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Zuenir Ventura

Um remédio mais radical
Pensando bem, de cabeça inchada mas fria, o contrário seria pior: ganhar dentro e perder fora de campo. Perdemos a Felicopa, mas realizamos a melhor das Copas — a Copa das Copas, como a presidente Dilma prometia e a gente ironizava. Nós, jornalistas, somos mesmo profetas do passado, quase nunca acertamos o futuro.

Esperávamos o sucesso nos gramados, e anunciávamos o caos nas ruas, aeroportos e portos. Erramos, embora se saiba que as obras ficaram inacabadas, assim como outros legados de infraestrutura.

Mas no momento o que interessa é que recebemos o elogio quase sem restrições dos colegas estrangeiros, o reconhecimento das delegações adversárias à nossa hospitalidade, à organização, à tolerância bem-humorada para com as provocações dos espaçosos hermanos, admitida até por eles mesmos.




Tudo isso foi um bálsamo para aliviar o que a psicanálise chama de “ferida narcísica”, que é quando a autoestima chega ao baixo nível a que chegou a nossa após as duas derrotas.

Contribuiu para a depressão nacional a interpretação ao pé da letra de Nelson Rodrigues. A seleção, muito menos a atual, não é a pátria de chuteiras, não representa a pátria sem chuteiras.

Isso foi uma hipérbole do genial cronista, que um dia escreveu que toda unanimidade é burra e hoje, por ironia, aceita-se unanimemente o que escreveu ou disse. Nessa linha, para quem gosta de alegorias e símbolos, a despedida dos brasileiros foi com lágrimas, enquanto a dos argentinos, sempre mais dramáticos, foi com os vômitos de Messi.




A propósito, como torci pelos alemães, fui cobrado por não ter sido movido pelas razões geopolíticas, e sim pela rivalidade futebolística. Tive que dizer que adoro o tango, reverencio Jorge Luis Borges, curti os filmes “As nove rainhas”, “O segredo dos seus olhos” e “O filho da noiva”, mas — e talvez aí esteja o principal motivo de uma certa animosidade — tenho inveja do nosso vizinho por ser apenas bicampeão do mundo em futebol, mas penta em Prêmios Nobel. Eu trocaria duas de nossas honrosas taças por pelo menos uma das cinco deles, a da Paz, já que têm duas só nessa categoria.




Enfim, depois da overdose desses últimos 30 dias, acho que vou adotar uma dieta detox, o sistema de alimentação que consiste em ajudar o corpo a eliminar toxinas. Só não recomendo o mesmo para o futebol brasileiro porque o grau de intoxicação em que se encontra o organismo em causa, a começar pela CBF, não se resolve com demissão de comissão técnica — necessita com certeza de um tratamento demorado e bem mais radical.

Zuenir Ventura é jornalista

Paulo Moreira Leite - Pode?




Retrato com retoques

Depois de culpar Lula-Dilma por todos anunciados fiascos da Copa, oposição diz que brasileiros anônimos garantiram o sucesso. Pode?
É bom reconhecer que há poucas coisas perfeitas na vida. Uma delas é abraçar as crias depois de uma longa ausência. Outra, é almoçar na casa da mãe. Ou desfrutar da companhia de amigos verdadeiros.
Após estas considerações, cabe analisar os números finais da Copa do Mundo. Leia a opinião de 2209 visitantes estrangeiros ouvidos pelo DataFolha:
  • 92% dos visitantes elogiaram o conforto e a segurança
  • 76% aprovaram o transporte até os estádios
  • 95% disseram que a recepção foi boa ou ótima.
  • 83% elogiaram a organização

Mesmo lembrando que a Copa não foi um evento sem problemas, há outras notícias boas.
Alvo de muitos fantasmas usados para atemorizar visitantes, o Rio de Janeiro recebeu 900 000 turistas contra 90 000 previstos. Eles deixaram 4 bilhões de reais na cidade, contra 1 bi de previsão.
Obrigados a encontrar um discurso para enfrentar uma situação inesperada, nossos profetas do pessimismo completaram um ano de atividade ininterrupta, desde os protestos de junho de 2013, com sorrisos amarelos.
Passada a fase da autocrítica, é preciso explicar o que aconteceu, o por quê. Na falta de explicação melhor, a moda agora é dizer que o sucesso da Copa se deve aos “brasileiros.” Assim, no genérico. Os 200 milhões de brasileiros garantiram a Copa das Copas porque são simpáticos e acolhedores. Descobrimos essas virtudes anteontem? 
Vamos combinar: a finalidade desse discurso é fingir que não havia oposição a Copa, movimento que se expressou num esforço permanente para impedir os jogos e criar um ambiente de desordem, sufoco e desmoralização Apelos ao boicote eram ouvidos nos melhores jantares, nas melhores famílias. Inclusive em inglês com legendas.
A Copa ocorreu contra a vontade dessas pessoas. Foi fruto do esforço da grande maioria da população, que não só queria assistir aos jogos e participar de um evento que marca a cultura de nossa época. Estava decidida, acima de tudo, a defender imagem de seu país.


Foram os adversários da Copa que transformaram o Mundial numa luta política – e perderam.

