aos ataques conservadores ao Mercosul, ela omite que nos últimos anos o comércio mundial cresceu 180%, enquanto nossas exportações para o Mercosul cresceram mais de 600%, com destaque para as nossas exportações de bens industriais.  Além disso, o aprofundamento da integração produtiva e da infraestrutura regional vem permitindo ao Brasil, a maior economia do bloco, firmar-se como líder na região. Foi precisamente nos últimos anos que fortalecemos o Mercosul, que constituímos a Unasul e a Celac, em um ambiente de paz e democracia na região, em contraposição a um passado golpista e de longos períodos ditatoriais. O Brasil não pode negligenciar seu papel regional, pois respondemos por mais da metade do território, do PIB e da população da América do Sul.

247 – E os BRICS?
Mercadante – A outra grande frente de atuação de sua política externa conservadora conduz ao enfraquecimento da cooperação no âmbito dos BRICS, por meio da imposição de constrangimentos à cooperação, subordinando a agenda de cooperação a temas como meio ambiente e direitos humanos. Se essa postura pudesse ser levada a sério, o programa deveria propor que as relações com os EUA deveriam subordinar-se a discussão de direitos humanos em Guantánamo ou e emissões de CO2,pois este é o maior emissor mundial e não é signatário do Tratado de Kyoto. Obviamente, isso a candidata não propõe. Na prática, essa proposta esvazia os BRICS e compromete os esforços para a criação de novos mecanismos de promoção do desenvolvimento e estabilidade financeira, como o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e o Arranjo Contingente de Reservas, que estão se constituindo instrumentos mais avançados que o Banco Mundial e o FMI.Isso significa renunciar ao esforço de construção de um mundo multipolar e o retorno à lógica de inserção subordinada aos países desenvolvidos, cujo maior símbolo era o projeto de inserção na Alca. Naquela época, acumulávamos déficits comerciais de US$ 8,6 bilhões. Muito diferente da política externa e comercial dos governos Lula e Dilma, em que se acumularam superávits comerciais da ordem de US$ 312 bilhões e US$ 380 bilhões em reservas internacionais, ao mesmo tempo em que nossa diplomacia se ampliou e se diversificou em todo o mundo.  247 – Quando fala em governo dos "melhores" que ela mesma vai escolher, Marina expressa um grande desprezo pelos partidos políticos, em benefício de relações pessoais, de personalidades,  de  homens e mulheres providenciais.Mercadante – Apesar de ter sido vereadora, deputada estadual, senadora por dois mandatos e ministra por cinco anos, e de ter passado por três partidos e por um projeto mal sucedido de organização partidária, Marina Silva pretende se apresentar como porta-voz de uma “nova política”. Seu discurso se propõe superar problemas históricos da democracia brasileira, tais como o predomínio de interesses econômicos e sociais hegemônicos, a concentração do poder político nas mãos de partidos tradicionais e de grupos oligárquicos, a existência de um presidencialismo de coalizão, que favorece o fisiologismo e a corrupção, e a baixa qualidade dos mecanismos de participação popular e de transparência pública. Seus ataques aos partidos políticos têm sido direcionados especialmente ao PT, partido em que ela militou por 27 anos, cuja militância foi responsável pela sua condução a todos seus mandatos eletivos e pela sustentação dos embates políticos que travou ao longo de sua vida pública.  A candidata sonha com um presidencialismo construído em torno de personalidades – “os homens de bem”.  As  grandes crises políticas do país sempre começaram pela ausência de apoio parlamentar, como aconteceu durante os governos Jânio Quadros e Fernando Collor. Ambos tentaram,  em sua época, atrair aqueles que eram chamados de "melhores." Os livros de história contam o que aconteceu.247 – Como avaliar a proposta de reforma política do programa de Marina?Mercadante – É inacreditável falar em “nova politica” sem enfrentar um tema central, que está na raiz de quase todos os escândalos de corrupção envolvendo políticos – o financiamento  das campanhas eleitorais por empresas privadas. .Em seu programa de governo, a candidata apenas se compromete a aperfeiçoar os mecanismos de fiscalização e prestação de contas das doações privada. Ela caminha na direção contrária à do Supremo Tribunal Federal, que está prestes a proibir as doações de empresas privadas. Recentemente, até o Senado norte-americano deu início a um processo parlamentar para aprovar uma emenda constitucional que permitirá restringir definitivamente a influência de empresas privadas do processo eleitoral. Por ironia, nos últimos dias, Marina Silva passou a falar em financiamento público de campanha, em mais um recuo em seu programa de governo. 247 – Mas o programa também fala de mudanças no horário político, na estrutura dos partidos...Mercadante – É uma proposta que enfraquece, sobretudo, os partidos programáticos. Por exemplo, a  implementação da “Verdade Eleitoral” representa o fim do quociente eleitoral, o que enfraqueceria principalmente os partidos políticos que têm em seus quadros lideranças políticas bem votadas. Isso seria agravado com a possibilidade de candidaturas avulsas aos cargos proporcionais, que favoreceria os candidatos com alta exposição pública, grande poder econômico, ou representantes de “causas” que já se elegem dentro da atual estrutura partidária, mas que deixariam de contribuir para o quociente eleitoral e para a vida partidária. O que enfraquece justamente os partidos de conteúdo programático, para os quais é essencial o acúmulo de debates e candidaturas.  Sua proposta de revisão da distribuição do tempo para a propaganda eleitoral também reduz a importância do voto do eleitor que determina o tamanho das bancadas parlamentares, critério utilizado na determinação de parte do tempo de televisão. Na sua visão, as bancadas parlamentares não seriam representativas da sociedade brasileira. Ou seja, a candidata acredita possuir uma fórmula “melhor” do que o voto do eleitor para definir essa representatividade, mas não diz qual é essa fórmula. E ao relativizar o tamanho das bancadas como critério para a distribuição de tempo proporcional de televisão, acena com a distribuição desse tempo de forma isonômica entre todos os candidatos, o que favoreceria as legendas de aluguel, sempre dispostas a usar o tempo de TV como moeda de troca, estimulando ainda mais a fragmentação partidária.  247 – O programa fala também de plebiscitos e referendos...Mercadante – 


