Mostrando postagens com marcador Azul é a cor mais quente. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Azul é a cor mais quente. Mostrar todas as postagens

Cinema - Azul é a cor mais quente

Os oito minutos mais comentados do cinema no ano passado fizeram parte do filme francês Azul É a Cor Mais Quente. A cena de sexo entre duas garotas era tão explícita e longa que o drama dirigido por Abdellatif Kechiche, sobre a passagem para a vida adulta, poderia ter sido desprezado como sendo pornografia.
No entanto, mesmo em meio a um grande debate sobre a moralidade de um cineasta de 52 anos orientando duas jovens atrizes nuas a se contorcerem, o filme ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes e foi um sucesso de crítica. A maioria dos especialistas viu no filme um retrato duro e honesto do primeiro amor.
Não foi um caso isolado. Quando passamos os olhos pela lista de filmes de 2013, poderíamos pensar que os diretores de hoje só querem saber de sexo.
Gwyneth Paltrow e Mark Ruffalo, dando um tempo na função de salvar o planeta em Os Vingadores, estrelaram Terapia do Sexo, um drama sobre um grupo de apoio a viciados em sexo.
Lovelace contou com Amanda Seyfried no papel da estrela de Garganta Profunda, sucesso que escandalizou o mundo nos anos 70.
E Joseph Gordon-Levitt, recentemente visto em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, escolheu um estilo bem diferente ao estrear como roteirista e diretor. Em Como Não Perder Essa Mulher, ele é um barman que assiste a pornografia em seu computador várias vezes por dia, apesar de ter Scarlett Johansson como sua namorada.
A tendência continuou em 2014. O público teve à disposição pelo menos dois filmes americanos que contam a história de insuspeitos trabalhadores do sexo.
Concussion (ainda sem título em português), de Stacie Passon, é um drama sobre uma mãe de meia-idade que se torna prostituta; e Amante a Domicílio é uma comédia escrita e dirigida por John Turturro, que também estrela a fita como um florista que vira amante profissional.
Mas o filme que mais gerou polêmica foi Ninfomaníaca, de Lars von Triers, uma excêntrica experiência de quatro horas de aventuras carnais.


Sexo e Hollywood

Talvez não devêssemos nos surpreender muito com o fato de tantos novos filmes se passarem na cama (ou, no caso de Ninfomaníaca, em qualquer lugar menos na cama).
Henry Fitzherbert, crítico de cinema do jornal britânico The Sunday Express, acredita que essa porta foi aberta pela “banalização da pornografia”. Para ele, a internet está tão saturada de sites pornográficos, videoclipes sugestivos e selfies ousadas que as cenas de sexo já não são mais tabu no cinema.
Ironicamente, no entanto, a onipresença online desse tipo de imagens significa também que as pessoas tendem cada vez menos a pagar para vê-las no cinema.
Jonathan Romney, outro crítico, concorda. “Pesquisas recentes indicam que o conteúdo sexual até prejudica a bilheteria de um filme”, afirma. “O público dos blockbusters não está interessado em ver cenas de sexo, pelo menos não na telona.”
O que os filmes mencionados acima têm em comum – além das chamadas “cenas de natureza sexual” – é que todos aspiram a serem reflexões e estudos maduros sobre personagens. Estamos assistindo não a uma nova onda de filmes sobre sexo, mas a uma nova onda de filmes que tratam o sexo como parte da vida.
Já em termos de cenas de sexo mais convencionais – filmadas em ângulos mais favoráveis e com atores de corpos perfeitos –, o melhor não está nos cinemas, mas sim na TV a cabo. Os espectadores ficam menos constrangidos na privacidade de suas casas. E, longe das restrições impostas pelos anunciantes da TV aberta, séries como True BloodRome e Game of Thrones estão fazendo a telinha ferver como nunca.
Ainda é difícil dizer se Hollywood um dia será tão ousada quanto a televisão. “Creio que os grandes estúdios vão continuar evitando a sexualidade nua e crua”, afirma David Gritten, repórter de cinema do The Daily Telegraph, da Grã-Bretanha.
“Eles ficam mais à vontade com histórias dedicadas a famílias, que trazem mais lucros porque vendem mais. Às vezes, vemos sexo nos filmes hollywoodianos, mas geralmente porque os diretores têm uma reputação incontestável, como Martin Scorcese, com O Lobo de Wall Street.”
A única coisa que pode fazer diferença, claro, é o dinheiro. Sam Taylor-Johnson está atualmente filmando uma adaptação de 50 Tons de Cinza, o romance erótico campeão de vendas escrito por E.L. James. Se o filme tiver a metade do sucesso do livro, deverá surgir uma onda de imitações.
Mas quem estiver torcendo por um remake hollywoodiano de Azul É a Cor Mais Quente terá que esperar sentado.
Publicado originalmente na BBC Brasil

Cinema - Azul é a cor mais quente



A primeira pergunta lançada ao fim de Azul é a Cor Mais Quente é se o filme de Abdellatif Kechiche, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e em cartaz em São Paulo, despertaria tantas paixões caso se tratasse da história de amor entre um garoto e uma garota. A sala estava lotada, o público, inquieto, e, muito provavelmente, vacinado (ou atraído) para as cenas de amor erótico interpretado pelas atrizes Adele Exarchopoulos e Léa Seydoux.
Mas, se me fizessem essa pergunta após as três horas de filme, responderia que sim: o drama se sustenta com ou sem a sequência - e não, a história não se limita à descrição de um romance homoerótico.
O drama pode ser dividido basicamente em três partes. A primeira