Como predadores sem escrúpulo, que mudam de pele conforme a paisagem, em determinadas situações a Copa era combatida com argumentos à direita. Em outros lugares, à esquerda. O importante é que não ocorresse. Se ocorresse, teria de ser um fiasco.
Não duvide: para boa parte dessas pessoas, o desempenho fraco da Seleção nos gramados serviu de consolo – e não de tristeza. Elas não suportariam uma boa atuação. Temiam uma classificação melhor – a tal ponto que não perdiam uma oportunidade para dizer que os juízes beneficiavam o Brasil, esquecendo das inúmeras vezes em que nosso time foi prejudicado.
Se Aécio Neves não tivesse deixado tantas demonstrações escritas de seu apoio a Felipe Scolari, o esforço para transformar Dilma Rousseff em assistente técnica da derrota teria sido ainda mais descarado.
Uma copa elogiada, por baixo, por mais de 80% dos visitantes estrangeiros, não é um carnaval que caí do céu, nem um reveillon na avenida Paulista. Envolve uma ação articulada em 12 cidades e dezenas de obras de infraestrutura que, sabe-se hoje, estavam muito mais avançadas do que se anunciou – mais uma vez, para tentar afastar a população da Copa, criar desanimo e desconfiança.
O elogio aos “brasileiros,” neste genérico, também é uma tentativa bisonha de encobrir o papel do Estado brasileiro neste sucesso. Governantes e prefeitos que assumiram suas responsabilidades, muitos deles filiados a oposição, foram sacrificados na hora do reconhecimento. 
E aí está a imagem retocada da imagem que fica para a história.
Depois de culpar antecipadamente Lula-Dilma por um fiasco que anunciavam como inevitável, tenta-se fingir que eles não deram a menor contribuição para os aplausos da platéia. Pode?

#RegistroHistórico


Futebol - a limpeza deve começar pela CBF

Lições da Copa


Governo federal e governos não deveriam ter omitido ou mentido. Deveriam ter dito e debatido onde deveria haver, ou não, dinheiro público.

Já as oposições, as formais e a informal, não deveriam ter mentido e induzido.

Alardearam que a Copa seria um desastre, jogaram o país numa crise de baixo astral e baixa estima. 

Nada funcionaria: caos aéreo, urbano, e vergonha perante o mundo. 

A vergonha sobrou pra quem deu mostras de desconhecer o país onde vive e o povo que o habita. 

Ao aqui desembarcar a mídia estrangeira entendeu logo, e muito melhor, quem e como é o povo brasileiro.

Sem olhar ingênuo, sem patriotadas. Sem deixar de relatar disparidades, injustiça social, truculência fascistóide das polícias e o desperdício de dinheiro publico.

Sem deixar de anotar e mostrar que governo e oposição se irmanaram na farra dos estádios.

Na Copa espetacular, saudada mundo afora, o vexame se viu dentro de campo; com os 7 a 1, a maior das derrotas da história do futebol brasileiro.

Com a derrota, o festival de cinismo e hipocrisia habituais.

A encenação dos que usam e abusam do futebol e da seleção como alavanca para seus negócios. No futebol como na política.

Mandam e desmandam. Fazem e desfazem técnicos e ídolos, transformam em Big Brother a privacidade da seleção e dos jogadores.

Agora se dizem chocados. Trocam o oba-oba que embala os negócios pela caça aos "culpados" de ocasião. 

Jogam aos leões os parceiros de até ontem enquanto evitam os problemas decisivos, concretos.

A Itália perdeu e renunciaram todos, desde o comando da federação. A Alemanha começou sua mudança há anos com expurgos no ambiente de corrupção. 

Se o futebol brasileiro quer mudar, evitar novos vexames, deve se livrar dos que o usam para seus negócios.

por Bob Fernandes

Paulo Moreira Leite - Dilma, Felipão e?...

[...] os elogios de Aécio

A oposição entrou na campanha presidencial com uma questão intrigante: será possível arrancar alguns votinhos de Dilma Rousseff procurando associar a presidenta ao desempenho da Seleção na Copa?
Será que assim seria possível diminuir o prestígio alcançado pelo sucesso do governo na organização da Copa que não ia ter? 
A estratégia consiste em lembrar que, há um ano, Dilma disse que seu governo seguia o padrão Felipão. Foi um atalho fácil para responder a quem pedia governo padrão-FIFA. A lembrança é tentadora, salvo por um detalhe: na mesma época, Aécio esgotou um dicionário de adjetivos para falar bem do treinador, que acaba de ser demitido do posto. 
A pergunta sobre Dilma atravessou artigos variados no fim de semana. Recém instalada em sua tribuna na Folha de S. Paulo, onde passará os próximos meses da campanha presidencial, a economista tucana Elena Landau acaba de dar sua contribuição ao debate.  
Diretora do Banco Central nos tempos de Fernandisdo Henrique Cardoso, Elena Landau lembra a frase de  Dilma.  Claro que o Felipão do ano passado não era o de hoje, que foi demitido no fim da Copa. Era o técnico que venceu a Copa das Confederações.
Vamos admitir que essa razão não só contribuiu para as palavras da presidente -- mas também para os elogios rasgados de Aécio. 
Procurando unir a derrota da seleção na Copa ao desempenho de  um governo que seria mais produtivo confrontar com ideias e projetos, Elena Landau escreve: 
“Nesse momento, é inevitável lembrar uma frase da presidente Dilma: "Meu governo é padrão Felipão". De fato. Em tudo se assemelha a ele. Diante de todas as evidências de que o modelo econômico não está funcionando, o governo insiste na mesma trajetória e aprofunda os erros. De forma arrogante, a presidente chama os que dela discordam de pessimistas --"eles"--, enquanto "nós" sabemos o que é bom para a sociedade. Seu distanciamento da realidade e do eleitor também lembra a CBF. Isolada em seu castelo, diz que vai tudo muito bem e nada precisa ser revisto.”
 O problema é que, em 8/7/2013 Aécio publicou um artigo -- no mesmo espaço na mesma página no mesmo dia da semana que a economista agora ocupa -- onde sugeria que Felipão era técnico era tão bom, tão competente, tão capaz, que a presidente sequer tinha o direito de comparar qualquer traço de seu governo com ele. O candidato tucano chegou a sustentar que o técnico tem um padrão que poderia ser de utildade para a administração pública -- aquela que está em campanha para assumir nas eleições de outubro. 
Olha só o que Aécio escreveu:

Ronaldo, Casagrande e Galvão Bueno tem presença garantida na próxima seleção

Seja qual for o novo técnico da seleção brasileira de futebol escolhido pela cúpula da CBF, uma coisa é certa, os jênios contratados da Globo aplaudirão o escolhido de cara. Depois...dependendo dos resultados estarão de acordo com ele.

