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Alex Castro: O que é Ideologia

A questão não é se meu colega de casa está certo ou errado, se FGTS é bom ou ruim, se as leis trabalhistas engessam ou não a economia. A questão é a ideologia que fundamenta e embasa nossa interpretação da realidade.

Esse menino do Kansas, nascido e criado no coração dos Estados Unidos, mesmo quando demitido de um emprego onde não tinha nenhum direito trabalhista, ainda assim vê, pensa, percebe, reflete, entende o mundo… do ponto de vista das classes empregadoras. Sua primeira reação foi se colocar não em seu próprio lugar (“poxa, se eu morasse num país como o Brasil, pelo menos ganharia um dinheirinho agora…”) mas no lugar do chefe que tinha acabado de despedi-lo.

Passo boa parte do meu tempo tentando fazer pessoas privilegiadas (homens, pessoas brancas, hétero, cis, classe média, etc) se identificarem com as desprivilegiadas (mulheres, negras, gays, trans*, etc). É uma tarefa muito, muito difícil.

Uma ideologia como a norte-americana, que consegue quebrar nossa tendência natural de puxar a sardinha para o nosso lado, só podia mesmo ser uma das mais bem-sucedidas do mundo.

Pena que, em vez de fazer as pessoas ricas se identificarem com as pobres, faz as pobres se identificarem com as ricas.

Nesse ponto, algumas pessoas leitoras, admiradoras da ideologia norte-americana, talvez estejam reclamando da ideologia esquerdista do meu texto.




Mas é impossível um texto não ter ideologia ou não estar totalmente imerso na ideologia da pessoa que o escreveu e da sociedade que a produziu. Quando você tem a ilusão de ler um texto que não é ideológico, isso simplesmente quer dizer que o texto tem a mesma ideologia que você: logo, que a ideologia do texto é invisível.

A pessoa que reclama de não aguentar mais “tanta ideologia” não é uma livre-pensadora, descompromissada e apolítica tentando formar suas próprias opiniões, mas sim uma pessoa mentalmente preguiçosa e de cabeça fechada, que só gosta de se expor às opiniões com as quais já concorda e que se sente extremamente incomodada quando exposta à opiniões diferentes.

Existem muitas ideologias. A ideologia desse meu texto, de achar que ideologia está em todo lugar, é uma delas.

A ideologia de se achar sem ideologia, por outro lado, é uma das ideologias mais disseminadas em nossa sociedade, especialmente entre as pessoas bem-nascidas de inclinação conservadora, que fazem desabafos como:

“Sou apenas um indivíduo livre, não tenho raça, não sou afiliado a partido, não tenho ideologia, não me meto em política! Quero só ficar aqui quietinho no meu canto, trabalhando duro, cuidando da minha família, viajando, curtindo meus livros, sendo feliz!”

Certo ou errado, o problema de quem fala essas coisas é não perceber a sua própria ideologia.

Ideologia é como espinafre no dente: a gente só vê o dos outros.

* * *

Ideologia é o conjunto de ideias, saberes, preconceitos, etc, que permite que as pessoas se relacionem com e façam sentido da realidade: são as lentes através das quais percebemos o mundo. Por isso, ideologia não é algo necessariamente ruim, e muito menos algo oposto à “verdade”. Não existe essa tal “verdade a-ideológica”: qualquer verdade será sempre apreendida através da ideologia de quem a vê.

Uma das definições mais famosas de ideologia é do filósofo francês Louis Althusser, escrevendo em 1970: a relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência, gerando assim uma representação distorcida da realidade.

A definição de Althusser, porém, dá a entender que a “representação distorcida da realidade” seria resultado de vermos o mundo através de uma ideologia falsa ou falha: se apenas tivéssemos escolhido a ideologia correta, então perceberíamos a realidade de forma não-distorcida.

Mas, considerando que nossos sentidos e nossa cognição são inerentemente falhos e limitados, todas as representações da realidade apreendidas através deles serão sempre, por definição, distorcidas.

Não temos a capacidade de perceber a realidade de forma não-distorcida.

(Pensem em quão ególatra seria alguém capaz de bater no próprio peito e se auto-afirmar ser “a pessoa que vê o mundo como ele realmente é”, “a pessoa que enxerga todas as coisas como elas verdadeiramente são.”)

Uma definição de ideologia mais neutra, que não presume que ideologia seja algo negativo ou falso, é a da historiadora norte-americana Barbara Fields, em 2012:

“A ideologia é melhor compreendida como um vocabulário descrito da vida cotidiana, necessário para que as pessoas possam conferir um sentido básico à realidade social, vivida e criada por elas a cada dia. É a linguagem da consciência que possibilita a relação específica entre pessoas. É a interpretação em pensamento das relações sociais através da qual elas constantemente produzem e reproduzem o seu ser coletivo em todas as suas mais diversas formas: família, clã, tribo, nação, classe, partido, empreendimento, igreja, exército, associação, etc. Deste modo, as ideologias não são ilusões, mas sim reais, tão reais quanto as relações sociais pelas quais elas se mantém.”

