[...] Jornal sabia que ele seria morto, não avisou a polícia e mandou equipe para cobrir assassinato?...
A morte de Chico Mendes parece apenas um fato histórico a ser descrito em livros didáticos - se o for. Pendurada no varal do tempo paira a versão de que o líder seringueiro foi morto por Darli Alves da Silva e seu filho Darcy Alves Pereira, ambos presos e condenados pelo crime, parece encerrada.
Mas há uma história mal contada que o jornalista Carlos Newton trouxe à tona novamente na Tribuna da Imprensa: a suspeita de que a equipe do jornal O Rio Branco (Newton não dá o nome do jornal, mas pesquisei e descobri), que deu o furo da morte de Chico Mendes, sabia que ele seria morto e quando, e para isso teria se deslocado da capital até Xapuri para registrar a "morte anunciada".
Uma das pistas que dá veracidade à história é a declaração de um dos sócios do jornal O Rio Branco João Branco, então presidente da União Democrática Ruralista (UDR) do Acre:
“Tiramos o Chico Mendes de circulação. Não foi só ele, ele e o bispo local, cuja política não interessa à nossa linha empresarial”, disse candidamente à documentarista Miranda Smith. Ele [João Branco] explicava a conduta, ainda, em seu depoimento para o filme. “Eles pregam a socialização (sic) e nós pregamos a livre iniciativa. Não vou dar espaço nem matéria para esses dois senhores.”
Em 2003, 15 anos após o assassinato, o caso foi reaberto, segundo reportagem de Altino Machado publicada na Página20.
Após 15 anos do assassinato do líder sindical e ecologista Chico Mendes, a polícia vai reabrir o caso para investigar detalhes que foram desconsiderados na fase inicial do inquérito.
A retomada das investigações foi solicitada ontem ao governador Jorge Viana e ao secretário de Segurança Pública Fernando Melo pelas organizações não-governamentais que formam o Comitê Chico Mendes. O secretário prometeu atender o pedido de novas investigações.
(...) O Comitê Chico Mendes entregou ao governador Jorge Viana uma carta na qual assinala que “outros possíveis envolvidos nunca foram sequer investigados e muitos fatos continuam sem resposta”.
(...) O Comitê Chico Mendes também quer que a polícia investigue o episódio que envolve a equipe de repórteres do jornal O Rio Branco na cobertura do assassinato do sindicalista, no dia 22 de dezembro de 1988.
A equipe chegou a Xapuri cerca de uma hora e meia após o assassinato de Chico Mendes. Na edição do dia seguinte, o jornal publicou as fotos do corpo do ecologista crivado de chumbo.
A proeza da equipe foi narrada pelo jornal nos seguintes termos: “Informado logo após o assassinato, nossa equipe de reportagem se deslocou para Xapuri. O editor-chefe César Fialho, o repórter Adonias Matos e o fotógrafo Luís dos Santos seguiram num automóvel gol. Em uma hora e meia estavam naquela cidade. Na viagem de ida, apenas um pneu furado”.
A versão do jornal tem sido considerada furada pela opinião pública. Para o Comitê Chico Mendes, o relato sobre o trabalho da equipe é praticamente uma confissão de que o jornal sabia com antecedência da “notícia”que iria publicar e, possivelmente, só não fotografou o momento do tiro para não dar um “furo” tão grande.
Quando Chico Mendes foi assassinado, o trecho asfaltado da BR-317, de Rio Branco a Xapuri, era de cerca de 140 quilômetros, mas cheio de buracos tipo “panela”, que dificultavam a viagem. Além disso, o trecho de asfalto era enlameado, pois era pleno “inverno amazônico”.
“Dizer que num automóvel Gol era possível chegar a Xapuri em uma hora e meia, depois de furar um pneu, é brincar com a inteligência de todos”, comenta a nota do Comitê Chico Mendes. O fato suspeito nunca foi devidamente investigado pela polícia e ninguém foi ouvido, em que pese tenha sido denunciado exaustivamente pela imprensa.
A nota do Comitê Chico Mendes assinala que um dos diretores do jornal O Rio Branco à época, o advogado e pecuarista João Branco, era um dos dirigentes da UDR (União Democrática Ruralista).
Entrei em contato com Altino Machado, que fez a reportagem e hoje é responsável pela nossa referência amazônica com seu Blog do Altino e ele respondeu que "[essa história da] equipe do jornal O Rio Branco todo mundo conhece, mas não restou provado oficialmente porque não foi investigado como deveria".
Agora que a luta pela Comissão da Verdade se impõe no país, a história da morte de Chico Mendes - o Lula da Amazônia - precisa ser totalmente esclarecida.