Se o Brasil vencer, o time é fantástico, está no caminho certo para ser hexa em 2018.

Se o Brasil perder, o time é uma merda, olhe lá se consegue classificação para a Copa.

Essa gente foi que inspirou Augusto dos Anjos:

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Copa 2014 e os jênios do futebol brasileiro

[...] "Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades...Cazuza

Em 2006 os jênios e iluminados especialistas do futebol brasileiro deram a receita perfeita para nossa seleção ser campeã em 2010:

Copiar a Itália!

Em 2010 os jênios e iluminados especialistas do futebol brasileiro deram a receita perfeita para nossa seleção ser campeã em 2014:

Copiar a Holanda!

Em 2014 jênios e iluminados especialistas do futebol brasileiro deram a receita perfeita para nossa seleção ser campeã em 2018:

Copiar a Alemanha!

Notaram a coincidência?...

Eles sempre dão a mesma receita:

Copiar o vencedor.

Babacas!

Joel Neto

Notívago: Dilma, eu lhe vi na final da Copa do Mundo, acredita?

Na comemoração da conquista pela Alemanha, a rede Globo e assemelhadas esconderam a Dilma de todas as maneiras possíveis. E a Folha insiste que a Presidenta foi novamente vaiada. Por quem? Pelos Argentinos que perderam a final? Quantos brasileiros estavam presentes ontem no Maracanã?
Agora o papo é que a Copa foi extraordinária porque foi feita pelos brasileiros. Mas isto é o óbvio ululante. A Dilma não pregou um prego na estrutura dos estádios. O que ela fez foi planejar tudo. E como já foi dito diversas vezes em diversos  blogs por esse mundo afora, a Seleção Brasileira teria sido campeã se a Dilma tivesse arranjado tempo para treinar os nossos atletas.
A mulher tem uma capacidade administrativa extraordinária e é uma workaholic, quero dizer, uma trabalhadora compulsiva.
Dilma, receba o nosso abraço (e aqui eu falo em nome da minha família), o nosso carinho e o nosso reconhecimento pela sua competência e honestidade à frente deste imenso país chamado Brasil.
A rede Globo lhe escondeu, mas a sua imagem estava presente no Maracanã como a de um anjo diáfano que possibilita a passagem e transmite a luz para quem dela precisa. Conte com o nosso voto na eleição de outubro.
by: Notívago - Fora de Pauta - Nassif Online

Presidenta Dilma deseja sucesso à Rússia e convida todos para Olimpíadas 2016

Na entrega simbólica da Copa do Mundo para a Rússia, momentos antes da partida final entre Alemanha e Argentina neste domingo (13), a presidenta Dilma Rousseff destacou o Brasil pela organização do Mundial 2014 e enalteceu a hospitalidade do povo brasileiro com todos que vieram ao país.
Estou certa que todos os que vieram ao Brasil – delegações, seleções, turistas – levarão de volta a experiência de ter conhecido um belo país, feito por um povo carinhoso e receptivo, e onde impera a diversidade. Nós, brasileiros, guardaremos a emoção e satisfação de ter realizado um evento muito bem sucedido, uma Copa que só não foi perfeita porque o hexacampeonato não veio.
Dilma também desejou sucesso ao povo russo na realização da Copa do Mundo de 2018.
A partir de agora, os fãs do futebol voltam sua atenção para a Rússia, um país especial, de uma cultura rica, e que terá a honra de sediar o maior dos espetáculos do futebol. Desejo ao povo russo muito sucesso na organização e realização da Copa do Mundo FIFA 2018.
A presidenta concluiu Dilma fazendo convite, em nome de todos os brasileiros, para retornarem ao país para Olimpíadas e Paraolimpíadas 2016.
Nós, brasileiras e brasileiros de todos os cantos deste imenso e adorado País, convidamos todos a voltarem para as Olimpíadas e Paraolimpíadas 2016, que sediaremos com a mesma competência e hospitalidade dedicadas à Copa do Mundo FIFA Brasil 2014.

Genial

DIAGNÓSTICOS EQUIVOCADOS -  Diogo Costa


Tem algo que está me incomodando profundamente neste pós 7 à 1 do Brasil. Escrevi várias vezes que o sr. Scolari colocou um time lépido e fagueiro contra a pátria mãe do futebol força. Contra um futebol aplicado, objetivo e sem firulas. 

Subestimamos uma das maiores potências do futebol e pagamos o preço por isso. A homérica goleada é consequência disso, mas não em sua totalidade. Os 7 à 1 foram um resultado completamente atípico, que desnorteou o mundo inteiro, inclusive os vencedores. 

É possível que nem daqui há 100 anos vejamos algo igual no futebol. Ponto.