* * *

Meu colega de casa não passou nem duas semanas ocioso e logo foi contratado por outro restaurante, também um dos melhores da cidade e com as mesmas e sofríveis condições de trabalho.

Segundo a ideologia dele, tudo aconteceu tão rápido porque, em uma economia de mercado sem tantas regulamentações trabalhistas, é muito mais fácil e descomplicado contratar.

Segundo a minha ideologia, foi uma combinação de sorte e talento.

A gente não enxerga o que quer, enxerga o que pode. Inclusive eu. Inclusive você.



Religião é ideologia

[...] Ideologia é religião.

Não é que a religião seja um tipo de ideologia. Não é que a ideologia funcione como se fosse uma religião.

É que religião e ideologia são a mesma coisa: teorias abrangentes que utilizamos para fazer sentido da realidade, sejam elas o cristianismo ou o candomblé, o neoliberalismo ou o marxismo, o método científico ou a psicanálise freudiana.

Todas as pessoas, inclusive eu e você, enxergamos o mundo através de uma ou mais ideologias, e não há nada de errado nisso. (Pelo contrário, é impossível ser a-ideológico.)

É só quando não conseguimos enxergar além das barras de nossa ideologia que ela pode se tornar uma prisão.

Infelizmente, quase ninguém consegue: a gente não acredita no que quer, mas no que PODE.




Um telescópio pode ser usado para enxergar galáxias a milhares de anos-luz de distância, mas nunca poderá ser usado para enxergar a si mesmo. Toda ideologia/religião dá conta de explicar o universo, mas não dá conta de explicar a si mesma.

A solução, como sempre, é mais empatia.

por Alex Castro - Papo de Homem

Alex Castro: escolher a mediocridade

Escolher a mediocridade

Aos olhos do mundo, entretanto, o que eu e a Andréa mais temos em comum é nossa mediocridade: estamos ambos vivendo abaixo de nosso (pretenso) brilhantismo, desperdiçando nosso (suposto) potencial, jogando nossas ó-tão-incríveis vidas fora.

Uma menina brilhante. Formada por Princeton. Nota máxima em todas as matérias. Como pode se contentar em ganhar a vida chicoteando os outros? É isso que você quer fazer, Andréa? É assim que você se vê daqui a dez anos? Será que foi pra isso que você teve uma educação de nível internacional? Não tem vergonha de desperdiçar as oportunidades que deus lhe deu?

Afinal, a maioria dos nossos colegas de escola já está ocupando os lugares de destaque que a sociedade fatalmente destina aos homens brancos de classe média-alta oriundos as melhores escolas: donos de empresas, diretores de multinacionais e capitães de indústria, cheios de filhos criados por babás uniformizadas, fazendo leasing de carros e financiando apartamentos, investindo em portfólios diversificados de ações e contribuindo para sólidos planos de aposentadoria.




Enquanto isso, recém-falido na malfadada tentativa de viver a vida empreendedora que me tinha sido traçada, eu estava sobrevivendo de dar aulinhas de inglês em um curso de subúrbio, em Jacarepaguá.

O trabalho não pagava quase nada, mas ficava no mesmo quarteirão do meu apartamento, não me estressava, não ocupava a minha cabeça.

Os três anos nos quais trabalhei nesse curso foram os anos em que mais pensei, flanei, escrevi, transei, passeei. Nunca fui tão feliz, tão tranquilo, tão produtivo, tão contemplativo. Foi nessa época que me reinventei no homem que sou hoje.

Estranhamente, nada disso parecia ser suficiente para as pessoas que me amavam.

Amigas e parentes faziam questão de dizer quase todo dia que eu não tinha direito de desperdiçar assim meus talento (sic), logo eu, uma pessoa tão brilhante (sic!), que poderia estar fazendo qualquer coisa (sic sic!!), em qualquer lugar do mundo!! (SIC SIC SIC!!)

Mas não era verdade: claramente eu não podia dar aulas de inglês num cursinho de subúrbio.

Eu podia fazer qualquer coisa… que se enquadrasse na noção preconcebida que tinham de mim.

Eu era livre…. para preencher suas expectativas, não para viver minha vida nos meus próprios termos.

Minha vida aparentemente causava uma grande tensão entre amigas e parentes, um desconforto que sentiam necessidade de verbalizar de forma frequente, espontânea e nunca, nunca requisitada.




Por que se achavam no direito de ter opinião sobre minhas escolhas? Por que verbalizavam essas opiniões de maneira tão invasiva? Por que minhas escolhas as incomodavam tanto?