Sua única proposta modernizadora é, na verdade, uma bandeira histórica do PT, que introduziu na gestão pública diversas formas de participação popular, como conferências nacionais e regionais, orçamento participativo e conselhos da sociedade civil É bom lembrar que, desde 2010, a candidata propõe a realização de consultas populares com o propósito de se esquivar do debate de temas polêmicos, como a descriminalização do aborto e da maconha. Em nenhum momento, porém, a candidata propõe submeter à consulta popular temas de amplo interesse, como  suas proposta de independência legal do Banco Central, e de retração do papel dos Bancos Públicos. Marina é uma política profissional há décadas e agora se filiou a um partido extremamente pragmático, tanto na sua composição interna, como nas alianças políticas. A sua campanha aglutinou predominantemente quadros políticos e ideólogos do pensamento conservador. A nova política é uma retórica cada dia mais fragilizada pelos compromissos, composição de forças, atitudes e alianças da candidata.


Quer ser meu amigo?

Qual foi a última vez que você ouviu um homem fazer esta simples pergunta a outro homem? Crianças a fazem todos os dias no parquinho, mas, em algum ponto do ensino fundamental, os meninos param de fazer esta pergunta – a questão rapidamente se torna um convite para sarcasmo, rejeição e zombaria. Imagine que um sujeito chamado João vá a um bar com um grupo de homens colegas de trabalho. Um dos caras diz, “João, este é o Beto”. Eles conversam por um tempo e, então, João diz com alegria: “Beto! Que prazer te conhecer. Gostei de ti. Quer ser meu amigo?”.




Corta. Ao redor da cena, olhares abismados. João acabou de violar a regra tácita do “don’t ask, don’t tell” (Não pergunte, não conte). Não admita que você anseia por ou precisa de amigos. Não admita que você precisa de qualquer coisa. Seja confiante. Seja autossuficiente. Só quem não precisa de amigos é digno deles.

A pergunta que homens não querem fazer
A razão por que a maioria dos homens jamais solicitaria amizade diretamente a outro homem é que, desde meninos, temos pouca ou nenhuma oportunidade na vida para aprender esse tipo de tomada de risco. Esses momentos criam incertezas agonizantes para os homens. Pedir por amizade sugere vulnerabilidade, uma posição social flexível e até mesmo a disposição de admitir as necessidades. Todos estes valores condenados sem rodeios.