Depois dessa breve análise, da qual se pode discordar, evidentemente, agora vem a parte que me incomoda. As redes sociais estão lotadas de críticas à CBF e aos dirigentes do futebol brasileiro. Estão lotadas de críticas ao sr. Marín, como se ele ou a CBF fossem os culpados pela derrota brasileira, ou até mesmo pela evidente humilhação histórica. Não concordo. 
Todo mundo sabe dos problemas extra campo do futebol brasileiro, dos clubes, da CBF e até da Fifa. Mas debitar a nossa derrota de 7 à 1 na conta dessas estruturas arcaicas é um imenso erro de análise. 

Não foi com a antiga CBD (que foi virou CBF em 1979) sob a Presidência de João Havelange que o Brasil se tornou Tricampeão Mundial de Futebol? Como explicar que o 'mafioso' Havelange tenha nos legado 03 Copas do Mundo em sua gestão? 

Será que é possível explicar a inexplicável derrota do Brasil para a Alemanha através de fatores extra campo? Se é possível (não concordo), deveríamos no mínimo tentar também explicar como é que o Brasil se tornou o país do futebol com essa mesmíssima estrutura ultrapassada, ou até pior no passado. 

A gestão de Ricardo Teixeira à frente da CBF (1989-2012) é a mais vitoriosa da história da Seleção Brasileira (dentro de campo), com 02 Copas do Mundo, 05 Copas América e 04 Copas das Confederações. 

Isso sem falar na questão dos clubes brasileiros, que passaram a vencer com maior regularidade os torneios e campeonatos internacionais, notadamente a Taça Libertadores da América que vencemos de forma consecutiva nas últimas 04 edições. 

Se vamos detonar a CBF e o seu antigo presidente Ricardo Teixeira (que ainda comanda a entidade por baixo dos panos, desde os EUA), e dizer que o fracasso da Seleção Brasileira em 2014 é responsabilidade deles, será que não deveríamos tentar explicar também porque essa estrutura assim tão arcaica nos deu tantos títulos entre 1989 e 2014? 

Ou só vale a crítica quando perdemos e quando ganhamos, como em 1994 e 2002, nos esquecemos automaticamente da figura do sr. Ricardo Teixeira? Ou só vale a crítica quando perdemos e quando ganhamos, como em 1958, 1962 e 1970, nos esquecemos automaticamente da figura do sr. João Havelange? 

Caros amigos e amigas, a derrota contra a Alemanha é responsabilidade única e exclusiva da Comissão Técnica do Brasil, em especial do sr. Scolari. Esta é a verdade sobre o episódio, além de termos que compreender que o que houve tem também um componente meio inexplicável, típico do futebol. 

Debitar esta derrota na conta da CBF, que tem um Centro de Treinamentos dos mais modernos do mundo e que banca uma estrutura invejável para qualquer Seleção, é um erro. E debitar esta conta no fato de que os jogadores brasileiros hoje atuam, em sua grande maioria, no exterior, é outro erro grosseiro. 

Já era assim em 1994. Foi assim em 2002 e é assim agora. Logo, essa tese também não explica a acachapante derrota de nosso selecionado. 

Aliás, onde é que jogam a maioria dos atletas argentinos que farão a final contra a Alemanha? Aliás, onde é que Messi joga desde a sua mais tenra idade? 

Queremos e devemos modificar e aperfeiçoar a estrutura do futebol brasileiro, dos clubes e da CBF, mas atribuir o fracasso da Seleção Brasileira em 2014 aos processos e estruturas arcaicas das nossas entidades dirigentes está errado. 

Há uma tese ufanista que diz há bastante tempo que se o futebol brasileiro fosse minimamente organizado venceríamos todas as Copas do Mundo... 

Que barbaridade! 

Será que somos tão bons assim, será que somos tão superiores assim? Será que só o Brasil gosta de futebol no mundo? Será que somos os únicos bons e o resto dos países é composto por perebas e pernas de pau? 

Será que italianos, argentinos e alemães não jogam e nunca jogaram nada, ao contrário do Brasil que sempre teve o melhor futebol do universo? 

É preciso admitir, outros vários países amam o futebol e sabem jogar muito bem este fascinante esporte bretão. E é preciso admitir também que estamos numa entressafra de talentos futebolísticos. 

Tirando o Neymar, que é um jogador diferenciado, quais são os outros atletas brasileiros desta Copa que não são medianos ou algo pouco acima de medianos?

Vamos mudar a estrutura do futebol brasileiro e aperfeiçoá-la, sem dúvida. Mas não vamos nos iludir e atribuir derrotas para uma estrutura que bem ou mal nos trouxe até aqui, e que nos fez ser a maior potência futebolística do planeta. 

Vamos trocar os dirigentes atuais por questões de cunho penal e processual penal, não porque isto tenha sido decisivo na formação do futebol brasileiro.

O verdadeiro mal do nosso futebol é o conluio CBF-Organizações Globo, que conseguiram até mesmo pulverizar o antigo Clube dos Treze. Mas não é este conluio que explica tudo o que acontece dentro do campo, em que pese explicar tudo o que acontece fora dele...

Os motivos da nossa derrota atual não passam por fatores extra campo, isso é uma ilusão. 

Passam, isto sim, por um curto-circuito inexplicável de nossos atletas e pela escalação faceira do sr. Scolari, que preferiu jogar contra o futebol força alemão como se estivesse jogando um amistoso contra a Ferroviária de Araraquara.


Alemanha 1 x 0 França


Que lembrem desse gol ilegal que deu vitória a seleção alemã.
Qualquer pessoa que saiba ser 11 o número de jogadores de um time de futebol, sabe que foi uma falta escandalosa!
Na linguagem futebolística:
"Um roubo"!!!