Diziam que eu estava desperdiçando a caríssima educação que recebi. Que tinha feito uma opção pela mediocridade.

Mas, de que vale tanta educação se, em vez de me dar asas, ela me serve de âncora? Se em vez de ampliar, ela limita minhas escolhas?

Muitos dos elogios mais efusivos que recebemos são tentativas de nos controlar e nos manipular.

Hoje, fujo ativamente de pessoas que me elogiam. Busco sempre ser a pessoa menos interessante de qualquer recinto: quando sou a pessoa mais interessante da sala, eu troco de sala.

Escolhi não ser mais refém de aspirações e expectativas alheias em relação à minha pretensa ó-genialidade.

Papo de homem

Prisão sucesso
Muitas pessoas buscam fugir da mediocridade e ambicionam o sucesso.

Mas… fugir de qual mediocridade? Ambicionar qual sucesso?

Quando nossa definição de mediocridade é externa, quando nossos critérios de sucesso não foram escolhidos por nós, então até mesmo ser bem-sucedida pode ser uma prisão.

Talvez as pessoas mais bem-sucedidas sejam justamente as mais medíocres.

Talvez a resposta seja transcender essa dicotomia cartesiana entre sucesso e mediocridade.




A raiva do Betão
Era uma vez, digamos, o Betão.

Betão queria fazer X da sua vida. (Substitua X pelo sonho da sua infância.)

Mas o pai, a mãe, a sociedade, a mídia, as professoras, o Zé do 502, etc, disseram que Betão iria se dar muito mal se fizesse isso. Não ganharia dinheiro, jamais teria segurança, as mulheres não olhariam pra ele, viraria um pária social, o horror, o horror.

Aí, moço de bom-senso que sempre foi, Betão sacrificou seu sonho, recalcou suas vontades e viveu exatamente a vida que aconselharam ele a viver.

Um dia, apareceu o Claudio Gustavo.

Claudio Gustavo vivia exatamente a vida que o Betão sempre quis viver e, pasmem, Claudio Gustavo não se fodeu, se sustentava, tinha uma vida sexual e amorosa, etc — nenhum daqueles medos se realizou.

Hoje em dia, quando o Betão toma chope com outros homens que também viveram as vidas que lhes mandaram viver, a repulsa geral ao Claudio Gustavo é tão autoevidente que não precisa nem mesmo ser articulada ou justificada.

Como não odiar esse grandessíssimo babaca?


by Alex Castro

Para pessoas norte-americanas e europeias, o Brasil não é um país ocidental

Morei em Nova Orleans por seis anos. Trabalhei no Departamento de Espanhol & Português considerado o segundo mais produtivo do país. A biblioteca da minha universidade tinha o segundo maior acervo latino-americano dos Estados Unidos.
Nas minhas aulas, ensinadas em português, pessoas alunas norte-americanas (mas não somente) liam, no original, autores como José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto, Rubem Fonseca, Clarice Lispector, Gilberto Freyre, Dias Gomes, Ariano Suassuna, Nelson Rodrigues, entre outros.(E também uma das mais importantes autoras brasileiras de todos os tempos, tão esquecida entre nós: Carolina Maria de Jesus.)
A universidade, para evitar que as pessoas alunas ficassem muito bitoladas em sua visão de mundo, exigia que todas cumprissem pelo menos quatro créditos de “Cultura Não-Ocidental”.
Para a surpresa e o horror de todas as pessoas brasileiras para quem contei isso, as disciplinas que eu ensinava sobre literatura brasileira supriam esse requisito curricular.
Nada mais natural. Pois, do ponto de vista norte-americano e europeu, o Brasil não faz parte do Ocidente. Quando listam os países ocidentais, não nos incluem. Quando falam em cultura ocidental, não estão pensando no romance Dom Casmurro ou na música “Garota de Ipanema”. (E nem Jorge Luis Borges ou Gabriel García Marquez.)
O que não quer dizer, entretanto, que tenham uma definição concreta e convencionada de “Ocidente” em suas cabeças. Pelo contrário, como tantos conceitos, é uma daquelas palavras usadas de forma acrítica e não-problemática: as pessoas “sabem” instintivamente seu significado sem nunca ter parado para conscientemente defini-la.
Por isso, já na primeira aula, eu abria o curso colocando em discussão o conceito de Ocidente.
Um exercício interessante era pedir às minhas trinta e poucas pessoas alunas que escrevessem em um papel sua definição de Ocidente e uma lista de países ocidentais. Depois, trocávamos os papéis.
Somente na minha sala de aula, as definições eram bem díspares. As mais restritas incluíam apenas Estados Unidos, Canadá e os países europeus anglo-germânicos e nórdicos. (Se nem Portugal é ocidental, imagina se nós vamos ser!) As mais amplas incluíam também a América Latina, África do Sul, Israel, Austrália, Nova Zelândia e até o Japão.

