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Recordar é viver

Entrevista histórica feita por Mino Carta e Bernardo Lerer com Lula, a exatamente 35 anos atrás
IstoÉ – Lula, os políticos estão cercando você e seu sindicato. Que acha disso?

Lula – A gente tem que dar risada, porque esse negócio é realmente muito engraçado. Eu acho que este é o momento que o trabalhador deve tirar proveito de alguma coisa. Mas é preciso agir com inteligência, saber jogar, e isso é difícil. você pode ser hostilizado dentro do próprio movimento sindical. Eu participei certa vez de uma reunião com cerca de cem dirigentes sindicais, no qual se discutiu a formação de um novo partido, o apoio a este ou aquele político, em lugar de discutir a libertação do movimento sindical. E me pediram para falar e eu fui muito agressivo, disse o que pensava. Não agradei nem um pouco. Quem fala a verdade fica marginalizado. Não fui mais convidado para reuniões.
IstoÉ – Na sucessão paulista, você tem candidatos?
Lula – Eu acho que o movimento sindical de alguma maneira tem de se manifestar, porque quem cala, consente. Mas não existe compromisso meu com nenhum candidato. Agora, a gente começa a perceber que o negócio deve ser bem lucrativo se todo mundo quer ser governador, e sem ter direito ao posto, isto é, sem ter compromisso com o povo, mas apenas com quem indica e com os grupos que o apoiam. Engraçado: eleição direta ninguém quer. (Ele apoiaria e faria campanha para o candidato do MDB ao Senado, Fernando Henrique Cardoso.)
IstoÉ – Você não chegou a ser sondado pelo MDB para ser candidato a deputado?
Lula – Especulou-se a respeito. Mas eu não sou inscrito em nenhum partido, e graças a Deus esgotou-se o prazo para inscrição. Jamais participaria da MDB ou da Arena, são farinha do mesmo saco e tem os mesmos objetivos. A Arena e o MDB não representam a classe trabalhadora. Eu só me inscreveria no partido que afinasse comigo ideologicamente. Não me interessa partido de cima para baixo. E é isso que acontece sempre: quando algo começa a fervilhar por aí, vêm meia dúzia de caras, os mesmos de sempre, mexem maravilhosamente na coisa toda e continuam mandando.
IstoÉ – Mas onde está você ideologicamente?
Lula – Eu digo de peito aberto que não tenho compromisso com ninguém, e que o sindicato de São Bernardo e Diadema é uma das poucas coisas independentes que existem nesta terra. Só tenho compromisso com os trabalhadores que me elegeram. No mais, a gente é chamado de dedo-duro pela oposição, de comunista pelo governo e de subversivo pelos patrões. É uma condição muito boa, porque a gente pode dar pau em todo mundo e ninguém pode falar: “vou pegar o Lula porque ele assina a Voz Operária“. Nunca assinei a Voz Operária, mas já li: era um jornal que não dizia nada para mim, jornal para intelectual, não para conscientizar o povão. Então eu tenho uma preocupação muito especial de manter o sindicato independente. A gente andará de cabeça erguida enquanto puder criticar você e amanhã aplaudir, se for o caso, e sem dor na consciência. Infelizmente tem muitos dirigentes sindicais que estão com o boi na sombra…
IstoÉ – E a ideologia, Lula, a ideologia?