Pátria sem chuteiras

Ontem morreu o Brasil naif, aquele em que uma bola rolando desmanchava qualquer desdita. Perder faz parte. Perder de sete encerra o mito. Não somos mais diferenciados pela própria natureza, principalmente, não temos mais a patente de melhor futebol do mundo. A pátria tirou as chuteiras. Entramos de pés descalços na descrença e no azedume deste século – que, na verdade, começou no final do século passado, quando foi-se a União Soviética e o muro de Berlim. O 11 de setembro de 2001 zerou também o grande mito da América protegida por um sistema de defesa imbatível. Edward Snowden apagou a luz. Heróis e mitos vão morrendo na overdose da vida online. Ninguém resiste ao tapete levantado. Com todo respeito e deferência aos milhares de mortos, nosso 11 de setembro foi o 8 de julho. Não pela dimensão da tragédia, mas pelo significado de fim do mito. O futebol que nasceu bretão perdeu ontem a cidadania brasileira. Junto vão-se também as crenças no jeitinho que da jeito pra tudo, na ginga capaz de driblar até vudu. Não só no futebol. Os tempos são outros. O mundo é menor, mais feio e mais chato. Não há mais (muitas) crenças. A desconfiança é geral e irrestrita. Nós brasileiros que, mesmo ressabiados, por alguns dias, esquecemos desditas, deixamos a bola rolar e surfamos na alegria da Copa, caímos na real. Não dá mais pra ser naif. Nem aqui, nem na China. Acabou o feriadão. Drummond ajuda? “E agora, José? A festa acabou, A luz apagou, o povo sumiu (...) e agora, José? e agora, você? ...” Tânia Fusco - jornalista. Leia Também: Argentina x Alemanha

Argentina x Alemanha

Por força do meu destino Prefiro um tango argentino A um canto germany Leia Também: Cinismo do pig fez gol de placa

Eu gosto de ler a coluna de Reinaldo Azevedo

O porta-voz da covardia da direita

Não, não se surpreendam: gosto de conhecer, dito com sinceridade, o pensamento hidrófobo que domina a mente brasileira e que é amenizado e envolvido em palavras bem mais gentis ou, se quiserem, aparentemente mais civilizado.
Reinaldo, não: é a expressão crua e babujante do ódio, própria daquela espécie com que ele foi comparado até por colunistas conservadores.
Ontem e hoje, talvez não haja um brasileiro, inclusive este blogueiro,  que não tenha criticado – e com toda a dureza  natural da nossa frustração – que  a seleção brasileira e, sobretudo, o seu comando técnico.
Acabei de fazê-lo, no post anterior e há erros a serem cobrados e corrigidos.
E coisas inexplicáveis, como não “parar” o jogo no meio daquele vendaval alemão, com uma comissão técnica que tem décadas no mundo manhoso do futebol.
Eu mesmo escrevi aqui que o “politicamente correto” – e Felipão sempre foi dócil a ele, ao contrário do massacrado Dunga, por desastre muito menor – tinha grande parcela de culpa no desastre.
Não é incomum, desde as antigas mesas-redondas de futebol, que estas cobranças sejam duras e as críticas, ácidas.
Mas “a voz sincera do PSDB” revela com toda a crueza e animalidade a imensa satisfação com que eles receberam o desastre do  time brasileiro, porque destila veneno e mal disfarça a alegria com algo que doeu muito fundo em quase 200 milhões de brasileiros.
Ele se espalha na mais sórdida agressividade e desrespeito pessoal.
Pouco falta para chamar Luís Felipe Scolari de “agente de Dilma Rousseff” e do petismo.
O sucesso ou insucesso de uma seleção de futebol no país do futebol pertence a todos.
Mas Reinaldo reage com um “bem-feito”, um “eu disse” , “eu já sabia”  que não lhe escondem o prazer em, para alcançar uma improvável sucesso eleitoral, comemorar a tristeza dos brasileiros.
E desenha, à vista de todos, o que é a direita brasileira.
by Fernando Brito

Frase da Copa

"...Eu só queria poder dar uma alegria ao meu povo. Para minha gente que sofre tanto com tantas coisas. Não conseguimos, infelizmente. Desculpa a todos, a todos os brasileiros. Só queria ver meu povo sorrindo. Todo mundo sabe o quanto era importante para eu ver o Brasil inteiro feliz pelo menos por causa do futebol..."  David Luiz Moreira Marinho - zagueiro da seleção brasileira -

Leia Também: Dignidade na derrota é fundamental

Luis Nassif - o pós-Copa e a aposta na eleição

Conversei longamente com um experiente analista político, que vê a campanha a partir da ótica de Lula e Dilma. Dê-se o devido desconto ao fato de ter lado. Mas sua análise é relevante para permitir saber como o lado  da presidente analisa o atual momento político. 

A Copa revelou, em sua plenitude, os problemas de comunicação do governo, diz ele.
 
Foram dois anos e meio de inação, achando que a verdade iria prevalecer por si. Nesse período, todas as mazelas públicas passaram a ser atribuídas ao governo central pela mídia, mesmo em temas de competência de governos estaduais e municipais.
 
O resultado foi que o governo Dilma aceitou a agenda do adversário, permitiu que crescesse a imagem dos "malfeitos" em vez de impor sua agenda, de aprofundamento da inclusão social, de fortalecimento do mercado interno.
  
De qualquer modo, em sua opinião esse período pior passou.
 
Na Copa houve o embate final entre a campanha #imaginanaCopa e a #CopadasCopas. No final, a Copa das Copas venceu em todas as linhas.
 