O único dedo que aponto é para mim mesmo. Sempre.

Quando escrevo denunciando um tipo de comportamento, quando escrevo sobre ser prisioneiro do padrão de beleza da mídia, sobre narcisismo e autocentramento, sobre patriotismo e preconceito, não estou nunca escrevendo de cima para baixo, como um guru intocável que conseguiu atingir um comportamento ilibado falando para as pobres coitadas lá embaixo que ainda não chegaram ao seu nível de iluminação. Pelo contrário, estou falando a partir dos subterrâneos, do meio da multidão, como mais uma rota entre tantas esfarrapadas; estou falando justamente da batalha diária que travo comigo mesmo, todo dia, o tempo todo, para ser uma pessoa menos escrota, menos conformista, menos egoísta, menos superficial, menos vaidosa. O único dedo que aponto é para mim mesmo. Sempre. Se a carapuça que escrevi para mim também servir em vocês, melhor ainda. Quem sabe não conseguimos juntos virar pessoas humanas menos desagradáveis? Não sou guru, não sou perfeito, não sou generoso. Sou profundamente egoísta, patologicamente vaidoso, intrinsecamente autocentrado, fundamentalmente preguiçoso. Mas, e essa é minha esperança, talvez não para sempre. by Alex Castro Leia Também: A vida tem um sentido coletivo

Alex Castro

Comprar menos identidades

Antes, antigamente quando alguém me dizia “o livro tal mudou a minha vida!!”, eu, que adoro histórias de mudança de vida, perguntava, empolgado:

“Mudou? puxa, que legal. exatamente o quê você mudou? Como você está vivendo de forma diferente?”
Para minha surpresa, as pessoas reagiam com horror ao meu questionamento. Não tinham resposta. Ficavam constrangidas. algumas se sentiam atacadas. Claramente, eu estava quebrando um script muito bem ensaiadinho.
Hoje em dia, para não causar constrangimento, não faço mais essa pergunta. Já sei a resposta.
* * *
Leia o texto completo: vou mudar de vida... mas não hoje!

Viver sem smartphone

o telefone celular é uma invenção incrível. se você precisa dele.
Resisti bravamente ao meu primeiro celular. só cedi quando fui contratado de assistente particular de um executivo norte-americano montando uma start-up de internet no rio de janeiro. parte integrante do trabalho era estar sempre disponível para ele.
Quando fui morar nos estados unidos, também passei o primeiro ano sem celular.
Em são francisco, eu estava começando a sair com uma pessoa e ela simplesmente não acreditou em mim:
“pode me dar o número, vai. juro que não sou grudenta. não vou ligar todo dia!”
Celular já era tão ubíquo que ela sinceramente achava mais provável eu estar lhe dando o cano do que ter escolhido não ter essa engenhoca.
Minha rotina era simples: eu ou estava em casa, no meu fixo, ou estava em sala de aula, e não podia atender. então, pra quê celular?
Acabei comprando um celular por outro motivo prático e bem específico: eu não tinha carro e nova orleans era uma cidade com transporte público catastrófico, poucos táxis e quase nenhum telefone público. sem um celular para chamar táxis, minha mobilidade ficava muito restrita.
Ainda assim, estou invicto em smartphones. se alcoólatra não pode beber, muito menos carregar a garrafa no bolso. se eu tivesse a internet comigo sempre, nunca mais olharia para cima. me tornaria mais uma daquelas pessoas incapazes de qualquer interação humana que não seja mediada por um retângulo luminoso.
Enfim, em um dia dos namorados particularmente feliz, voltando de um passeio lindo com a pessoa que eu amo, esqueci o celular no táxi e, talvez influenciado pela alegria, decidi que pronto, não teria mais celular. chega de andar com essa coleira no bolso.
* * *
Um amigo tentou me convencer que ele precisava sim, e muito de celular.
Mas, conversando sobre sua rotina, apontei que ele passava quase todo o seu tempo ou no trabalho ou em casa (dois lugares onde havia telefone fixo), ou dirigindo entre esses dois pontos (e é proibido usar celular nessa situação). nos fins de semana, ele passava 90% do tempo em casa, dormindo, vendo tv, fazendo churrasco, brincando com os filhos, transando com a esposa. Ou seja, ele precisava tanto de celular… exatamente quando?
As poucas horas em que ficava “descoberto” (como se não ter celular fosse um perigo de vida) justificavam mesmo não só o enorme custo financeiro de um celular, mas também, muito pior, o enorme custo psicológico de ter essa coleira sempre no bolso, sempre nos puxando, sempre nos chamando, sempre nos distraindo, sempre nos impedindo de estar plenamente no momento?
Não estou criticando o celular. se eu voltar a precisar, eu voltarei a ter. O celular é uma engenhosa invenção humana. assim como a diálise. mas eu também só filtraria meu sangue se fosse realmente necessário.
Hoje, para mim, celular não é. Mas, outro dia, uma amiga me disse:
“ai, alex, você não entende! e se precisarem falar comigo numa emergência?”
e eu respondi:
Quantas vezes, de fato, de verdade, já te chamaram numa emergência? você tem realmente tantas emergências assim na sua vida?
Pense em quanto dinheiro você gastou em celulares desde que comprou o seu primeiro, quinze anos atrás. some o custo do aparelho, da assinatura, das ligações adicionais, dos apps que comprou, das capinhas descoladas, etc. (vai ser um número bem grande.) agora, divida esse número pelo número de emergências nas quais você salvou a sua vida ou a vida de alguém por ter celular.
No meu caso, não dá pra dividir cinquenta mil reais por zero. já gastei cinquenta mil reais me preparando para estar preparado para essa pretensa emergência que nunca aconteceu. Desisti.
Mesmo se eu não conseguisse chegar a tempo para tirar o meu pai da forca, sei que me perdoaria: ele é economista e sabe que, pra mim, economicamente falando, ter celular não faz sentido.Leia Também: prisão dinheiro e, na sequência, a prisão trabalho.