Desde cedo, os homens são ensinados a obter acesso às amizades de forma enviesada, agrupando-se em grupos, times ou organizações claramente definidos. Para os estadunidenses, as oportunidades para contato social surgem nos escoteiros, em times de beisebol ou nas escolas. Esse tipo de organização social alinha grandes grupos e ensina os garotos a seguir regras claras e simples de como se comportar enquanto menino. Algumas organizações, como os escoteiros, chegam a distribuir pequenos manuais impressos pelos quais se pode determinar posição, status, comportamento e formas adequadas de expressão.

Dentro dessas organizações, até aqueles com dificuldades de socialização são aceitos, ainda que de forma mau humorada, independentemente de suas posições sociais. Rapidamente, os meninos aprendem a se posicionar. Os alfas no topo, os desajustados sociais ou meio nerds lá embaixo. Também rapidamente, esses meninos aprendem que o avanço na organização não requer as habilidades complexas da compreensão de nuances ou de lidar com incertezas. Correr riscos sociais não é recompensado. Para ficar no topo, basta a aplicação da confiança, da autoafirmação e uma disposição para exercer a masculinidade de acordo com as normas.

A associação dos meninos a essas organizações ensina uma expressão de identidade social simplificada. Por extensão, as amizades formadas nestes espaços são, também, expressas de formas restritas ou simplificadas. São amizades que promovem a conformidade e desencorajam a autenticidade entre as pessoas.

Segurança em primeiro lugar
Na idade adulta, os homens continuam a procurar amigos nos contextos seguros e altamente conformistas do trabalho, esportes coletivos, igrejas ou conexões familiares e sociais de suas esposas. Ficam amigos dos pais que conhecem em reuniões de pais e mestres. Amparam-se em clubes, nas repúblicas universitárias ou na tropa de escoteiros do filho. Conectam-se pelas organizações a que pertencem e buscam amizades por meios aprovados coletivamente.

Uma vez que tais amizades são fundadas em instituições, os homens acabam mantendo muito do que lhes é peculiar escondido, atendo-se à cultura daqueles grupos. Isso causa um elevado grau de homogeneidade na expressão e manutenção das amizades masculinas. José é meu amigo porque José vem ao boliche todas as semanas, e não porque José é alguém com quem eu me conecto em qualquer outro nível. Esse tipo de amizade, livre de riscos e baseada em proximidade, pode causar desconexão, fazendo com que o homem se esconda ou se frustre emocionalmente. A conformidade organizacional garante o pertencimento, mas não a expressão.

É por isso que, para os homens, quando a participação numa organização acaba, muitos dos relacionamentos ou amizades embutidas nestas organizações também terminam – a não ser nos casos em que os vínculos emocionais já se desenvolveram.

A autenticidade emocional é a cola que mantém as amizades coesas. Sem ela, as amizades são superficiais ou frágeis demais para sobreviver além da mera conveniência.

Bem-vindo à Caixa do Homem
Na ausência de emoções reais, os homens se tornaram homogêneos ao se expressarem. Essa igualdade encoraja que eles vivam, por vontade própria ou não, no que muitos escritores chamam de Caixa do Homem. A Caixa do Homem é um conjunto de expectativas rígidas que definem o que é “um homem de verdade”, especialmente na cultura estadunidense. É ele que ganha o pão. Ele é hétero. É apto com o corpo. Joga ou assiste esportes. É o participante dominante em qualquer troca. É um bombeiro, advogado ou CEO. É homem com H.

Quem decide o que significa “Homem que é homem...”?
Quem decide o que significa “Homem que é homem…”?
Um homem propõe sexo com uma mulher e aceita um “não” sem perder a pose. Um homem tenta convencer um cliente a comprar um produto e recebe um “não”, mas isso faz parte. Porém, pedir a outro homem “por favor seja meu amigo”, representa um risco social que é assustador demais para se tentar. Isso porque, no momento em que faz essa pergunta, o homem fracassou em ser o que se espera de todos os homens. Ele fracassou em ser, e preste bem atenção na palavra que usarei aqui, competente.

Os homens se movem em círculos de competência. A aptidão é um componente central para o posicionamento dos homens nas instituições em que confiam para conexão social – seja nos esportes, no trabalho e em qualquer churrasco de garagem ou quintal. Nos aproximamos uns dos outros não apenas em termos de interesses comuns, mas em termos de nossas habilidades nessas áreas. Importa, e muito, saber como fazer.