Significa que Dilma entrará na campanha com um processo de recuperação que ainda irá ecoar por alguns dias. Provavelmente, deve bater nos índices de 42 a 43%, enquanto Aécio Neves permanecerá estacionado em 19/20% e Eduardo Campos em 9/10%.
 
Para esse analista, as pesquisas que indicam de 6 a 7% para os nanicos são mera conta de chegada para viabilizar a aposta no segundo turno. Na última eleição, Zé Maria teve 0,025% dos votos. Como achar que, hoje em dia, ele contaria com 2% dos votos, como indicaram algumas pesquisas?
 
Em sua opinião, juntando todos, não devem passar de 3 a 4%.
 
Não significa que não haverá segundo turno. É possível que o eleitor queira dar um calor na candidata, como fez com Lula em 2006. Mas o sinal maior é o de quase estagnação de Aécio e Campos, mesmo com seis meses de campanha intensa dos grupos de mídia.
  
Já os grupos de mídia continuarão atuando politicamente, observa ele. Eles precisam vender o fim do mundo todo dia. Por isso, já começam a esquecer a Copa e a falar de economia novamente.
 
Trata-se da própria luta de sobrevivência dos grupos na nova disputa que se dá na Internet. Mas estarão mais fritos ainda vendendo o fim do mundo, diz ele. E, tendo atrás de si, provavelmente o maior desastre de comunicação da história do jornalismo: a aposta no fracasso da Copa, com o resultado do erro sendo entendido por toda a população.
  
Na sua opinião, ao endossar o discurso da mídia, Aécio Neves vai perder a oportunidade de montar um discurso e uma imagem para 2018. Um candidato começa a construir sua eleição na eleição anterior.
 
Foi o caso de Lula. Sua vitória em 2002 começou a ser construída nas eleições de 1998. Ali, ele começou a denunciar o estelionato eleitoral de FHC (segurando o câmbio até terminar a campanha) e a se dirigir a um eleitoral que, até então, não era preocupação dele.
 
Saiu derrotado no primeiro turno, mas com um ativo valioso, que lhe garantiu a eleição seguinte.
  
Em sua opinião, Aécio sairá dessa eleição igual ou pior do que entrou, com discurso falando apenas para o núcleo duro do eleitorado raivoso. Eduardo Campos estaria no mesmo trajeto, somando o discurso raivoso de campanha a uma bronca pessoal de Dilma.
  
O problema maior serão os efeitos dessa provável vitória na auto-suficiência de Dilma, em um segundo governo.

O anti-Nelson Rodrigues


O Anti-Nelson Rodrigues é uma das últimas peças de Nelson Rodrigues. O nome extravagante tem um motivo óbvio: o final é feliz.
Um beijo cinematográfico sela a história: os dois protagonistas estarão juntos para sempre, como num conto de fadas.
Isto é o anti-Nelson Rodrigues: suas peças jamais terminaram bem.
Fora do terreno da dramaturgia, temos hoje no Brasil o anti-Nelson Rodrigues. Paradoxalmente, é alguém que se considera um discípulo apaixonado de Nelson Rodrigues e o cita obsessivamente.
É Arnaldo Jabor.
Jabor é o anti-Nelson Rodrigues porque faz exatamente o oposto daquilo a que o maior dramaturgo brasileiro se dedicou com tamanho empenho.
Nelson Rodrigues gastou boa parte de seus incontáveis artigos nos jornais identificando, e combatendo, uma patologia nacional.
Ele dizia que o brasileiro era um Narciso às avessas, alguém que cospe na própria imagem.
Para ele, o futebol retirou o brasileiro da sarjeta emocional em que se arrastava desde sempre. O primeiro título mundial, em 1958 na Suécia, fez o brasileiro finalmente se orgulhar de seu país, e de si mesmo.
Isto, sabia ele, era fundamental para a construção do país. Você não constrói nada – uma família, uma empresa, muito menos um país – sem que as pessoas sintam respeito por elas mesmas e pelo grupo a que pertencem.
O anti-Nelson Rodrigues faz o oposto.
Em seus artigos e comentários no rádio e na tevê, Jabor se esmera em depreciar o Brasil e os brasileiros.
Numa fala na CBN que viralizou na internet, e já é um clássico das grandes asneiras da mídia, Jabor disse algum tempo antes da Copa que o Brasil daria um vexame mundial.
Nossa incompetência para organizar um evento de tal envergadura ficaria brutalmente exposta, segundo ele.
Veio a Copa e ela foi o anti-Jabor.
No mesmo texto em que vaticinou o apocalipse futebolístico, ele disse que o Brasil não é sequer o terceiro mundo. É o quarto.
Os ouvintes e leitores de Jabor são regularmente massacrados com a mensagem de que o país deles não presta – e nem eles.
Razões objetivas para detestar o Brasil ele não tem. Em que outro país teria o espaço na mídia que o Brasil lhe oferece? Em que outro país faria palestras a 20 mil reais ou mais a hora?
O Brasil é uma mãe amorosa para Jabor. E Jabor devolve o amor com desprezo. Ele lembra, neste sentido, o Oswaldinho de o Anti-Nelson Rodrigues. A mãe o adora, e ele a despreza com ferocidade. “A senhora sempre liga na hora errada”, grita Oswaldinho ao telefone numa cena à mãe rejeitada.
Por que tanto ódio?
É alguma coisa que só o próprio Jabor pode responder. Eis um homem atormentado, você logo percebe.
Teria sido o fracasso no cinema o responsável pela raiva que inunda Jabor? Só ele sabe.
O que ele talvez não saiba é o mal que, como Anti-Nelson Rodrigues, faz aos que o ouvem no rádio, o lêem nos jornais e o vêem na tevê.
Jabor projeta sobre eles, impiedosamente, toda a sua amargura, todas as suas frustrações, todo o seu rancor.
Os que hoje o levam a sério um dia, caso acordem, podem desejar algum tipo de indenização por terem sido devastados numa coisa tão importante como o respeito por si mesmos.
É uma conta que jamais poderá ser paga – nem pelo anti-Nelson Rodrigues que atende por Jabor e nem por ninguém.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Brasil x Alemanha

