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Verdade do dia


Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil (* e venal) coma ela mesma.

Jospeh Pulitzer







O editor mais sensacional que o jornalismo já conheceu

Ao longo da história, qual foi o jornalista mais inovador?

Uma resposta boa para essa pergunta é Joseph Pulitzer, alemão de origem que fez história nos Estados Unidos no final do século 19 com seu jornal World.
Foi Pulitzer quem rompeu com a tradição de publicar as notícias na ordem cronológica. Ele estabeleceu a hierarquia no noticiário. Estava inventada a manchete, assim, bem como a primeira página. Era um jornalista brilhante, ambicioso, e inevitavelmente acabou tendo seu próprio jornal. Sua lógica como empreendedor no jornalismo era irretocável: “Circulação significa anúncio, anúncio significa dinheiro, dinheiro significa independência.”
Essa independência não era estendida para os jornalistas que trabalhavam para ele. Pulitzer disse a um deles: “Acima de tudo, você é pago para veicular minhas idéias, meus anseios, meu julgamento.” Se aquele funcionário fosse talentoso como ele próprio, Pulitzer lembrou, já teria “seu próprio jornal”. Nunca um barão da imprensa foi tão claro, como Pulitzer, em relação a quem manda na redação.
Sua visão de jornalismo é ainda hoje perfeita. “Para se tornar influente, um jornal tem que ter convicções, tem que algumas vezes corajosamente ir contra a opinião do público do qual ele depende”, afirmou.
Era um idealista, um liberal, um homem quase de esquerda. “Acima do conhecimento, acima das notícias, acima da inteligência, o coração e a alma do jornal reside em sua coragem, em sua integridade, sua humanidade, sua simpatia pelos oprimidos, sua independência, sua devoção ao bem estar público, sua ansiedade em servir à sociedade”, escreveu.
Tinha uma frase que me me tem sido particularmente cara na carreira: “Jornalista não tem amigo.”  Como a “Deusa Cega da Justiça”, afirmava Pulitzer, ele ficava ao largo das inevitáveis influências que amizades com poderosos trazem. “O World, por isso, é absolutamente imparcial e independente.”
Era um intelectual, um leitor voraz. Certa vez reconverteu Shakespeare do alemão  para o inglês apenas para ver a qualidade da tradução alemã. Lia Platão e Aristóteles em grego. Quando problemas nos olhos o deixaram cego, empregou secretárias para que lessem para ele.  Tinha um prazer particular em ouvir histórias eróticas em alemão.
Seu catálogo de inovações inclui a fundação de uma escola de jornalismo na Universidade de Colúmbia, na qual o principal ensinamento deveria ser “ética”, e a criação de um prêmio jornalístico que se tornaria o mais importante do mundo, e que hoje conserva vivo o sobrenome do seu mentor.
Não bastasse tudo, Pulitzer inventou indiretamente ainda o formato dos tablóides. Pouco antes de 1900, ele contratou um jovem jornalista que vinha sacudindo a imprensa inglesa  para cuidar de uma única edição: a da virada do século. Foi dado ao inglês, Alfred Harmsworth, poder total nessa edição. Ele decidiu reduzir o formato do jornal para algo mais aproximado de um livro. Surgia o tablóide.  (Harmsworth faria posteriormente história no jornalismo inglês.)
Ele só não conseguiu uma coisa: ser feliz.  Foi essencialmente um gênio atormentado. Epicuro escreveu que felicidade é saúde, é ausência de dor – e a cegueira foi apenas um dos males de Pulitzer. Não suportava barulho em seus últimos anos. Nos hotéis em que ficava, nenhum quarto no andar do seu era ocupado para a obtenção de silêncio.
Jamais chegou “perto da felicidade”, segundo o relato de seu filho Joseph.
Se você quer aprender a viver, esqueça Pulitzer. Mas se quer aprender jornalismo estude-o com profundidade.
por Paulo Nogueira