Aptas, atentas, inteiras, capazes, por Alex Castro

As atividades mais incríveis e prazerosas da vida são completamente (ou quase) gratuitas: estar com as pessoas que amamos, dormir, transar, se exercitar, passear, caminhar pela natureza, nadar no mar ou em uma lagoa, ler, escrever.
Mas todas exigem que estejamos inteiras, atentas, capazes, aptas.
E é justamente isso que a maioria dos empregos rouba de nós, em troca de uma compensação inadequada, em troca de uma compensação que não compensa tudo o que nos foi tirado.
Quem trabalha menos, ganha menos e tem mais tempo livre, pode se dedicar mais a essas atividades (semi) gratuitas e naturalmente refratárias ao circo do consumo.
Quem trabalha muito, ganha muito dinheiro e não tem mais quase nenhum tempo livre, acaba naturalmente resolvendo todas suas questões com dinheiro. afinal, na falta de tempo e de energia, a única ferramenta que lhe sobrou em abundância é o dinheiro.
Pessoas inteiras, atentas, capazes, aptas, não são reféns do consumo. portanto, o mundo inteiro foi projetado para que você nunca, nunca esteja assim — mas sempre buscando estar.
Não tem problema. basta tomar um espresso machiato de manhã, comprar um day pass de luxe no nosso fitness spa, beber um vinhozinho francês à noite, e então dormir no nosso colchão super premium, e garantimos que amanhã você estará inteira, atenta, capaz e apta.
Se não estiver, bem, temos outros produtos que, arrá, esses sim vão resolver.
pode confiar.
* * *
trechinho da "prisão trabalho". leia o texto todo aqui.

Alex Castro - vou mudar. Mas, não hoje

Quem perpetrou os piores crimes & maiores massacres da história? Os obededientes ou os desobedientes? De qual lado queremos estar?
Se o meu filme ou livro preferido é sobre largar tudo & ir morar no mato, mas eu nunca larguei tudo & fui morar no mato… o que isso diz sobre mim?
Um gênero narrativo que deveria ter nome mas não tem:
“Obras protagonizadas por personagens pretensamente rebeldes & subversivas, feitas sob medida para se tornarem as obras favoritas de pessoas reprimidas & cooptadas que dizem amar a obra acima de tudo, mas nunca mexem a bunda da cadeira para fazer nada parecido com as personagens rebeldes & subversivas que tanto dizem admirar.”
Principais expoentes: na literatura, “O apanhador no campo de centeio”; no cinema, “Sociedade dos poetas mortos”, “Beleza americana”, “Na natureza selvagem”.
o que nunca fazer.
Se eu consumo uma obra sobre enfiar o dedo na tomada & levar choque, e digo adorar tudo, é minha obra preferida!!, mas depois disso nunca mais na vida eu enfio o dedo na tomada (pois já sei que vou fatalmente levar um choque!), então essa é uma obra profundamente conformista & conservadora.