Cinco razões para acreditar

Motivo 1. Alexandre, Sarandi, Vilmar, Altair e Ita; Roberto Cavalo, Gélson, Grizzo, depois Vanderlei; Zé Roberto, Soares e Jairo Lenzi. Era o que tinha para colocar em campo contra o Grêmio de Dino Sani na final da Copa do Brasil de 1991. Deu certo: com dois empates nas decisões, o Criciúma do técnico Luiz Felipe Scolari se consagrou campeão com uma campanha invicta após superar equipes como Atlético Mineiro, Goiás e Remo. Foi o primeiro título nacional da história do futebol catarinense, o primeiro de muitos que colocariam o treinador gaúcho no centro da história do futebol mundial. Era motivo suficiente para a torcida engrossar o coro do "imagina na Copa".
Motivo 2. Se você acha dureza escalar Fred, Hulk e Oscar é porque nunca teve Zé Alcino e Zé Afonso dentro da área. Pois foi a dupla que Felipão levou a campo para enfrentar, nas quartas-de-final do Campeonato Brasileiro de 1996, o milionário Palmeiras da Parmalat – e também de Luizão, Rincón e Djalminha, simplesmente o melhor jogador daquela temporada. O Grêmio teve de se virar sem seu principal atacante, Paulo Nunes, expulso no jogo de ida, em Porto Alegre. Resultado: 3 a 1 em casa e 1 a 0 para os paulistas em São Paulo. O time abriu assim a porteira rumo ao título daquele ano, e provou ser capaz de sobreviver sem a dupla Jardel e Paulo Nunes, que fizera história (e picara o mesmo e não menos milionário Palmeiras no ano anterior) ao conquistar a Libertadores da América com uma base formada por Darlei, Dinho, Luiz Carlos Goiano, Rivarola e outros bichos de casca-grossa.
Motivo 3. O Brasil ainda não havia conquistado os torcedores quando encontrou a favorita Inglaterra, de Beckham e Owen, nas quartas-de-final da Copa de 2002. Os ingleses saíram na frente, com Owen, após uma bobeada inacreditável do zagueiro Lúcio,mas tomaram a virada com um gol cirúrgico de Rivaldo e uma falta espírita de Ronaldinho, que logo seria expulso e obrigaria a equipe a se segurar como dava. A eminência do desastre anunciado uniu o time como nunca até então. Com um a menos, a equipe de Ronaldo e Rivaldo - e também de Kleberson, Edmílson e Roque Jr. - colocou os rivais na roda e assegurou o resultado com autoridade, decolando naquele dia rumo ao pentacampeonato.
Motivo 4. De novo, a Inglaterra. De novo nas quartas-de-final. De novo como favorita, de novo com Beckham e Owen, e também com Lampard, Ferdinand e Rooney. Desta vez como comandante da seleção de Portugal, Felipão viu a equipe empatar por 1 a 1 no tempo normal e levar a partida para a prorrogação. No tempo extra, um gol para cada lado, e nova decisão nos pênaltis no currículo de Felipão. Dessa vez o anjo salvador foi um goleiro sem luvas, Ricardo, que defendeu o chute de Darius Vassel e colocou Portugal a uma cobrança das semifinais. A cobrança foi dele mesmo, Ricardo, que bateu forte, no canto, e colocou a equipe nas seminfinais e na história do futebol europeu. Placar final: Portugal 2 (6) x 2 (5) Inglaterra.
Motivo 5. Você já viu essa história antes (ou melhor: já viu essa historia depois). O zagueiro e líder da equipe, suspenso, fica de fora da partida decisiva e o melhor jogador é cortado das duas partidas finais por lesão. O Palmeiras foi a campo para enfrentar o Coritiba, na final da Copa do Brasil de 2012, com um catado de última hora. Henrique, expulso injustamente na semi, contra o Grêmio, não jogaria. Como se não bastasse, na manhã do duelo chegou a notícia de que o atacante Barcos, destaque do time na temporada, estava fora das finais devido a uma crise de apendicite. Eles engrossavam uma lista de desfalques que já contava com Wesley, que passou por uma cirurgia no joelho após ser contratado a peso de ouro semanas antes, Luan, Román e Vinícius. Do outro lado estava o favorito Coritiba, vice-campeão do mesmo torneio no ano anterior, quando despachou os paulistas com um doloroso 6 a 0 no Couto Pereira, e que estava mais “arrumadinho” do que nunca (daquela equipe sairiam o craque, Everton Ribeiro, e o treinador, Marcelo Oliveira, do campeão brasileiro do ano seguinte, o Cruzeiro). O Palmeiras jogou boa parte do primeiro jogo sem Valdívia, expulso após um lance bobo no meio-de-campo. Ainda assim deu Palmeiras: 2 a 0 em casa e 1 a 1 em Curitiba, com gol de um iluminado Betinho, substituto do ídolo Barcos que errou tudo nos jogos, menos o lance salvador. Foi uma jarra de leite tirada por Felipão em meio a uma pedreira chamada Palmeiras.

