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Paul Krugman - o dogma da incompetência

Tivesse o economista trocado o assunto do artigo abaixo (Lei de saúde a preço acessível - por organização da Copa) daria no mesmo. Por que de fato a essência do texto diz respeito ao título. Onde tiver reforma da saúde, leia "organização da Copa", o resultado será o mesmo. Confiram:


Você tem acompanhado as notícias sobre o Obamacare? A Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível (a reforma da saúde de Obama) saiu da primeira página, mas as informações sobre como está se saindo continuam chegando – e quase todas as notícias são boas. De fato, a reforma da saúde prossegue bem desde março, quando ficou claro que as inscrições superariam as expectativas apesar dos problemas no site federal.

O que é interessante a respeito dessa história de sucesso é que tem sido acompanhada a cada passo por gritos de desastre iminente. A esta altura, no meu entender, os inimigos da reforma da saúde estão tomando de 6 a 0. Isto é, eles fizeram pelo menos seis previsões distintas sobre como a Obamacare fracassaria – e todas elas erraram.

"Errar é humano", escreveu Sêneca. "Persistir é diabólico." Todo mundo faz previsões incorretas. Mas estar tão errado de modo tão consistente exige um esforço especial. Logo, do que se trata isso?

Muitos leitores não ficarão surpresos com a resposta. Trata-se de política e ideologia, não de análise. Mas apesar dessa observação não ser particularmente surpreendente, vale a pena apontar o quanto a ideologia pisou nas evidências no debate da política de saúde.

E não estou falando apenas de políticos; eu estou falando dos especialistas. É impressionante o quanto os supostos peritos em saúde fizeram alegações sem base a respeito da Obamacare. Por exemplo, lembra do "choque de preços"? No final do ano passado, quando recebemos as primeiras informações sobre os prêmios dos planos de saúde, os analistas conservadores de saúde se apressaram em alegar que os consumidores sofreriam um aumento enorme de gastos. Estava óbvio, mesmo àquela altura, que as alegações eram enganadoras; nós agora sabemos que a grande maioria dos americanos que compraram planos pelas novas bolsas está obtendo cobertura a preço mais baixo.

Ou lembre das alegações de que as pessoas jovens não se inscreveriam, de modo que a Obamacare sofreria uma "espiral de morte" de alta dos custos e encolhimento das inscrições? Não está acontecendo: uma nova pesquisa Gallup aponta que mais pessoas obtiveram seguro-saúde por meio do programa e que o mix etário dos novos segurados é muito bom.

O que era especialmente estranho a respeito das previsões incessantes de desastre da reforma da saúde é que já sabíamos, ou deveríamos saber, que um programa na linha da Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível provavelmente funcionaria. A Obamacare foi modelada mais ou menos de acordo com a Romneycare, que funciona no Estado de Massachusetts desde 2006, e tem forte semelhante com sistemas bem-sucedidos no exterior, como na Suíça, por exemplo. Por que o sistema seria inviável nos Estados Unidos?

Mas uma convicção firme de que o governo não é capaz de fazer nada útil – uma crença dogmática na incompetência do setor público – agora é uma parte central do conservadorismo americano, e o dogma da incompetência evidentemente impossibilitou uma análise racional das políticas.

Nem sempre foi assim. Se você voltar duas décadas, até a última grande batalha em torno da reforma da saúde, os conservadores pareciam relativamente cientes das perspectivas da política, apesar de profundamente cínicos. Por exemplo, o famoso memorando de William Kristol de 1993, pedindo aos republicanos para matarem a reforma da saúde de Clinton, alertava explicitamente que a Clintoncare, se implantada, poderia ser vista como bem-sucedida, o que, por sua vez, desferiria "um duro golpe contra as alegações republicanas de defesa da classe média ao restringir o governo". Logo, era crucial assegurar que a reforma nunca acontecesse. De fato, Kristol dizia para algumas pessoas que as histórias sobre a incompetência do governo são coisas vendidas aos eleitores para fazê-los apoiar cortes de impostos e desregulamentação, não algo em que você necessariamente acredita.

Mas isso foi antes dos conservadores recuarem plenamente para seu próprio universo intelectual. A "Fox News" ainda não existia. Os analistas de políticas dos centros de estudos de direita costumavam iniciar suas carreiras em empregos relativamente não políticos. Ainda era possível entreter a noção de que a realidade não era o que você desejava que fosse.

Agora é diferente. É difícil pensar em alguém na direita americana que já tenha considerado a possibilidade de que a Obamacare pudesse funcionar ou que esteja disposto a admitir essa possibilidade em público. Em vez disso, até mesmo os supostos especialistas continuam vendendo histórias improváveis de desastre iminente, mesmo após suas chances de deter a reforma da saúde terem acabado, e eles vendem essas histórias não apenas para os caipiras, mas também uns para os outros.

E vamos ser claros: apesar de ter sido divertido ver a direita se agarrar às suas ilusões a respeito da reforma da saúde, também é assustador. Afinal, essas pessoas mantêm uma capacidade considerável de promover estragos políticos e, algum dia, podem retomar a Casa Branca. E você realmente não quer ali pessoas que rejeitam os fatos de que não gostam. Quero dizer, elas poderiam fazer coisas impensáveis, como começar uma guerra sem motivo. Oh, espere...