A felicidade é uma prisão

kandinsky
Quando a felicidade é presumida e compulsória, ela se torna uma prisão.
Em muitos países, o cumprimento inicial é uma pergunta neutra: “how are you?“, “¿que tal?“, “¿que pasa?“, “ça va“, etc.
No Brasil, a pergunta é bem mais agressiva:
“Tudo bem?”
Não existe espaço para não estar bem. A pergunta já presume que você não apenas está bem, mas completamente bem, e busca apenas uma confirmação. Afinal, o normal é tudo estar sempre bem. Se não está tudo bem com você, hmm, então você está fora da regra, desviante do esperado, incorreta & inadequada.
E, pior, vai ter que já começar sua resposta desmentindo sua interlocutora:
“Não… É que…”

A solidão de Narciso

As pessoas vêm à minha palestra “As Prisões“ e, durante muitas horas, compartilham os seus dilemas pessoais:
“Minha vida é uma bosta.
Estou presa num financiamento de imóvel que me escraviza.
Meu pai me obrigou a fazer direito mas eu queria fazer biologia.
Quero abrir o relacionamento mas a namorada não deixa.
Tenho vinte e cinco anos e ainda não construí nada. etc etc.”
E, no fim das contas, nada que eu tenha a dizer pode solucionar essas questões.
Até que porque essas questões não têm solução.
A única resposta possível é a que encerra a palestra:
Que a solução é não se importar com essas questões. Que elas não são relevantes. Que elas todas são apenas o seu ego falando.
Se você me diz,
“Quero fazer tal e coisa mas meu pai não deixa”,
A minha única resposta, minha resposta generosa e sincera, a única resposta que acredito que pode ajudar, é:
“Você vai morrer em breve, seu pai também, provavelmente antes, e que nesse meio tempo muitas outras pessoas vão morrer, a grande maioria delas com problemas bem maiores que o seu, e o que você está fazendo a respeito?”
"Echo & Narcissus" (1903), de John William Waterhouse.
“Eco & Narciso” (1903), de John William Waterhouse.
* * *
Há muito tempo, eu dava aulas em uma universidade nos Estados Unidos, onde as pessoas são muito mais obcecadas por notas que no Brasil. Então, quando estudantes começaram a pirar antes da prova final, eu dizia algo mais ou menos assim:
“Pensem comigo. Somos todos primatas sem alma, vivendo vidas sem sentido, presos na superfície de uma bola de pedra girando em torno de si mesma e se deslocando em círculos pelo vazio do espaço, destinados a morrer em breve, junto com todos nossos entes queridos, assim como nossos países, nossas culturas e nossos idiomas, que vão desaparecer também, aquecidos por um sol que logo se auto-destruirá, levando com ele tudo o que já conhecemos.
Então, sinceramente, no grande esquema das coisas, que importância pode ter essa prova?”
"Eco & Narciso" (1628), de Nicholas Poussin.
“Eco & Narciso” (1628), de Nicholas Poussin.
* * *
Um trechinho do livro “Sempre Zen” (1989), de Joko Beck:
“O que de fato queremos é uma vida natural. Mas nossas vidas são tão artificiais que essa busca, no começo, é bastante difícil.
Apesar de estarmos começando um novo caminho, trazemos as mesmas atitudes que tínhamos anteriormente: não achamos mais que a resposta está em um novo carro de luxo, mas sim em alcançar a iluminação. Continuamos na mesma corrida, apenas trocamos o troféu. Agora temos um novo “se ao menos”: “se ao menos eu conseguisse entender um pouco melhor o universo, então eu seria feliz”; “se ao menos eu conseguisse atingir uma pequena experiência de iluminação, então eu seria feliz”, etc, etc.
Muitas de nós acreditamos que se tivéssemos um carro maior, uma casa mais bonita, férias mais longas, um patrão mais compreensivo, ou um parceiro mais interessante, nossas vidas seriam muito melhores. Não há quem não pense assim.
Passamos a vida pensando que existe o “eu” e que existe essa outra coisa separada, “o tudo que não sou eu”, que nos causa alternadamente dor ou prazer. Assim, evitamos tudo que nos fere ou desagrada ou causa dor; e buscamos ou toleramos ou aceitamos tudo que nos agrada ou nos envaidece ou nos causa prazer, fugindo de uns e perseguindo outros. Sem exceção, todos fazemos isso.
Ficamos apartados da vida, olhando para ela de fora para dentro, analisando, fazendo cálculos como “e o que eu ganho com isso? será que vai me trazer prazer ou conforto? será que devo fugir?” Sob nossas fachadas agradáveis e amistosas, existe muita ansiedade.
Se nosso barco cheio de esperanças, ilusões e ambições (de chegar a algum lugar, de tornar-se espiritual, de ser perfeito, de alcançar a iluminação) vira de cabeça pra baixo, o que é esse barco vazio? O que sobra? Quem somos nós?”
Charlotte Joko Beck (1917-2011)
Charlotte Joko Beck (1917-2011)
* * *
Um trechinho do livro “Not for Happiness” (2012), de Dzongsar Jamyang Khyentse:
“Esses dias, o objetivo de muitos ensinamentos é fazer as pessoas “se sentirem bem”, validando seus egos e suas emoções. Mas é um erro considerar que a prática do caminho vai nos acalmar ou nos ajudar a viver uma vida tranquila. Se você só está preocupado em se sentir bem, melhor fazer uma massagem relaxante ao som de uma música new age.
O caminho não é terapia. pelo contrário, ele foi elaborado sob medida para expor nossas falhas e virar nossa vida de cabeça pra baixo.
Aliás, se você pratica o caminho mas sua vida ainda não virou de cabeça pra baixo, então sua prática não está funcionando.”
Dzongsar Khyentse e criança.
Dzongsar Khyentse e criança.
* * *
Quando um paciente chegava com questões existenciais profundas, o Analista de Bagé (personagem criado por Luis Fernando Veríssimo) lhe dava logo um joelhaço “bem ali onde tudo começa e tudo se resolve”.
Se o bagual começasse a reclamar da “finitude humana”, do “vazio cósmico”, do “absurdo da existência”, levava outro joelhaço.
Finalmente, o vivente compreendia que o infinito pode ser uma sensação horrível, mas que o joelhaço, aquela dor enorme, ali nas bolas, ali naquele momento presente, mais presente impossível, era muito pior.
Nesse momento, estava curado.
A terapia do joelhaço.
A terapia do joelhaço.
* * *
Um trechinho do texto A segunda história de Eco e Narciso (2012), da pessoa que escreve sob o pseudônimo de O Último Psiquiatra:
Narciso não estava tão apaixonado por si mesmo que não conseguia amar mais ninguém: é o oposto. Ele nunca amou ninguém e então se apaixonou por si mesmo. Porque ele nunca amou ninguém, ele se apaixonou por si mesmo. Essa foi sua punição.
* * *
A solidão é um egoísmo: ninguém reclama “estar sozinho”, sente “vazio existencial”, ou quaisquer outros desses caprichos bem-alimentados, quando está ouvindo, acolhendo, se doando para outra pessoa.
Narciso não estava só: ele tinha seu reflexo.
"Narciso", de Caravaggio.
“Narciso”, de Caravaggio.
* * *
Há doze anos, escrevo sobre aquilo que chamo de “As Prisões“:
São as bolas de ferro mentais e emocionais que arrastamos pela vida. São as ideias pré-concebidas, as tradições mal-explicadas, os costumes sem-sentido.
Comecei a questioná-las uma a uma: verdade // dinheiro // privilégio // sexismo // racismo // monogamia // religião // patriotismo // escolhas // respeito // certezas // os outros // medo // ambição // felicidade // narcissismo.
Nos últimos meses, tenho viajado o Brasil falando sobre As Prisões. Uma conversa experimental, sempre no fim-de-semana, um espaço livre para todos compartilharem suas histórias, para todas as certezas serem chacoalhadas. As próximas são em Curitiba, Belo Horizonte, Vitória e Belém, em maio.
(Para mais detalhes, calendário completo, vídeos, depoimentos de quem foi, roteiro completo da palestra, tudo isso, veja aqui.)
Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // todos os meus textos são rigorosamente ficcionais. // se gostou, mande um email, me siga nofacebook, compre meus livros, faça uma doação ou venha às minhaspalestras. e eu te agradeço.

