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Crônica dominical de Luis Fernando Veríssimo

Murais
No Grand Palais, o espaço de arte de maior prestígio em Paris, foi inaugurada a exposição dos dois murais, “Guerra e paz”, que Candido Portinari fez para o interior do prédio das Nações Unidas, em Nova York.
Antes de serem doados à ONU, em 1956, os grandes painéis foram exibidos no Brasil, e agora chegam a Paris no início da fase internacional de um projeto de exposição, fora da área restrita do foyer da ONU, que começou com outra turnê pelo Brasil e terminará com sua volta a Nova York em 2015.
A obra de Portinari está magnificamente apresentada no Grand Palais, junto com estudos preparatórios para os murais e outros trabalhos do artista, e a solenidade teve a presença do filho de Portinari — que morou durante muito tempo em Paris —, do embaixador do Brasil na França, José Mauricio Bustani; da Marta Suplicy; de outros responsáveis pelo projeto, e de dezenas de brasileiros e simpatizantes orgulhosos.
Ninguém mencionou que Portinari não pôde comparecer à inauguração dos seus murais na ONU, em 1956, porque era comunista e os americanos não o deixaram entrar no país. Eu me lembrei da história do mural que Nelson Rockefeller encomendou ao mexicano Diego Rivera para o saguão de entrada do Rockefeller Center, em Nova York. O mural deveria retratar o avanço da Humanidade através do trabalho e do progresso científico.

"Guerra e Paz" de Candido Portinari é exposto no Grand Palais, em Paris

Rivera foi o escolhido porque era um dos pintores favoritos da mãe de Nelson Rockefeller, que, obviamente, não informara ao filho quais eram as convicções políticas do mexicano. Pode-se imaginar a cara do Nelson ao ver, no mural pronto, o Lenin de mãos dadas com trabalhadores, simbolizando a união que emanciparia o proletariado mundial da opressão capitalista.
Rockefeller pagou ao Rivera, mas mandou pôr abaixo o mural. Não adiantou a oferta do pintor de incluir Abraham Lincoln como emancipador, talvez ao lado de Lenin. O mural foi destruído. Antes da sua destruição, Rivera pediu que o fotografassem. E o reproduziu no México, acrescentando alguns detalhes que não estavam na primeira versão. Com Marx e Trotsky, além de Lenin. E — para completar a vingança — o pai de Nelson, John D. Rockefeller, um notório abstêmio, foi retratado como um bêbado, simbolizando a dissolução moral dos ricos.
Nelson Rockefeller não desistiu do seu mural. Contratou um tal de José Maria Sert para pintá-lo. O mural continua lá, na entrada do Rockefeller Center. A sua figura principal é Abraham Lincoln.