Além disso, só nos aproximamos uns dos outros com nossas questões pessoais bem amarradas e completamente formadas. Somos bem-sucedidos, inteligentes, felizes e cheios de conselhos sobre como fazer corretamente o que precisa ser feito. Por conseguinte, temos muitas amizades que já surgem prontas, nascidas magicamente de nosso charme e carisma masculinos naturais.

Treinados para nos esconder na barganha
O foco na competência anda junto com a crença de que nossas chances de sucesso aumentam quando alavancadas por algo que podemos usar em nosso favor. Nossa posição na empresa. Nosso sucesso financeiro. Nossa habilidade no golfe. Nossa disposição em avançar as metas da organização. Algo mais do que o simples fato de ser quem somos.

Abrimos a conversa com “você vai querer ser meu amigo pelas coisas que posso conseguir para você, não por minha pessoa em si” e levamos essa mesma dinâmica para os relacionamentos românticos, geralmente começando com a história de que somos bons provedores. É por isso que pagamos pela refeição no primeiro encontro ou enraizamos os hábitos de abrir portas e prestar serviços para as mulheres. No fundo, nós nos preocupamos em não ser suficientes sem o elemento financeiro ou da prestação de serviço. Ou, pior do que isso, nos preocupamos por que queremos manter diversos elementos de barganha em qualquer relacionamento que começamos.

De todo modo, isso diz respeito à insegurança masculina. Essa insegurança nasce do fato de que nunca nos foi ensinado a usar as emoções de nosso verdadeiro eu. Para entrar nesse mundo, ao invés de oferecer quem somos como seres humanos, estabelecemos um padrão cíclico no qual se espera sempre que os homens tragam, contribuam, produzam, provenham.

De forma a evitar a vulnerabilidade, somos convencidos de que é mais fácil comprar a entrada nos relacionamentos como se faz em uma transação. Nos oferecer é assustador demais e, coletivamente, criamos os homens para que sejam inseguros a não ser que possam jogar suas vantagens na mesa (tanto os homens quanto as mulheres participam desse ciclo de supressão emocional que atravessa várias gerações. É pagar para brincar).

Assim, tiramos nossas histórias pessoais do foco e dispomos nossas competências, nossas redes e nossas narrativas alfa em seus lugares. E se as amizades masculinas dizem respeito exclusivamente à confiança e competência, não podem, por definição, serem muito autênticas: ninguém é competente em tudo. Ninguém está totalmente livre de incerteza ou confusão.

Um brinde à você, meu amigo. Mas só por que você é foda.
Um brinde à você, meu amigo. Mas só por que você é foda.
Incerteza = Coragem = Amizade
Quando se compartilha a incerteza, começamos a fazer perguntas maiores. E é nessas conversas em que o homem fala com honestidade. Se engajar na incerteza é a forma mais elevada de coragem e, ao fazer isso, nos movemos na direção de certezas mais profundas e duradouras.

Se as amizades nas vidas dos homens parecem superficiais e transitórias, é porque muitos destes relacionamentos existem sem riscos emocionais e, como tais, lhes falta autenticidade. E a autenticidade é o que mantém as amizades mais profundas por mais tempo.

Por isso eu, por exemplo, estou buscando amizades por meios mais individualizados e diretos – fora de minha rede imediata, onde todos que encontro são parecidos comigo. Vou buscar amizades fora de minhas zonas de conforto. Vou me arriscar, já que o panorama insosso da conformidade social não é e nunca foi suficiente para mim.

Se eu receber um “não obrigado”, vou só seguir em frente e continuar tentando. Não vou mais iniciar minhas conversas com algo que se meça em valor. Não vou usar minha rede. Não vou usar minhas conexões. Não vou usar minha capacidade de obter aprovação ao me conformar com um conjunto de expectativas ou objetivos comuns.

Acima de tudo, estou apenas oferecendo a mim mesmo. Eu mesmo. Porque me orgulho de quem sou. Chegar aqui demandou um bocado de sangue, suor e lágrimas. E não vou esconder tudo isso só para garantir que os outros se mantenham confortáveis em suas escolhas.

Acima de tudo, quero viver uma boa vida. Quero correr riscos. Quero ser quem estou me tornando. E continuar a fazer amigos mais legítimos, com emoções verdadeiras.

Nota do editor: Este texto foi originalmente publicado no Goodmenproject.com e traduzido por nós com autorização do autor.

Mark Greene você pode segui-lo em @megaSAHD.