Outros artigos escritos por 

Transfobia e crianças

Outro dia, como um favor, fui cuidar do filho da minha melhor amiga.
* * *
Menino não usa maquiagem
Em um dado momento, ele se aproximou de mim com a mão cheia de objetos e disse:
“Presentes pra você!”.
E começou a me dar tudo: uma banana, uma bola, um batom vermelho.
Para não fazer desfeita, decidi usar os presentes: comi a banana, quiquei a bola, passei o batom vermelho nos lábios.
Enquanto eu fazia isso, ele se aproximou, ficou na ponta dos pés e fez bico pra mim – como certamente vira sua mãe fazer diante do espelho dezenas de vezes.
Entendi o que ele queria e fiz menção de passar o batom nele, mas quando o batom se aproximou de seus lábios, ele subitamente pirou. Saiu correndo e gritando:
“Sou menino! Sou menino! Não pode! Não pode!”
Quando se acalmou, expliquei:
“Pode sim. Meninos podem usar maquiagem se quiserem. Aliás, muitos usam. Meninas não precisam usar maquiagem se não quiserem. Aliás, muitas não usam.”
Ele não pareceu muito convencido.
Quando perguntei se queria passar o batom, como parecia querer, ele hesitou mas acabou dizendo:
“Não! Sou menino! Menino não pode!”
Então, tá.
* * *