O Brasil já ganhou a Copa

por Marcos Coimbra - Carta Capital

No início de 2012, esta coluna propunha que avaliássemos de dois pontos de vista as possíveis consequências da Copa de 2014 na eleição presidencial. Para ficar no jargão futebolístico, o primeiro teria a ver com o que aconteceria dentro das quatro linhas, se a Seleção Brasileira terminaria campeã ou não. O segundo seria extracampo, referindo-se a tudo o que poderia ocorrer antes e depois que a bola rolasse.
Há quem pense, do alto de pretensa superioridade intelectual, que o típico eleitor brasileiro vota com o predomínio das partes menos nobres do organismo. Que vota com a barriga, o bolso ou o coração, nunca com o cérebro. Que é levado para cá e para lá por emoções superficiais.
São os que acham, desde 1994, que o desempenho da Seleção nas Copas do Mundo impacta o resultado das eleições presidenciais coincidentes. Têm até um teorema: “Se a Seleção ganha a Copa, vence o governo; se perde, quem lucra é a oposição”. Nada o demonstra, mas os bem-pensantes gostam de repeti-lo, aproveitando o ensejo para lamentar a incultura e o primitivismo do eleitor comum.
Já fizemos cinco eleições em ano de Copa do Mundo. O conjunto não é grande, mas é suficiente para deixar claro que os dois fenômenos não guardam relação de mútua determinação. Quem, por exemplo, achar que Fernando Henrique Cardoso venceu a eleição de 1994 porque o povo estava feliz com o sucesso na Copa nos Estados Unidos deve morar em Marte. Não percebeu que o Plano Real elegeria qualquer um.
Em 1998, o mesmo FHC voltou a vencer. Só que a Seleção Brasileira havia recém-tropeçado nos gramados franceses. A decepção no futebol não fez com que o oposicionismo crescesse.
Em 2002, a equipe nacional venceu a Copa e José Serra, o candidato do governo, foi derrotado. Mais uma vez, uma coisa não levou a outra. Como na reeleição de Lula em 2006, quando a fraca performance da Seleção na Alemanha não levou as pessoas a desistir de votar no governo. Como em 2010, em que um cenário parecido se repetiu: a Seleção foi mal, mas a candidatura que representava a continuidade foi bem. Dilma Rousseff ganhou, apesar do fracasso no futebol nas canchas sul-africanas.
Trocando em miúdos: em nenhuma dessas cinco eleições o tal teorema se sustenta. Em matéria de bobagens a respeito da política brasileira, a hipotética relação entre Copa e eleição é das maiores.
Mas não é apenas nos gramados que esta Copa acontece. Existe outra, esta sim, significativa e que poderia ter sérias repercussões na eleição. Ela ocorre fora dos gramados e é a Copa que o Brasil já ganhou.
Nos últimos anos, as pesquisas, especialmente qualitativas, mostraram o temor das pessoas de que a Copa no Brasil viesse a ser um vexame aos olhos do mundo. A desconfiança de que a infraestrutura do torneio funcionasse, a incerteza de que tudo ficasse pronto à hora, o medo de que houvesse uma falência múltipla de aeroportos, comunicações e transportes urbanos se somaram ao receio do aumento da violência e, quem sabe, de epidemias.
A isso agregava-se a convicção de que as famosas “manifestações” voltariam, com seu séquito de quebra-quebras, sangue e brigas com a polícia. A Copa tinha tudo para ser péssima. Mesmo se, no campo, o futebol brasileiro até fosse bem.
De onde teria saído uma expectativa tão negativa? Por que era tão generalizado o sentimento de que a Copa talvez viesse a ser motivo de vergonha para o País?
Com o mesmo afã com que pinta a economia como à beira do precipício, a política como um covil de ladrões e a administração pública como falida, nossa imprensa conservadora esmerou-se na caracterização desta Copa como exemplo máximo de incompetência, descalabro e falsas promessas. Levou o pessimismo da população às alturas e alimentou a imprensa internacional com seu negativismo.
Só que nada do que previa (ou desejava que ocorresse) se confirmou. A vasta maioria do povo chega à reta final do torneio orgulhosa e convencida de que, independentemente do campeão, a Copa foi um sucesso.
Honra a quem merece. Se Lula e Dilma seriam impiedosamente crucificados como os responsáveis pelo fracasso, devem ser homenageados como os grandes artífices do êxito. Ele, que “inventou” a Copa no Brasil, e ela, que tomou as providências para que acontecesse, merecem o reconhecimento dos que estão hoje satisfeitos. Incluindo os turistas estrangeiros, que se revelam encantados com a experiência de visitar o Brasil.
Isso não significa que, quando terminar a Copa no gramado, Dilma poderá ser considerada a vencedora da eleição de outubro. Mas que o resultado da Copa extracampo foi uma vitória para ela, disso não há dúvidas. Nem que seja apenas por ter ultrapassado com garbo algo que poderia ter se tornado um grave problema.
Com esse saldo positivo para Dilma das primeiras semanas do torneio, encerra-se a fase do calendário eleitoral que a legislação chama  de pré-campanha. Seus adversários têm pouquíssimo o que festejar. Aécio Neves e Eduardo Campos não estavam bem quando o ano começou e assim permanecem.
Vai depender do desempenho da Seleção se a campanha propriamente dita começará logo ou apenas depois do dia 13 de julho. Não que isso mude muito o quadro, pois o eleitor é perfeitamente capaz de fazer duas coisas ao mesmo tempo, festejar (ou lamentar) o resultado do futebol e resolver como votar na eleição. E a propaganda eleitoral na televisão só se iniciará em 15 de agosto. Quando lá chegarmos, a Copa do Mundo já será uma lembrança.
Tomara que boa.