Mulher não tem pelo

Daqui a pouco, ele apontou pras minhas pernas e disse, como se fosse uma grande descoberta:
“Você tem pelo na perna!”
“Sim”, respondi.
“Mamãe não tem pelo na perna!”, exclamou ele, em tom de grande mérito.
E eu tive que corrigir:
“Não. Mamãe tem pelo na perna sim. Todos os mamíferos adultos têm pelos em várias partes do corpo. E sua mãe é tão mamífera quanto eu e você. (Mamífero quer dizer que somos o tipo de bicho que mama nos peitos das mamães. Assim como você mama no peito da mamãe hoje, ela também mamou no peito da vovó antes disso. Por isso é que elas são mamíferas. E todos os mamíferos são peludos. Aliás, os mamíferos são os únicos bichos que são peludos. Aliás, sim, somos só mais um tipo de bicho entre todos os outros tipos de bichos.)”
E voltei ao tema original:
“Enfim, mamãe tem pelos sim. Ela só ESCOLHE tirar os pelos.”
E lá veio, inevitavelmente:
“Por quê?”
Pensei em dizer:
“Porque a sua mamãe, apesar de linda e incrível e minha melhor amiga, caiu no engodo da sociedade de consumo, que disse pra ela que ela não será bonita, não será desejável, não será feminina, nunca vai arrumar um novo padrasto pra você, etc etc, se não sofrer dor e perder tempo e gastar dinheiro para retirar forçosamente uma das partes do seu corpo que mais nos define enquanto espécie para ficar eternamente parecendo uma versão infantil e impúbere de si mesma.”
Mas preferi dizer apenas:
“Porque ela gosta assim. Cada pessoa gosta do seu corpo de um jeito.”
“E você gosta das suas pernas com pelo?”
“Minhas pernas têm pelo. Pra mim, é simples assim.”
E ele ficou lá, matutando, até que perguntou:
“Eu vou ser bem peludo quando crescer?”
E dei a melhor resposta que pude:
“Se você quiser, vai.”
E ele se empolgou:
“Eba! Os meninos são peludos, né?”
Então, tá.
* * *

Menina não tem pinto

Mais tarde, eu estava urinando e ele irrompeu banheiro adentro. Como eu sabia que minha amiga também andava nua pela casa e usava o banheiro de porta aberta, não me importei… muito.
Mas ele logo apontou pra mim e tascou:
“Você não tem pinto!”
“É”, respondi.
“É por que você é menina?”
“Não, é porque eu não tenho pinto. Tem meninas com pinto e meninas sem pinto. Tem meninos com pinto e meninos sem pinto. Cada pessoa é do seu jeito.”
“Eu tenho pinto!”, ele disse, em tom heroico, e eu respondi, tentando não deixar transparecer a ironia:
“Puxa, parabéns. Agora, vaza.”
Enquanto eu me compunha, finalmente em privacidade, pensei que era chegada a hora de uma conversinha.
* * *

O que são meninos e meninas

Ele me olhou meio confuso e perguntou:
“Eu sou menino, né?”
“O que você acha?”
Subitamente, ele passou de confuso pra ofendido e retrucou:
“Acho que sou menino, oras!”
“Então você é.”
“Só isso?”
“Só isso.”
“Não é por que eu tenho pinto?”
“Tem muito menino por aí que não tem pinto e eles são tão meninos quanto você. Tem muita menina por aí que tem um pinto parecido com o seu.. e são tão meninas quanto você é menino.”
“E você?”
“O que eu sou não faz nenhuma diferença.”
Ele parou e refletiu um pouco e disse:
“Eu sempre pensei que menino fosse quem tinha pinto e menina, quem não tinha.”
“Ih, essa sua regra é muito complicada. Como é que você vai saber quem tem pinto e quem não tem? Isso é muito pessoal!”
Ele refletiu mais um pouco:
“Então, como é que faz?”
“É bem simples. Se um menino se apresenta como menino, então, ele é menino e você trata ele como menino. Se uma menina se apresenta como menina, então, ela é menina e você trata ela como menina.”
“Mas e o pinto?”
Jesus amado, homens e seus pintos, que obsessão!
“Pra você, não faz diferença quem tem pinto e quem não tem, porque quase nunca você vai saber quem tem pinto e quem não tem.”
Aliás, pensei, por que cargas d’água você quer tanto saber dos pintos dos outros?!
“Talvez alguns meninos que você conhece não tenham pinto. Talvez algumas meninas tenham. E daí? Não quer dizer que sejam menos meninas e menos meninos por causa disso. Entendeu?”
Ele entendeu. Quando minha amiga chegou do cinema, ele foi correndo pros braços dela:
“Mãe, eu sou menino, mas posso decidir não ser! E você sabia que tem menina que tem pinto?”
Hoje, imagino que devem estar bem. Minha amiga cortou contato e nunca mais falou comigo.
Dia nacional da visibilidade trans
* * *

Para prosseguir essa conversa

Hoje é o dia nacional da visibilidade trans*, uma das minorias mais invisíveis e silenciadas da nossa sociedade. Para saber mais, dê uma passeada pelos links abaixo:

* * *
Esse texto é uma obra de ficção.
Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // todos os meus textos são rigorosamente ficcionais. // se gostou, mande um email, me siga no facebook, compre meus livros, faça uma doação ou venha às minhaspalestras. e eu te agradeço.


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